segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Cem anos de GECA TATÚ (JECA TATU)

Geca Tatú (Jeca Tatu) picando fumo ao pé de um Ipê rosa - repleto de Urupês
Em 2018 a critica social intitulada “Urupês” de Monteiro Lobato completará 100 anos, critica essa que parece ter falhado em sua missão fundamental, a de alertar o Brasileiro sobre a existência dos ‘Gecas Tatús’ em meio a nossa sociedade e fazê-los mudar de atitude.

No conto Urupês, publicado num dos últimos capítulos do livro de mesmo nome em 1918, Monteiro Lobato descreve o sertanejo da época, o caipira, o caboclo - lento e avesso ao trabalho, desprovido de cultura e tão desnecessário quanto uma ‘Orelha de Pau’, espécie de fungo que cresce nos troncos das arvores, os também chamados de Urupês (do tupi úrupé”).

Após anos de convívio com esse caipira, Lobato, já muito revoltado, decidiu sentar-se frente a sua escrivaninha e redigir uma carta ao Jornal Estado de São Paulo e fazer uma crítica ferrenha.

O texto tinha o forte propósito de definir o ‘Geca Tatú’ (Jeca Tatu, em grafia atual) nome que criou para o indolente caipira, que tinha o propósito de personificar e ao mesmo tempo, causar reflexão naqueles que, em algumas atitudes, se assemelhavam em um ponto ou em outro, ao Geca.

“O mobiliário cerebral do Geca, à parte o suculento recheio de superstições, vale o do casebre... O sentimento de pátria lhe é desconhecido. Não tem sequer noção do país em que vive”.

“Este funesto parasita da terra é o caboclo, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável á civilização, mas que vive a beira dela, na penumbra das zonas fronteiriças. A medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização das terras, vai ele refugindo em silencio, com o seu cachorro, o seu pilão, a pica-pau e o isqueiro, de modo sempre a conserva-se fronteiriço, mudo e sorna”.

“Pobre Geca Tatú! Como es bonito no romance e feio na realidade!”.
 
Urupês 1918
OS GECAS MODERNOS

Sei que a grafia mudou, hoje o nome do personagem é escrito com ‘J’, mas a interpretação que Lobato implicitamente colocou em seu livro, parece também ter mudado, e é por isso que volto a escrever em sua grafia original, com ‘G’, para que resgatemos o personagem original, o ‘Geca em espírito’, que doravante simplesmente será chamado de ‘GECA’.

Obviamente tivemos muitos avanços no Brasil, os caipiras, tais como foram descritos no conto, são figuras raras, mas os ‘GECAS’, existem em abundancia entre nós, em enorme volume estatístico, causando uma má impressão generalizada no brasileiro médio.

Tal como visto acima, nos parágrafos do próprio autor, o GECA é o brasileiro que despreza a tecnologia e os avanços científicos - Encontramos alguns GECAS quando vamos para a pequena cidade de Dumont-MG, terra natal do ‘Pai da Aviação’ e a despeito do titulo grandioso, o GECA, num ato de auto-sabotagem característica, cria a chamada ‘água de Dumont’.

A ‘água de Dumont’ faz com que o tomador vire veado (pejorativo para homossexual), tal qual nosso herói supostamente foi um...

Enquanto os Americanos dubiamente se vangloriam de ter os inventores do avião, os irmãos Wright, em lindos museus e citações glorificantes em diversos livros, os nossos GECAS não só debocham de nosso herói (pouco importa saber a orientação sexual de Santos=Dumont), como também, não cuidam da herança cultural Brasileira com o devido respeito, amor e admiração.

Desnecessário dizer o quanto isso é retrogrado, posto que o museu de Cabangú (na cidade de Dumont-MG), na casa de nascimento do aviador, procura dignamente viver de semi-esmolas e eventos pífios.
 
Urupês 1918
Esse mesmo GECA acha irrelevante o trabalho do professor Miguel Nicolelis, não crê no nosso potencial cientifico e só dá valor nas conquistas tecnológicas do exterior.

O GECA atual passou a entender um pouco mais de política e dos rumos de governo de nosso país, mas é incapaz de se manifestar contra corruptos e mal governantes.

O GECA vê a situação política tal como vê o futebol, “eu voto no PT”, ou “eu voto no PSDB”, e defende esses partidos como se fossem times, “A Dilma roubou mais do que o FHC”, vice-versa, sem se dar conta de que a maioria dos governantes corruptos seguem seu exercido criminoso, sem qualquer oposição importante. O GECA não acha que os corruptos ‘que jogam para o time que ele torce’, mereçam ter punição legal, pois ‘os políticos do time adversário’ também roubaram e não tiveram punição.

O GECA já não é tão preguiçoso quanto o do começo do século, mas ainda assim tende a ter posturas apáticas, acha que o que passa nos noticiários não faz parte da vida dele, é como se fosse um filme em ‘real time’ de uma realidade alternativa.

O GECA não se preocupa com o meio-ambiente, reclama de falta de água e não se dá conta que os principais rios de sua cidade, normalmente bastante poluídos, poderiam estar limpos e vivos.

O GECA diz que o povo suja as ruas e as águas, mas não se dá conta de que ele faz parte do conjunto chamado ‘povo’.

O GECA reclama do transito mas não se dá conta de que ele faz parte do conjunto chamado ‘transito’.

Graças aos GECAS temos em todas as principais cidades, sem exceção, esgotos a céu aberto convivendo ao lado de pontos turísticos, e temos o dúbio orgulho de mostrá-los ao turista. Isso pode parecer tão estranho quanto mostrar uma privada que não se dá a descarga por alguns meses à uma visita.

Graças aos governantes GECAS que optaram por investir pouco no básico e desviar muito de forma fraudulenta, nossas ruas são sujas, sem segurança e sem manutenção, repletas de gente mal educada, os rios urbanos não são navegáveis e não se pode sair as ruas com tranquilidade.

Os governantes GECAS preferem agir com pensamento egoísta, de vingança, ódio e revanchismo, não fazem a menor idéia de que existe uma ciência para administrar uma sociedade, legislam e executam para aumentar seus ganhos e de seus colegas próximos e gente de interesse vil.

Os GECAS ricos preferem andar com capangas, ter carros blindados, casas com segurança redobrada, a ter uma participação social focada na mudança econômica de nossa sociedade.

OS GECAS que saíram do Brasil para tentarem uma vida melhor no exterior preferem viver sob o preconceito dos xenófobos a mudar a realidade do nosso próprio país, muitas vezes engenheiros aceitam empregos de faxineiros e são humilhados pelos GECAS estrangeiros, no final do dia, defendem o pais de seu refugio dizendo “aqui sim temos qualidade de vida”.


A boa notícia é que ainda faltam três anos para o centenário de Urupês e que ainda temos a chance de ter um Brasil livre de GECAS. Devemos seguir a receita de Monteiro Lobato, devemos identificar nossas atitudes GECA, fazer uma profunda auto-analise e encontrar nossos GECAS interiores e concertá-los, um a um. Só assim conseguiremos comemorar o centenário de Urupês  com um Brasil sem GECAS e outros Urupês sociais.

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