domingo, 12 de outubro de 2025

Prospenomics Da Ficção à Realidade


A Ideia que Nunca Me Abandonou

Tudo começou na faculdade. Era o momento de escrever minha monografia de conclusão de curso, e como todo estudante, eu queria propor algo que fosse original, relevante — e, acima de tudo, transformador. A primeira ideia que me ocorreu foi simples, mas ousada: se a ficção científica inspirou Santos=Dumont a inventar o avião, por que não usamos dela para reinventar a administração das economias, especialmente a administração pública?


A proposta parecia fazer sentido para mim. Afinal, Santos=Dumont lia Júlio Verne, sonhava com máquinas voadoras e depois as construiu. Ele não apenas se inspirou — ele realizou. Então por que não aplicar esse mesmo raciocínio à gestão pública? Por que não olhar para as sociedades imaginadas em obras como Star Trek, Fundação ou Nosso Lar* , e extrair delas modelos mais eficientes, éticos e humanos?

*Nota importante: Embora Nosso Lar seja frequentemente citado ao lado de obras de ficção científica por sua descrição de uma sociedade organizada e espiritualizada, é fundamental reconhecer que não se trata de uma obra de ficção científica, mas sim de um texto da doutrina espírita, psicografado por Chico Xavier. Ele descreve um plano espiritual que faz parte do universo de crenças do espiritismo, e sua abordagem reflete valores e princípios espirituais, não especulativos ou científicos..

Apresentei a ideia aos examinadores da banca. E o que recebi foi... risada. Todos acharam a proposta ridícula, exceto um: o professor Mercier**. Ele não apenas ouviu com atenção, como me incentivou a continuar pensando sobre aquilo, mesmo que não fosse o tema aceito para a monografia. Foi um gesto que nunca esqueci.

**Nota pessoal: A UNIFIEO é minha Alma Mater, e o Professor Decano Antônio Pacheco Mercier foi — e continua sendo — meu mentor intelectual e humano. Foi ele quem enxergou valor na proposta da Prospenomics quando muitos a descartaram. Osasco, cidade que me ofereceu a chance de estudar e prosperar,  que abriga a UNIFIEO, é também terra do primeiro voo de aeroplano da América Latina, realizado por Dimitri Sensaud de Lavaud em 1910. Apesar desse feito histórico, Osasco é frequentemente subjugada pela nossa síndrome de vira-latas, que nos faz ignorar ou minimizar nossas próprias conquistas.

É justamente contra essa mentalidade que Prospenomics (saiba o que é prospenomics) se levanta — para mostrar que ideias transformadoras podem surgir de qualquer lugar, inclusive de onde menos se espera.

No fim das contas, tive que engavetar a ideia. A monografia aprovada foi sobre o papel da CACEX na exportação brasileira, baseada no meu estágio no departamento de câmbio do Banco Noroeste. Um trabalho técnico, burocrático, sem alma. Fiz o que era necessário para concluir o curso, mas a chama da Prospenomics — como mais tarde batizei minha proposta — nunca se apagou dentro de mim.

Com o advento dos blogs e das plataformas digitais, finalmente encontrei um espaço para publicar minhas ideias. Comecei a escrever sobre Prospenomia, sobre sociedades pós-escassez, sobre como a ficção científica pode ser usada como laboratório de políticas públicas. E aos poucos, percebi que não estava sozinho. Outros também buscavam alternativas, sonhavam com novos modelos, queriam mais do que apenas sobreviver dentro de sistemas falhos.

Este livro é o resultado dessa jornada. Uma tentativa de reunir reflexões, provocações e propostas concretas para uma nova forma de pensar a administração pública — inspirada não apenas pela razão, mas também pela imaginação.

Porque, no fim das contas, toda grande transformação começa com uma ideia que parece ridícula — até que alguém a realiza.

Astrônomo, Astronauta e Astrólogo

Muito antes de construir cidades, domesticar animais ou escrever histórias, os primeiros hominídeos devem ter se maravilhado com o céu estrelado. Imagine o impacto de olhar para cima, em meio à escuridão da savana africana, e ver aquele manto pontilhado de luzes misteriosas. O céu era um espetáculo silencioso, constante, e ao mesmo tempo cheio de movimento. Era o primeiro grande quadro negro da humanidade — e os astros, seus primeiros professores.

A observação dos astros não era apenas contemplativa. Ela oferecia pistas sobre o mundo ao redor. Os nossos ancestrais perceberam que certos padrões celestes precediam chuvas, tempestades ou dias de sol intenso. Com o tempo, entenderam que o movimento das estrelas e do Sol indicava a chegada do verão ou do inverno, a época de plantar ou colher, de migrar ou se abrigar. O céu tornou-se um calendário natural, um sistema de orientação, uma bússola cósmica. E assim, o estudo dos astros tornou-se uma ferramenta de evolução.

Com o passar dos séculos, esse saber se refinou. Surgiram os primeiros astrônomos, que dedicavam suas vidas a entender os corpos celestes com precisão matemática. Eles criaram mapas do céu, calcularam órbitas, previram eclipses. A astronomia tornou-se uma ciência fundamental para a navegação, para a agricultura e para o próprio entendimento da nossa posição no universo.

Mas nem sempre o céu foi visto com olhos científicos. Durante a Idade Média, os astros passaram a ser interpretados como símbolos mágicos. Surgiu o astrólogo, aquele que via poesia nos astros. Ele não buscava apenas entender o movimento dos planetas, mas sim traduzir seus significados ocultos, relacionando-os à vida humana, aos destinos individuais, às emoções e aos ciclos espirituais. Embora a astrologia tenha sido marginalizada pela ciência moderna, não se pode negar que ela preservou o fascínio pelo céu em tempos de escuridão intelectual. E mais: foi justamente essa busca metafísica que, mais tarde, daria origem à química, à física e à psicologia.

Então, veio o século XX. E com ele, um novo tipo de personagem celeste: o astronauta. Se o astrônomo observava os astros e o astrólogo os interpretava, o astronauta foi até eles. Em 1961, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a orbitar a Terra. Em 1969, Neil Armstrong pisou na Lua. A humanidade, pela primeira vez, deixou de apenas olhar para o céu — e passou a caminhar sobre ele. O astronauta representa a coragem de transformar sonho em ação, de atravessar fronteiras antes consideradas intransponíveis.

Esses três personagens — o astrônomo, o astrólogo e o astronauta — são arquétipos que habitam nossa imaginação coletiva. Cada um deles representa uma dimensão essencial da experiência humana:

1-O astrônomo, com sua busca racional e científica.
2-O astrólogo, com sua sensibilidade simbólica e poética.
3-O astronauta, com sua ousadia realizadora e transformadora.

Santos Dumont, por exemplo, pode ser visto como um astrônomo e astronauta da aviação. Ele estudou os princípios do voo, mas também construiu os dispositivos que o tornaram possível. Inspirado por Júlio Verne, Dumont mostrou que a ficção científica pode ser o primeiro passo para a inovação concreta.

E é justamente aí que entra o conceito de Prospenomics. Se queremos construir uma sociedade baseada na prosperidade coletiva, na abundância e na realização compartilhada, talvez devamos olhar para esses três personagens como guias. Será que o astrônomo, o astrólogo e o astronauta podem nos ajudar a atingir uma sociedade prospenômica?

Os Três Personagens que Inspiram a Ciência

Se no primeiro capítulo vimos como o astrônomo, o astrólogo e o astronauta representam dimensões essenciais da experiência humana — conhecimento, poesia e ação — neste segundo capítulo exploramos como esses arquétipos se manifestam na prática científica e nos avanços da civilização.

Ao longo da história, grandes descobertas não vieram apenas da razão pura ou da experimentação cega. Elas surgiram quando esses três personagens se encontraram dentro de um mesmo indivíduo, revelando que o progresso humano é, muitas vezes, fruto de uma alquimia entre sonho, observação e coragem.

Kekulé e o Sonho do Uroboros

O químico Friedrich August Kekulé, por exemplo, descobriu a estrutura da molécula de benzeno não por meio de cálculos frios, mas por meio de um sonho simbólico. Ele viu uma serpente mordendo a própria cauda — o símbolo do Uroboros, antigo arquétipo da eternidade e do ciclo infinito. Essa imagem o levou a conceber a estrutura cíclica do benzeno, algo que revolucionou a química orgânica.

Kekulé, nesse momento, foi astrólogo e astrônomo: interpretou um símbolo metafísico e o traduziu em uma estrutura científica. Ele viu poesia nos astros e, ao mesmo tempo, aplicou lógica e observação para transformar esse insight em conhecimento concreto.

Mendeleiev e o Gosto da Matéria

Outro exemplo fascinante é o de Dmitri Mendeleiev, criador da tabela periódica. Para classificar os elementos químicos, ele não se limitava a observações externas — ele colocava substâncias na boca, sentia o gosto, explorava fisicamente suas propriedades. Esse gesto, hoje impensável em laboratórios modernos, revela uma mentalidade de astronauta: alguém que se lança na experiência direta, que toca, sente, arrisca.

Mas Mendeleiev também foi astrônomo: ao organizar os elementos em padrões e prever a existência de substâncias ainda não descobertas, ele demonstrou uma visão sistêmica, quase cósmica, da matéria. Ele não apenas explorou — ele compreendeu.

A Fusão dos Três na Ficção Científica

Esses exemplos mostram que os grandes avanços não vêm de uma única abordagem, mas da interação entre os três personagens. E é justamente na ficção científica que essa fusão acontece com mais clareza.

Em obras como Star Trek, Fundação de Isaac Asimov ou Solaris de Stanisław Lem, vemos cientistas que sonham, exploram e interpretam. A ficção científica permite que o astrólogo imagine mundos possíveis, que o astronauta os explore, e que o astrônomo os compreenda. Ela é o palco onde poesia, ciência e ação se encontram.

Por isso, quando a ficção científica é aplicada à realidade, esses três personagens se interagem. Eles deixam de ser arquétipos isolados e tornam-se forças complementares, capazes de transformar sociedades, reinventar políticas públicas e inspirar novos modelos econômicos — como o que propomos com Prospenomics.

A pergunta que se impõe agora é: Como podemos usar essa tríade simbólica para construir uma sociedade verdadeiramente prospenômica?

A Administração Pública que Ainda Não Inventamos

Se os capítulos anteriores mostraram como os arquétipos do astrônomo, do astrólogo e do astronauta inspiraram avanços científicos e sociais, agora é hora de olhar para o coração da nossa convivência coletiva: a administração pública. E aqui, infelizmente, a criatividade parece ter ficado para trás.

Vivemos em um mundo onde os modelos de gestão social mudam muito pouco ao longo dos séculos. A democracia, por exemplo, é considerada o melhor sistema político que temos — e de fato, desde Solón e Clístenes, ela representa um avanço em relação ao autoritarismo. Mas será que ela é suficiente? Mesmo sendo milenar, a democracia ainda carrega falhas profundas, como a manipulação de massas, o clientelismo e a baixa representatividade real.

O mesmo vale para os sistemas contábeis e bancários. O método de partidas dobradas, criado por Luca Pacioli no século XV, ainda é a base da contabilidade moderna. O sistema bancário, surgido no século XVI, continua operando com lógicas de escassez, juros e concentração de capital. Por que nunca usamos ideias realmente avançadas para reinventar esses sistemas vitais?

Hoje, o liberalismo gera riqueza, mas não prosperidade. Ele favorece o acúmulo individual, mas ignora que a existência de núcleos pobres torna a riqueza dos demais ineficiente e frágil. Já o comunismo e o socialismo, em suas versões históricas, falham ao tentar distribuir uma riqueza que nem sequer foi gerada — criando escassez em vez de abundância.

É nesse cenário que surge o conceito de Prospenomics: uma proposta de sociedade pós-escassez, onde a prosperidade é compartilhada e o progresso é medido por realizações coletivas. Em vez de competir por recursos limitados, todos se beneficiam de forma harmônica, com sistemas que incentivam a colaboração, a inovação e o bem-estar mútuo.

