segunda-feira, 16 de junho de 2025

Calendário Tupi Contemporâneo do Inhapuambuçu - Por Luiz Pagano


Calendário Anual Tupi Contemporâneo

Tudo começou com esta pergunta:

"Como seria o Brasil se a cultura dos Tupis tivesse sobressaido à dos Portugueses?" 

Na virada do ano 2000, eu fazia ilustrações para a revista Superinteressante, mais precisamente para a seção "Superfantástico", na qual se perguntava "e se..." (eu ilustrei "e se pudéssemos nos teletranportar" (ed 175 de Maio de 2002) e "e se os gregos não tivessem existido"). E isso me fez perguntar: "E se a cultura tupi tivesse suplantado a cultura portuguesa?". Como seria o Brasil?

Com base nessa pergunta fiz a postágem de 2012 (saiba mais) que me fez criar uma nova corrente de pensamento, a Nova Tupi e uma artistica a Tupi Pop.

A partir dessa pergunta também, decidi fazer um Calendário Tupis Contemporâneo, tendo como base os povos Tupis da região central de São Paulo, do Inhapumbuçu de Tibiriça e João Ramalho e os Tupinambas que conviveram com Jean de Léry. Mas também pode ser útil para os Potiguaras de Felipe Camarão, bem como para todos os Tupis de outras partes do Brasil, onde a celebração da cultura ancestral missigenada do brasileiro comum é valorizada.

Talvez o dia mais importante deste calendário fosse o Dia de Mani e da mandioca, 22 de abril, porque utiliza nosso alimento mais significativo, a mandioca, como base para a celebração. Ou talvez o Dia do Mbaraka, a personificação do ser vivo com o espírito que ressoa na cabaça. O fato é que teriamos festas em várias datas do ano.

.-.-.-.-.

Antes de prosseguirmos, dois Avisos Importantes são necessários:

Aviso Importante 1

Não temos a intenção de minimizar ou caricaturar nenhuma cultura. Pelo contrário: queremos celebrar a ancestralidade indígena que pulsa em grande parte do povo brasileiro. A maioria de nós carrega no sangue e na alma a herança de povos originários. Honrar essa raiz é reconhecer que somos, em essência, indígenas também — herdeiros de um Brasil que existia muito antes da colonização. Esta celebração é um convite à memória, à valorização e ao respeito profundo às culturas que moldaram o que somos. Que o espírito de alegria seja, sempre, acompanhado de consciência e reverência --- Somos todos indígenas.

Aviso Importante 2

O termo "tupiniquim" aparece com frequência na literatura francesa, aprendido com os Tupinambás, inimigos dos Tupis, (significa algo como o pequeno Tupi, ou falso Tupi, usado pelos primos Tupinambá para reduzi-los) e é evitado aqui, devido à sua conotação pejorativa e colonial.

Isso posto...

O Calendário da Tartaruga

Uma das teorias mais ouvidas entre nossas muitas etnias diz respeito ao fato de o ciclo anual de 364 dias estar gravado nas carapaças das tartaruga marinhas da família Cheloniidae, diz a lenda que Jerônimo de Albuquerque Maranhão, bravo guerreiro, responsável pela expulsão dos franceses, filho do nobre português Jerônimo de Albuquerque e da linda princesa indígena pernambucana Muyrã Ubi, filha do cacique Uirá Ubi, (Arco Verde, em português), da aldeia Tindara, batizada em língua portuguesa com o nome de Maria do Espírito Santo Arcoverde, ao chegar em Pé do Serrote fez erguer uma pequena fortaleza, com estacas de madeira para protegerem-se do terrível pirata francês Du Prat, no ano de 1614 de nosso Sr., na companhia dos Tremembé.


Como era profundo conhecedor do idioma Tupi, aproximou-se de uma jovem que brincava com uma tartaruga marinha e percebeu que ela constantemente repetia um verso: 

“kwara'sï - Irundyk po xe pó mosapyr - quatro mãos com minha mão e mais três = 28 (vinte e oito sois), Îasy - Mokõî pó mosapyr – duas mãos e mais três = 13 (treze luas)”;

13 luas e 28 dias, o que seria isso?

Ao perguntar ao pai da garota, esse responde que em todas as carapaças de tartaruga esses números equivalem aos 364 dias que compõem o ano indígena.

Todos os povos indígenas conheciam a sabedoria da tartaruga e seguiram um calendário de 13 meses; afinal, existem 13 ciclos lunares num ano e 27 a 29 dias por ciclo.

Ao comparar com o calendário gregoriano, instituído em 1582, fez parecer que o homem branco tivesse subtraído um mês para cortar a conexão entre as pessoas com o sol e a lua."

O velho índio perguntou então a Jerônimo:

O ano de 364 dias está representado na carapaça da tartaruga marinha

O-î-kuab-ype nde r-a'yra îurukaûá asé r-ekomonhangaba? 

Teu filho desconhece os mandamentos da tartaruga feito a nós?

Envergonhado, ele mente ao velho índio: 

- Pá. O-î-kuab.

Sim, ele os conhece.

Ta nde ma'enduar Tupã asé r-ekomonhangaba r-esé.

Que ele se lembre dos mandamentos da tartaruga feito a nós.

Os Dias mais impotantes do Calendáriuo Tupi

Obviamente, este calendário não é seguido integralmente pela nossa sociedade; trata-se de um calendário "Novo Tupi", ou seja, o calendário de um Brasil alternativo, mais Tupi e menos Português. Vejamos as principais datas:

07 de Fevereiro – Dia de Sepé Tiaraju

No dia 2 de fevereiro, os povos do Brasil profundo celebram Sepé Tiaraju, líder guerreiro e espiritual do povo Guarani, morto em 1756 na luta contra o avanço colonial sobre as Missões Jesuíticas no Sul do país. Embora fosse Guarani, os Tupis e outros povos indígenas celebram suas vitórias como parte de uma luta comum: a defesa da terra, da vida e da liberdade nativa.

