domingo, 12 de janeiro de 2014

Aulas de Tupi - 'Sonho de Policarpo Quaresma' em Estilo 'Nova Tupi'

Lição n. 1 - Peró o îepotar - Arte em estilo 'Nova Tupi' de Luiz Pagano - idealizador do estilo
Escrevi este artigo sobre nossa língua original apos ter recebido alguns e-mails pedindo aulas de Tupi Antigo.

Ilustrei com quadros em estilo ‘Nova Tupi’
http://ameobrasil.blogspot.com.br/2012/12/como-seria-o-brasil-se-cultura-dos.html de Luiz Pagano, idealizador desse estilo artístico que se caracteriza por ter elementos brasileiros originais, como se a influência Tupi tivesse evoluído como cultura predominante brasileira, com muito pouca interferência da cultura portuguesa e de outros imigrantes em nossa terra.

A língua indígena clássica do Brasil que teve fundamental importância para a construção de nossa identidade. Foi aprendida pelos colonizadores portugueses que aí aportaram a partir desse século e, por intermédio deles e de seus descendentes mestiços e os bandeirantes.

O Tupi antigo chegou a ser o idioma oficial da elite colonial Brasileira, e foi proibida por decreto, expedido pelo Marques de Pombal no ano de 1758 http://ameobrasil.blogspot.com.br/2012/12/como-seria-o-brasil-se-cultura-dos.html

Segundo o cronista Pero Magalhães de Gândavo (1540 a 1580) antes do tal decreto este idioma foi falado desde o Pará até o sul do país, com algumas variantes dialetais.

Grande parte do material para estudo que nos chega foi trazido pelo padre José de Anchieta (San Cristóbal de La Laguna, 19 de março de 1534 — Reritiba, 9 de junho de 1597) em seu livro intitulado A Gramática de Anchieta (1595)

Segundo ele, o Tupi (também chamado de Tupi Antigo) era falado na Capitania de São Vicente, no planalto de Piratininga e em trechos do atual estado de São Paulo. O Tupi era uma variante dialetal do Tupinambá, que era falado na porção maior da costa brasileira.

O Tupi Antigo

O aprendizado de Tupi Antigo é uma tarefa de grande dificuldade, pois os cursos e livros sobre o assunto muitas vezes é feito sem bases em estudos sérios. ensinam Nheengatu da Amazônia como se fosse Tupi Antigo, com elementos do Guarani Paraguaio. Tudo isso mais confunde os alunos que os ensina. Ora, estudar Tupi Antigo exige a mesma seriedade científica que exige o estudo de qualquer outro idioma. Assim, antes de tudo, é importante que certos conceitos fiquem bem claros para quem começa a estudar essa língua.

Adotei o livro Método Moderno de Tupi Antigo, de Eduardo de Almeida Navarro por ser o mais serio e científico estudo desse idioma

Vale observar as variantes dos grupos lingüísticos faldos no Brasil com referência ao Tupi Antigo:

LÍNGUA GERAL – Foi uma língua surgida da evolução do Tupi Antigo, a partir da segunda metade do século XVII, quando, então, era falada por todos os membros do sistema colonial brasileiro: negros, brancos, índios tupis e não tupis, mestiços.

TUPI-GUARANI – não é uma língua, mas uma família de mais de vinte línguas. Inclui o Tapirapé, o Wayampi, o Kamayurá, o Guarani (com seus dialetos), o Parintintin, o Xetá, o Tupi Antigo, etc. Existem línguas Tupi-Guarani, não o Tupi-Guarani. Dessas, o Tupi Antigo é a que foi estudada primeiro e a que mais influenciou a formação da cultura brasileira.

NHEENGATU – é uma língua da Amazônia, uma evolução da língua geral, falada por caboclos no vale do Rio Negro, na Amazônia. É uma fase atual do desenvolvimento histórico do Tupi Antigo, mas não é o Tupi Antigo.

TUPI MODERNO – é o nome que alguns dão ao Nheengatu da Amazônia ou, ainda, a certas línguas faladas da família Tupi-Guarani. Não é a língua que Anchieta estudou, mas uma evolução dela.
O Tupi Antigo continua presente no cotidiano dos brasileiros através de vários nomes de cidades, na geografia brasileira, nas denominações de animais e plantas nativas do Brasil.

As palavras em Tupi Antigo muitas vezes são descrições das coisas a que se referem, envolvendo uma explicação inteira. Cada palavra pode ser uma verdadeira frase.

Decifrar o significado das palavras requer, muitas vezes, uma visita ao local a que se refere o termo. Um exemplo disso é o topônimo Paranapiacaba = paraná + epiak + -(s)aba, "mar" + "ver" + "lugar" = "lugar de onde se vê o mar", que se refere a um ponto da Serra do Mar onde se pode avistar o mar.