Mas para isso, precisamos pensar fora da caixa. Precisamos olhar para os modelos de sociedade que já foram imaginados — mesmo que apenas na ficção.



Star Trek e Nosso Lar: Modelos Alternativos

Gene Roddenberry, criador de Star Trek, imaginou uma sociedade onde não há dinheiro, não há fome, e o conhecimento é o bem mais valioso. Os líderes são escolhidos por mérito, ética e sabedoria. A Federação dos Planetas Unidos é um exemplo de administração pública baseada em valores universais, ciência e diplomacia.

No outro extremo, temos a sociedade espiritual de Nosso Lar, descrita por Chico Xavier. Lá, os líderes mais importantes são justamente aqueles que têm mais tempo para os humildes. A administração é feita com base na empatia, no serviço e na evolução moral — não no poder ou na autopromoção.

Esses modelos, embora fictícios ou espirituais, nos oferecem pistas valiosas. Eles mostram que é possível imaginar sistemas onde a administração pública não seja marcada por três grandes males que hoje nos afligem:

1-Inepcia – Muitos políticos entram na vida pública não por competência, mas por falta de opções no mercado de trabalho.

2-Auto-serviência – Leis são votadas com foco no benefício próprio, não no bem comum.

3-Corrupção – Um mal endêmico que mina a confiança, os recursos e a esperança da população.

Se não ousarmos imaginar algo novo, jamais sairemos desse ciclo vicioso. Precisamos de uma administração pública que seja inspirada por astrônomos (que compreendem), por astrólogos (que inspiram) e por astronautas (que realizam). Precisamos de líderes que pensem como cientistas, sintam como poetas e ajam como exploradores.

Prospenomics não é apenas uma teoria — é um convite. Um chamado para que deixemos de apenas sobreviver e passemos a projetar o mundo que queremos viver.

Exemplos de Ficções para uma Sociedade Prospenômica

O conceito de utilizar a ficção como um "laboratório de ideias" que nos leve para uma sociedade Prospenomica é extremamente potente. Prospenomics, de fato, se nutre da capacidade única da ficção de simular cenários complexos, permitindo-nos analisar as consequências sociais, econômicas e éticas de novos modelos de administração pública e gestão de recursos.

Ao nos colocarmos na posição do Astrônomo (observando as possibilidades), do Astrólogo (analisando os impactos) e do Astronauta (o agente que implementa a mudança), as narrativas que se seguem oferecem planos conceituais para ir além dos paradigmas atuais de escassez e competição. Abaixo, exploramos o primeiro exemplo dessa tríade, destacando como uma sociedade ficcional pós-escassez nos fornece pistas concretas:

1. Star Trek (Jornada nas Estrelas): O Blueprint da Prospenomics

A série Star Trek é mais do que ficção científica; ela é o modelo operacional por excelência para a Prospenomics. De fato, foi esta saga que me fez criar o conceito de Prospenomics no final dos anos 1980, solidificando a visão de uma sociedade de Pós-Escassez, onde o aumento astronômico de recursos, impulsionado pela exploração espacial e tecnologias como os replicadores de matéria e a energia limpa abundante, aniquilou a escassez material.

​A grande lição de Star Trek para a administração pública e econômica reside na mudança do foco humano: a motivação fundamental migra da sobrevivência e da acumulação de riqueza para o autodesenvolvimento, a curiosidade intelectual e a exploração do desconhecido.

​A Substituição do Dinheiro como Força Motriz:

O aspecto mais radical e inspirador de Star Trek é a substituição do sistema monetário. Isso me inspirou a focar em políticas que garantam a Segurança Material Básica (SMG) de forma plena e incondicional. Ao assegurar que habitação, alimentação, saúde e educação de qualidade sejam direitos inalienáveis e automaticamente supridos, a sociedade libera a energia humana da escravidão da necessidade econômica. O trabalho, então, transforma-se em vocação, trabalho criativo, científico e social, que transcende a mera equação de salário por sobrevivência.

​A Riqueza no Investimento em Conhecimento:

A Frota Estelar, o motor da Federação, é essencialmente uma vasta agência de pesquisa e exploração financiada integralmente pela sociedade. Isso estabelece um princípio fundamental da Prospenomics: o maior investimento de uma sociedade próspera deve ser em Ciência, Arte e Educação, vistas não como meras ferramentas para impulsionar o PIB, mas como fins civilizatórios em si mesmos. Nessa visão, a "riqueza" de um cidadão não é medida pelo saldo bancário, mas sim pelo seu acesso ilimitado ao conhecimento e às oportunidades de desenvolvimento pessoal.

​A Ética da Não-Intrusão (A Primeira Diretriz):

A famosa regra que proíbe a interferência no desenvolvimento de culturas menos avançadas pode ser traduzida para a administração pública como um princípio de Não-Intrusão e Respeito à Autonomia Local. Um governo prospenômico deve, portanto, fornecer a plataforma para a prosperidade (a SMG, a educação, a saúde) e criar as condições de abundância, mas deve resistir ativamente à manipulação ou ao controle excessivo das escolhas individuais e comunitárias. O governo garante a base, mas a autodeterminação floresce a partir dela.

2 - The Mandibles: A Family, 2029-2047



É fascinante como "The Mandibles" nos oferece uma lente de aumento para questões críticas da nossa economia e sociedade, apresentando soluções distópicas que, ironicamente, contêm ideias tentadoras.

​Em um texto mais fluido, podemos dizer que o livro de Lionel Shriver funciona como um alerta sobre três questões interligadas: a fragilidade da moeda, a ameaça da inflação e o perigo do controle centralizado.

​O Alerta de "The Mandibles"

​O romance nos avisa que a confiança na moeda e nas instituições é o alicerce de tudo. Quando o dólar colapsa e é substituído pelo Bancor (uma moeda supranacional, ou um novo sistema), a confiança se quebra, e a estrutura social desmorona. O aviso é claro: a estabilidade financeira é menos garantida do que parece.

​As Ideias Tentadoras do FleX e do Bancor

​No entanto, as soluções tecnológicas e monetárias do livro, embora impostas pela crise, levantam questões que poderiam ser benéficas na nossa sociedade atual:

​O Fim da Lavagem de Dinheiro e do Roubo Descontrolado:

​A ascensão de um sistema de moedas digitais e alternativas (como o Bancor), especialmente se fosse baseado em uma arquitetura de blockchain ou totalmente rastreável, poderia, em teoria, eliminar a lavagem de dinheiro e o roubo em grande escala. Se o dinheiro não existe mais como notas físicas ou como meros ativos bancários não rastreáveis, cada transação poderia ser registrada. Isso dificultaria enormemente a corrupção e a ocultação de riqueza ilegal, um flagelo que assola a política mundial.

​A Descentralização e a Perda de Controle do Governo:

​No romance, a criação do Bancor e o uso do FleX acabam centralizando o controle nas mãos de um governo autoritário (especialmente na segunda metade do livro).
​O Conceito Tentador: Mas a ideia central que o livro nos faz ponderar é o oposto: o que aconteceria se o dinheiro não fosse mais controlado por nenhum governo? O Bancor, como moeda supranacional ou digital, ecoa o debate atual sobre criptomoedas e a desdolarização. Se o dinheiro for totalmente descentralizado e baseado em algoritmos (e não nas promessas de um banco central com dívidas altíssimas), ele seria imune à impressão descontrolada, à manipulação política e, teoricamente, às crises de dívida soberana que vemos hoje.

​Conclusão: Uma Troca Perigosa

​O livro, portanto, nos apresenta um dilema irônico: a tecnologia monetária poderia oferecer a solução para a corrupção e a instabilidade da dívida – trazendo um potencial "alívio" moral e fiscal – mas, se mal implementada, ela pode facilmente se transformar em uma ferramenta de vigilância total e de controle ainda maior pelo Estado, substituindo a tirania do dólar pela tirania do sistema de rastreamento total. O aviso de Shriver não é apenas sobre o dinheiro, mas sobre o custo da segurança em troca da liberdade.

Outras Ficções 

Da mesma forma que Star Trek (1) apresenta uma sociedade pós-escassez onde a tecnologia elimina a pobreza e estabelece uma ética de responsabilidade coletiva, e que Nosso Lar (16) mostra uma administração espiritual onde os mais preparados atendem aos mais simples com dignidade, muitos outros universos fictícios oferecem modelos que podem orientar soluções reais. 


Em Fundação, de Isaac Asimov (3), surge um governo baseado na previsão científica do comportamento coletivo, ideia que hoje poderia ser traduzida em planejamento público guiado por inteligência artificial. Já em Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury (4), vemos cidades pequenas e autônomas que rejeitam o gigantismo urbano, propondo um modelo de decentralização social. 

Wakanda, do universo Pantera Negra (5), representa uma tecnocracia ética onde ciência e poder são usados para proteger a coletividade e não para explorar. Em Avatar (6), os Na’vi vivem uma economia biocêntrica onde a natureza é parte integrante da estrutura produtiva, e não um recurso a ser explorado. 

Até Os Smurfs (7), com sua organização simples por vocação — o cozinheiro cozinha, o construtor constrói — sugerem um sistema educacional e profissional baseado em aptidão e não em imposição. A vila dos hobbits em O Senhor dos Anéis (8) apresenta uma sociedade feliz precisamente por ser despretensiosa, mostrando que a simplicidade pode ser uma forma de prosperidade. 

Finalmente chegamos ao universo próspero de "The Culture" (9), obra do autor escocês Iain M. Banks. Ela oferece um dos modelos mais sofisticados de uma sociedade pós-escassez da ficção científica, bem como lições profundas e radicais para a Prospenomics.

Enquanto Jornada nas Estrelas mostra os passos para alcançar a Pós-Escassez, "The Culture" explora as consequências dessa liberdade em sua forma mais extrema.

Iain M. Banks criou uma civilização interestelar, quasi utópica, onde a tecnologia (especificamente as IAs superinteligentes, as "Mentes") libertou completamente a humanidade de todo trabalho e necessidade material, redefinindo o propósito da vida.

​Governança pela Inteligência Superior (As "Mentes")

Em The Culture, a civilização é administrada por I.As com capacidade de processamento e previsão muito superior à humana. Elas gerenciam os recursos (naves, habitats, energia) de forma tão eficiente que a escassez se torna impossível. A automação e a I.A. devem ser vistas não apenas como ferramentas de lucro, mas como a próxima camada de administração pública, responsáveis por garantir a distribuição equitativa de recursos, a logística complexa e a alocação de energia, liberando os humanos da burocracia ineficiente e do erro humano.

​O Fim da Corrupção e da Autosserviência

Este é o ponto mais crucial para a Prospenomics. A tecnologia na mencionada na obra liberou o desejo de possuir coisas. Quando qualquer item pode ser criado instantaneamente por replicadores, a acumulação se torna sem sentido.


Atingir a Pós-Escassez total (ou abundância) remove a raiz da corrupção e da autosserviência. Não se rouba o que se pode ter facilmente. Isso sugere que a solução mais eficaz contra a corrupção política e econômica é a abundância material garantida, não apenas a punição.

Sem a pressão de sobreviver ou acumular, a energia dos cidadãos da Cultura é canalizada para o "trabalho" de atingir a plenitude e a complexidade. O esforço humano é dedicado à arte, à ciência, ao aprimoramento físico e mental, e à construção de uma ética e moralidade elevadas.

A administração pública deve ter como objetivo principal a "Liberação do Potencial Humano". Em vez de medir o sucesso pele produtividade, a sociedade deve medir a prosperidade pela quantidade de tempo e recursos que os cidadãos dedicam a atividades de autoaperfeiçoamento e contribuição social que não geram lucro, mas sim desenvolvem capital humano e ético. Isso por si só já seria uma solução poderosa para os dias de hoje.