Em uma São Paulo ficcional criada por mim, o centro antigo, região do triângulo histórico do Inhapuambuçu, tem estátuas em estilo Art Déco dos 12 indígenas célebres: Tibiriça, Cunhambebe, Caramuru, Felipe Camarão... e entre eles Sepe Taiaraju, aqui retratado em uma propaganda fictícia do Cauim Tiakau da década de 1960.

Sepé não é apenas um personagem da história — é símbolo vivo de resistência, de comunhão com a terra e da dignidade indígena diante da invasão europeia. Foi ele quem disse, antes de cair, a frase que ecoa até hoje:

"Esta terra tem dono!"
(Co ivi oguerecó iara)

No Calendário Tupi Contemporâneo, o dia 2 de fevereiro é reconhecido como:

“Ara Reroky” — o dia em que a terra canta com seus defensores.

Busto de Tibiriça e Potira no centro histórico de São Paulo. Numa São Paulo fictícia criada por mim, o centro antigo, região do triângulo histórico de Inhapuambuçu, possui estátuas em estilo Art Déco dos 12 ancestrais indigenas famosos.

Mesmo entre os Tupis, que viveram em outras regiões do Brasil, Sepé é celebrado como um parente espiritual. Sua causa era a mesma: preservar a terra dos antigos, as florestas, os rios, o alimento sagrado, e os modos de vida que respeitam o espírito de tudo o que vive.

15 de Março – Guerra do Caju – Datas Móveis

Lembrança das antigas guerras rituais entre os Tupis, marcadas pela temporada do caju. Hoje, uma data simbólica de disputa saudável, celebração e respeito às diferenças.

Entre os tupis, o tempo não era preso a números, mas aos sinais da natureza. Assim, quando os cajueiros frutificavam em fartura, era tempo de festa – e também de disputa.

Todos os anos, nos meses de agosto a janeiro, os Aimorés, Tremembés e Goitacás e outros indígenas da etnia Jê, invadiam  as terras litorâneas, de onde foram expulsos no passado, para entrar em conflito com os Caetes, Tupinaba e outras etnias do tronco Tupi-Guarani - motivo ? - O Caju! - ilustração de Luiz Pagano para a enciclopédia virtual Indigenas em Toy Art (saiba mais)

Entre os tupis, a beligerância era parte integrante da cultura – cercada de muita selvageria, ritualização e antropofagia. Isso pode soar bárbaro aos olhos de hoje, e de fato seria inaceitável sob os parâmetros éticos contemporâneos. Mas para os povos originários, a guerra era um eixo simbólico da vida, uma forma de relação com o outro, com o cosmo e com a natureza.

Hoje, a memória desses ritos pode – e deve – ser ressignificada, transformando-se em jogos simbólicos, disputas entre “cariocas” (descendentes dos Tupinambás) e “paulistas” (mais próximos dos antigos Tupis).



Podemos imaginar tais embates como olimpíadas culturais, marcadas pelo respeito às diferenças e pela celebração de nossas raízes comuns.

As chamadas “Guerras do Caju” são emblemáticas. Aconteciam entre os meses de agosto e janeiro, quando o fruto fermentava ainda na árvore – presente dos deuses, segundo os mitos. Sem necessidade de preparo ritual como o cauim, o caju se tornava símbolo de fartura e, paradoxalmente, de conflito.

Essas guerras eram planejadas com antecedência, envolvendo assembleias de guerreiros adultos, preparo de farinha, construção de canoas e consultas ao pajé. As mulheres desempenhavam papel vital na logística e apoio emocional dos guerreiros. Em campo, os “roncadores” tocavam a inúbia – oboé ancestral – para instigar o espírito bélico.

Thevet descreve a cena com riqueza:

“Seguem as esposas a seus maridos na guerra [...] para carregar os alimentos, cuidar deles e transportar outras munições. Partem para longas guerras, lançando fogo às suas palhoças e ocultando na terra os bens mais preciosos.”

A guerra era vista como um ciclo de renovação, de reafirmação da identidade e da valentia. Hans Staden fala de cercos que duravam semanas. Anchieta menciona expedições com até 48 canoas e 500 guerreiros.

Já a “Guerra da Pesca”, especialmente na época da piracema, repetia esse ciclo de forma aquática. Aldeias invadiam simbolicamente os rios dos vizinhos para capturar peixes – sobretudo a tainha – como parte de rituais que terminavam em banquetes e trocas culturais.

Diputas de "Guerra do Cajú" Nos dias de Hoje

Mesmo reconhecendo que a beligerância era uma parte integrante da cultura tupi ancestral, é evidente que nos dias de hoje as práticas ancestrais seriam inaceitáveis.  --- No entanto, a memória desse período pode ser ressignificada por meio de celebrações simbólicas de paz, harmonia e boa vizinhança. 

A ideia de uma disputa simbólica entre paulistas (tupis) e cariocas (tupinambás) pode se manifestar como uma olimpíada indígena moderna, com jogos como cabo de guerra, corridas com os pés amarrados e provas de resistência inspiradas nos costumes antigos, nas quais a celebração é mais importante do que a competição em si. 

Ao final, uma grande festa no espírito do carnaval, encerraria a celebração, com fantasias, danças ao som de maracás e muita fartura — com pratos à base de peixe, caju e cauim servido em grandes cuias compartilhadas.

22 de Abril – Dia de Mani e da Mandioca

Data para honrar a lenda da deusa Mani, que ao morrer deu origem à mandioca — alimento sagrado para os povos originários.

