terça-feira, 14 de novembro de 2023

Como era a vida na Aldeia do Inhapuambuçu ao lado de Tibiriçá e João Ramalho


Aqui uma cena de antes da chegada dos portugueses, na qual o pajé celebra um ritual de guerra enquanto Tibirçá e Potira jantam e bebem Cauim, ao lado de moradores da aldeia do Inhapumabuçu - A vida na comunidade paulistana era tão Tupi quanto qualquer outra. Com a chegada dos jesuítas criou-se um enorme choque civilizacional de tradições e costumes, principalmente no que diz respeito aos rituais de guerra, ao canibalismo e outos costumes ditos 'gentios', o papel  de lider espiritual das aldeias Tupi  dos pajés, sofreram uma extensa campanha de descrédito por parte das missões jesuitas.  

Como era a vida na aldeia de Inhapuambuçu antes da chegada dos colonizadores portugueses?

Essa questão nos leva a um capítulo fascinante de nossa história, segundo relatos de viajantes como Lery e Staden, as tradições Tupi eram marcadas pela beleza da arte plumária, da cestaria, por rituais incríveis envolvendo o caju, a pesca e o cultivo da mandioca, uma beligerância peculiar na qual primos etnológicos distantes se envolviam em embates sangrentos por vezes encobertas por um complexo código de guerra, que geralmente terminava em rituais de antropofagia e embriaguez com Cauim, uma bebida fermentada de mandioca.

Tibiriça e Potira certamente viveram uma vida Tupi tal qual os outros Tupi.

Como as histórias dos antepassados de nossos fundadores foram transmitidas apenas pela tradição oral (os povos originários da região que corresponde ao Brasil não praticavam a escrita nem a leitura) todos os acontecimentos do Inhapuambuçu desde os tempos antigos se perderam no tempo.

Contudo, existem diversas formas de obter conhecimento sobre estes acontecimentos pré-coloniais, seja através do estudo de textos escritos por jesuítas, aventureiros e exploradores; ou seja através da mensagem secreta que nos foi transmitida ao longo do tempo através da toponímia.

Ok, no entanto, vamos começar do início..

Afinal,..

Capítulo 1: Como os Tupi chegaram a São Paulo?

A Aldeia do Inhapuambuçu teve sua localização escolhida com base em sua topografia, hidrografia, matas e aspectos geomânticos favoráveis, tornando-se não apenas o local ideal para a criação de uma vila há 2.000~3.000 anos, um centro português de catequese jesuítica, como também para a fundação da Vila de São Paulo de Piratininga, que se tornaria a maior e mais importante metrópole da América Latina.

No entanto, muito do que aconteceu nessa antiga metrópole Tupi se perdeu, a dificuldade na recuperação desses relatos pré-colonização, principalmente por ter grande parte de seu conteúdo passado por gerações na tradição oral, é irremediável.  Tal falta de registro levanta questões sobre como viviam os povos antigos nessa região. No entanto, novos estudos arqueológicos, bem como aprofundamento de aspectos toponómicos estudados pelo professor Eduardo Navarro e seus alunos da USP vem trazendo incríveis novas revelações, que discorreremos no texto que segue.

Tupinambá - Aquarela sobre pergaminho mostra índios brasileiros, o tupinambá pode ser visto com o lindo manto de penas, feito com fibras naturais, penas vermelhas de guarás e azuis de ararunas

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A chegada dos Tupi à Acrópole de São Paulo de Piratininga, marcado pela confluência dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, berço para o desenvolvimento da cultura Tupi na região. No lugar onde hoje temos o Páteo do Collégio, próximo ao povoamento de Tibiriçá,  uma montanha careca sagrada que dava nome a aldeia, o Inhapuambuçu, que em idioma Tupi Antigo (doravante só trataremos como ‘TA’) i(nh)apu'ãm-busú o grande cume ou y(nh)apu'ãm-busú o grande ponto do rio) - saiba mais.

A vida na aldeia era profundamente influenciada pelo entorno geográfico, onde as matas proporcionavam recursos abundantes para os Tupi, a interação harmoniosa com a natureza refletia-se em sua religiosidade, intrinsecamente ligada aos elementos naturais. Os Tupi viam os rios, as matas e os animais como entidades sagradas, e seus rituais reverenciavam a interconexão entre a humanidade e o ambiente ao redor.

A maior parte das aquarelas de Debret foram feitas para retratar o Rio de Janeiro, no entanto, para meu prazer há algumas em São Paulo - uma delas chama especial atenção por retratar uma pedra calva no que era a Vila de Inhapuampbuçu

Um exemplo disso é o Anhagá, um dos motivos pelos quais os Tupi moravam perto do rio Anhangabaú. O rio ficava num vale que era alimentado pelo córrego do Itororó, que descia da maravilhosa floresta do Ka'a Guatá (hoje conhecida como Avenida Paulista), esse rio que passava por onde é hoje a Avenida 23 de Maio, desembocando no córrego do Anhangabaú, cuja linda vegetação era protegida e habitada pelo importante D’us Tupi chamado Anhangá, o protetor das caças e da natureza.

O Anhangá é comumente retratado como um veado branco, de tamanho atroz, com olhos vermelhos da cor de fogo. Ele é o protetor da natureza e persegue todos aqueles que caçam de forma indiscriminada, desrespeitam a natureza e pune quem caça filhotes ou matrizes que estão nutrindo suas crias e poluem suas águas.

O vale do rio Anhangabaú era sagrado, os habitantes de Piratininga faziam cultos e festas para deixar o deus mais feliz e menos vingativo.

A chegada de João Ramalho à aldeia trouxe consigo uma mudança significativa na dinâmica social, cujas repercussões jamais seriam esquecidas, a coexistência de duas culturas distintas começou a moldar o tecido social da comunidade, desencadeando um processo complexo de intercâmbio cultural.

A espiritualidade Tupi desempenhou um papel fundamental na estrutura da sociedade, unindo aspectos divinos ao cotidiano, a compreensão profunda da natureza como divindade influenciou não apenas rituais religiosos, mas também práticas cotidianas, como a caça, a pesca e a agricultura.

As interações dos Tupi, da aldeia do Inhapuambuçu com todos os outros povos de aldeias vizinhas, tinham uma história ancestral muito extensa, que se mistura a grande expansão Tupi.

A grande Expansão Tupi

Podemos começar a entender a ocupação Tupi em São Paulo de Piratininga a partir da grande migração, que ocorreu entre 2000 e 3000 anos atrás, A chamada Grande Expansão Tupi, um processo histórico entre os séculos XIII e XVI, marcado pelo deslocamento dos grupos Falantes do proto-idioma formador do tronco Tupi-Guarani por vastas áreas do território brasileiro. Essa expansão deu origem a diferentes culturas ao longo do caminho. O antropólogo Roger Bastide denominou esse fenômeno como "A Grande Expansão Tupi" - saiba mais


Os membros do tronco lingüístico Tupi-Guarani ocuparam inicialmente o litoral Atlântico, desde o cabo de São Roque até o Trópico de Capricórnio, abrangendo extensas áreas do planalto meridional e seus arredores. Os dados linguísticos indicam o sudoeste da Amazônia, na bacia do alto rio Madeira, como o centro de dispersão dos povos Tupi.

Métraux, em seu estudo, destacou a animosidade entre diferentes grupos Tupinambá e Guarani, que frequentemente resultava em conflitos ritualísticos, a economia desses grupos era baseada na agricultura, com destaque para a mandioca como planta cultivada. As aldeias eram localizadas em topos de morro, com estruturas defensivas em algumas.

O "Modelo Cardíaco" de Lathrap
O modelo de dispersão mais aceito, com origem no alto Xingu, usando das trilhas ancestrais para se espalharem pelo Brasil, posto que não usavam da navegação para este fim 

Quanto ao deslocamento pelas continentais extensões do Brasil, diversos modelos teóricos foram propostos: O Modelo Hidrográfico enfatiza as bacias hidrográficas como rotas de expansão; O Modelo Linguístico de Schmitz sugere uma origem amazônica dos Tupi; O Modelo “Cardíaco” de Lathrap compara a expansão Tupi ao sistema circulatório, centrado no Xingu; O Modelo de Brochado associa grupos Tupi a diferentes áreas geográficas.

Sítios arqueológicos localizados na Amazônia

Recentemente, descobertas arqueológicas na Bahia, como uma urna cerâmica pré-colonial, têm contribuído para a compreensão da história e presença dos Tupi-Guarani, enquanto modelos teóricos continuam a oferecer diferentes perspectivas sobre sua movimentação na América do Sul.
Achados Recentes

Restos mortais de Indigenas Tupi foram encontrados dentro de artefato de cerâmica com desenhos tradicionais em rituais de sepultamento da etnia -  Foto: Bruno Concha/Secom - reprodução CNN

No começo de 2022, uma equipe de arqueologia na Bahia fez uma descoberta extraordinária: encontraram uma urna cerâmica pré-colonial que pode ser a sepultura de um indivíduo tupi-guarani. 

Segundo arqueólogos que trabalham na obra da Avenida Sete de Setembro, desenhos no interior do vasilhame de cerâmica comprovam sua data e origem Tupi

O artefato foi desenterrado durante escavações na avenida Sete de Setembro, em Salvador, próximo ao relógio de São Pedro. No interior do vasilhame, havia um corpo sepultado, sugerindo que possivelmente se tratava de um homem indígena que viveu entre os séculos XIV e XVI na região. Essa importante descoberta, juntamente com mais de 12 mil outros artefatos históricos encontrados no local, será estudada no Centro de Antropologia e Arqueologia de Paulo Afonso, em Salvador, contribuindo para a compreensão da história e presença dos indígenas nessa área.