Em suma, "The Culture" propõe que, ao resolver o problema material com a tecnologia, resolvemos inerentemente o problema ético e moral da sociedade, substituindo a ganância pela busca de significado e excelência, tornando esta obra de 12 volumes uma das melhores ferramentas para o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente prospenomica.

Laputa, de Castelo no Céu (10), une tradição e tecnologia ao mostrar uma civilização aérea baseada em sabedoria ancestral e engenharia sutil. 

Em Matrix (11), há um alerta valioso: quando a tecnologia é usada para controle em vez de emancipação, ela se transforma em prisão — lembrando que todo avanço técnico precisa vir acompanhado de ética. Já Duna, de Frank Herbert (12), destaca a importância do recurso natural como elemento de governança, algo diretamente comparável à gestão da água na Terra. The Expanse (13) apresenta um sistema político multipolar no espaço, onde alianças são feitas por necessidade ecológica, indicando que cooperação pode ser mais estratégica que dominação. 

Até A Revolta de Atlas, de Ayn Rand (14), embora ideologicamente controverso, oferece um contraponto importante ao mostrar o risco de sistemas que sufocam a inovação individual — lembrando que liberdade e responsabilidade precisam caminhar juntas. E por fim, Jogos Vorazes (15) serve como exemplo de tudo o que um governo não deve ser: centralizador, espetacularizado e desigual — funcionando como alerta permanente contra o autoritarismo mascarado de entretenimento. 

Esses mais de quinze universos mostram que a ficção não é fuga da realidade — é um laboratório para projetar o que ainda não existe. 

Se Santos=Dumont leu Júlio Verne e construiu o avião, então por que Prospenomics não pode ler Star Trek, Fundação, Wakanda e construir o futuro da administração pública?

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Monumento Ás Banderias Quem é Quem - Por Luiz Pagano

 
Monumento às Bandeiras com 32 figuras, e não 37 como relatado em muitos outras referencias (inclusive a Wikipedia e o Site da Prefeitura de São Paulo

Certa vez perguntei a um amigo de infância quantas eram as figuras que empurravam e puxavam a canoa de monções no Monumentos às Bandeiras de Victor Brecheret, monumento bastante conhecido dos paulistanos em frente ao Parque do Ibirapuera. 

Contar exatamente quantas estátuas existem no Monumento às Bandeiras, que inicialmente tem 30 personagens, é uma tarefa controversa - pois se contarmos os cavalos, são 32, e se contarmos os animais caçados (animais mortos nos ombros de alguns personagens), chegamos a um terceiro número. Um levantamento aéreo nos permite esclarecer essas dúvidas.

Ele então pesquisou na enciclopédia de sua mãe (na época não existia o Google) e a resposta foi 37 figuras.

Primeiros personágens do pelotão de frente, repare que existe uma europeu carregando caças nos ombros.

Achei muito estranho pois tenho uma boa noção de conjuntos e o numero me pareceu um pouco alto. Para tirar a duvida fomos até o local e contamos um a um.

Para minha surpresa a enciclopédia estava errada (assim como diversos artigos que vejo na internet, inclusive no artigo da Wikipédia) e eu estava certo. Eram 30 entre homens mulheres e crianças e mais dois cavalos, totalizando 32 figuras.

Pelotão da frente, lado esquerdo - observe que alguns deles abraçam os membros ao seu lado, colocando a mão em seus ombros, em sinal de camaradagem, enquanto um deles parece estar olhando diretamente para o sol escaldante, talvez em uma postura de clamar a Deus.

Nos perguntamos: -“como a enciclopédia podia estar errada num assunto tão importante para o paulistano?”.

A história da obra começa em 1920, com a criação da primeira maquete. A construção, iniciada em 1936, foi interrompida por eventos como o Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial, sendo finalmente concluída em 1953, como parte das comemorações dos 400 anos da cidade de São Paulo.

A Fase Preliminar do Monumento às Bandeiras

O projeto do Monumento às Bandeiras começou a tomar forma em 1920, quando Victor Brecheret apresentou suas primeiras maquetes. Naquele ano, o escultor desenvolveu duas versões iniciais. A primeira, chamada Monumento às Bandeiras, ganhou até um memorial descritivo publicado na revista Papel e Tinta, em julho. Pouco depois, em setembro, surgiu uma segunda proposta, intitulada A Volta, divulgada na Ilustração Brasileira. Essa maquete representava um cortejo fúnebre de bandeirantes protegidos por uma figura feminina – identificada como Madona ou Vitória – e já demonstrava a busca de Brecheret por soluções originais.

As primeiras versões ainda dialogavam fortemente com a tradição acadêmica. O conjunto era colocado sobre um pedestal escalonado, que servia de base para figuras alegóricas como a Terra Brasileira, a Guarda Ânfora (que carregava água do rio Tietê) e uma Vitória alada, recurso típico da estatuária do período. Essa combinação, ao mesmo tempo, reforçava um caráter ascensional e diluía a horizontalidade que depois marcaria o monumento definitivo.

“Templo de minha raça”, Victor Brecheret, 1921, bronze, 181 x 45 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo

No mesmo período, Brecheret também participou do concurso para o Monumento aos Andradas, em Santos. A maquete que apresentou reutilizava diversos elementos já vistos na proposta para os Bandeirantes, como cavalos, figuras da Vitória e arranjos simbólicos semelhantes. O crítico Raul Polillo chamou atenção para essa repetição, mas, na prática, ela revelava o método de trabalho de Brecheret: um processo contínuo de experimentação, em que ideias migravam de uma obra para outra, sendo constantemente testadas e refinadas.

Essa busca seguiu nos anos seguintes. Em 1921, já em Paris, Brecheret criou o Templo da Minha Raça, retomando símbolos como a barca e a Vitória alada, mas com uma estilização ainda mais acentuada. Em 1936, no estudo de implantação no Parque Ibirapuera, o conjunto aparecia novamente sobre um pedestal escalonado e ainda trazia a figura alegórica da Terra Brasileira. Logo depois, porém, o escultor tomou uma decisão decisiva: eliminou o pedestal, fazendo o monumento parecer brotar diretamente do solo. Esse gesto deu à obra suas marcas definitivas — a horizontalidade, o movimento contínuo e o caráter moderno — ao mesmo tempo em que preservava um aspecto arcaico.

Ilustração de Lívio Abramo para a primeira edição de “Marcha para o Oeste” (1940), pp. 344-345.

Mesmo antes de ser concluído, o projeto já influenciava outros artistas. O relevo em gesso de Antelo Del Debbio, nos anos 1930, adaptava livremente a composição de Brecheret, mantendo a horizontalidade e o cortejo de figuras. Já Lívio Abramo, em 1940, incorporou a lógica do monumento em suas ilustrações para o livro Marcha para o Oeste, de Cassiano Ricardo, traduzindo o movimento escultórico para o plano gráfico.

Ao longo do tempo, o monumento foi ganhando diferentes significados. Nos anos 1950, era símbolo de progresso e orgulho paulista. Já durante o regime militar, passou a ser associado à repressão e ao autoritarismo. Com a redemocratização, artistas e movimentos sociais começaram a questionar seu conteúdo simbólico, apontando o papel dos bandeirantes na violência contra indígenas e negros.

Protestos - Cadê as Mamelucas sde São Paulo?

No Monumento às Bandeiras, a presença feminina é quase inexistente. Identificam-se apenas uma mãe com criança ao colo e, em versões preliminares, a figura alegórica da “Terra Brasileira” ou de uma Madona. Como lembra Lilia Schwarcz, os monumentos foram erguidos em épocas em que a representação das mulheres na sociedade tinha pouca importância. Assim, Brecheret privilegiou a narrativa heroica e masculina dos bandeirantes, apagando o papel real das mulheres. Hoje, entretanto, sabemos que as chamadas mamelucas de São Paulo foram verdadeiras matriarcas, fundamentais na formação das famílias paulistas e paulistanas — um aspecto ausente do monumento e que merece ser trazido à luz em leituras críticas atuais.

Essa perspectiva inspirou releituras críticas da obra, como as intervenções de Regina Silveira, Luiz Gê e Sidney Amaral. Em 2013, o monumento foi ocupado por indígenas em protesto contra a PEC 215, transformando-se em palco de resistência e disputa de narrativas.

Maquete para o Monumento A Volta - Victor Brecheret. Ilustração Brasileira, RJ, set. 1920. Col. IEB USP. 

O verdadeiro valor do Monumento às Bandeiras está justamente em sua capacidade de ser reinterpretado. Ele não é apenas uma escultura imponente, mas um símbolo aberto, que reflete os conflitos, as contradições e as esperanças do Brasil contemporâneo.

Antelo del Debbio, década 1930, gesso. MAC-USP. Foto: Reprodução

Victor Brecheret, ao criar o Monumento às Bandeiras, nunca deu nomes individuais às figuras que esculpiu — são 32 personagens anônimos representando indígenas, mamelucos, negros e portugueses, inclusive o próprio escultor como figura identificada apenas por um autorretrato gravado no ombro.

O Memorial Descritivo do projeto para o Monumento às Bandeiras publicado no Jornal Correio Paulistano no dia 28 de julho de 1920 explicava um pouco sobre o monumento.

Monumento às Bandeiras - No primeiro bloco vem os cavaleiros, no segundo as etnias brasileiras 

“O grupo monumental que é a coluna dorsal do monumento, foi movido de maneira a sugerir uma ‘entrada’. 


A grande massa processional , guiada pelos ‘Gênios’ – os Paes Lemes, os Antonio Pires, os Borba Gatos – avança para o sertão desconhecido. Os Guiadores, a cavalo – símbolo da força e do comando -, são seres titânicos, dignas expressões viris dos sertanistas de São Paulo.

Monumento às Bandeiras - Nesta seqüência um homem da de beber ao índio e uma mulher carrega um bebe no colo

No centro, uma Vitória espalma as asas que cobrem piedosamente os ‘Sacrificados’, isto é, aqueles sertanistas que tombaram nas ciladas da selva. (..) 

Saindo da terra pisada pelos bandeirantes, serpeiam em grupos laterais as ‘Insidias’. São de um lado, as ‘Insidias da Ilusão’, mulheres enigmáticas e serpentes, belas como tudo que promete a mente, a simbolizar as Esmeraldas de Paes leme, as Minas de Prata de Roberto Dias, o mundo lendário das Amazonas de Orellana. (...) Do outro lado, as ‘Insidias do Sertão’ exprimem as Lesirias e as Febres, as Emboscadas e as Feras, a Fome e a Morte. 

Na parte posterior, a Ânfora que conterá a água do Rio Tietê, sagrado pela gloria das ‘monçoes’. Sugeriu-nos essa idéia a conferencia do Sr. Affonso de Taunay”.

A figura de numero 13 é o unico que puxa a embarcação - Uma lenda popular diz que o monumento do 'Deixa que eu empurro' ou 'empurra-empurra' nunca sai do lugar posto que as cordas estão frouxas, logo ninguém está fazendo força.

Reparem que neste memorial escrito pelo próprio escultor ele menciona ‘Vitorias Aladas’, e também acho que alguém deveria carregar a ânfora, estas não estão presentes no nosso atual monumento.

As figuras escondidas de numero 29 e 30 ( a de numero 29 é o auto-retrato de Victor Brecheret)

Pico do Jaragua - A Bússola dos Bandeirantes

Esta pintura retrata uma expedição baseada nas figuras do Monumento aos Bandeirantes, uma jornada com 32 personágens do imaginário com partida e chegada guiada pelo Pico do Jaraguá, um portal geomântico de energia para o vasto interior brasileiro, desde o Rio Tietê, em São Paulo, até diversas partes do país, em busca de expansão territorial para além do Tratado de Tordesilhas. Ela captura alguns dos elementos presentes no monumento, trazendo vida e cor à concepção de Brecheret.