Deusa Mani e a Capivara - Quadro com moldura de Pau-Brasil

Mani, a deusa albina dos tupis, morreu ainda menina, mas de seu corpo enterrado na oca, brotou a mandioca, alimento sagrado de toda a América do Sul. 

Existem várias historias sobre a lenda de Mani, a que mais gosto diz que Mani era uma jovem indígena albina, de beleza sobrenatural e sabedoria que transcendia sua idade. Tão perfeita, que despertava admiração — e também inveja.

Luto pela morte da Deusa Mani - as lágrimas de sua mãe regaram a santidade de seu espírito e fizeram nascer a primeira planta de mandioca.

Foi injustamente acusada, e morta. Sua mãe, devastada, a enterrou dentro da oca (como é costume dos Tupis) e chorou dias inteiros sobre o túmulo. De suas lágrimas de amor nasceu o primeiro pé de mandioca, a planta sagrada que alimenta os povos originários até hoje.

Resolvi ilustrar Mani como símbolo da vida que renasce da dor, do alimento que brota da espiritualidade. Na imagem, ela carrega uma capivara, guardiã silenciosa dos rios urbanos, já que o calendário é para os dias atuais.

A capivara é a força da natureza que nos visita em meio ao caos das cidades (vide  "Capivara Parade" ) para nos lembrar que podemos ter sustentabilidade nos centros urbanos, como embaixadoras da natureza nas grandes cidades, pois, ao se ver elas chegando para nadar nos poluídos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, ou na poluída Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, nos mostram que nos comportamos mal.

Ela é a personificação do Brasil não contaminado. A resposta feminina e ancestral à brutalidade do mundo moderno.

Canto a Mani – A Força Sagrada do Cauim

Pergaminho do Canto à Deusa Mani - Em uma adaptação completa aos dias atuais (já que os antigos povos indígenas nem sequer escreviam, confiando apenas na tradição oral para transmitir seus conhecimentos), o pergaminho é pendurado nas paredes como uma lembrança.

A bebida fermentada de mandioca dos tupis ganhou um canto/oração/poema especial do amigo e estudioso do tupi antigo, Ariel, tal como segue:

Mani omanõ yby resé toîkó 
oré 'anga rembi'urãmamo.

Mandi'oka asé reté oîopóî; 
kaûĩ asé 'anga oîopóî.

"Mani morreu da vida terrena para virar alimento espiritual do nosso povo."
"A mandioca alimenta o corpo e o cauim alimenta o espírito."

Inspirado no paralelismo e rituais budistas como o sambo (altar de oferendas), adotado aqui no Brasil por meio da transplantação religiosa, decidi criar um rito adaptado ao contexto urbano atual brasileiro (veja mais adiante). 

Desde que comecei a desenvolver o Cauim Tiakau, (saiba mais)  esse projeto de trazer para os dias atuais o cauim que era feito no Inhapuambuçu, região central de São Paulo, a partir do antigo triângulo geomântico no meio dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, esse universo tem estado tão ricamente presente em minha mente que até passei a culturar a Deusa Mani. 

A exemplo de uso, a frase "Aîinhetamong Mani Rese" pode ser traduzida como "Façamos uma oferenda para a Grande Mani".

Todos esses ritos, ainda que contemporâneo, buscam respeitar a essência ancestral da prática, criando pontes entre o passado e o presente, entre o sagrado indígena e a vida urbana moderna — sem descaracterizar sua força espiritual.

E assim, aos poucos, rituais de celebração e respeito aos ancestrais vão surgindo, ou ressurgindo, nessa nova cultura que renasce. Não como uma cópia do passado, mas como um tributo vivo, sensível e consciente àquilo que nunca deixou de existir.

17 de Julho – Dia do Anhangá

Aqui em São Paulo podemos celebrar o protetor das matas, o Anhangá, entidade que vela pelos animais, pela floresta e pelo equilíbrio da natureza no Vale do Anhangabaú.

Anhangá não é um demônio, como a catequese tentou nos convencer. É uma entidade ancestral, implacável sim, más também um espírito guardião dos animais, um senhor dos encantos da mata. 

Anhangá, Capivara e Tamanduá no tringulo menor do Inhapuambuçu, dentro do grande tringulo do Pico do Jaraguá, arte de Luiz Pagano

Ainda é uma festa para bem poucos (eu e alguns amigos, rsrs)  já que Cauim ainda é muito escasso e poucos conhecem a lenda do Anhangá, mas estamos crescendo.

Toy Anhangá - planta crescendo entre as rachaduras do cimento, vida que surge em meio à urbanização desordenada.

Como vocês devem saber, no local onde hoje está localizado o Páteo do Collégio, próximo ao povoado de Tibiriçá, existia uma montanha sagrada que deu nome à vila, Inhapuambuçu (do tupi antigo i(nh)apu'ãm-busú o grande cume ou y (nh)apu'ãm-busú a grande ponta do rio), mas com a chegada das Ordens Beneditinas, Carmelitas e Franciscanas, as tradições ancestrais dos Tupis desapareceram.

O triângulo menor formado pelo morro Inhapuambuçu na confluência dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, estava dentro do triângulo maior na confluência dos rios Pinheiros e Tietê com vista para os guardiões do vale, o Pico do Jaraguá.

Imagem fictícia da celebração do Dia de Anhangá no Vale do Anhangabaú. Eu já omemoro esta data há muito tempo, convidando os amigos para beberem Cauim Tiakau cauim no Pátio do Colégio. Quem sabe algum dia esta festa não se torna uma celebração de verdade?

O Anhangá é comumente retratado como um veado campeiro branco, de tamanho atroz, com olhos vermelhos da cor do fogo. Ele é o protetor da natureza e persegue todos aqueles que caçam indiscriminadamente, desrespeita a natureza e pune aqueles que caçam filhotes ou mães que estão criando seus filhotes e poluindo suas águas (Anahngá anda tendo muito rabalho por aqui...).