A língua tupi é aglutinante, não possui artigos (assim como o latim) e não flexiona nem em gênero nem em número.

Chave da pronúncia do tupi antigo

A seguir veja os fonemas do Tupi Antigo assim como suas variantes alofones (variante fonética de um fonema – ex. O fonema ‘t’ [te] pode ter as seguintes variações  [tiu], [tch], etc.)

VOGAIS:


A: Como no portugues mala, bala, - ka’a - mata;

E: Com timbre aberto pé, rapé - ere-ker - (tu) dormes;

I:  Como no português caqui, dia itá - pedra;

O: Com o timbre aberto avó, nódoa, farol - "a-só" (leia assó) - (eu) vou;
oka - (leia "óca") - casa

U: Como no Português upaba - lago;

Y: Um fonema que não existe na língua Portuguesa, mas tem o mesmo som do ‘Y’ em Russo. É uma vogal intermediária entre o ‘u’e ‘i’’, pzra falar este som deve-se colocar a língua na posição para pronunciar o ‘u’ e os lábio para pronunciar o ‘i’.

As vogais ditas tem as seguintes variações Alofones:

ã – Com som nasal - como no português maçã – marã – maldade;

ẽ - Com som nasal - moka’ẽ - moquear, assar o churrasco;

ĩ – Com som nasal - potĩ – Camarão;

õ – Com som nasal - potyrõ – Trabalhar em Grupo;

ũ – Com som nasal – irũ – companheiro;

ỹ - Com som nasal - ybỹîa – parte interior, oco, vão;

CONSOANTES:

‘/’ - O sinal (‘) ou (’) representa consoante oclusiva glotal, que não existem em português, do alfabeto fonético internacional é o (ʔ) – ka’a (ka’ʔa) – floresta;

b  - Pronuncia-se como o v castelhano – abá – (a’βa) homem;

î  - Como no português lei, dói – îuka – matar;

nh – É um alofone de î , como no protugues ganhar, banha, rainha – nhandu’i aranha;

k – Como o q em português antes do a, o ou u, casa, colo – îuka – matar;

m (ou mb) – Como em português mar, mel ambos, samba – momorang – embelezar. Em mb o b é oclusivo, devendo encostar os lábios ao pronunciar. Mba’e – coisa;

n (ou nd) – Como em português nada, andar – nupã – castigar. Em nd, que é seu alofone, também temos uma consoante nasal oralizada, (começa como nasal e termina como oral) nde – tu, amã’ndykyra – gotas de chuva;

ng - Como no inglês thing, nhe’eng – falar;

p – Como no português pé, porta – potar – querer;

r – É sempre brando, como no português, aranha - paranã – mar;

s – Como no português assunto, pedaço – sema – saída;

t – Como no português matar, tato – tukura – gafanhoto;

û – Como a semi-volgal u do português. No inicio da palavra pode ser pronunciado como gû: ûyra ou gûyra – pássaro;

x – Como o ch ou o x como chácara, chapeu – ixé – eu;
 
Lição n. 1 - Peró o îepotar - Arte em estilo 'Nova Tupi' de Luiz Pagano - idealizador do estilo
Lição 1 – Chegaram o portugueses

Peró o-îepotar. Peró-etá ‘y kûa-pe o-só.
Os portugueses chegaram. Muitos portugueses para a enseada do rio se foram.

Abá ‘y kûa-pé o-îkó.  Peró-etá ygar-usu pupé o-pytá.
Os índios na enseada do rio estão. Muitos portugueses dentro dos navios ficaram.

Peró Ygara suí o-sem. Abá o-syk.   Abá peró supé o-nhe’eng.
Os portugueses da canoa saem. Os índios achegam-se. Os índios aos portugueses falam.

Abá-etá o-sykyîé.
Muitos índios tem medo.

(perguntaram a um português:)
-Abá-pe endé? Mamõ-pe ere-îkobé?
- Quem (és) tu? Mamõ-pe ere-îkobé?

Vocabulário

Abá – índio (em oposição ao europeu)
          Homem (em oposição a mulher)
          Ser humano (em oposição a animal irracional)

Kûa – enseada, baía

‘y kûa – enseada do rio, onde deságua o rio

peró – português (era um nome próprio muito comum entre os portugueses do século XVI;

‘y – água, rio

ygara – canoa

ygar-usu – navio

îepotar – chegar por mar ou por rio

ikó – estar

ikobé – viver

nhe’eng – falar (rege a posposição supé para, a)

pytá – ficar

sem – sair

só – ir

syk – achegar-se, aproximar-se

sykyîe – ter medo, temer

outras categorias

abá-pe – (inter.) quem?

Endé – (pron.pes.) – tu

Etá – (indef.) muitos (as)


Mamõ-pe? (inter.) onde?

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