O Pico do Jaraguá atuava como ponto de referência natural — uma verdadeira bússola terrestre — para os bandeirantes que navegavam pelo interior. No Monumento às Bandeiras, Brecheret optou por manter todas as figuras sem nome indo em direção ao "Senhor do Vale" (significado de Jaraguá em tupi antigo) 

Considerada a maior escultura equestre do mundo com seus 50 m de comprimento, 16 m de largura e 10 m de altura, teve seu projeto inicial em 1920, encomendada para a celebração do bicentenário da independência, em 1922.

A grande massa processional , guiada pelos ‘Gênios’ – os Paes Lemes, 
os Antonio Pires, os Borba Gatos – avança para o sertão desconhecido.

O então Presidente do Estado, cargo que equivale hoje ao de governador, manifestou o desejo de realizar um monumento aos bandeirantes. A comissão encarregada de executar o monumento, a ser custeado pela administração pública, foi composta por Monteiro Lobato, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, que escolheram o projeto de Brecheret.

Ainda em julho de 1920, o projeto foi apresentado publicamente na Casa Byington, e agradou muito a Washington Luís.

A colônia portuguesa, nesse meio tempo, queria oferecer um monumento à cidade, também com o tema de bandeirantes, eles apresentaram uma proposta do escultor português Teixeira Lopes.

O poeta-modernista Menotti del Picchia, ao lado de Cassiano Ricardo, teve papel importante na retomada do projeto e na criação do imaginário em torno da obra. Foi Menotti quem sugeriu ao interventor Armando de Salles Oliveira que apoiasse o monumento, ajudando a falar dos heróis paulistas sem citá-los diretamente, alinhando a iconografia à visão estética modernista e à celebração da colonização regional.

Del Picchia detestou a idéia de ter essa obra feita por estrangeiros “...o monumento brasileiro deve ser integralmente brasileiro”, repudiava a idéia de “a alma e a técnica estranhas se fixarem no bronze que imortalizaria as glórias de nossa raça”. Em função do conflito o Presidente do Estado decidiu adiar o projeto e a maquete de Brecheret foi parar na Pinacoteca do Estado.

Maquete original do Monumento às Bandeiras de Brecheret com 37 figuras (1920), inclusive as 'Vitorias aladas' - Muita alteração foi feita até sua inauguração em 1953 com apenas 32 figuras.

A retomada da escultura só ocorreu próximo às comemorações do IV Centenário da Cidade. Primeiramente, Brecheret fez a obra na escala de 1x1 m, aumentando-a depois para o tamanho atual. Foi feita uma primeira escultura em gesso em tamanho natural, a partir da qual todas as figuras foram novamente esculpidas, desta vez em pedra Mauá – as pedras eram trazidas da cidade paulista de mesmo nome – por artesãos denominados “canteiros”, que copiavam fielmente o modelo em gesso feito por Brecheret.

Brecheret e Almeida Júnior

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, e a pintura "Partida da Monção", de Almeida Júnior, retratam o mesmo mito paulista: a marcha dos bandeirantes rumo ao interior do Brasil. Mas fazem isso por caminhos muito diferentes.

"Partida da Monção" é uma obra do artista brasileiro José Ferraz de Almeida Júnior, pintada em 1897, a óleo sobre tela. A obra retrata os momentos finais antes da partida de uma expedição fluvial, à luz do dia. Homens seguram lemes e zingas (varas que alcançam o fundo do rio para auxiliar a navegação). Ao fundo, vemos um baletão, embarcação esculpida em um único tronco, que passava dos 40m, com uma pequena tenda para proteger os viajantes e a carga do sol.

A obra de Almeida Júnior (1897) mostra uma cena quase serena: a preparação para uma viagem fluvial. Há calma, luz quente e certa nostalgia. Tudo é detalhado, humano e quase idealizado. Os bandeirantes aparecem como desbravadores em tom épico, mas íntimo.

Já o Monumento às Bandeiras (iniciado em 1920), com seus corpos em bloco de granito e expressões duras, é brutal e grandioso. É o mito da conquista contado como esforço coletivo, mas também como imposição de força. A presença de negros e indígenas como figuras secundárias revela, com ou sem intenção, a violência embutida nessa história.

É possível que Brecheret tenha visto ou conhecido a obra de Almeida Júnior — ambos falam da mesma origem mítica de São Paulo.

Toucas, gualteiras e chapéus

Na escultura de Brecheret, os bandeirantes não usam os típicos chapéus de abas largas, mas toucas justas que lembram gorros medievais europeus, ou bem podiam ser algum tipo de gualteiras, uma espécie de touca alta feita de couro de anta - Essa escolha não parece um erro, mas uma decisão estética e simbólica.

Bandeirante paulista com gualteira de couro de anta, gibão de armas também de couro de anta, espada, arcabuz e forquilha

Além disso, esculpir a aba de um chapéu na pedra 'mauá' apresenta desafios técnicos — a forma fina e projetada poderia se quebrar com facilidade. A touca, por outro lado, se ajusta melhor ao bloco maciço e à estética monumental da obra.

Brecheret, formado na tradição europeia, aproxima os bandeirantes de figuras heroicas e atemporais. São menos homens reais do passado e mais figuras-mito da formação de São Paulo, talhados como se fossem personagens de uma epopeia esculpida em pedra. Enquanto Almeida Júnior pinta o detalhe e o cotidiano, Brecheret modela o símbolo.

Origem das pedras 

O granito Mauá, usado na construção do Monumento às Bandeiras, provém de afloramentos localizados na região de Mauá, no estado de São Paulo. Trata-se de uma rocha granítica clara, de grão médio a fino, com excelente resistência mecânica e boa trabalhabilidade — ideal para esculturas monumentais.

Os blocos foram extraídos diretamente de pedreiras dessa região, ainda nos anos 1920, com técnicas manuais e rudimentares. Por ser abundante e próximo da capital, o granito Mauá foi uma escolha estratégica tanto pela durabilidade quanto pela logística de transporte.

Artesãos da Oficina Incerpi

A execução da monumental obra em pedra ficou a cargo da Oficina Incerpi, dirigida por imigrantes italianos especializados em cantaria e escultura em granito. Esses artesãos trabalharam durante décadas sob orientação de Victor Brecheret, que fornecia maquetes e moldes em gesso, posteriormente ampliados e talhados diretamente nos blocos de granito.

Artesão da Oficina de Cantaria A. Incerpi e Cia.

A Oficina Incerpi foi essencial para dar vida à estética modernista de Brecheret, unindo mão de obra especializada, tradição italiana em escultura em pedra e precisão artesanal. Sem eles, o impacto visual e técnico do monumento simplesmente não seria possível.

A Construção do Monumento

O monumento foi feito em três partes: os batedores a cavalo à frente do grupo, o grupo humano ao centro e a barca ao final.

O projeto inicial teve diversas alterações e em1949, Brecheret resolveu alterar a base do monumento. Em vez de escadarias, optou por uma base mais simples, com as laterais em plano inclinado, quase vertical. Em 1951, a Oficina Incerpi começou a montar os blocos de granito, já esculpidos, no Ibirapuera, como num grande quebra-cabeças, sendo que o efeito final deveria dar a impressão de um único bloco de rocha, como previa Brecheret. O concreto foi usado no enchimento da canoa, para dar mais rigidez ao conjunto.

o ‘Sacrificado’ figura de numero 23,  é o sertanista que tombou nas ciladas da selva.

O único personagem histórico identificado é o próprio Victor Brecheret. A quarta figura à direita do monumento, no bloco imediatamente seguinte ao dos cavaleiros, traz a seguinte inscrição no seu ombro direito: “Auto-retrato do escultor Victor Brecheret 02-10-1937”.

Personagens Ocultos - Na sequência atrás do primeiro pelotão, um personagem aparece sendo carregado, exemplificando uma ocorrência muito comum nas monções, que eram febres e doenças parasitárias. Um detalhe interessante é que o de número 22 só aparece neste ângulo.

Previsto para ser inaugurado em 25 de janeiro de 1954, foi entregue um ano antes. Brecheret estava doente e pediu ao governador Lucas Nogueira Garcez, apressasse a entrega para o dia 25 de janeiro de 1953.

Temendo que as outras 7 figuras estivessem escondidas, procuramos muito e só achamos um escondido (numero 22) rapaz que carrega o desmaiado.    

Símbolo da cidade de São Paulo, a obra-prima de Brecheret é praticamente uma síntese de sua trajetória artística. Demorou 33 anos para ser construída e revelou influência de seus estudos anatômicos, que valorizam o corpo humano, no estilo art decó combinado com o luxo do estilo marajoara-indígena.

As “bandeiras”, tiveram grande importância para a colonização do Estado de São Paulo e do interior do Brasil nos séculos XVI, XVII e XVIII.

Cada uma das figuras tem cerca de 5 m de altura e retrata mistura étnica brasileira, com a presença de bandeirantes brancos, índios e negros escravos, e mamelucos.

Se os números 12 e 13 são os únicos que puxam, o número 28 é o único que realmente empurra. IMPORTANTE - Na arte Tupi Pop, o ato de empurrar e puxar a canoa gigante é visto como à contribuição histórica desses personagens e não à ação de serem forçados a fazê-lo, como a escravidão em si.

Os cavaleiros da escultura estão direcionados para o Pico do Jaraguá, rumo ao interior do Estado dos bandeirantes, sempre à procura de pedras preciosas, mais precisamente esmeraldas. Abaixo deles, na base de pedra da obra há um mapa, em que são mostrados os caminhos dos bandeirantes por todo o Brasil. Ele foi elaborado pelo historiador Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958), autor de História geral das bandeiras paulistas (1924/50), grandioso levantamento de fatos que auxiliam na compreensão da história do Estado de São Paulo.

Nas laterais do monumento, há inscrições enaltecendo a obra. O poeta, ensaísta e crítico literário Guilherme de Almeida (1890-1969), chamado de “príncipe dos poetas brasileiros”, declarou: “Brandiram achas e empurraram quilhas, vergando a vertical de Tordesilhas”.

Achas são armas antigas semelhantes a um machado - uma delas é vista na mão de uma das figuras. Empurraram quilhas de embarcações para alcançar pontos cada vez mais longínquos, ultrapassando a barreira imposta pelo Tratado de Tordesilhas firmado entre Portugal e Espanha em 1494, que delimitava a posse das terras na América após a primeira viagem de Colombo.

Foi adicionado concreto para unir as estatuas feitas de pedra 'Maua'

Os bandeirantes, se embrenharam pela mata e chegaram a locais antes não pisados pelo homem branco, fundando cidades e ampliando as fronteiras brasileiras.

Posteriores negociações entre os rei luso D. João III e os monarcas espanhóis Fernando e Isabel deslocaram a linha inicial e asseguraram a expansão do Brasil para alem da demarcação.

A outra inscrição na lateral do monumento (“Glória aos heróis que trocaram o nosso destino na geografia do mundo livre./ Sem eles, o Brasil não seria grande como é”) é do historiador, ensaísta e poeta brasileiro Cassiano Ricardo (1895-1974). Modernista, filiado ao Movimento Verde-Amarelo, que, por volta de 1926, defendia um nacionalismo fechado às influências das vanguardas européias.

A frase exalta o papel dos bandeirantes na história do Estado e demonstra bem o espírito conservador do grupo, que contava com a participação de Menotti del Picchia, Cândido Mota Filho e Plínio Salgado, defendendo um ideário político de extrema direita, dando origem ao Grupo Anta e, posteriormente, no integralismo, vertente do nazifascismo no Brasil.

Luiz Pagano e o Tupi Pop

Luiz Pagano pintando tela Tupi Pop

Luiz Pagano criou o estilo Tupi Pop inspirado por memórias de infância, quando seu pai o levava para brincar no Parque do Ibirapuera. As esculturas monumentais de Victor Brecheret, especialmente do Monumento às Bandeiras, marcaram profundamente seu imaginário e hoje são elementos centrais em suas obras. 