A Acrópole Paulistana

Os Tupi que chegaram a São Paulo tinham que vencer constantemente a elevação do maciço litorâneo, subindo e descendo a Serra do Mar, originando uma escarpada serra e desviando os rios para o interior, criando características únicas. Os indígenas superaram essas condições, criando 'peabirus'  (TA "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado), eram trilhas de terra pisada que convergiam na região do triângulo histórico de Piratininga e levavam a distantes lugarers da America do Sul, como a antiga cidade dourada de Cuzco e aldeias amazônicas.

Apesar do isolamento do litoral, essa área tornou-se um ponto crucial, conectando o interior à costa Atlântica por meio de inúmeros peabirus, abrangendo rotas para o Vale do Paraíba, o interior Paulistano e Santa Catarina. Essa configuração geográfica conferiu ao triângulo histórico de São Paulo um valor imenso.

Quanto a relação com geografia, segundo Ab’Saber, entre 23 e 12 mil anos atrás, houve um "hiato de tempo seco" que propiciou a formação das 'stone lines', um fenômeno responsável pela formação de planaltos e montanhas, que definiram o relevo, a formação de serras e matas características, propicia para caça de animais pequenos, pesca abundante e grande variedade vegetal. A cerca de 10 a.C., o clima úmido retornou, com períodos sazonais de chuvas, delineando pequenas mudanças climáticas ao longo do tempo.

Troppmair destaca que essas mudanças climáticas propiciaram o surgimento de pinheiros, como a araucária, durante os longos períodos de esfriamento, principalmente nas margens do rio Pinheiros e em locais de altitude, como nas serras e altiplanos.

Diversas formações vegetais, como campos de várzeas, barrancas de terraços fluviais e ilhotas de campos cerrados, mencionando a toponímia que preserva vestígios desses antigos campos.

A formação vegetal propiciava locomoção e pesca, especialmente durante as cheias dos rios. A região, nomeada Piratininga, significava em TA "peixe seco", indicando a morte de peixes à beira dos rios após as vazantes de inundações constantes, características de rios de planaltos e várzeas. 

Moradores de Inhapumabuçu caminham pelo rio Tamanduateí e presenciam a chegada de tamanduás durante a vazante do rio. Nessas épocas de seca, os peixes morriam nas margens (piratininga no TA), atraindo formigas e consequentemente, tamanduás apareciam para devorá-las.

Essa rica vegetação não apenas facilitava a locomoção, mas também favorecia a pesca, especialmente durante as cheias dos rios. O relato destaca a frequência dessas inundações nos rios do planalto, como Tamanduateí, Pinheiros e Tietê. Este último teve seu nome alterado de Anhembi para Tietê, com significado arcaico de "rio muito bom, rio a valer, honrado". Tais inundações eram consideradas como agentes de fertilidade para a terra.

Ademais a abundância de animais de caça nos campos, é evidenciada pela toponímia Tupi ao dar o nome dos rios Anhembi, referindo-se ao rio das anhumas, Tucuruvi, conhecido como o rio do gafanhoto verde, e Tamanduateí, que indica um rio com peixes secos mortos, atraindo formigas e, por fim, tamanduás. Destaca-se ainda o Itororó, o rio da nascente, que surgia na Avenida Paulista, percorrendo até o encontro com as águas do Anhangabaú, ao longo da Avenida 23 de maio.

Peabirus como estradas e Rios como auto-estradas

Como vimos anteriormente, os deslocamentos Tupi eram feitos através dos peabirus, há relatos que João Ramalho e Tibiriçá andavam de 50 a 80Km por dia. Outra forma bastante eficiente era feita também por rios, os Tupis, como relata André Prous, que avaliava os Tupi como eram excelentes navegadores “a impressionante extensão da cultura Tupi-guarani, (...) pode ser em parte explicada por sua vocação de navegadores, particularmente, fluviais”.

Mapa de alguns Peabirus importantes da cidade de São Paulo

Os Peabirus Tupi em São Paulo formam uma rede de topônimos que, ao serem analisados, revelam trajetos e significados geográficos. 

Partindo para o Sul, encontramos locais como Pirapora (local onde o peixe pula), Sorocaba (lugar da erosão), Itapetininga (caminho seco de pedra), Itapeva (no lageado) e Itararé (no sumidouro). Esses nomes indicam um percurso rico em características naturais.

Ao seguir para o sertão das Minas, surgem Airuoca (morada da ararinha), Baependi (rio da coisa pontuda), Itumirim (cachoeira pequena), Itutinga (cachoeira branca) e Itaúna (pedra preta), Sabará  ou Itaberaba (pedra qe brilha), revelando uma variedade de elementos geográficos.

Na rota em direção a Goiás, deparamo-nos com Mogi Mirim (rio da cobra, o pequeno), Mogi Guaçu (rio da cobra, o grande), Jaguari (rio da onça), Uberaba (rio brilhante), Araguari (rio do vale do sol) e Paranaíba (rio da Pindaíba, espécie de palmeira). Esses topônimos sugerem uma vinculação estreita entre a nomenclatura e a natureza circundante, possivelmente influenciada pelos habitantes paulistas falantes do Tupi.

Essa prática de nomeação, herdada dos indígenas, destaca-se como uma forma de marcar o caminho e, mais recentemente, tem sido valorizada como parte do resgate histórico e cultural dessas regiões. O ato de nomear, como afirmado por Bofil Batalla, não apenas proporciona conhecimento, mas também é uma forma de criar e preservar a identidade cultural desses povos

Tupi enfrentavam limitações geográficas devido a interações com outros povos, como os Bilreiros. Apesar de delinear territórios, essas fronteiras eram permeáveis devido à mobilidade migratória e à pressão de grupos belicosos. Essa dinâmica refletia a instabilidade dos territórios tribais, sujeitos a mudanças frequentes.

Os grupos Tupi, ao se estabelecerem em determinada região, experimentavam as limitações do solo, já que, ao derrubar a vegetação para a agricultura, afetavam a fertilidade do solo, após algumas temporadas de plantio, quando o solo perdia sua produtividade, os Tupi buscavam novas áreas para cultivar.

Essa prática indicava uma adaptação constante às condições do ambiente, evidenciando uma relação afetiva com a terra, mas também a disposição de mudar quando necessário. 

Com base nos achados arqueológicos, as aldeias Tupi, especialmente em áreas mais populosas, seguiam um padrão específico. Geralmente, essas comunidades escolhiam locais elevados nas encostas dos morros, oferecendo uma visão privilegiada de um rio navegável principal. Próximo a essas aldeias, encontrava-se um córrego menor para fornecimento de água potável, enquanto o rio principal ficava a uma distância considerável para evitar problemas causados por cheias frequentes.

Esse padrão era consistente com as observações feitas por Soares de Sousa nas aldeias Tupinambás na Bahia, destacando a busca por locais altos, bem ventilados e próximos a fontes de água para lavagem e abastecimento. Staden, por sua vez, menciona que as aldeias ficavam em terras próximas a rios, geralmente consistindo em até sete casas organizadas em torno de um pátio utilizado para rituais. 

Em áreas mais conflituosas, eram construídas paliçadas de proteção, chamadas "ybira".

Fernandes elenca seis pontos cruciais para a instalação de uma aldeia, incluindo acesso fácil à água potável, ventilação adequada, disponibilidade de lenha, proximidade de zonas piscosas, terras férteis e presença de mata para caça. Quanto à população, cronistas variam na estimativa, sugerindo entre 50 a 80 pessoas por casa familiar, totalizando cerca de 500 moradores por aldeia.

Os Tupi realizavam deslocamentos próximos de aldeias a cada três a quatro anos, as vezes não se afastando mais do que 500 metros, correspondendo à durabilidade do material utilizado nas construções. Mudavam-se geralmente na mesma região, indicado pelos locais de sepultamento, proporcionando uma certa estabilidade. O distanciamento médio entre aldeias, conforme registros, variava de cinco a dez quilômetros. Em Piratininga, as aldeias eram frequentemente instaladas ao longo dos rios, formando um conglomerado que facilitava a entreajuda em situações de ataque, organizando-se como uma rede conectada por relações de parentesco e alianças guerreiras.

Piratininga, a primeira aldeia que Martim Afonso explorou em 1532, foi onde  estabeleceu um núcleo português, derivando seu nome do rio Tamanduateí, então chamado de Piratininga. Em 1550, o Pe. Leonardo Nunes encontrou várias outras aldeias no planalto, uma delas habitada por um principal, provavelmente Tibiriçá, indicando a existência de muitas outras aldeias na região.

Há divergências sobre a localização exata de Piratininga. Enquanto alguns sugerem que poderia ser próximo ao Tietê, outros, como Freitas, propõem um local mais alto, longe das enchentes, associado à construção posterior do Convento da Luz. Freitas distingue a região de Piratininga da aldeia de Tibiriçá, chamada Inhapuambuçu.

Anchieta menciona Tamandiba como uma liderança importante da aldeia, mas não há referências claras sobre outras aldeias no Tamanduateí. Durante o ataque à missão em 1562, Anchieta menciona que os familiares de Tibiriçá estavam distribuídos em três aldeias, com Ururay sendo a única identificada. Não há confirmação se essas aldeias estavam no Tamanduateí ou no Tietê.