O vale do Rio Anhangabaú ainda é um lugar sagrado, os antigos habitantes de Piratininga realizavam cerimônias religiosas e festivais para tornar o deus menos vingativo. Hoje, não apenas afogamos o Rio Anhangá (o canalizamos), como também esquecemos o espírito principal da nossa cidade. Desconsiderar nossas tradições tupis dessa forma é um pecado imperdoável e merece o castigo implacável deste deus temido pelos tupis e colonizadores.

03 de Agosto – Festival da Lua Cheia


Festa da Oitava Lua
(Yacy e Guaracy — O Encontro das Luzes)

A Festa da Oitava Lua é uma celebração Tupi com data móvel, marcada pela primeira lua cheia de agosto — considerada a oitava lua do ciclo anual.

Ela celebra o reencontro simbólico entre Iaci (a lua) e Guaraci (o sol), irmãos divinos que, segundo a lenda, se amavam mas só podiam se ver brevemente no entardecer.

Nesse dia, o cauim é compartilhado sob a luz da lua cheia, acompanhado de cantos, danças e oferendas simples com mandioca, mel e flores, em agradecimento à natureza e aos ciclos da vida.

É um momento de renovação, união e luz — quando o céu reflete o equilíbrio entre o dia e a noite, o sonho e a vigília.

12 de Outubro – Dia do Cauim Contemporâneo

No mesmo dia em que o Brasil celebra Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país, também se celebra — neste calendário que nasce do coração e da mandioca — o Dia do Cauim Contemporâneo, a bebida sagrada dos povos Tupi.

Nas fotos - Casa de hóspedes Pernod Ricard em Resende, próximo ao Santuário de Aparecida, em 12 de outubro de 2015 - A primeira fermentação, bebendo em cuia no Projeto Tembiu, e meu etúdio de pintura adaptado para funcionar como um laboratório de fermentação o qual dava o nome de 'Blemya'.

Neste dia, recorda-se o momento em que, em 12 de outubro de 2015, em Resende, Rio de Janeiro, os primeiros sinais da fermentação perfeita, após quebra de amido com koji cedida por Hikaru e orientado por colegas da Pernod Ricard, apareceram em um mini dispositivo de fermentação. 

Mas, como ensinam os anciãos indígenas:

“Aquilo que acontece na terra, já aconteceu antes no plano espiritual.”

Essa fermentação não começou naquele dispositivo improvisado — começou no sonho. No desejo de resgatar o cauim como bebida viva, como ponte entre mundos, como elo entre passado e futuro.

O Milagre da Fermentação

Para realizar minhas experiências iniciais com fermentações, desenvolvi dois dispositivos a partir de cafeteiras térmicas. O primeiro funcionava como um sistema de aquecimento e resfriamento (chiller), usando a circulação de água quente ou gelada, e conta com um termômetro digital para monitorar a temperatura. Com ele, conseguia controlar as variações térmicas necessárias para que o koji atuasse na mandioca.

Aqui coloco juntos os dispositivos portáteis para experimentos com fermentação de mandioca: 1- "chiller": um refriador ativado por uma bomba de aquário que faz circular água previamente aquecida ou resfriada, colocada em 2- caldeira sob a câmara térmica por meio de serpentinas. Ao lado, um pequeno 3- tanque de fermentação com torneira baixa e tampa com "air-lock". Abaixo da imágem vemos um refratômetro - apesar de serem comuns na indústria de vinhos e cervejas para monitorar o processo fermentativo, os refratômetros ainda são pouco usados por produtores caseiros, no entanot, são essenciais para a produção do cauim. Sem ele, não poderíamos saber se a mandioca atingiu o dulçor suficiente para que a fermentação alcoólica ocorra (acima de 20 brix).

O segundo dispositivo era uma cuba de fermentação com airlock, que permitia fermentar de forma segura e controlada.

Foto tirada durante o processo de aquecimento das pérolas de mandioca inoculadas com koji, com exceção dessas cubas, sempre procurei utilizar ao máximo peças indígenas, como esta ugassaba Waurá.

A grande vantagem desses dispositivos é que são compactos e cabem no porta-malas do carro, o que me permite fazer experimentos em qualquer lugar. Com eles, consigo tanto promover a quebra do amido da mandioca quanto realizar a fermentação.

Após o sucesso alcançado em Rezende com a quebra do amido, transformação do açúcar e consequente fermentação da mandioca, continuei os experimentos no meu etúdio/laboratório chamado Blemya, a seguir vemos um pequeno altar — o Ietamemuã, uma estrutura simbólica para os maracás —, um Tembi Tarara, painel que descreve as oito fases do cauim em tupi antigo, e um Tykueryru, peça inspirada na tradição japonesa do sugidama (bola de cedro), usada para avisar à comunidade sobre a produção do cauim e minhas anotações no livro com arte Yekwana na capa.

Arte, Espiritualidade e Ciência

Além de um trabalho de pesquisa científica sobre fermentação, meu estudo sobre o cauim em 2015 envolvia dois aspectos fundamentais: a arte como instrumento de aculturação e o respeito às tradições e espiritualidade dos povos indígenas. 

Área de pesquisas e experimentos do laboratório/estúdio/templo - Blemya - O cauim é a manifestação mais pura do Movimento Nova Tupi e da arte Tupi Pop, expressões desenvolvidas como forma de reconectar a ancestralidade e a contemporaneidade de um Brasil alternativo que não vivemos (ainda). Mais do que uma bebida ritual, o cauim, no meu processo criativo, se torna o principal elemento de aculturação, um símbolo vivo — uma fusão entre ciência, arte e espiritualidade indígena, que resgata e cultiva conhecimentos ancestrais da cultura braasileira.