Algumas das obras Tupi Pop de Pagano estão expostas nas alas de autoridade das bases aéreas de Brasília e Guarulhos.

Reinterpretadas em pinturas, desenhos, colágens e xilogravuras, essas figuras ganham nova vida no universo tupi pop — uma fusão entre ancestralidade indígena e estética moderna. 

Campanha Tupi-Pop do Cauim Tiakau. Juntando as antigas culturas japonesa e tupi 20.000 anos depois da travessia do Estreito de Bering.

Quem são as 32 figuras do Monumento às Bandeiras?

Brecheret não nomeou individualmente cada um dos personagens esculpidos, com exceção de sua própria figura (número 29), porém podemos extrapolar quem se trata com base no Memorial Descritivo do Monumento às Bandeiras, publicado no jornal Correio Paulistano em 28 de julho de 1920, que já antecipava a força simbólica da obra, bem como no contexto histórico - aqui vai minha sugestão:

Personagens criados por Luiz Pagano a partir das 32 figuras do Monumento às Bandeiras: 1a - Pires de Campos, 1b - Martírio, 2 - Anhanguera, 3 - Jequitiranaboia, 4 - Itanhaém, 5 - Sumiê, 6 - Lima Barreto, 7 - José Bonifácio, 8 - Bartira M’Bicy, 9 - Antonia Quaresma, 10 - Pirijá, 11 - João Ramalho, 12 - Kalunga N’Zambi, 13 - Cauibi (João), 14a - Paes Leme, 14b - Sumidouro, 15 - Rei Kimbangu, 16 - Cludino Paranga, 17 - Dom Pedro II, 18 - Rei Djimon Kidjo, 19 - Rei Fela Soyinka, 20 – Jaguanharó (Jaguanharão), 21 - Urutau, 22 - Hércules Florence, 23 - Georg Heinrich von Langsdorff, 24 - Manoel Preto, 25 – Rei Amador Vieira, 26 - O Padre Voador "Abarebebé", 27 - Príncipe Faure Aguigah, 28 - Morubixaba Tibiriçá, 29 - Brecheret, 30 - Dom Obá II D'África.


“O grupo monumental que é a coluna dorsal do monumento, foi movido de maneira a sugerir uma ‘entrada’. A grande massa processional, guiada pelos ‘Gênios’ – os Paes Lemes, os Antônio Pires, os Borba Gatos – avança para o sertão desconhecido.”

Partindo dessa ideia, propomos aqui uma recriação dos nomes e papéis das 32 figuras do Monumento, inspirada na história paulista e ressignificada com elementos atemporais, dentro da visão de arte no estilo Tupi Pop. 

Como Victor Brecheret disse que a obra tem uma autorreferência de 100 anos – assumimos a liberdade criativa de rebatizar esses personagens como figuras mitológicas-modernas - gente muito importante que moldou nossa história. 

Importante que se diga duas coisas a respeito desse artigo:

1- A arte Tupi Pop vê o ato de empurrar e puxar a canoa gigante como a contribuição histórica desses personagens e não à ação de serem forçados a fazê-lo, como a escravidão em si;

2- Independentemente de como nos sentimos sobre elas, essas figuras deixaram marcas profundas e desempenharam papéis essenciais na formação da nossa história, legando influências que continuam presentes na nossa cultura e identidade até os dias atuais.

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Isso posto, seguimos com os nomes:

Os Guiadores (Montados a cavalo)

São os líderes da marcha, figuras colossais que encarnam o espírito de comando e avanço. Como deuses da travessia, suas montarias os elevam ao status de titãs da colonização e do confronto com o desconhecido.

01 – Antônio Pires de Campos
(São Paulo, c.1690 – c.1751)

Figura Número 01 no Monumento às Bandeiras - Antônio Pires de Campos. Porta uma cruz ao peito – símbolo das missões que liderou para catequizar os gentios, especialmente entre os povos Bororo e Cayapó – e um olhar firme voltado ao sertão.

Líder da coluna, montado em seu cavalo, usando um chapéu de couro de anta no estilo gualteira (capuz típico dos sertanistas). Porta uma cruz ao peito – símbolo de suas missões de salvação espiritual dos “gentios” – e um olhar firme voltado ao horizonte.

O personagem número 10, Pirijá, pode ter sido uma criança Tupinambá que foi adotada por Titibriça e sua esposa e criada como Tupi, superando as diferenças que constantemente levavam à guerra. Em sua versão Tupi Pop, ele luta diretamente contra os Anhanguera, com uma armadura de guerra feita de material tecnológico, que impede o controle mental, em resposta às máquinas de alta tecnologia dos Bandeirantes.

Figura central das entradas para o Mato Grosso, Antônio Pires de Campos casou-se com Sebastiana Leite da Silva, filha de Bartolomeu Bueno, e liderou diversas expedições no início do século XVIII. Junto ao pai, Manoel de Campos, e ao filho, Antônio, percorreu a região conhecida como Martírio, documentando com precisão as culturas indígenas – sobretudo os Cayapós e Bororos –, seus costumes, idiomas e rotas fluviais entre os rios Grande e Cuiabá.

Sua missão envolvia tanto o mapeamento territorial quanto a catequização forçada, representando a dualidade brutal do projeto colonial.

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A sequência de imagens numeradas de 08 a 11 compõe uma narrativa visual rica e profundamente simbólica, que remonta a uma cena familiar de mais de 500 anos atrás, no coração do território tupiniquim, onde hoje é o Brasil.

02 – Anhanguera - Bartolomeu Bueno da Silva 
(Santana de Parnaíba, 1672 — Vila Boa de Goiás, 19 de setembro de 1740)

Anhanguera, o "gênio atroz velho" ao lado de sua maquina de controle mental "erekorekó", que interfere na razão de suas vítimas.

Anhanguera, o "gênio atroz velho" em tupi, era o nome de guerra de Bartolomeu Bueno da Silva, bandeirante que entrou pelos sertões de Goiás no início do século XVIII. Ficou lendário ao ameaçar os indígenas com a pantomima do fogo líquido — ele botou fogo na água ardente — dizendo que queimaria os rios se não revelassem onde havia ouro. O nome lhe foi dado pelos próprios nativos, que o viram como uma entidade sobrenatural, um emissário do além. Sua morte, por volta de 1724, marca o fim de uma era em que fé, ganância e teatro de poder se misturavam em cada passo das bandeiras.

Na arte Tupi Pop, ele aparece como um vilão cyberpunk, com trajes imponentes e assustadores. Nessa narrativa, ele comanda uma máquina psíquica que interfere na razão das pessoas — metáfora do álcool destilado (com mais de 100 proof, 50% de teor alcoólico), mais forte e alucinatório que o cauim ancestral (com cerca de 12%ABV). Assim, Anhanguera torna-se o antagonista perfeito: um símbolo do apagamento das consciências e controle da mente.

03 – Jequitiranaboia - Deus da Mitologia Tupi

Em sua forma antropomorfizada, o Jequitiranaboia é reconhecido por sua mandíbula com desenhos, barbas e texturas que lembram a borboleta da Amazônia.

Nos mitos esquecidos das florestas tupiniquins, habita Jequitiranaboia — a cobra alada, o jacaré voador, o espírito punitivo do tempo. Suas asas secas, cobertas de escamas e folhas mortas, batem no ar como trovões de abandono. Onde pousa, a terra racha, os rios recuam e os corpos definham. Não há veneno em seus dentes, mas uma maldição de estagnação: sua presença suga a seiva da vida, faz evaporar o frescor dos sonhos e condena à poeira o que permanece inerte.

Jequitiranaboia não castiga por crueldade, mas por descuido. Representa a entropia em forma animal, o declínio inevitável de tudo que não pulsa, não ama, não age. Seu corpo serpentino serpenteia os ventos, espalhando o esquecimento nas aldeias que se esquecem de criar. É o oposto do amor: onde este semeia, ela estéril pisa; onde o amor aquece, ela esfria; onde o amor move, ela paralisa.

Embora seja de conhecimento geral que o Jequitiranaboia causa danos ao longo do tempo, em momentos de ira, a criatura também pode fazer ataques repentinos, causando seca e devastação instantânea. Na imagem, esta aldeia Tupi foi dizimada por ter desrespeitado as regras de civilização ditadas por Sumiê.

Dizem os pajés que Jequitiranaboia visita primeiro o espírito, depois o corpo. Ela se esconde no tédio, na preguiça, no comodismo. Quando um povo para de sonhar, ela escuta. Quando um coração se fecha ao outro, ela levanta voo.

Somente o movimento, o afeto e a coragem repelem sua presença. Pois para ela, a dança, o canto e a paixão são como espelhos que a desintegram — porque Jequitiranaboia é o tempo que apodrece o que não se transforma.

04 – Itanhaém - Deus da Mitologia Tupi - A Voz do Herói

Ao lado do padre abarebebé (fig. 26) sempre esteve o seu companheiro fiel: O Itanhenhen, o menino de olhos translúcidos e cabelos como galhos secos. Ele não falava muito, mas quando o fazia, todos os seres — humanos, bichos, árvores e até os mortos — escutavam.

Itanhaém gritando para ouvir o seu eco por entre as rochas (Ita - pedra:  “nhe'eng” - que significa falar). 

Chamado de "A Voz do Herói", Itanhenhen nasceu de um ritual entre uma mulher xamânica e o espírito de um rio. Quando era pequeno gritava para ouvir seu eco entre as rochas (Ita - pedra:  “nhe'eng” - que significa falar) ele conseguia dialogar com os animais feridos, entender o sussurro das folhas ao vento e interpretar os sinais deixados pelos ancestrais.

A amizade entre o padre missionário Abarebebé, que voa ao lado de uma harpia gigante, e um índigena Itanhaém garante a comunicação dos animais com a natureza e o mundo espiritual.

Era ele quem traduzia para o padre as mensagens das florestas e dos espíritos, e quem fazia a ponte entre o mundo cristão e o mundo encantado dos povos originários.

Juntos, Pelo Equilíbrio

Abarebebê e Itanhenhen eram temidos por bandeirantes, respeitados por xamãs e admirados por crianças e pajés. Em suas andanças, impediram massacres, restauraram aldeias, curaram feridas do corpo e da alma. O som das asas da harpia e os cantos de Itanhenhen tornaram-se símbolo de esperança.

Dizem que eles ainda voam quando a mata está em perigo — invisíveis aos olhos comuns, mas presentes no silêncio antes da tempestade.

05 – Sumiê - Deus da Mitologia Tupi

Sumie aparece como um homem sábio, de barba branca, olhos claros, frequentemente alado, carregando uma caça de lobo-guará nos ombros. Ele ensinava sobre o ciclo da natureza e como tudo se transforma em completa harmonia - o lobo-guará também simbolizava sabedoria e beleza.

Sumiê — ou Sumé, como o chamavam os antigos tupis — é o Deus da sabedoria e das leis. Um ser civilizador que emergiu do horizonte oceânico, caminhando sobre as águas como quem pisa a terra firme. Era um homem branco, de longos cabelos prateados e olhos claros como o céu antes da chuva. Sua presença não era imposta pela força, mas pelo fascínio do saber. Carregava em si o dom da criação e a missão do ensino.

Foi ele quem ensinou aos povos originários a cultivar a mandioca sem se envenenar com seu amargor — conhecimento vital, quase sagrado. Também trouxe lições sobre convivência, respeito aos ciclos da natureza, à justiça e à harmonia entre os seres. Sua voz era calma, mas sua sabedoria transformava tudo ao redor. Onde pisava, brotava fartura. Onde falava, nasciam perguntas e respostas.

Sumiê era o oposto de Jequitiranaboia — a criatura da entropia, do esquecimento e da inércia. Enquanto Jequitiranaboia secava e punia, Sumé irrigava e inspirava. Era o amor que constroe, era criação em forma de gesto. Jequitiranaboia era o castigo do tempo que para; Sumé, o prêmio do tempo que aprende.