O local atualmente conhecido como Ipiranga, às margens do rio Vermelho, poderia ter sido uma aldeia Tupi, pois se encaixa nos padrões de ocupação Tupi e serviu como pouso português para quem chegava do litoral.

Outra fonte de informação sobre o tamanho e importância das aldeia é dada por John Manuel Monteiro, "Quanto ao número e tamanho das aldeias tupiniquim existentes durante o século XVI, os relatos dos contemporâneos, infelizmente, pouco nos dizem.12 Tudo indica, no entanto, que o principal assentamento tupiniquim na época da chegada dos europeus era o do chefe Tibiriçá, certamente o mais influente líder indígena da região. 

Nos anos de 1550, esta aldeia conhecida pelos nomes de - Inhapuambuçu e, eventualmente, Piratininga - passou a abrigar a capela e o precário Colégio de São Paulo de Piratininga, instalados pelos inacianos em 25 de janeiro de 1554. Uma segunda aldeia importante no período era a de Jerubatuba, sob a chefia de Cauibi, supostamente irmão de Tibiriçá. Esta última localizava-se em torno de doze quilômetros ao sul de Inhapuambuçu, próximo ao futuro bairro de Santo Amaro. 

Em 1553, o aventureiro alemão Ulrich Schmidel, tendo passado alguns dias na aldeia, descreveu-a como "um lugar muito grande. Finalmente, a terceira aldeia que figurava com certo relevo nos relatos quinhentistas, Ururaí, também tinha como chefe um irmão de Tibiriçá, chamado Piquerobi. Localizado seis quilômetros ao leste de Inhapuambuçu, este assentamento, mais tarde, tornou-se a base do aldeamento jesuítico de São Miguel".

A Dinâmica de Relacionamentos na Aldeia de Inhapuambuçu

Eram esses personagens que no início do século XVI viviam juntos em suas rotinas e conflitos, cujas decisões tomadas naquela aldeia naquela época, mudaram completamente a dinâmica das relações do povo brasileiro.


O relacionamento entre José de Anchieta, Tibiriçá e João Ramalho marcou um período de abertura à cultura europeia na aldeia Tupi do Inhapuambuçu, com constantes tensões, especialmente sobre a adoção das novas práticas religiosas e culturais em detrimento das praticas espirituais da cultura Tupi. 

Luis Felipe Baêta Neves, relata três formas corporais de comportamento dos Tupis que eram consideradas especialmente repugnantes aos olhos dos jeuitas:

"São o incesto, o canibalismo e a nudez. Estes três 'comportamentos' são vistos como demonstrativos da barbárie em que viveria o gentio, como demonstrativos da boçalidade em que viveriam, como índices significativos da sua animalidade. (...) O incesto (e - pecado menor - a poligamia) é o desconhecimento de qualquer interdição quanto ao 'uso' de outro corpo. 

O canibalismo é o desconhecimento de qualquer interdição quanto à ingestão de outro corpo. A nudez é o desconhecimento de qualquer interdição quanto à exibição do corpo".

O plano de luta dos jesuítas contra a cultura Tupi e suas "perversões" baseou-se fundamentalmente na produção de interdições a estes comportamentos através da concentração e fixação dos índios nos 'aldeamentos', comunidades criadas pelos missionários da ordem com o único proposito de catequisar os indógenas.

Antes disso, os missionários eram obrigados a visitar os índios em suas aldeias e pregar a eles nos horários tradicionalmente utilizado das missas e os proferidos pelos Karaibas (nesse contexto se referea a homens brancos sábios) na madrugada.

Mesmo assim, grupos de resistência como formado por Jaguaranho e Piquerobi, nunca aceitaram a cultura imposta pelos jesuítas e defenderam seu estilo de vida até suas mortes no dia 09 de julho de 1562.

O último pajé que pisou na acropole de Piratininga, que aparece em algumas literaturas sem cunho de pesquisa científica com o nome de Piatã, se entristecia ao perceber que Tibiriçá seria possivelmente o último grande representante da cultura Tupi. A cultura daquele povo não conhecia a escrita e muito do que acontecia nos rituais de Piratininga se perdeu.

Claude d'Abbeville relata um caso em que fica evidente a identificação dos pajés e karaiba com a posse de habilidades extraordinárias (como era o caso dos brancos com suas armas, livros e outros produtos ocidentais), bem como o papel das crianças na incorporação dos valores europeus:

"Perdeu muita importância o ofício de pajé depois que chegamos ao país, tanto mais quanto em nossa companhia havia um jovem que sabia fazer peloticas com as mãos e muitas prestidigitações. 

Incumbiu-o o sr. de Rasilly do transporte de nossas bagagens, juntamente com outros criados, na visita que fizemos à Ilha do Maranhão. Logo que os maranhenses viram as peloticas dêsse ra- paz, puseram-se a admirá-lo e a chamá-lo pajéaçu. Mostru-lhes então o sr. de Rasilly que tudo se devia a uma certa habilidade e, comparando-o com os pajés, demonstrou que êstes não passavam de pelotiqueiros e embusteiros. Resultou disso muitos abandonarem suas crenças; e finalmente até as crianças zombavam dos pajés. 

Entre outros citarei o menino João Caju, a quem já me referi várias vêzes, pegando em ossinhos e cousas semelhantes indagava do sr. de Rasilly: Morubixaba de açã omanô? 'Dói-vos a cabeça, senhor?, depois do que soprava e esfregava o lugar da dor imaginária e mostrava o que trazia na mão, dizendo ser o objeto a causa da moléstia. Fazia dêsse modo rir a companhia, provo- cava a admiração dos velhos e desmoralizava os pajés que passavam a ser considerados mentirosos e embusteiros" .

Aos poucos Tibiriçá encerrava sua vida cultural como Tupi para se tornar brasileiro, integrando gradualmente aspectos da cultura europeia. Essa transição, embora inevitável diante das pressões culturais da época, representou uma perda significativa para o legado cultural Tupi.

Nesse contexto, a figura de Tibiriçá se destacou como um elo entre duas culturas, refletindo a complexidade das transformações sociais na época da colonização. Sua escolha de se tornar brasileiro simboliza a fusão de influências culturais que contribuíram para a formação da identidade única do Brasil.

Existem relatos dos chamados Tupi-Rerekoara, "os Protetores Tupi" (TA), conhecidos como "os últimos remanescentes de Îagoanharó", crença que acompanhou os primórdios do Cristianismo, paralelamente à catequização realizada pelos Jesuítas em Brasil.

Trata-se de uma autêntica seita ritualística brasileira, secreta e antiga, que permanece oculta e cuja fundação foi atribuída ao pajé Piatã, Jaguaranho, filho de Piquerobi, irmão de Tibiriçá.

Diz a tradição que, descontente com a aliança entre Tibiriçá e os portugueses, Jagoanharo alinhou-se com Guarulhos, Guaianás e Carijós, para permitir a traição de Tibiriçá e consequente expulsão dos portugueses da vila de Inhauambuçu, atual região do triângulo histórico de São Paulo , bem como a destruição do Pátio do Colégio (ver - o cerco de Piratininga).

Subjugada pela força superior da aliança Tupi-Portuguesa, a coalizão indígena foi derrotada.

E é nesse ponto que este relato difere dos textos do nosso cânone histórico, pois relata que Tibiriçá, como bom cristão recente, decidiu poupar a vida do irmão e do sobrinho, e soltá-los na Serra da Pirucaia, sem que os portugueses soubessem. - É importante dizer que Tibiriçá era conhecido por uma pintura característica, com olhos nas nádegas, o que o tornava imune à traição, pois conseguia ver quem o atacava por trás (do Tupi Antigo - tebira - nádegas e esá - olho).

É dito ainda que muitos membros importantes de nossa sociedade continuam ativos nas sombras, seja na manutenção de nomes Tupi para localidades brasileiras, na preservação de aliemtnos e bebdais originárias, bem como na realização de rituais secretos.

Fato ou boato, é muito importante dizer aqui que o uso do nome Piatã para se referir ao pajé de Tibiriçá, bem como a menção dos Tupi-Rerekoara como um grupo secreto que guarda as tradiçoes Tupi se tornam aceitáveis, pois é uma forma de consolidar informações históricas, mesmo que seja referidos por fontes duvidosas e que haja variações nos registros, é sempre útil mencionar que a reconstrução precisa dos detalhes desses acontecimentos antigos pode ser uma tarefa muito desafiadora.

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O Padre José de Anchieta desempenhou um papel significativo nas missões pelo litoral paulista e em outras regiões do Brasil. Na aldeia de Tibiriçá, ele não só se dedicava à educação e catequização dos indígenas nos aldeamentos, como também os protegia dos abusos dos colonizadores portugueses. Participou ativamente nas negociações entre portugueses e indígenas, oferecendo-se como refém para garantir a paz.

Além disso, Anchieta esteve envolvido em missões no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, lutando contra os franceses na baía da Guanabara e auxiliando Estácio de Sá. Dirigiu o Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro, fundou a povoação de Reritiba (atual Anchieta) no Espírito Santo e foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil.

Seus últimos anos foram dedicados a dirigir o Colégio dos Jesuítas em Vitória, mas conseguiu se retirar para Reritiba (hoje Anchieta, no estado do Espírito Santo) antes de seu falecimento, sendo enterrado em Vitória. Os restos de Anchieta foram posteriormente transferidos para o Colégio dos Jesuítas da Bahia, em Salvador, e finalmente para Roma.