Nesse processo, desenvolvi uma instalação artística com orientação de membros da comunidade indígena, composta por um pequeno altar — o Ietamemuã, uma estrutura simbólica para os maracás —, um Tembi Tarara, painel que descreve as oito fases do cauim em tupi antigo, e um Tykueryru, peça inspirada na tradição japonesa do sugidama (bola de cedro), usada para avisar à comunidade sobre a produção do cauim. 

Primeiras inoculações de pérolas de mandioca com koji kin. Como usei koji de saquê nos primeiros experimentos, tive que separar os grãos de arroz dos esporos de Aspergylus e ajustar a temperatura e a umidade em cada experimento por tentativa e erro ate obter bons resultados.

Além disso, realizei intervenções artísticas nas peças de laboratório, integrando pintura, rituais e experimentação, como forma de dar corpo a uma prática viva, que une ciência, arte e ancestralidade.
Nas fotos - Paulo Wassu-Cocal abençoando o projeto Cauim Tiakau, brindando com o Cacique Juarez Saw Munduruku o lançamento do filme Amazônia Sociedade Anônima, sendo recepcionado pelos espíritos da floresta e drink com guaraná ralado na língua de pirarucu.

O processo contou com o olhar técnico e fraterno de profissionais incríveis, e, em especial, com a contribuição decisiva de Hikaru Sakunaga, que trouxe consigo a chave da quebra amilítica, fundamental para transformar o amido da mandioca em açúcar fermentável.

A ela, aos funcionários da fábrica de Resende, indigenas das etnias Wassu-Cocal, Potiguara, Guarani Mbya, Guajajara, Mundurukus e a todos os que se somaram nesse caminho — meus mais profundos agradecimentos.

Uma das primeras fermentações obtidas

Também agradeço aos aliados do plano espiritual indígena, que guiam este projeto com firmeza silenciosa. São espíritos ancestrais, encantados das florestas, guardiões da mandioca, da saliva ritual, do fogo cerimonial e da festa comunitária.
Depois de 2018, a cada fermentação que fizemos, aperfeiçoamos o processo, tanto o método enzimático (desenvolvido por Hildo Sena), quanto o método japonês (desenvolvido por Luiz Pagano).

O cauim não é só uma bebida — é memória líquida, é vínculo social - é alimento da alma.

Que se faça Tradição

Que 12 de outubro seja reconhecido, no calendário da Nova Tupi, como o Dia do Cauim Tiakau — dia de celebrar o renascimento da bebida sagrada, feita 100% de mandioca, símbolo da fartura, da resistência e da brasilidade indígena.

Neste dia, que se abram potes de barro, que se acendam fogueiras, que se compartilhem histórias e goles.

01 de Novembro – Dia de Tupã a Força que Destrói para Renovar

Se Mani representa o aspecto feminino da natureza — aquele que dá vida, nutre e transforma com suavidade — Tupã é sua contraparte masculina: a força avassaladora do trovão, que destrói para abrir espaço ao novo.

Pai Tupã - A força masculina do trovão, que destrói para abrir espaço ao novo, erronemanete associado a Deus da tradição Judaico Cristã.

Nos antigos saberes tupi, Tupã não era “Deus” no sentido ocidental monoteísta, mas sim uma entidade sagrada, o mensageiro de Nhanderuvuçu  — uma entre muitas que regem as forças da natureza e do espírito. No sincretismo colonial, no entanto, ele foi erroneamente identificado como o "Deus supremo" dos indígenas, muito por conta da necessidade dos missionários de enquadrar os sistemas de crença ameríndios dentro de uma teologia cristã. Assim, Tupã acabou sendo tratado como equivalente ao Deus único europeu — o que distorce profundamente o pensamento tupi, que é mais próximo do budismo ou do xintoísmo: plural, cósmico, ritualístico, centrado em relações com múltiplas entidades espirituais.

No Japão, seres compassivos e iluminados são chamados de Bosatsu (菩薩), aqueles que escolhem ajudar os outros antes de atingir o nirvana. A noção tupi mais próxima desse conceito pode ser chamada de Tupinheñang, termo que poderíamos cunhar para designar os espíritos que vivem para harmonizar, ensinar e cuidar do mundo — como Mani e os grandes anciões das aldeias espirituais.

Na sua cosmologia pessoal, o 1º de novembro é o dia de Tupã, marcado pela transição entre o fim dos ciclos e o nascimento do novo. O primeiro dia de novembro foi dado a Tupã pelos jesuítas, dia de todos os santos,  para que os indígenas, agora catequizados, pudessem celebrar aquele que se sincretizaria com Deus Pai Todo-Poderoso, não é por acaso que essa data ecoa tradições antigas que celebram os mortos, os espíritos e as mudanças de estação.

Se os tupinambás marcavam em 12 de dezembro o auge da luz (quando o dia começa a ser maior que a noite), então 1º de novembro está exatamente no período de renovação e preparação, o momento onde a destruição — provocada por tempestades, ventos e trovões — purifica a terra para que ela volte a florescer.

Assim como Mani é semente e broto, Tupã é raio e cinza fértil.

02 de Novembro - Dia do Saci

Mais maduros seríamos… se o Finados fosse do Saci.

Infelizmente não temos maturidade cultural para comemorar o dia do Saci, preferimos importar o Halloween - pintura de Luiz Pagano, Saci e Cuca em meio a muirakitãns coloridos.

Em vez de importarmos o Halloween, com suas abóboras sorridentes e monstros de plástico, talvez fôssemos uma nação mais madura espiritualmente e culturalmente se celebrássemos, no feriado de Finados (2 de novembro), o nosso Dia do Saci.

Afinal, quem melhor que o Saci para mediar a passagem entre o mundo dos vivos e o dos encantados?