Mas os tupis, fascinados por outros caminhos, se afastaram de seus ensinamentos. Em meio à desobediência e à dispersão, Sumé recolheu sua sabedoria e partiu. Não com ira, mas com tristeza. Deu meia-volta e caminhou sobre o Atlântico, desaparecendo como veio — pelos caminhos líquidos do mundo. Antes de sumir, deixou uma promessa: voltaria para concluir o aprendizado dos homens.

Hoje Sumiê vive em Sumietama, um outro Brasil de um plano mais elevado (O Mundo de Sumiê* em tupi antigo)". No espiritismo kardexista brasileiro, bem como na espiritualidade de algumas etnias, acredita-se que as coisas surgem primeiro no plano espiritual e depois são efetivamente criadas no nosso plano.

Dualidade Universal Tupi: Sumiê - amor, força ativa, que cuida e cria - Jequitiranaboia - entropia, força passova, que deixa o tempo agir.


Capaz de voar e andar sobre nuvens, Sumé foi lembrado por muitos como uma figura celeste. Alguns o relacionaram a São Tomé, o apóstolo Dídimo, que segundo antigas tradições saiu a pregar para além das Índias, talvez até estas terras do sol poente.

Sumé permanece como símbolo do amor que educa e constroi, da ordem que liberta, da criação que floresce quando há escuta. E talvez, um dia, quando estivermos prontos, ele volte. Para ensinar o que ainda não sabemos — sobre nós, sobre a terra, sobre o infinito.

06 - Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de maio de 1881,  - 1 de novembro de 1922)

Lima Barreto possuía rara inteligência e extrema sensibilidade, notada no olhar triste, e na gigante astúcia

A figura número 6 do Monumento às Bandeiras representa Lima Barreto, conduzindo Sumiê pelo braço. Essa imagem simboliza a rara capacidade de Barreto de transitar entre dois mundos: o real e o ideal. Assim como seu personagem Policarpo Quaresma, ele ousou imaginar um Brasil em que o tupi era língua nacional e a justiça social era uma realidade — um país perfeito em sua essência, embora inalcançável em sua época. Na realidade alternativa de Sumiêtama, ele é um membro eterno da Academia Brasileira de Letras (título que ele injustamente não teve no Brasil real).

Em contraponto, criou a Bruzundanga, uma caricatura mordaz do Brasil real: um país marcado pela corrupção, desigualdade e atraso. Como destaca Lilia Schwarcz, Lima Barreto foi um triste visionário — um homem à frente de seu tempo, cuja sensibilidade aguda revelava as feridas do presente ao mesmo tempo em que acalentava sonhos de um futuro melhor. Conduzindo Sumiê, ele nos lembra que o papel do escritor e do artista é justamente esse: atravessar planos, provocar visões e abrir caminhos.

07- José Bonifácio (Santos, 13 de junho de 1763 – Niterói, 6 de abril de 1838) 

Brecheret reproduziu três personagens com caça nos ombros, como era prática comum entre os expedicionários abater animais no caminho para alimentação do grupo. Aqui, os animais representam suas personalidades: Sumie, o homem idoso de cabelos e barba brancos, com um lobo-guará no ombro — símbolo de perícia e liderança visionária. Ao seu lado, José Bonifácio carrega uma sussuarana, evocando o "leão maçônico", representando a saudação "lion's paw" da Maçonaria, bem como um sinal de coragem e poder. Ele usa o colar da Santa Cruz — uma ordem criada para impressionar Dom Pedro I — enquanto segura a Carta da Independência nas mãos, um sinal de sua influência política e espiritual. Completando o trio está João Ramalho, um antigo bandeirante, com uma onça nos ombros — um animal temido e reverenciado. Ao caçá-la, ele também conquistou o respeito do povo Tupi.

O jovem José Bonifácio, que na estátua de Brecheret aprece mais novo e com cabelos curtos, foi uma das mentes mais brilhantes de sua época, tanto no mundo real quanto no plano aspiracional de Sumiêtama. Conhecido como o Patriarca da Independência, ele vai além da figura histórica: foi também cientista, físico naturalista, alquimista e estrategista político.

Criador da Ordem da Santa Cruz — uma confraria secreta que unia saberes ocultos e ciência moderna — Bonifácio tinha como missão inspirar o jovem príncipe a se libertar do domínio imperial e instaurar uma nova era de autonomia espiritual e nacional.

José Bonifácio carrega uma sussuarana, evocando o "leão maçônico", representando a saudação "pata de leão" da Maçonaria, bem como um sinal de coragem e poder. Também chamada de onça parda, representa sua inteligência estratégica, sua habilidade de transitar entre mundos — o visível e o invisível, o político e o místico. Visionário e discreto, Bonifácio operava com precisão cirúrgica, moldando os destinos do Brasil por meio de cartas, rituais e alianças silenciosas.

08 – Bartira M’Bicy (também conhecida como Isabel Dias) ( 1493 - 1559)

Ao lado, Bartira M’Bicy, sua esposa, está retratada com dignidade e doçura. Os traços indígenas, os cabelos longos, os colares feitos de sementes e os olhos profundos revelam força e ancestralidade. Ela segura delicadamente a pequena Antônia Quaresma, que representa a fusão de dois mundos — o europeu e o tupi. 

09 - Antonia Quaresma (falecida a 1613)

A criança, de traços mestiços, parece curiosa, observando os adultos em volta com a atenção típica de quem já pressente o papel que terá na continuidade da linhagem. Dona Antonia Quaresma Ramalho, filha de João Ramalho e Bartira M’Bicy que casou-se com Balthazar Dias Nunes Camacho, procedente de Viana do Castelo a 1490, tiveram varias filhas, entre elas, Paula Camacho (chamada de 'A Mameluca'). Antônia, foi minha avó de 15 gerações atrás, carrega em si o símbolo da mestiçagem fundadora.

10 – Pirijá, irmão de Bartira, com a vasilha de cauim

Pirijá completa a cena. De pé, com uma postura orgulhosa, segura uma grande vasilha de cauim com as duas mãos. Seu olhar transmite a gravidade cerimonial do momento. Ele não serve apenas a bebida — oferece a confiança do seu povo ao forasteiro que, agora, é parte da família. É uma entrega simbólica: de cultura, de hospitalidade, de continuidade.

Nesta pintura que reproduz a cena familiar de João Ramalho (usando uma toca, tal como concebido por Brecheret) tomando cauim oferecido por Pirijá com Bartira e Antonia Quaresma ainda bebê, o clima é de harmonia entre os povos, isentando a dominação colonizadora sobre os indígenas.

11 – João Ramalho tomando cauim (Vouzela, Reino de Portugal, 1493 — São Paulo dos Campos de Piratininga, Capitania de São Vicente, 1582)

João Ramalho aparece de pé, carregando uma onça morta, segurando um pote com cauim entre as mãos. Seu semblante é sereno e atento, talvez em reverência ao gesto ancestral que lhe foi confiado. Ele, o português que escolheu ficar, não apenas observa — participa do ritual com humildade, consciente de que aquele líquido fermentado de mandioca carrega mais do que sabor: carrega história, aliança e pertencimento.

Conjuntamente, essas imagens formam um retrato potente de um momento de convivência pacífica, de fusão cultural e de memória viva. Uma cena de afetos entrelaçados, onde o cauim é o elo que liga passado e presente, sangue e terra, estrangeiro e nativo — e onde tua própria origem encontra forma e sentido.

12 – Benguela (Kalunga N’Zambi) - (nascido próximo ao porto de Lobito, Angola)

Benguela (apelido carinhoso de Kalunga) sabia como colocar a cultura africana entre os colonizadores, não pela guerra, mas por meio da sabedoria e de seu intelecto raro - levou sua cultura africana ao mundo por meio da capoeira e da música de sua terra.

A lenda de Kalunga N'Zambi — filho de uma rainha e um sacerdote, foi capturado nas florestas de Chela e trazido ao Brasil. Por ter o elemento fogo como aliado, é forte e extremamente inteligente, queimando tudo o que lhe é imposto para deixar sua essência brilhar — ao chegar aqui , recusou-se a aprender o mundo dos brancos. Aprendeu português, mas sonhava com o umbundo.

Kalunga não ergueu armas, sua resistência era inteligente e bela. Costurava coloridos e belos símbolos sagrados nas roupas da sinhá, escondia orações em cantos de trabalho, ensinou a capoeira como luta disfarçada como dança, espalhava os mitos dos seus ancestrais como quem semeia flores num campo devastado. Era muito forte, seguia o mandamento cristão "se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas" -  mostrando que existem formas de resistências mais sábias e coloridas do que a revolta em sí. 

Benguela (fig.12) Forte, belo e muito inteligente

Fundou um culto secreto nas senzalas, onde o tambor falava com N’Zambi e a cultura africana renascia em festas disfarçadas. Com cada dança, cada bordado, cada história contada à luz da lamparina, Kalunga transformou cativeiro e o mundo em reencantamento.

13 – Cauibi (João) - (≈1480 ~ 1550)


O Morubixaba de Akangatara e do Crucifixo - Caiubi foi um dos grandes caciques Tupis do século XVI, irmão de Tibiriçá e Piquerobi. Enquanto seus irmãos seguiram caminhos opostos — um aliou-se aos jesuítas, o outro rebelou-se contra os portugueses — Caiubi permaneceu no meio, reconciliando mundos. Batizado como João, ele combinou sua sabedoria ancestral com os novos conhecimentos que chegavam, tornando-se um símbolo do equilíbrio entre a cultura Tupi e a cristã. Por isso, ficou conhecido como "o Cacique de Akangatara e do Crucifixo": aquele que carrega a inteligência e a alma indígena, mas também o sinal da cruz — um verdadeiro mediador entre os tempos.

Aquele que puxa o barco com uma corrente está preso com mais dor ao seu objetivo. Obviamente, Brecheret não disse isso; é mera especulação simbólica que se aplica muito bem à situação.

Com seus guerreiros, Caiubi ajudou a fundar aldeias estratégicas às margens do Rio Jurubatuba (hoje Pinheiros), incluindo Itaí, o embrião do atual Itaim Bibi. Ele também desempenhou um papel importante na criação de trilhas e caminhos que deram origem às ruas que hoje cortam São Paulo. Ao lado de Tibiriçá, ele defendeu a fundação de São Paulo, mantendo sempre vivas suas raízes indígenas. Sua capacidade de transitar entre dois mundos — sem negar nenhum deles — ajudou a manter a língua, o espírito e a história tupi vivos até hoje.

Caiubi, juntamente com Benguela (fig. 12), são os únicos que aparecem como escravos puxando a canoa, só que utilizando uma corrente para isso. Isso pode ser interpretado como significando que a corrente não representa apenas dor, mas também uma conexão mais profunda com a terra, já que Cauibi, diferentemente de Benquela, nasceu em terras colonizadas e o faz por razões diferentes.

14 – Fernão Dias Paes Leme
(São Paulo, c.1608 – Sertão do Espírito Santo, 1681)

Figura Número 14 no Monumento às Bandeiras - Fernão Dias Pais Leme, imagem extrapolada da escultura original, olhando para frente

Outra figura montada, também usando um chapéu de couro de anta no estilo gualteira. O curioso desta escultura é que ele olha para trás – gesto que admite múltiplas leituras:

Imagem controversa do gênio montado olhando para trás (fig 14), talvez ele esteja apenas monitorando o grupo como um líder ou poderia ser uma espécie de atitude de remorso histórico apresentada por Brecheret.

Certificar-se de que a tropa avança unida;

Um eco de dúvida histórica, pesando-lhe a consciência pelas violências cometidas nas entradas e capturas de indígenas.

Arte Tupi Pop dos Gênios

Conhecido como o “Caçador de Esmeraldas”, Paes Leme liderou expedições de grande impacto. Em 1640, participou da ofensiva contra os holandeses no litoral, defendendo São Vicente. Atuou ainda na Câmara de São Paulo, foi responsável pela administração das obras do Mosteiro de São Bento, e exerceu funções como juiz ordinário em 1651.