Arqueologia em São Paulo

A arqueologia urbana tem complicações diversas, muitas pesquisas de arqueologia são empacadas pela impossibilidade de escavar em baixo de grandes edifícios.

O contexto arqueológico de São Paulo é diversificado, abrange desde sítios pré-coloniais no Complexo do Jaraguá até locais históricos como o Pátio do Colégio, marcado pelo jesuitismo colonial. O acelerado desenvolvimento urbano da cidade revela desafios, com descobertas ocasionalmente realizadas sem a supervisão técnica de arqueólogos, como na Praça da Sé e na Liberdade.

A esquerda escavação do Sítio Jaraguá I; a esquerda vestígios arqueológicos encontrados da Rua dos Aflitos até a Galvão Bueno no bairro da Liberdade, em plena região de Inhapumbuçu e abaixo o Patio Victor Malzoni, na Avenida Faria Lima: vão central espalhado de onde se vê o reflexo da Casa Bandeirista 

A cidade, fundada em 1554, apresenta estratigrafias que refletem diferentes períodos, desde a colonização até a Era do café e a República, e o desenvolvimento das instituições acadêmicas e das Sociedades de Arqueologia fortaleceram a pesquisa arqueológica em São Paulo, tornando-a uma das cidades mais escavadas do Brasil.

Apesar dos avanços, a necessidade de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação do patrimônio histórico é evidente. A descoberta de mais de 180 sítios escaváveis e catalogados destaca o potencial de encontrar ainda mais vestígios, mas requer um cuidado especial para conservar esse rico legado cultural, considerando o constante crescimento da cidade.

A Casa Bandeirantista e o Prédio do Google

Para poder realizar as obras de construção do edifício Pátio Victor Malzoni, hoje onde fica a sede do Google em São Paulo, a incorporadora Tishman Speyer comprometeu-se profundamente com os aspectos históricos da cidade de São Paulo. Localizado na esquina da Avenida Faria Lima com a Rua Horácio Lafer, o terreno escolhido para o empreendimento encontrava-se em frente ao recém-inaugurado edifício Pátio Victor Malzoni, pertencente ao Grupo Victor Malzoni. Esse edifício foi construido com todo cuidado para preservar a Casa Bandeirista, uma das raras construções do século 18 preservadas em São Paulo, tombada pelos órgãos de patrimônio e prestes a ser aberta para visitação.

A proximidade desse local histórico impôs à Tishman Speyer a responsabilidade de conduzir uma ampla pesquisa histórica sobre a área do terreno antes de iniciar a construção. Esse processo, que durou meses, incluiu prospecções comandadas pela empresa A Lasca Arqueologia, visando verificar a presença de objetos e vestígios importantes para a memória da cidade.

Nos 10.000 metros quadrados destinados ao canteiro de obras, foram identificadas três áreas de interesse arqueológico. A escavação revelou fundações de uma antiga casa, fragmentos de louça e uma área de descarte de lixo, destacando a riqueza das ocupações passadas na região. No entanto, a descoberta mais notável foi um anel de rubi, adicionando um toque de fascínio e mistério à narrativa arqueológica desse empreendimento.

Essas descobertas não apenas enriqueceram a compreensão da história da área, mas também ressaltaram a importância de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação do patrimônio. O comprometimento da Tishman Speyer em considerar os aspectos históricos durante o processo de construção demonstra um passo significativo na integração do crescimento da cidade com o respeito à sua herança cultural.

Escavações no Inhapuabuçu

Ná área que se estende da Rua dos Aflitos até a Rua Galvão Bueno têm aflorado vestígios arqueológicos de uma história pouco conhecida, trata-se de um terreno de 400m² onde funcionou a primeira necrópole da cidade de São Paulo, o Cemitério dos Aflitos, em atividade desde de 1775 e desativado em 1858, quando foi construído o cemitério da Consolação. 

Ao lado fica a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, ainda hoje em atividade e a única lembrança, até então, do uso do território como cemitério. Desde a publicação da Lei nº3.924 de 1961, todos objetos arqueológicos são de propriedade da União.

O Patio do Colégio Original Não Existe Mais 

Infelizmente, só recentemente tivemos a iniciativa de registrar acontecimentos históricos com precisão e acertividade, investindo no trabalho de arquelogos e historiadores para recontarmos nossa história.

Uma curiosidade que pouca gente sabe é que Pátio do Colégio, o maior local de significância histórica em São Paulo, fundado pelos Jesuítas em 1554 foi demolida em 1954, durante as celebrações do IV Centenário de São Paulo. 

Acima foto das obras nos anos 1970 - Vista do Pátio do Colégio em 1887. A fonte, em primeiro plano, foi demolida em 1932 por Militão Augusto de Azevedo e ao lado, unicos remanescentes da obra original

Os Jesuítas, os fundadores da cidade de São Paulo nem semprre tiveram bons relacionamento com a Coroa portuguesa, enfrentaram duas expulsões de São Paulo: a primeira em 1640, devido à defesa da liberdade dos índios, e a segunda em 1760, acusados de conspirar contra o rei de Portugal. Após esses eventos, o Colégio foi entregue à Coroa Portuguesa, que instalou o governo de São Paulo no local até 1912.

A Igreja do Bom Jesus, parte do conjunto do Pátio do Colégio, permaneceu inalterada pelas reformas, mas foi interditada em 1891 devido às más condições de sua estrutura. Autorizou-se a demolição em 1896, após o desabamento do teto durante uma tempestade.

Em 1954, durante as comemorações do IV Centenário de São Paulo, toda a edificação foi demolida, e o terreno foi cedido novamente aos Jesuítas. Eles iniciaram, então, um projeto de reconstrução do edifício do colégio, concluído em 1976, e da Igreja do Bom Jesus.

A reconstrução do Pátio do Colégio gerou controvérsias, com apoiadores destacando sua importância histórica e religiosa. Contudo, o Condephaat se opôs, argumentando que réplicas comprometeriam o valor histórico original. Em 1975, o órgão solicitou o tombamento do local como sítio arqueológico, devido à presença de elementos originais, como uma parede de taipa de pilão e a fundação de pedra da antiga igreja, ambos tombados pelo Conpresp em 2015.

Em 1977, o Condephaat emitiu um segundo parecer, enfatizando que nenhuma reconstrução ou réplica deveria sobrepor-se à obra original, retirando seu valor histórico. Apesar disso, o projeto de reconstrução foi executado, resultando na presença atual do "falso histórico" no Pátio do Colégio.

Durante a reconstrução, uma parede de taipa de pilão de 1585 foi descoberta e se encontra em exposição no complexo do Pátio do Colégio, que abriga o Museu Anchieta, o auditório Manoel da Nóbrega, a Igreja Beato José de Anchieta, que possui o fêmur do religioso, uma biblioteca, a Cripta Tibiriçá, o Café do Pátio, entre outros.

A Arqueologia do Cauim em São Paulo

A redescoberta do Cauim Tupi do Inhapuambuçu, bebida originaria de mandioca fermentada, é tratada como um mistério pouco explorado nas pesquisas arqueologicas de cerâmicas e nos relatos de produção em Inhapuambuçu, antes e durante a chegada dos portugueses, Cauim dos Tupi de São Paulo envolve uma narrativa muito fragmentada e esquecida em sua tradição oral, que desaparece na mesma velocidade com que desaparecem seus locutores.

Mulheres preparando o Cauim - Hans Staden, 1557

Se o Tupi Antigo é uma língua extinta, que renasce aos poucos nas aldeias com o lindo trabalho do professor Eduardo Navarro, o Cauim do Inhapuambuçu, que também está morto, ressurge nas pesquisas de Luiz Pagano.

Comparação entre a cerâmica tupiniquim, portuguesa e paulista. Referências: Cerâmica tupiniquim (fotos de Francisco Silva Noelli): nha’ẽpepó (cortesia do Museu Histórico e Arqueológico de Peruíbe), cambuchí, nha’ẽ (cortesia do Museu Nacional do Rio de Janeiro); Cerâmica comum medieval/pós-medieval portuguesa: panela, jarro e prato (Gomes 2012); frigideira (Bugalhão & Coelho 2017); Cerâmica paulista (fotos de Francisco Silva Noelli): panela (coleção Marianne Sallum); jarra, frigideira de esquentar fumo (cortesia do Museu Casa do Barão, São Vicente); prato (reelaborado de Scheuer, 1976)

Cauim e Rituais Funerários

Os Tupi encontraram no cauim sua ligação mais forte com o mundo espiritual, para grande parte das aldeias anteriores a chegada dos colonizadores, as práticas funerárias eram realizadas em artefatos cerâmicos anteriormente utilizados para o cauim.

A antropóloga Silvia Carvalho propõe que, o ato de enterrar alguém em vasos de cerâmica feitos para depositar cauim tem o simbolismo de transformar o guerreiro que não morreu em batalha em alimento antropofagico, fim que teria se fosse derrotado em ccmapo de batalha (aiba mais abaixo sobre os codigos de guerra Tupi) 

Vicente César, ao estudar os grupos Tupi, rompe com a ideia de que os enterros em urnas são exclusivos desses grupos, identifica registros de sepultamento primário em urnas para diversos grupos, incluindo Caiuá, Carijó, Guarani, entre outros, associados ao uso prévio dessas urnas para cauim.