O Saci — travesso, sábio, invisível — é o espírito que ri da morte e sopra sabedoria por entre as brasas do fogão e os redemoinhos do mato.

O Exemplo dos Nossos Irmãos Mexicas

No México, o Día de los Muertos é uma celebração de reconexão com os ancestrais. Não é um culto ao medo, mas sim à memória viva. É uma tradição com raízes profundas no tzompantli, o altar cerimonial dos povos maia e mexica, onde se honravam os crânios dos que partiram — não por morbidez, mas por reverência à continuidade da vida.

Infelizmente, aqui no Brasil, preferimos comemorar o Halloween no Dia de Finados, mas no México eles parecem ser mais maduros em festejar suas próprias tradições, o "Dia de los Muertos" tem a sua própria festa. Eu adoraria ver o Brasil fazer o mesmo, até mesmo com o Dia do Saci. - Foto: Abel Gutierrez

Enquanto o Halloween exporta sustos e consumo, o Día de los Muertos oferece flores, comida, música, caveiras sorridentes e afeto familiar. Uma festa da ancestralidade.

Na cosmologia afro-brasileira e indígena, figuras como o Saci, o Curupira e a Cuca não são monstros — são entidades da floresta, do tempo e do saber. Celebrá-los no Finados seria aceitar que a morte não é o fim, e que o encantamento é parte da vida.

O Saci é aquele que some com seus pertences, mas também devolve sua conexão com o invisível. Ele é a lembrança de que o Brasil tem mitologia própria, humor próprio, espiritualidade própria.

Imagine um 2 de novembro em que montamos altares com redemoinhos de pano, colocamos pipocas, fumo e milho torrado para os sacis e contamos histórias em volta do fogo.

Não para ter medo, mas para celebrar os que nos precederam, rir de nossos próprios mistérios e reconhecer os encantados que ainda caminham conosco.

Mais do que copiar, o Brasil pode reinterpretar. - Mais do que consumir, podemos comemorar com raiz.

12 de Dezembro — Dia em que o Sol Vence as Trevas

Meu tio-avô dizia que os Tupis também observavam com atenção os ciclos solares, mencionava que, em 12 de dezembro, dia do aniversário de algum parente meu do passado, o Sol amanhecia mais cedo do que nos outros dias se punha mais tarde, ou seja, havia mais luz do que escuridão.

Esse dado é fascinante, pois coincide de forma próxima com o solstício de verão no hemisfério sul, que ocorre por volta de 21 de dezembro. Isso mostra uma percepção refinada dos ciclos astronômicos por parte dos Tupis.

Léry descreve o maracá (ou maraca) como um instrumento ritualístico central na religiosidade dos Tupinambás. Ele era feito de uma cabaça seca com sementes dentro, preso a um cabo — e não era apenas musical: era considerado vivo e sagrado.“Ils appellent ce petit instrument leur dieu”. (“Eles chamam este pequeno instrumento de seu deus”)
— Jean de Léry, Capítulo XV.

Acabaça representa o corpo físico e os grãos a alama - a vida é representada pelo barulho que eles fazem quando o maracá está em agitação.

Quando os tupis chegavam à casa de um musaka, chefe de família ou homem importante na aldeia, eles fincavam o seu mbaraka no chão e ofereciam comida e bebida para passar a noite.

Desde 2015, mantenho um rito pessoal e sagrado dentro de casa, mesmo morando em apartamento, encontrei um modo de fincar o maracá — não na terra ancestral, mas em uma base de madeira com terra viva dentro, símbolo do elo com o chão original.

Chamo essa peça de Ietamemuã, que une duas ideias em tupi antigo:

Ietamongaba – oferenda e Karamemuã – caixa, receptáculo sagrado. 

Nele coloco o meu maracá pintado por mim e coroado de penas urbanas e de papagaio, um pouco de cauim contemporâneo, pérolas de mandioca (sagú), mandioca ou milho plantados, como símbolos da vida que brota da terra e às vezes acendo uma vela para representar a luz do solstício.

Meu mbaraka, colocado num ietamemunhã, com oferta de cauim num quaich escocês, um vaso com mudas de milho "avati" ou mandioca, a acendo uma vela para celebrar o dia de luz.

Diante dele, falo:

xe py'atytyka îabi'õ 
nde rausub agûama ri a'ar
'ara xe rekobesaba îabi'õ 
nde ri xe morerekûar agûama ri 

Endé ka’aeté rerekokatúrememo
Ka’aeté abé nde rerekokatúmo
 
Tradução

xe py'atytyka îabi'õ - a cada batida do meu coração.

Nde rausub agûama ri - para amar você 
a'ar - eu nasci.

'ara xe rekobesaba îabi'õ - a cada dia (que é) a hora do meu viver = a cada dia da minha vida.

nde ri xe morerekûar agûama ri - para você ser meu guardião ( morerekoara = o que cuida de, guardião; adjetivo morerekoar (xe) ser cuidado por.

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Eu nasci para te amar a cada batida do meu coração.
Eu nasci para você cuidar de mim a cada dia da minha vida.
quando você cuida da floresta, a floresta também cuida de você.

Apendice - As Constelações Tupi

Parte integrante do calendário é a observação do céu e suas estrelas, os indigenas brasileiros davam muita importância às constelações localizadas na Via Láctea, que podiam ser constituídas de estrelas individuais e de nebulosas, principalmente as escuras. A Via Láctea é chamada de Caminho da Anta (Tapi’i rapé, em guarani) pela maioria das etnias dos indigenas brasileiros, devido principalmente às constelações representando uma Anta (Tapi’i, em guarani) que nela se localizam.