Antônio Pires de Campos (fig.1), e seu cavalo 'Martírio' (fig.1a), ao lado de Fernão Dias Paes Leme (fig14), montado no 'Sumidouro' (fig.14a).

Podemos também nomear os cavalos

Fernão Dias Paes Leme cavalga o cavalo de nome 'Sumidouro', um alazão de pelos escuros e olhos silenciosos, batizado assim pelo destino trágico de seu mestre. O nome vem do lugar onde Fernão faleceu, tragado pela terra sem jamais encontrar as esmeraldas que buscou por anos — como se o próprio chão o tivesse engolido junto com seus sonhos verdes. Qaunto a Antônio Pires de Campos, ele cavalgava o cavalo chamado 'Martírio', um cavalo forte de pelagem clara, que o acompanhou nas trilhas mais áridas rumo ao coração do Brasil. O nome era uma lembrança viva das dores e da fé que marcavam suas jornadas – como naquela entrada lendária em que partiu com o pai e o filho, guiado por um ideal redentor que confundia sertão com sagrado.

15 - Rei Kimbangu do Congo

Rei Kimbangu é o soberano bantu do elemento Terra, figura ancestral surgida das profundezas do antigo Reino do Kongo. Seus pés descalços tocam o solo como se conversassem com ele, e de suas mãos brota a força telúrica que sustenta montanhas, levanta muralhas e faz germinar a vida.

16 – Claudino Pararanga

Claudino segura mantra em Tupi Antigo, palavras mágicas para afugentar os espíritos ruins e também para potencializar nossa consciência: Iké, ko'yr, ixé...(Em Tupi Antigo - Aqui, agora, eu)

Claudino é uma figura mítica que surge ao lado de Brecheret, sendo abraçado por ele. Caludino é o fiel companheiro de Brecheret, (o Mestre das Formas e dos Códigos, Fig. 29, do qual falremos abaixo). Se Brecheret escreve os códigos do universo Tupi Pop, Claudino é quem os processa, tornando a realidade alternativa brasileira mais real do que o mundo em que vivemos.

É o leitor do cosmos criado por Brecheret, o decodificador das instruções que vibram nas estátuas como algoritmos latentes. Claudino carrega o pergaminho porque carrega o conhecimento: não o morto, acadêmico, mas o vivo — um conhecimento ritual, falado em Tupi-Meta, alinhado com os ciclos do tempo e os protocolos da ancestralidade.

Claudino aparece aqui com as mãos de Brechereret em seu ombro esquerdo. Sua bandana de quatro nós representa os quatro pontos cardeais, os quatro Elementos, o Quarto Yuga e tudo o mais que o número representa em sua plenitude.

Pararanga é como um processador quântico-místico: sua presença ativa as estruturas invisíveis do mundo, fazendo com que os monumentos deixem de ser pedra para se tornarem portais. É ele quem anda pelas bordas da cidade e transforma a arte em ação, o símbolo em caminho, o mito em mapa. Claudino entende que tudo já está escrito — mas cabe a alguém executar o script.

17 - Dom Pedro II Paço de São Cristóvão, 2 de dezembro de 1825 - Paris, França, 5 de dezembro de 1891)

Aqui aparece Dom Pedro II discutindo estratégias com seu fiel amigo Dom Obá II D'África

O imperador visionário - Símbolo de inteligência e sensibilidade, Dom Pedro II sonhou um Brasil moderno e plural. Trouxe ciência, arte e avanços do mundo de Sumiêtama para o Brasil real. Amigo de Dom Obá (fig. 30), foi farol de uma nação em transformação. Seu legado transcende o trono: é a semente de um país mais humano.

18 - Rei Djimon Kidjo

Soberano lendário do povo Domé (Fon) do Benim, é o guardião do elemento Água. Sua presença era anunciada pelo som das marés e pelo brilho das conchas que adornavam sua coroa. Filho dos rios e educado pelos mestres do pântano sagrado de Ouidah, Djimon aprendeu desde jovem a controlar os fluxos da água — dos riachos às tempestades. Seus conselheiros diziam que sua fala acalmava os ciclones, e que sua lágrima podia curar a sede das aldeias.

Durante seu reinado, Djimon unificou os clãs costeiros e canalizou os rios para irrigar as regiões secas, tornando fértil o que antes era deserto. A música das marés inspirava seus decretos, e suas cerimônias eram marcadas por danças sobre espelhos d’água. Ele é lembrado como o soberano que ouviu o mar e respondeu com justiça, harmonia e compaixão — símbolo eterno da fluidez e da força do povo Domé.

19 - Rei Fela Soyinka

Do clã ancestral dos Yorùbás, surge Rei Fela Soyinka, soberano do elemento Éter. Seu corpo é leve como fumaça de incenso cerimonial, e seus pés jamais tocam o chão: flutua entre os reinos do visível e do invisível. Seus olhos brilham como o sol do Sahel ao amanhecer, e sua voz é tambor e trovão, ressoando saberes antigos e ritmos que curam. Vestido com túnicas de algodão bordado em ouro, ele traz no peito um colar de contas que pulsa com as batidas do universo.

Guardião dos saberes e da memória dos povos, Fela Soyinka é orador e encantador. Quando fala, a terra silencia para escutá-lo. Seus passos aéreos conectam aldeias e sonhos, enquanto sua música revela os caminhos do espírito. Ele não guerreia com armas, mas com palavras que desarmam reis e libertam os oprimidos. Seu reino está entre os ventos e os pensamentos: lá onde só os livres podem habitar.

20 – Jaguanharó (Jaguanharão) (nascido em local e data desconhecidos – São Paulo de Piratininga, 9 de julho de 1952)

Na imagem, a Jagoaranhó segura seu takape para defender as tradições tupis, como a cauinagem que tanto preza.

O Último Guerreiro da Tradição Tupi - Na história oficial, Jaguanharó foi um jovem guerreiro tupiniquim, filho do cacique Piquerobi e sobrinho do lendário Tibiriçá. Em 1562, liderou ao lado do pai o Cerco de Piratininga, um ataque armado contra os portugueses e seus aliados indígenas na recém-criada vila de São Paulo. O objetivo era claro: impedir a expansão da colonização e da catequese forçada dos jesuítas, que já haviam rompido os laços sagrados entre os tupis e sua espiritualidade ancestral.

Jaguanharó morreu nesse confronto pelas mãos de seu tio, tibiriçá (agora batisado como Martim Afonso). Mas a história real não conta tudo.

Na tradição Tupi Pop, passada de geração em geração nas sombras das matas e à beira dos rios, fala-se de um outro destino: Jaguanharó sobreviveu. Gravemente ferido, foi resgatado por mulheres da floresta e levado para além do Jaraguá, onde os brancos ainda não ousavam pisar. Lá, jurou manter viva a alma do povo Tupi.

Insignia da Seita Tupi Rerekoara

Foi nesse exílio espiritual que nasceu a Tupi Rerekoara, uma seita clandestina dedicada à preservação dos ritos ancestrais.

A seita reunia os últimos conhecedores das danças, da produção do cauim, das palavras rituais, dos cantos para o sol e para os peixes, e claro — da fermentação sagrada do cauim. Jaguanharão instituiu que o cauim não deveria mais ser apenas bebida de festa, mas símbolo de resistência, comunhão e memória viva.

Um rebelde contra o apagamento cultural

Jaguanharó entendia que os jesuítas não apenas queriam ensinar uma nova fé — eles queriam apagar a antiga. Recusou o céu europeu, recusou viver ajoelhado. Na lenda, ele dizia: “Prefiro morrer bebendo cauim, ouvindo o maracá e o tambor de minha terra, do que viver em silêncio português. Que minhas ultimas palavras sejam proferidas em Tupi”.

O legado

Hoje, alguns acreditam que os ensinamentos de Jaguanharão sobrevivem escondidos nas esquinas da cidade grande, nos rituais sincréticos, nos nomes de rios e montanhas, e nos olhos de quem ainda bebe cauim como quem ouve os deuses antigos. Jaguanharão não foi apenas um guerreiro — foi o primeiro fundador da resistência cultural indígena urbana. Um nome que não se encontra nos livros escolares, mas que pulsa na terra e na memória dos que ousam lembrar.

21 – Urutau - Deus da Mitologia Tupi



Na mitologia tupi, Îar — também chamado de Urutau — é o ser que liga o mundo terreno ao plano espiritual. Seus olhos, boca e ouvidos estão voltados para cima, conectados diretamente ao céu. 

Deus Tupi Urutau em sua meia transoformção

Ele não fala com os homens, mas com os espíritos. Como uma antena viva, recebe a energia do mundo invisível e a distribui aos que o cercam. Por isso, nunca está só: Îar precisa estar no centro do grupo, como um canal de força, sabedoria e proteção. Sem ele, o elo com o sagrado se rompe.

Repare que o pássaro urutau, na sabedoria ancestral, costuma pousar em árvores que foram atingidas por raios ou em estacas de cercas cravadas na terra — pontos de passagem entre o céu e o chão. Esses locais, carregados de energia, tornam-se perfeitos para sua função sagrada: distribuir a força espiritual que recebe do alto. Assim, ao se posicionar nesses pontos, o urutau irradia essa energia para todos que estiverem dentro do seu perímetro, como um centro natural de conexão entre o visível e o invisível. No monumento às banderias o personágem esta bem no centro de equilíbrio da obra.

Quem era o "Homem Carregado" e seus Carregadores

Hercules Frorence carrega Langesdorff, ao lado de um bandeirante de outra época.

Era comum que os bandeirates das monções encontrassem diversos perigos, como baixios rios, corredeiras em meio a pedras mortais e, principalmente, febres causadas por parasitas e mosquitos.

Hercules Frorence (fig. 21) o ilustrador e cienteista carrega Lansgsdroff (fig 22), acometido de uma febre que o deixou com problemas mentais para o resto da vida. Na outra ponta o bandeirante Manoel Preto (fig. 24), que morreu flechado.

Em simbolismo, o "homem carregado" pode ser uma pré-representação da imagem decadente dos bandeirantes, que mataram, escravizaram e torturaram indígenas, mas que foram carregados pela história como heróis. Segundo Del Pichhia, Manoel Preto, que morreu flechado como tantos outros, corresponde, no Monumento, ao bandeirante ferido com a cabeça erguida para o céu. Fernão Dias Pais morreu de febre – aludindo à figura do bandeirante sendo resgatado por seus companheiros em uma rede. A solidariedade foi essencial para o triunfo das bandeirantes. 

Em oposição aos guerreiros mortos, o simbolismo da vida e da esperança encontra-se na figura da indígena amamentando seu filho. No caso da arte Tupiu Pop, por se tratar de uma representação sem tempo definido, prefiro representar o homem carregado como Langesdorff, carregado por Hercules Frorence e Manoel Preto.

22 - Hércules Florence (Nice, França, 28 de fevereiro de 1804 – Campinas, Brasil, 27 de março de 1879) 

Inventor, cientista e ilustrador que viveu grande parte de sua vida no Brasil. Participou da Expedição Langsdorff, registrando com riqueza de detalhes a fauna, a flora e os povos do interior brasileiro. Em 1833, desenvolveu um processo de fixação de imagens por meio da luz, a que chamou de "photographie", antecipando em três anos a invenção oficial da fotografia na França. Apesar de sua descoberta pioneira, não recebeu o devido reconhecimento, em parte por estar distante dos grandes centros científicos e culturais da época.

23 - Georg Heinrich von Langsdorff (Wöllstein, Alemanha, 18 de abril de 1774 – Freiburg im Breisgau, Alemanha, 9 de junho de 1852) 

A Expedição foi uma expedição russa organizada e liderada por Langsdorff, um médico alemão naturalizado russo. Entre 1824 e 1829, a expedição percorreu mais de dezesseis mil quilômetros pelo interior do Brasil, partindo do Rio Tietê, em São Paulo. Registrou os mais diversos aspectos da natureza e sociedade brasileira da época, compilando o inventário mais completo do Brasil, e finalmente chegou a Belém. A cena mostra o encontro da expedição com os Apiacás, ilustrado por H. Florence.