Além disso, César menciona diferentes formas morfológicas de urnas, como bacia, cones unidos, panela e semi-ovais, indicando uma diversidade de práticas. No Sul do Brasil e regiões próximas, as urnas, geralmente maiores que as do Norte, estão associadas aos Guarani e aos Tupinambá. Carvalho é referenciada, sugerindo uma proposta adicional sobre o ato de sepultamento em vasos cerâmicos, possivelmente fornecendo mais informações sobre essa prática.

"Também da mesma forma que Carvalho, Mano defende que o sepultamento em urnas tem implicações rituais que se relacionam com o universo mágico-religioso- guerreiro dos Tupi-Guarani. O chefe ou guerreiro que não terminasse seus dias sacrificado pelos inimigos era inumado em um grande vaso de cauim ou chicha, para que ele mesmo fosse devorado pelos deuses canibais no céu, tomando-se assim um imortal. 

As urnas/panelas seriam um meio de transposição para a consumação canibal pelos deuses, para que o morto se tornasse imortal. Assim, o sepultamento em urnas teria relação com concepções a respeito de deuses canibais e com o universo simbólico da antropofagia (Mano, 2009)."

A falta de dados estatísticos sobre a prevalência de sepultamentos secundários e a má preservação dos remanescentes humanos complicam a análise. Além disso, a descrição incompleta nas fontes pode ocultar outros aspectos do funeral ou atividades associados ao sepultamento.

Dez classes de vasilhas foram identificadas por Brochado, Monticelli e Newman:

Vasilhas foram identificadas por Brochado, Monticelli e Newman

Herta Löell Scheuer, nos anos 1960, ao definir a "cerâmica atual popular de São Paulo," revelou a influência indígena na produção cerâmica, ressaltando a continuidade das formas tradicionais.

Geralmente as cerâmicas da tradição Guarani são corrugadas e as da tradição Tupi são pintadas. Pesquisas arqueológicas em locais como o sítio Ruínas do Abarebebê e museus em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, somadas aos relatos de Scheuer, construíram uma base sólida de dados sobre o assunto.

Sallum et al. (2018) realizaram pesquisas em Peruíbe, evidenciando a produção de cerâmica Tupi desde o final do século XVII, destacando a persistência de práticas por mais de 300 anos no litoral ao sul de São Vicente.

Carneiro da Cunha & Viveiros de Castro (1985) levantaram a possibilidade de relações pré-coloniais dos Tupi com povos não Tupi, discutindo a ideia de vingança como uma "técnica de memória" que poderia influenciar a não modificação da cerâmica pré-colonial.

Enquanto grande parte das pesquisas sobre o consumo de bebidas fermentadas foca em regiões amazônicas, recentes estudos arqueológicos, especialmente no contexto brasileiro, destacam o papel central dos potes na compreensão das transformações sociais ao longo do tempo relacionadas ao consumo dessas bebidas.

A esquera, vasos Guarani para preparo e consumo de fermentados. Abaixo Cerâmicas paulistas de Iguape, Cananeia, Sorocaba e Porto Feliz: cortesia do Museu Casa do Barão, São Vicente: a) pichorra; c) panela; d) nhaninha; e) boião; f) torrador; g) frigideira para esquentar fumo; cortesia do Museu Ferroviário de Sorocaba: b) panela de mutirão; cortesia do Museu Histórico e Pedagógico das Monções: h) cuscuzeiro

Essa pesquisa não busca uma explicação única para as mudanças na arqueologia amazônica, mas sim destaca as possibilidades de transformação proporcionadas pelo consumo de fermentados. Explora, ainda, aspectos cognitivos, de saúde e sociabilidade, diferenciando-se de outras substâncias alteradoras da mente. A análise abrange diversas fontes de fermentação, incluindo grãos, tubérculos, frutas e mel, ressaltando a presença provável desses fermentados na "revolução cognitiva" humana nos últimos trinta mil anos. 

Os Gestos Funerários

A seguir, descrevemos outros gestos funerários de grupos Tupi e Guarani, com informações compiladas de diversas fontes, incluindo Métraux (1947, 1979, 2012 [1928]) e Noelli (1993).

Sepultamento de um Pai de Família Tupinambá - Thevet 1878

Gestos de Preparação do Corpo:

Os Tupi untam o corpo do morto com mel e empenam com penas coloridas de pássaros. Utilizam uma carapuça de penas na cabeça e outros enfeites usuais.
Amarram os membros com fibras de algodão, às vezes cobrindo completamente o corpo. Colocam o corpo na cova em posição de cócoras, ou enrolam em suas redes.

Gestos de Escavação da Cova:

A cova entre os Tupinambá é escavada pelo parente masculino mais próximo, que também carrega o corpo. A cova é descrita como redonda e profunda, similar a um grande tonel de vinho.

Gestos de Sepultamento Primário Fora de Urna:

Métraux (1947) descreve o "sepultamento em câmara funerária" entre os Tupi, onde fazem uma cova na casa do falecido, evitando o contato do corpo com o chão.
Enfeitam o corpo na rede com arco, flechas, espada e maracá.
Realizam um fogo próximo à rede para aquecer o morto.
Colocam comida e água próximas ao corpo.
Cobrem o conjunto com madeira, evitando o contato desta com o corpo.

É importante mencionar que existe uma falta de informações claras sobre sepultamento secundário entre os Tupi, indicando a complexidade na interpretação dessas práticas que costmavam variar de aldeia para aldeia.

Sepultamento segundo Staden 1557

Aldeias que Viraram Bairros

Ururay:
Significado: "rio do jacaré de papo amarelo."
Moradia de Piquerobi, irmão de Tibiriçá.
Abandonada após desavenças provocadas pela chegada dos jesuítas em Piratininga.

Penha:
Descobertas arqueológicas sugerem uma possível aldeia Tupi com uma igaçaba contendo um esqueleto completo.
Fragmentos de cerâmica Tupi encontrados próximo à igreja matriz indicam ocupação pré-contato.
Potencialmente uma aldeia pré-histórica defensiva no alto de uma colina, oferecendo boa visão do vale do rio Tietê.

Itaquaquecetuba:
Significado: "local onde há muita pedra que corta."
Transferência dos indígenas de São Miguel de Ururay por volta de 1620, possivelmente devido à pressão do Pe. João Álvares.
Referência em um roteiro de Antonil para chegar às Minas em 1710.

Mapa de algumas aldeias Tupi em São Paulo - estrapolações de suas limitações territoriais 

Carapicuíba:
Em 1580, os indígenas pediram sesmaria nesta área, indicando possível ocupação.
O pedido foi feito ao capitão-mor Jeronymo Leitão, nas terras dos jesuítas em Pinheiros.

Estas aldeias ao longo do Tietê representam uma parte significativa da presença Tupi na região, marcada por deslocamentos, disputas e adaptações ao longo do tempo.

Jurubatuba:
Significado: Lugar onde há muito jerivá (palmeira).
Localização: Médio rio Jurubatuba-açu (atual rio Grande), próxima à represa Billings.
Estratégica para descida à costa; moradores a abandonavam temporariamente para ir "ao mar fazer sal."
Casa de Cay Obi, liderança que acolheu os jesuítas; seu filho, Cayobi, contribuiu para a fundação da missão de São Paulo.

Guarapiranga:
Possível localização às margens do rio Guarapiranga (rio da garça vermelha), afluente do rio Pinheiros.
Referências escassas; indígenas transferidos para Ururay.

Ibirapuera I:
Significado: "aldeia cercada por paliçada."
Localização: Margem direita do rio Pinheiros.
Possível aldeia fortificada; construção de paliçadas comum em regiões vulneráveis a ataques inimigos.

Ibirapuera II:
Referência em documentação do início do século XVII.
Localização: Margem esquerda do rio Jerubatiba.
Possível ligação com a construção de um engenho de ferro dedicado a Nossa Senhora D'Assunção.
Deslocamento do nome, já que o Parque do Ibirapuera é comemorativo e não autêntico.

A presença dessas aldeias ao longo do Jurubatuba revela uma estratégia indígena adaptativa, marcada por escolhas geográficas e defensivas em relação aos recursos naturais e a possíveis conflitos.

Aspectos Esprituais

Alem do já visto Anhangá, o panteão Tupi pré colonização, conforme abordado por autores como Métraux, Vainfas e Pompa, destaca heróis civilizadores e entidades que moldam a cultura mestiça, os mitos, principalmente recolhidos por Thevet, revelam criadores e heróis como Monã, associado à criação da terra, animais e homens. 

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singularidade de entidades e se Maíra seria uma única entidade com diversos nomes. A visão de criadores Tupi, segundo Métraux, é mais transformadora do que criadora, sendo heróis civilizadores responsáveis por completar a obra. Monã, associado à criação, é descrito por Thevet com influência cristã, enquanto Métraux destaca a possibilidade de interpretação errônea. 

A imortalidade atribuída a Monã e heróis civilizadores não é estranha aos Tupi, como evidenciado pelos Kaapor no Maranhão. Essa visão religiosa contribui para entender a identidade cultural dos povos mestiços, sendo perpetuada pelos nomes dados pelos conquistadores.

As várias manifestações de Maíra

O universo espiritual Tupi, conforme abordado por autores como Métraux, Vainfas e Pompa, destaca heróis civilizadores e entidades que moldam a cultura mestiça. Os mitos, principalmente recolhidos por Thevet, revelam criadores e heróis como Monã, associado à criação da terra, animais e homens. A dificuldade na recuperação desses relatos levanta questões sobre a singularidade de entidades e se Maíra seria uma única entidade com diversos nomes. A visão de criadores Tupi, segundo Métraux, é mais transformadora do que criadora, sendo heróis civilizadores responsáveis por completar a obra. Monã, associado à criação, é descrito por Thevet com influência cristã, enquanto Métraux destaca a possibilidade de interpretação errônea. A imortalidade atribuída a Monã e heróis civilizadores não é estranha aos Tupi, como evidenciado pelos Kaapor no Maranhão.