A Constelação da Ema

A Constelação da Ema - YANDUTIN

Em relação à constelação da Ema, d’Abbeville relatou: “Os Tupinambá conhecem uma constelação denominada Iandutim, ou Avestruz Branca, formada de estrelas muito grandes e brilhantes, algumas das quais

representam um bico. Dizem os maranhenses que ela procura devorar duas outras estrelas que lhes estão juntas e às quais denominam uirá-upiá”. Ele chamou de Avestruz Branca a constelação da Ema, no entanto, a avestruz (Struthio Camelus Australis) não é uma ave brasileira. A ema parece com a avestruz, mas é menor e de família diferente.

Na segunda quinzena de junho, quando a Ema (Guirá Nhandu, em guarani) surge totalmente ao anoitecer, no lado leste, indica o início do inverno para os indigenas do sul do Brasil e o início da estação seca para os indigenas do norte do Brasil.

A constelação da Ema fica na região do céu limitada pelas constelações ocidentais Crux e Scorpius. Ela é formada utilizando, também, estrelas das constelações Musca, Centaurus, Triangulum Australe, Ara, Telescopium, Lupus e Circinus.

A cabeça da Ema é formada pelas estrelas que envolvem o Saco de Carvão, uma nebulosa escura que fica perto da estrela α Crucis (Acrux). O bico da Ema é formado pelas estrelas α Muscae e β Muscae. A Ema tenta devorar dois ovos de pássaro (Guirá-Rupiá, em guarani) que ficam perto de seu bico. Os ovos são as estrelas δ Muscae e γ Muscae.

As estrelas α Centauri (Rigel Kentaurus) e β Centauri estão dentro do pescoço da Ema. Elas representam dois ovos que a Ema acabou de engolir.

A parte de baixo do corpo da Ema começa a ser formada pela estrela β Trianguli Australis, passando pelas estrelas η Arae, ζ Arae e ε1 Arae e pelas estrelas ζ Scorpii, µ1 Scorpii, ε Scorpii, τ Scorpii, α Scorpii (Antares) e σ Scorpii, terminando em δ Scorpii.

Uma das pernas da Ema é formada pelas estrelas da cauda de Scorpius, começando na estrela δ Scorpii e termina nos dedos do pé representados pelas estrelas υ Scorpii (Lesath), λ Scorpii (Shaula) e SAO 209318. A outra perna começa na estrela ε1 Arae, passa pela estrela α Arae e termina nos dedos do pé formado pelas estrelas α Telescopii, ε Telescopii e ζ Telescopii.

A cauda da Ema é formada pelas estrelas δ Scorpii, β1 Scorpii (Graffias), ω1 Scorpii, ω2 Scorpii e ν Scorpii, todas da garra de Scorpius.

A parte de cima do corpo da Ema, é formada pelas estrelas δ Scorpii, π Scorpii e ρ Scorpii também da garra de Scorpius, seguida pelas estrelas χ Lupi, γ Lupi, ε Lupi, κ Lupi e ζ Lupi, terminando na estrela β Circini, onde começa o seu pescoço.

Dentro do corpo da Ema, as manchas claras e escuras da Via Láctea ajudam a visualizar a plumagem da Ema.

A constelação Scorpius, excluindo suas garras e as estrelas que estão acima de Antares, representa uma Cobra (Mboi, em Guarani) para os íindigenas brasileiros, sendo Antares a sua cabeça. De fato, é muito mais fácil imaginar uma cobra que um escorpião nessa região do céu.

Ao Sul do Trópico de Capricórnio, a constelação ocidental Scorpius é conhecida como de inverno e perto da Linha do Equador como de seca, tendo em vista que ela pode ser observada, ao anoitecer, nessas estações. 

Essa constelação, sem as garras, representa um cobra para os indigenas brasileiros.

A Constelação do Homem Velho

A Constelação do Homem Velho - TUYAVAÉ

Em relação à constelação do Homem Velho, d’Abbeville relatou: “Tuivaé, Homem Velho, é como chamam outra constelação formada de muitas estrelas, semelhante a um homem velho pegando um bastão”.

 Na segunda quinzena de dezembro, quando o Homem Velho (Tuya, em guarani) surge totalmente ao anoitecer, no lado Leste, indica o início do verão para os indigenas do sul do Brasil e o início da estação chuvosa para os indigenas do norte do Brasil.

A constelação do Homem Velho é formada pelas constelações ocidentais Taurus e Orion.

Conta o mito que essa constelação representa um homem cuja esposa estava interessada no seu irmão. Para ficar com o cunhado, a esposa matou o marido, cortando-lhe a perna. Os deuses ficaram com pena do marido e o transformaram em uma constelação.

A constelação do Homem Velho contém três outras constelações indígenas, cujos nomes em guarani são: Eixu (as Pleiades), Tapi’i rainhykã (as Hyades, incluindo Aldebaran) e Joykexo (O Cinturão de Orion).

Eixu significa ninho de abelhas. Essa constelação marca o início de ano, quando surge pela primeira vez no lado oeste, antes do nascer do Sol (nascer helíaco das Plêiades), na primeira quinzena de junho. Segundo d’Abbeville, os Tupinambá conheciam muito bem o aglomerado estelar das Plêiades e o denominavam Eixu (Vespeiro). Quando elas apareciam afirmavam que as chuvas iam chegar, como chegavam, efetivamente, poucos dias depois. Como a constelação Eixu aparecia alguns dias antes das chuvas e desaparecia no fim para tornar a reaparecer em igual época, eles reconheciam perfeitamente o intervalo de tempo decorrido de um ano a outro.

Tapi’i rainhykã significa a queixada da anta e anunciava que as chuvas estavam chegando, para os Tupinambá. Joykexo representa uma linda mulher, símbolo da fertilidade, servindo como orientação geográfica, pois essa constelação nasce no ponto cardeal leste e se põe no ponto cardeal oeste Joykexo também representa o caminho dos mortos.