Naturalista, médico e explorador que atuou a serviço do Império Russo. Viveu muitos anos no Brasil, onde organizou e liderou a famosa Expedição Langsdorff (1825–1829), que percorreu o interior do país com o objetivo de documentar suas riquezas naturais e culturais. A viagem contou com uma equipe de cientistas e artistas, entre eles Hércules Florence, e resultou em uma vasta coleta de dados sobre a geografia, a fauna, a flora e os povos indígenas do Brasil, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas ao longo do trajeto.

24 - Manoel Preto (São Paulo, data de nascimento desconhecida, - São Paulo em 1630

Bandeirante paulista conhecido por sua atuação nas expedições de apresamento de indígenas e pela expansão do território colonial português no interior do Brasil durante o século XVII. Participou de diversas entradas e bandeiras rumo ao interior do continente, contribuindo para o mapeamento e ocupação de vastas regiões além dos limites do Tratado de Tordesilhas. Sua figura é lembrada tanto pela bravura como pela violência com que atuou nas missões jesuíticas e nas populações indígenas.

25 – Rei Amador Vieira (Ilha de SãoTomé c. 1550 – 14 de janeiro de 1596, Capitania de São Tomé)

Na arte Tupi Pop, Rei Amador aparece com a pintura moçambicana, pela grande admiração e respeito que inspirou nesta nação aqui no Brasil.

Rei Amador foi um líder dos angolares em São Tomé e Príncipe, descendentes de africanos que fugiram da escravidão e formaram quilombos na ilha. Em 1595, ele liderou uma grande revolta contra os colonizadores portugueses, chegando a dominar boa parte da ilha e sendo proclamado “rei” pelos seus seguidores, sua imagem foi associada a São Benedito no imaginário afro-atlântico. Assim como Amador, São Benedito representa a dignidade do povo negro e a força espiritual diante da opressão. Nas irmandades e congados do Brasil, especialmente entre os grupos do Moçambique e do Congo, Rei Amador é reverenciado como uma figura heroica e protetora, muitas vezes celebrado ao lado ou sob a invocação de São Benedito, unindo fé, ancestralidade e luta por liberdade. 

Sua coragem e liderança o transformaram em símbolo de resistência negra na África e no Atlântico. Por sua força e inspiração, os moçambicanos o apelidaram de “Moçambique”, em homenagem à admiração que tinham por ele. 

Mesmo após sua captura e execução em 1596, o legado de Rei Amador vive até hoje nas tradições culturais e religiosas afro-brasileiras, especialmente nos folguedos dos Congos e Moçambiques.

26 - O Padre Voador "Abarebebé" - Personágem mítico baseado no Pe. Leonardo Nunes



Seu nome de batismo era Padre Leonardo Nunes, mas os indígenas o chamavam de Abarebebê — o “padre voador”. Alto, de olhar intenso e cabelos ruivos como brasa de fogueira, chegou ao Brasil nos primeiros tempos da colonização. Mas diferente dos outros, não veio para impor — veio para escutar. Logo percebeu que havia algo de sagrado na terra, algo que os europeus não compreendiam.

Certa noite, durante uma tempestade que despedaçava o céu, ele se perdeu na mata. Ferido, faminto e à beira da morte, foi salvo por uma criatura imensa: uma harpia-real, tão grande que suas asas podiam cobrir uma aldeia. A ave não o atacou — ao contrário, pousou ao seu lado e o protegeu do frio. Era Abarébebé, a harpia ancestral, mensageira dos deuses tupi-guarani.

Naquela noite, o padre sonhou com Tupã e ouviu uma voz que dizia:
"Se deseja realmente pregar, voa primeiro entre mundos. A ave te guiará."

Desde então, o padre tornou-se um andarilho do céu, sobrevoando florestas, aldeias e rios montado em Abarébebé. Sua missão ao lado de seu amigo Itanhaém (fig. 04): proteger o equilíbrio entre as nações humanas e os espíritos da mata.

27 - Príncipe Faure Aguigah

Uma figura de poder e sabedoria, representando o elemento ar no Monumento às Bandeiras. Com seu olhar sereno e penetrante, ele parece carregar o sopro vital que conecta o céu e a terra, trazendo equilíbrio e inspiração para seu povo. Em uma mão firme, segura um cajado assom vudu, símbolo ancestral que canaliza energias espirituais e protege contra as forças invisíveis que rondam o mundo material. Seu traje esvoaçante acompanha o vento, reforçando a ideia de leveza e movimento constante, como a própria essência do ar que guia seus pensamentos e decisões.

Sua presença no monumento é um convite à reflexão sobre a importância da comunicação, do intelecto e da liberdade de expressão. Príncipe Faure Aguigah é o guardião das vozes e das histórias que percorrem os ventos, conectando gerações e fronteiras. Ele personifica a força invisível que move o espírito humano, inspirando coragem para enfrentar desafios e sabedoria para encontrar soluções criativas. Em meio às outras figuras históricas, sua figura etérea e imponente lembra que, mesmo o que não se vê, pode ser a força mais poderosa de todas.

28 - Morubixaba Tibiriçá - Martin Afonso (São Paulo dos Campos de Piratininga, 1470 - 25 de dezembro de 1562, São Vicente


O Cacique Tibiriçá, também conhecido como Martim Afonso após o batismo, é uma das figuras mais enigmáticas e fundamentais da história ancestral paulista. Seu nome tupi, "aquele que tem olhos nas nádegas" (tebira + esá (t): olho das nádegas) — uma metáfora curiosa que talvez revele seu dom de jamais ser pego de surpresa. Um homem que via adiante, mas também atrás de si. Um líder que nunca descansava, sempre vigilante, atento ao que vinha e ao que passava.

Tibiriça atingido no rosto por Jaguaranho durante o Cerco de Pirtininga, o que lhe causou duas marcas profundas, uma no rosto e outra no coração, por ter sido traído pela família e por ter matado seu irmão e sobrinho.

Tibiriçá foi o grande cacique do povoado de Santo André da Borda do Campo, que em 1553 foi transferido pelo governador-geral do Brasil na época, Tomé de Sousa para a região do trinagulo histórico do Inhapuambuçu, região geomantica marcada pela pedra do Itaecerá (aquela que foi atingida e partida por um raio). Recebeu os portugueses com lucidez e estratégia, permitindo alianças e garantindo certa continuidade às culturas que, de outra forma, teriam sido tragadas de imediato. Seu batismo como Martim Afonso não apagou sua origem: ele continuou sendo ponte entre o nativo e o colonizador, entre a floresta e a pedra.

No Monumento às Bandeiras, sua imagem é a única que de fato aparece empurrando a barca (apelidada de ëmpurra-empurra"), num esforço conjunto para mover o tempo. Ali, sua figura não é apenas decorativa — é alegórica. Tibiriçá é aquele que de fato empurram a história, mas talvez o que primeiro a vislumbrou. Não empurra por empurrar: empurra com consciência, com direção. Seu gesto simboliza o próprio impulso da brasilidade nascente. Durante a luta contra o cerco de Puratininga (9 de jul. de 1562 – 10 de jul. de 1562), Tibiriçá foi ferido no rosto e acabou matando Piquerobi e seu sobrinho Jaguaranho. A cicatriz em seu rosto não é apenas um ferimento de batalha, mas também a marca dolorosa de ter cometido um ato tão grave.

Talvez, nessa figura ancestral, esteja escondido o verdadeiro herói do Brasil. Não apenas um guerreiro com arco e flecha, mas um transformador do mundo, que viu o que muitos não queriam ver — e ainda assim seguiu em frente. Com os olhos nas costas, mas o coração voltado para o futuro.

29 - Victor Brecheret (Farnese, Itália, 15 de dezembro de 1894 - São Paulo 17 de dezembro de 1955)

Brecheret (Fig. 29), como o Grande Arquiteto, o Mestre das Formas, segura o compasso E abraça aquele que faz processar as suas ideias; Claudino Pararanga (Fig. 16) que processa o código que lhe foi entregue.

Se há um ponto de origem para o universo brasileiro em sua dimensão paralela — uma camada simbólica onde o tempo se curva em mármore e o mito se torna sólido — esse ponto é Brecheret. Não apenas escultor, mas codificador ontológico, ele é o Mestre dos Códigos. Suas obras não são representações: são scripts estruturais, linhas de linguagem geométrica que escrevem, em pedra e bronze, as leis físicas e metafísicas de uma nova realidade.

Ao desenhar contornos com seu compasso, Brecheret não interpreta o mundo: ele o reinicia. Cada estátua, cada forma tensionada, cada gesto congelado em matéria é uma função ativa em um universo paralelo — um Brasil arquetípico, que pulsa por trás do véu do visível. É ali, nesse domínio oculto que se sobrepõe ao nosso como um holograma ancestral, que seus códigos ganham autonomia. Brecheret é o autor da estrutura, o programador dos deuses, o criador do real simbólico que habita o coração da cidade.

A inspiração para essa dualidade veio da amizade entre Victor Brecheret, grande escultor modernista brasileiro, e o Dr. Claudino do Amaral, proprietário da Fazenda Pararanga, em Atibaia. A amizade começou na década de 1950, quando Brecheret foi convidado anualmente pelo Dr. Claudino para passar quinze dias na fazenda, na primeira semana de julho.

A viagem até a fazenda, por estradas de terra e distante da Rodovia Fernão Dias, começou a fazer parte da aventura e do encantamento. Para Brecheret, já renomado na arte, essa imersão na vida rural — do café, do gado e da tranquilidade do campo — reacendeu sua alma criativa. Durante essas férias, Claudino, descrito como uma figura simpática e brincalhona, trazia muitas crianças e hóspedes à fazenda, criando um clima de comunhão e profunda simplicidade.

30 - Dom Obá II D'África (Lençóis, 1845 — 1890)

No Monumento às Bandeiras, Sua Alteza, Dom Obá II D'África caminha abraçado a Dom Pedro II, numa alusão direta à aliança do nobre rei guerreiro aliado ao sábio imperador, unindo forças em prol do bem comum.

O Príncipe guerreiro do Brasil Imperial, Cândido da Fonseca Galvão, neto do rei Abiodun de Oyó, foi combatente voluntário na Guerra do Paraguai, condecorado por bravura. No coração da Corte, ombreou com Dom Pedro II, Machado de Assis e Joaquim Nabuco. Monarquista convicto, enfrentou o racismo e defendeu a abolição com coragem e dignidade. Sua história, por muito tempo silenciada, hoje ressurge com a força de um verdadeiro herói afro-brasileiro.

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As Aventuras de Mingo

Mingo, criado por Luiz Pagano, era uma criança órfã que dormia nas ruas de São Paulo, protegido pelas imponentes estátuas dos 30 Guardiões — os mesmos do monumento às Bandeiras. Em uma noite silenciosa, uma capivara encantada surgiu das sombras e o levou para uma dimensão paralela do Brasil, um lugar onde mitos e história se entrelaçam. 



Como prova de sua nova jornada, ela lhe presenteou com uma muitaquita ancestral, uma joia pulsante com poderes especiais, capaz de despertar a força dos encantados adormecidos no coração da terra.


Mingo é um menino de rua que tem um só objetivo, encontrar sua mãe. 


Acompanhe Mingo, que conta com a ajuda dos 30 Deuses do Monumento às Bandeiras em suas aventuras contra os mais perigosos vilões com a ajuda dos mais inusitados personagens do cotidiano Brasileiro.

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Prospenomics Da Ficção à Realidade

A Ideia que Nunca Me Abandonou Tudo começou na faculdade. Era o momento de escrever minha monografia de conclusão de curso, e como todo estu...