A  Ocupação Portuguesa

Martim Afonso precisava retornar a Portugal, e portanto resolveu doar as sesmarias a Pero de Góes e Rui Pinto como estratégia de apoio à vila que formara no planalto. 

Semarias eram concessões de terras feitas pelo rei de Portugal no período colonial brasileiro, visando incentivar a ocupação e cultivo dessas terras. Os beneficiários recebiam as terras sob a condição de torná-las produtivas, promovendo o desenvolvimento agrícola e a colonização. As sesmarias contribuíram para a divisão do território brasileiro entre particulares, mas também geraram conflitos e desigualdades em relação aos povos indígenas e comunidades locais. Essa prática influenciou significativamente a estrutura fundiária do Brasil.

Muitas das sesmarias foram baseadas em antigas ocupações Tupi. 

No contexto quinhentista português, sesmarias eram terras que não estavam sendo cultivadas e poderiam ser concedidas a colonos para explorar. A prática sesmarial implantada por Dom Fernando em Portugal, visava uma espécie de reforma agrária, confiscando terras ociosas.

No Brasil, as sesmarias doadas a Pero de Góes e Rui Pinto eram extensas e se estendiam pelo litoral até áreas no interior, indicando a intenção de ocupar e explorar essas terras. Se o beneficiário não as utilizasse em dois anos, o donatário poderia redistribuí-las. As descrições detalhadas dessas sesmarias revelam a vastidão e diversidade geográfica dessas concessões.

Mapa de algumas sesmarias de São Paulo

Pero de Góes, no entanto, não se dedicou à ocupação de suas terras, pois, em 1535, recebeu a capitania de São Tomé ou Paraíba do Sul. Martim Afonso também buscou estabelecer um núcleo populacional no planalto, próximo à aldeia do cacique Tibiriçá. No entanto, as informações sobre esse primitivo núcleo são escassas, e a localização exata tem sido objeto de debates e controvérsias entre historiadores.

Capítulo 2 - O Inhapuambuçu de João Ramalho e Tibiriçá

João Ramalho desempenhou um papel significativo no processo de colonização e povoamento do planalto paulista durante o período colonial. Ele foi um dos moradores do primitivo núcleo estabelecido por Martim Afonso de Sousa, próximo à aldeia do cacique Tibiriçá. A intenção de Martim Afonso era criar um povoado na região, e João Ramalho, que se tornara amigo do cacique, estava envolvido nesse empreendimento.

De acordo com registros, João Ramalho foi mencionado como um dos moradores desse núcleo inicial. No entanto, há divergências entre historiadores sobre sua residência no planalto, pois, por ocasião da doação da sesmaria de Pero de Góes em Piratininga, o escrivão Pedro Capico indicou que João Ramalho e Antônio Rodrigues, línguas (intérpretes) da região, já moravam lá há quinze a vinte anos. Isso sugere que, na época da doação da sesmaria, João Ramalho e Antônio Rodrigues estavam estabelecidos no litoral, não no planalto.

Quanto à localização exata do núcleo fundado por Martim Afonso e a possível residência de João Ramalho, há debates e controvérsias. Alguns sugerem que ele pode ter se instalado em dois locais, um próximo à aldeia de Tibiriçá e outro mais tarde, onde se encontraria a fazenda São Bernardo, próxima à Borda do Campo (atual Santo André).

João Ramalho desposou uma das filhas do cacique Tibiriçá, indicando uma possível instalação próxima a essa aldeia. Ele foi uma figura importante na interação entre os colonizadores portugueses e os povos indígenas, contribuindo para a formação de uma sociedade mestiça na região.

Na Ata de 09 de setembro de 1542 da Câmara de São Paulo, extraída do livro de Madre de Deus, quando o padre Jesuíta Leonardo Nunes passou pelo Planalto de Piratininga em 1550, disse que havia cristãos mesclados entre os indios, a preocupação do missionário era evitar que os portugueses continuassem na vida "pagã", longe dos sacramentos cristãos, e por isso, foi escolhido um novo local, à borda do campo, próximo ao caminho que levava para o litoral, ficando mais próximo de São Vicente.

Leonardo Nunes afirma que encontrou os "hombres blancos", em Piratininga, na aldeia de Tibiriçá, e diz que insistiu para que "se tornassen a los christianos", isto é, que voltassem a São Vicente, ou que se agrupassem a outros que se dispunham a fundar uma vila. Ele relata: "E por que estavam esparzidos e o campo era muito grande, por bem de todos me rogaram que lhes ajuntasse e fizesse hua vila e lhe puzesse nome Santa Maria de Jesu. Assim o fiz, ajuntei-os e pus-lhes o nome que eles quiseram e fiz-lhes a igrejinha". 
João Ramalho e Tibiriçá conversando aos pés do morro careca do Inhapuambuçu

Convém lembrar que João Ramalho e os moradores do planalto foram convocados a retornar a São Vicente, por ocasião do alvará de 1542. Eram vistos como "força" autônoma e não como moradores de um povoado. Por isso, tinham que voltar, "sob pena de mil réis pela primeira vez as tragam do dia que lhes foor notificado e hum mez (...) e quanto à Força do campo [de Piratininga] seraa do dia da notificaçam a dous mezes". Apesar do prazo mais dilatado, nunca atenderam a esta ordem, permanecendo no campo.

Diante deste novo apelo vindo do Pe. Nunes, aceitaram construir uma capela sob a invocação de Santo André. Foi esta igrejinha que Tomé de Sousa encontrou, no princípio de 1553, quando por ali passou.

A vinda do governador foi um marco importante para os portugueses de São Vicente, pois, nesta ocasião transformou Santo André da Borda do Campo em vila, determinando a construção de um baluarte e estabelecendo João Ramalho como capitão-mor, como escreveu ao rei:

"hordeney outra villa no começo do campo desta villa de São Vicente de moradores que estavaão espalhados por elle e os fiz cerquar e ayuntar pera se poderem aproveitar todas as povoações deste campo e se chama a villa de Santo André porque honde a cituey estava húa ermida deste apostollo e fiz capitão della a Iohão Ramalho, naturall do termo de Coimbra, que Matim Afonso ya achou nesta terra quando ca veyo". 

A Guerra entre o catolicismo e a religião Tupi

Um dos episódios de maior ruptura com as tradições familiares indígenas para abraçar a fé católica imposta pelos jesuítas foi o chamado Cerco de Piratininga. A união entre portugueses e Tupi ja a muito vinha ferando desconfiança entre os nativos, principalmente os tipinambás do litoral, que se aliavam aos franceses, a prática da escravidão pelos colonizadores intensificava as hostilidades.

Em 1562, João Ramalho foi nomeado chefe militar de São Paulo pelos jesuítas,  que, ao serem informados sobre a escalada das tensões e o ataque iminente, liderado por seu próprio sobrinho, Jaguaranho, filho de Piquerobi.

Jaguaranho, liderando tribos rebeldes, atacou em 9 de julho de 1562, cercando a vila onde ficava o colégio jesuíta enquanto que João Ramalho liderava a resitência. Jaguaranho, ao vencer as defesas iniciais, decidiu arrombar as portas da igreja para sequestrar as mulheres índias e mamelucas que rezavam, bem como atacar os padres, que agora, se encontravam vulneráveis. Foi flechado no estômago e morreu no local, fato que reverteu a vantagem dos invasores que continuaram a batalha até 10 de julho, com vitória dos portugueses e aliados.

Durante a batalha, Tibiriçá, no auge de seu conflito pessoal, matou seu prórpio irmão Piquerobi com um golpe de espada. Ao ver a trágica cena, um indígena de sua propria aldeia que lutava junto dos atacantes do cerco, assustado com o ato do cacique, desesperadamente pediu perdão, dizendo que aceitava a escravidão - Tibiriçá, sem hesitar matou a ele e outros traidores, encerrando a revolta com ferocidade.

Este episódio tumultuado culminou com a morte de pai e filho durante a construção da igreja, o líder insurgente Jaguaranho aliado a seu pai Piquerobi, confrontados por Tibiriçá, morreram no mesmo dia, 9 de julho de 1562.

O cerco de Piratininga desempenhou um papel crucial ao desvelar as tensões religiosas e as complexidades culturais entre os indígenas Tupi e a influência dos jesuítas. Tibiriçá, inicialmente catequizado e renomeado Martim Afonso, se viu em um dilema durante o assédio, questionando a religião católica imposta pelos missionários. O discurso marcante de um karaíba durante uma tempestade, atribuindo a intervenção divina ao "Filho de Deus", evidencia a resistência e a busca por autonomia religiosa por parte dos líderes indígenas.

A conversão de Tibiriçá, considerado o cacique maior, para o cristianismo, provocou descontentamento entre os pajés, que possivelmente intensificaram seus assédios, essa mudança reflete não apenas uma disputa religiosa, mas também ambiguidades dentro de Tibiriçá, dividido entre as crenças karaíba e abaré. A guerra contra os Papaná, onde Tibiriçá interrompe o combate para sacrificar prisioneiros, revela as complexidades dessa transição cultural e religiosa.

Enquanto isso, em outro cenário, a guerra entre os Tupi e a resistência aos Tupinambás, apoiados pelos franceses, estabeleceu uma aliança entre portugueses e Tupi, liderados por João Ramalho. A mobilização para enfrentar os inimigos revelou as dificuldades na união de forças, com a falta de apoio esperado e a escassez de colonos não indígenas na região de Inhapuambuçu. A necessidade de incentivar a chegada de novos colonos, inclusive "degradados", ressaltou a importância da colaboração e integração entre diferentes grupos para enfrentar os desafios em comum.

Esses eventos históricos marcam os primeiros passos na formação da cultura brasileira, representando a interação e a fusão de culturas tão diversas. 

Um episódio crucial na guerra de deuses e na complexa dinâmica entre as crenças Tupi e a influência dos missionários. Na guerra contra os Papaná, liderada por Tibiriçá, a interferência dos padres, representantes da catequese cristã, evitou o sacrifício dos prisioneiros, gerando conflitos internos na comunidade indígena. Este embate reflete não apenas a disputa pelo controle religioso, mas também o conflito entre tradições Tupi e a imposição da fé cristã.

A recusa de Tibiriçá em acatar a decisão dos padres, mesmo enfrentando críticas de familiares cristãos e líderes como Cayobi, destaca a resistência dos indígenas à conversão. Ao renunciar à fé cristã, Tibiriçá volta ao seu nome anterior, Tibiriçá, sinalizando uma vitória dos karaíba e o retorno às tradições indígenas.

O confronto entre as crenças Tupi e a catequese cristã, evidenciado pelo episódio, destaca a importância da guerra na cultura Tupi, como enfatizado por Gandavo. Esta resistência à conversão e a manutenção de práticas tradicionais indicam a persistência das crenças indígenas frente aos esforços missionários, como mencionado por Anchieta:

Com toda a energia, retiraram as cordas que amarravam o oposto de quem o carregava e as esconderam na casa [da missão]; a espada de madeira [borduna], própria para esse fim, embora não conseguissem retirá-la, impediram que chegasse às mãos do principal [Tibiriçá] a quem se destinava. Ele sentiu muito isso e dirigiu grandes afrontas aos Irmãos, que eram maus e mentirosos e que deveriam ir embora, pois não o defenderam dos opostos - Carta ao Pe.Diego Laines, 31.05.1560 (CAP, 126-127).

Quem eram os Tupinambás, primos inimigos dos Tupis

Graças aos livros de Lerry Thevet e Hans Stadens, sabemos como era a sociedade dos Tupis (Tupinambás, Tupiniquins, etc. ). Esses relatos começam com a aventura de Hans Staden, no ano 1553, que ao realizar uma caçada sozinho em Bertioga, foi capturado por indígenas que o trataram com muita violência - Staden logo percebeu que a intenção dos indígenas era a de devorá-lo em um sofisticado banquete, servido com o mais fino Cauim.

Apos passar por vários momentos de terror, Staden sobreviveu ao contato com os canibais, voltou a Europa, quando escreveu sobre essas verdadeiras desventuras quase inacreditáveis no ano de 1556, fazendo do Brasil e seu provo um dos lugares mais incríveis e assustadores do mundo de sua época.

Aqui vemos as 'Kaûĩ apó sará' (mulheres que preparam Cauim); O processo começa fervendo a mandioca em uma panela chamada yapepó (à direita), depois as jovens virgens mastigam e a cospem numa ugaçaba (no centro embaixo), no final o mosto, já com ação de enzimas salivares é despejado para fermentar em uma panela especial chamada cambuchí (no centro, na frente, repare que a pnela parece com um fruto do cambucí). No lado esquerdo vemos as 'Kunhã Maku' (mulheres que servem o cauim).

A veracidade dos relatos de Staden são autenticados no ano seguinte no livro do francês André Thevet, de religião católica e posteriormente pelo calvinista Jean de Léry. Thevet teve sua experiência obtida ao fazer parte do grupo denominado França Antártica no Brasil, que após passar dez semanas vivendo na Baía da Guanabara, regressou à França por estar doente. No ano seguinte, publicou a obra intitulada ‘As singularidades da França Antártica (1557)’: uma fonte relevante por ser uma das primeiras obras a fazer menção ao Brasil em pleno descobrimento, no entanto, escrito com ênfase no fantástico ao transparecer a presença do imaginário medieval.

Já Jean de Léry que veio para o Brasil em 1558, juntamente com um grupo de quatorze pastores calvinistas, e cinco donzelas para habitar a França Antártica fez um realto bem mais acurado. No decorrer de sua estadia os conflitos ideológicos entre católicos e protestantes, fez que ele tivesse uma visão muito mais critica ao trabalho de Thevet, que após dezenove anos do seu retorno, publicou seu diário denominado ‘Viagem à terra do Brasil (1577)’, uma obra muito mais elaborada que tinha o declarado intuito de desmentir equívocos e mentiras contidas no livro de Thevet.

Essas três importantes obras ilustradas que renasceram na decada de 1920 Totem e tabu, de Freud, o manifesto Cannibale, de Francis Picábia, lançado em 1920, e o livro L’Anthropophagie rituelle des Tupinambás, de Alfred Métraux, que inspiraram os modernistas de 1922, Tarsila, Oswald e Mario de Andrade, fizeram que nós conhecêssemos a cultura, idioma e hábitos dos povos Tupis com rigor científico em estado de arte.

Banquetes que demandavam por refinada etiqueta, como as européias e éticas de guerra, com rituais semelhantes aos dos Samurais japoneses

O Brasil daquela época era ocupado por tribos irmãs e beligerantes, a guerra era uma atividade constante, Potiguares eram inimigos de Tabajaras, que por sua vez eram inimigos de Caetés, rivais dos Tupinambás, os quais, guerreavam constantemente contra os Tupiniquins. Essas guerras eram regidas por códigos atentamente observados e seguidos a risca por todos esses ‘primos’, falantes de variações do mesmo idioma, o Tupi Antigo.

O ato da guerra era sagrado e tinha como o momento culminante do embate, o apogeu ritualístico definitivo e verdadeira consagração da vitoria, a Antropofagia. Os ARAPURUS (comedores de gente) tinham rituais muito bem coreografados e a dinâmica do ritual canibalístico era muito elaborada, existem relatos de outros atos canibilísticos ao redor do mundo, mas foi aqui, nos litorais brasileiros que essa pratica teve a sua aplicação mais requintada.

2.1 – A guerra

Enquanto os portugueses estavam preocupados com a exploração dos recursos da nova colônia, os povos indígenas estavam totalmente dedicados aos atos de guerra intertribais. No ano de 1565 os portugueses resolveram tomar uma posição mais forte e uma batalha foi travada entre portugueses, aliados ao Tupiniquins contra os franceses, aliados dos Tupinambás. Poucos anos mais tarde a maior parte dos franceses foi expulsa da região da Gauanbara, que tinha Villegagnon, um cavaleiro católico de Malta como líder, junto aos Tupinambás da resistência. Essa derrota só foi possível com a ajuda dos Tamoios, sob a liderança de Aimberê, dando origem assim ao Rio de Janeiro.

Em meio a essa guerra toda, guerreiros de tribos inimigas eram capturados e ai então os Abá-Porus faziam a festa

2.2-O Prisioneiro de Guerra

No exato momento em que o inimigo era capturado, o guerreiro responsável pela captura virava seu dono, e passava a ter responsabilidade direta sobre seu cativo até o final de todo o processo, que culminaria com com sua canibalização. Os prisioneiros eram amarrados pelos pés e mãos, o que impossibilitava sua caminhada, para se locomoverem, eles tinham que dar ‘pulinhos’, situação que se ridicularizava bastante o capturado.

Aos pulos os prisioneiros eram conduzidos até a aldeia dos vencedores, ao passar pela entrada principal, eram recebidos com animosidade e ainda mais humilhação, os residentes jogavam restos de comida e pedriscos e se dava o seguinte dialogo:


Artefatos dos Tupinambá, a muçurana, a corda que o prisioneiro carregava dentro da aldeia enrolada na cintura - o numero de nós representava o numero de luas até a data de seu sacrificio, o enduape, ornamento com penas gigantes, provavelmente de emas, que era usado nas costas e a ibirapema, budurna, especie de maça utilizada para dar o golpe ritual na nuca do refém.

O captor dava a ordem ao prisioneiro: -“Enhe'eng tembi'u” (Fale, comida); O prisioneiro então respondia: “Aîur-ne pe rembi'urama” (Estou chegando eu, sua comida);

As pessoas da tribo, jogando pedriscos e restos de comida no prisioneiro completavam: “Opererek îandé rembi'u oîkóbo” (Aí vem chegando nossa comida).

Nos próximos dias, o prisioneiro recebia o tratamento equivalente ao de um primo distante, era hospedado na oca do captor, era bem alimentado, a zombaria cessava 'em parte' e o anfitrião oferecia, alimento, rede e até mesmo sua filha ou sua esposa para que este se satisfizesse sexualmente. Nos primeiros dias, ele recebia também uma longa corda com nós para ser usada ao redor do corpo e pescoço, chamada de MUÇURANA. A Muçurana tinha uma quantidade de nós que representava o numero de ciclos lunares até sua execução. O prisioneiro jamais tentava fugir, pois isso seria a maior vergonha para ele e sua tribo. Na bizarra hipótese da fuga do prisioneiro, as pessoas de sua própria tribo não o aceitariam de volta e o conduziam vergonhosamente a aldeia dos captores para seu destino que já estava determinado pelo condigo de conduta da tradição oral mais antigo que se conhecia.

Os Tupis, tal qual os samurais prezavam a morte digna, o tumulo mais honroso para um guerreiro era o estomago de seu inimigo - Ter suas entranhas devoradas por vermes e insetos era repugnante e desprezível.

2.3- O Banquete

No dia anterior ao banquete, todos bebiam o Cauim, bebida fermentada de mandioca produzida exclusivamente pelas mulheres pelo processo de mastigação e cusparada (a amilase salivar transformava amido em açúcar, que por sua vez era fermentado por leveduras exógenas, criando assim uma bebida de graduação alcoólica não superior a 8,5%), e tinha inicio uma grande festa.
Capa de penas de guará e de papagaio, pertencia à tribo de índios Tupinambá. Após a chegada do europeu em 1500, grande parte destas preciosidades foram saqueadas. O destacado Manto Tupinambá, que já foi confundido com o manto de um imperador azteca e foi levado daqui pelo governador holandês de Pernambuco, no século 17. Hoje pertence ao Museu Nacional de Arte da Dinamarca.
Na manhã seguinte, o prisioneiro tomava um banho e depois era ornado com penas, casacas de ovos, e outros adereços, eram também feitas pinturas vermelhas de urucum e pretas de jenipapo. Uma pantomima sempre acontecia nesses rituais - permitia-se que o prisioneiro fugisse até a entrada da aldeia quando era recapturado, numa encenação ritualística, e voltava amarrado com a Muçurana pela cintura, trazido por dois guerreiros, um de cada lado da corda e trazido para frente do executor enquanto a tribo toda gritava e se alvoroçava, aumentando assim o clima da festividade ao seu êxtase.

O Executor que também havia se banhado e submetido a uma pajelança com ervas e unguentos, após a longa cauinagem da madrugada, trajava-se de forma ritualística, com plumas pinturas e um maravilhoso MANTO GUARÁ vermelho feito com pele de lobo-guará, ornado com plumas de arara e tucano. Um dos momentos mais acalorados da festa era quando o executor se colocava na frente do prisioneiro, o absoluto silencio se fazia e acontecia outro dialogo:

O executor perguntava: -“Ere-îuká-pe oré anama, oré iru abé?” (mataste nossos companheiros e nossos parentes?)
O prisioneiro então relatava seus feitos heróicos: - “Pá, Xe r-atã, a-iuká, opabe a-‘u. Xe anama xe r-eõ-nama resé xe r-epyk-y-ne. Xe anama e’i-katu pe îukabo” (Sim, eu sou forte, matei-os e comi-os todos, minha família, por minha morte vingar-me-á, minha família irá matar vos).

Após o dialogo, o executor empunhava uma pesada arma, assemelhada a uma enorme maça, com um peso na ponta, ornada com plumas, que previamente fora preparada com orações e libações, chamada ‘IBIRAPEMA’, a manejava com destreza em movimentos marciais coreografados, encaminhava-se para traz do prisioneiro e acertava a base do crânio com muita força.

A morte era rápida, o crânio era despedaçado em sua base.

As mulheres mais velhas rapidamente colocavam um embolo em seu anus para evitar que os fluidos saíssem, recolhiam seus miolos e demais fragmentos espalhados pelo chão e tentavam recolher a maior parte possível de sangue. O corpo permanecia de pé, amparado pelas Muçuranas, fazendo com que seu sangue não fosse espalhado pelo chão, havia uma propósito muito nobre para todo esse sangue.

O sangue colocado em vasos de barro cozido e era bebido ainda quente por todos, as mulheres passavam em seus seios e davam o peito aos bebês, seu corpo era colocado com muito respeito dentro de um caldeirão já com água fervente, para facilitar a retirada da pele, ai então o corpo era desmembrado, cortado pelo dorso e levado para a defumação (moqueágem). Após alguns minutos o corpo era virado, abria-se o ventre e os miúdos eram misturados a farinha e o mingau era dado para as crianças, só os grandes guerreiros podiam comer um mingau preparado com a pele ao redor do crânio, e os órgãos sexuais eram devorados pelas mulheres. A língua e os miolos eram comidos por pré-adolescentes de 12 a 16 anos de idade.

Logo apos a execução, o executor era arranhado pelo líder tribal com dente de onça, de forma que a escarificação já cicatrizada servia-lhe como honraria – Quanto mais escarificado, melhor guerreiro era. Todo esse ritual era acompanhado de musica de flauta feita com os ossos dos prisioneiros abatidos anteriormente.

Ao final de 4 horas, o ritual acabava e os habitantes da tribo se recolhiam aos aposentos para dormir, a final de contas, ficaram acordados a noite toda para o grande evento.

Capítulo 3 - Como compilei essas informações pouco conhecidas?

Descrever um possível cenário sobre a vida dos indígenas Tupi antes da chegada dos colonizadores portugueses em São Paulo não é tarefa fácil, muito do que aconteceu se perdeu no tempo, principamente por conta da tradição oral, toda a herança cultural do provo era passada de gerações para gerações e naa era anotado.

No entanto, grande parte do que sabemos hoje nos chega por meio dos escritos dos próprios causadores do desaparecimento dos Tupi em São Paulo, a Ordem Jesuíta. É correto afirmar que os jesuítas, em comparação com outras ordens da Igreja Católica, eram tidos como 'cientistas de batina'. O fundador da ordem, Inácio de Loyola (1491 ~1556), formado no prestigiado Collège Sainte Barbie, mesmo sem ser conhecido por realizações científicas, estabeleceu uma ordem que valorizava a educação e o conhecimento, durante a colonização brasileira, os jesuítas desempenharam um papel significativo na documentação da vida dos povos indígenas e na elaboração da gramática tupi, mostrando um interesse científico em entender e registrar a cultura local.

Outros relatos de valor nos chegam por meio das Atas da Câmara de São Paulo, da documentação oficial, como testamentos, inventários e cartas das datas das sesmarias, bem como também muitos erros, como o de Frei Gaspar da Madre de Deus, Memórias para a história da capitania de São Vicente , que chamou os Tupi/Tupiniquim de Guaianas

Procurei não ser influenciado por visões ufanistas, como a dos heróis bandeirantes de Alcântara Machado, bem como orientações políticas de F. Fernandes e Darcy Ribeiro, bem como relatei baotos e contos fantasiosos, por fazer parte de nossa cultura material - a idéia foi fazer um texto cientificamente neutro.

A pesquisa ateve-se basicamente à chegada dos primeiros colonizadores, por volta de 1532, indo até 1593, ano da última grande ofensiva Tupi contra o planalto paulista e de datas anteriores.

Embora grande parte destes textos sejam marcados pela visão missionária da época e por disputas teológicas, sobretudo os do Rio de Janeiro, todos eles deixaram descrições de grande valor etnográfico. Jean de Léry (1534-1611), que esteve cerca de três anos no Rio de Janeiro, entre 1557 e 1560, conviveu, sobretudo, com os Tupinambá do Rio de Janeiro, mas teve também um pequeno contato com os Guaianá.

Segundo Lévi-Strauss Léry tomou-se um paradigma, antecipando de vários séculos a Malinowski. Chega mesmo a afirmar que não somente "viu os indígenas como nunca foram vistos, mas também elaborou seu livro numa ordem que seria depois a das monografias clássicas".

Em relação às cartas jesuíticas há o estudo crítico de Pécora (1999) e de Cristina Pompa (2003) que fazem uma separação entre as cartas oficiais (ânua e quadrimestral) e as cartas de circulação intera, chamada de hijuelas. Embora esta autora considere que as primeiras eram uma espécie de "difusão e 'propaganda' dos resultados da catequese para o mundo externo (incentivando as vocações)", sobretudo às escritas para os superiores gerais, como Inácio de Loyola e Diego Laynes", acredito que a realidade dos fatos aparecem nas entrelinhas, mesmo quando elaboradas dentro de um modelo clássico adotado pela Companhia de Jesus".

Como observa Puntoni, "os cronistas e os autores das cartas anuas (e os jesuítas em geral), por exemplo, não procuravam descrições objetivas, mas sim a tradução da imensa alteridade observada em termos familiares". É o que afirma Pompa, quando diz que as cartas jesuíticas estão longe de ser efeito espontáneo tanto da realidade objetiva dos indigenas do Brasil, quanto da reação subjetiva do impacto desta realidade em certa mentalidade católica européia".

Mesmo que a obra de André Thevet (1504-1592) não tenha a dimensão vivencial dos relatos de Staden e Léry, traz informações etnográficas importantes, sendo o cronista que melhor recuperou a mitologia tupinambá. Um texto importante e pouco conhecido no Brasil é o manuscrito que se encontra na Biblioteca de Paris, intitulado Histoire d'André Thevet Angoumoisin, cosmographe du Roy, de deux voyages par lui faits aux Indes australes et occidentales". Este escrito e as interessantes informações de La Cosmographie Universelle revelam que o autor esteve duas vezes no Brasil, por um período de quase três anos (1553 e entre 1555-1556), embora seu detratores afirmem que estivera apenas por alguns meses. Por este seu texto, que dá muitos informes sobre os indígenas do Sudeste, como os Guaitaká, Guaianá e Tupinambá, vê-se que soube muito bem utilizar de seu interprete normando para recolher os dados que traz nas suas obras como os mitos até hoje usados na antropologia.

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