A cabeça do Homem Velho é formada pelas estrelas do aglomerado estelar Hyades em cuja direção se encontra α Tauri (Aldebaran), a estrela mais brilhante da constelação Taurus.

Acima da cabeça do Homem Velho fica o aglomerado estelar das Plêiades que representa um penacho que ele tem amarrado à sua cabeça.

O pescoço do Homem Velho começa em Aldebaran e termina na estrela ο2 Orionis, de onde partem seus braços.

Um de seus braços termina em ζ Tauri. O outro braço termina em π6 Orionis, passando por todo o escudo de Orion.

A linha reta que vai de π5 Orionis até β Orionis (Rigel), representa um bastão que o Homem Velho utiliza para se equilibrar.

A estrela γ Orionis (Bellatrix) fica na virilha do Homem Velho, sendo que a estrela vermelha α Orionis (Beltegeuse) representa o lugar em que sua perna foi cortada. O Cinturão de Órion (Três Marias) formado pelas estrelas δ Orionis (Mintaka), ε Orionis (Alnilam) e ζ Orionis (Alnitak) representa o joelho da perna sadia. A estrela κ Orionis (Saiph) representa o pé da perna sadia.

Ao Sul do Trópico de Capricórnio, a constelação ocidental Orion é conhecida como constelação de verão e perto da Linha do Equador como de chuva, tendo em vista que ela pode ser observada, ao anoitecer, nessas estações.

Constelação da Anta do Norte

Constelação da Anta do Norte - TAPI'I

A constelação da Anta do Norte é conhecida principalmente pelas etnias brasileiras que habitam na região norte do Brasil, tendo em vista que para as etnias da região sul ela fica muito próxima da linha do horizonte. Ela fica totalmente na Via Láctea, que participa muito nas definições de seu contorno, fornecendo uma imagem impressionante dessa constelação. 

Existem outras constelações representando uma Anta (Tapi’i, em guarani) na Via Láctea, por isso chamamos essa constelação de Anta do Norte.

Segundo Afonso (2006), os indígenas brasileiros, dão maior importância, àquelas constelações quehabitam a Via Láctea, ou Tapi’i’rapé, a Via Láctea é chamada de Caminho da Anta devido, principalmente, à  constelação da Anta do Norte.

Na segunda quinzena de setembro, a Anta do Norte surge ao anoitecer, no lado Leste, indica uma estação de transição entre o frio e calor para os indigenas do sul do Brasil e entre a seca e a chuva para os indigenas do norte do Brasil.

A constelação da Anta do Norte fica na região do céu limitada pelas constelações ocidentais Cygnus (Cisne) e Cassiopeia (Cassiopéia). Ela é

formada utilizando, também, estrelas da constelação Lacerta (Lagarta), Cepheus (Cefeu) e Andromeda (Andrômeda).

A estrela α Cygni (Deneb) representa o focinho da Anta do Norte, sendo que 55 Cygni, ξ Cygni e 59 Cygni representam sua boca. O restante da cabeça é formado pelas estrelas 74 Cygni, σ Cygni, ν Cygni, 56 Cygni, 63 Cygni e π2 Cygni.

As estrelas τ Cygni e 72 Cygni representam as orelhas da Anta do Norte.

A parte de cima do pescoço começa em SAO 51904 (2 Lacertae) e a parte de baixo em ζ Cephei.

A parte de baixo do corpo da Anta do Norte começa a ser formada pela estrela ζ Cephei, passando pelas estrelas β Cassiopeiae (Caph) e α Cassiopeiae (Schedar), terminando em ζ Cassiopeiae.

As duas pernas da frente começam em ζ Cephei, sendo que uma delas termina em α Cephei (Alderamin) e a outra termina ι Cephei. As duas pernas de trás começam em β Cassiopeiae (Caph), sendo que uma delas termina em κ Cassiopeiae e a outra em δ Cassiopeiae (Ruchbah).

A cauda da Anta do Norte é representada pelas estrelas ζ Cassiopeiae e µ Cassiopeiae.

A parte de cima do corpo da Anta do Norte é formada pelas estrelas ζ Cassiopeiae, ψ Andromedae e λ Andromedae, terminando na estrela SAO 51904, onde começa o seu pescoço.

A Constelação do Veado

A Constelação do Veado - SYGÛASU

A constelação do Veado é conhecida principalmente pelas etnias de indigenas brasileiros que habitam na região sul do Brasil, tendo em vista que para as etnias da região norte ela fica muito próxima da linha do horizonte.

Na segunda quinzena de março, o Veado surge ao anoitecer, no lado Leste, indica uma estação de transição entre o calor e o frio para os indigenas do sul do Brasil e entre a chuva e a seca para os indigenas do norte do Brasil.

A constelação do Veado fica na região do céu limitada pelas constelações ocidentais Vela (Vela) e Crux (Cruzeiro do Sul). Ela é formada utilizando, também, estrelas da constelação Carina (Carina) e Centaurus (Centauro).

A estrela γ Velorum (Suhail Al Muhlif) representa o focinho do Veado, sendo que sua cabeça é formada pelas estrelas SAO220138, SAO 220803, λ Velorum (Alsuhail), SAO 220371 e SAO 220204.

Partindo da estrela λ Velorum até as estrelas ψ Velorum e SAO 200163, temos os dois chifres do Veado.

 A parte de cima do pescoço começa em κ Velorum e vai até SAO 220803, a parte de baixo começa em δ Velorum e vai até SAO 220138.

A parte de baixo do corpo do Veado começa a ser formada pela estrela δ Velorum, passando pelas estrelas ι Carinae (Aspidiske), SAO 250683, θ Carinae, η Crucis, ζ Crucis, α Crucis e ε Crucis, terminando em δ Crucis.

A cauda do Veado é representada pelas estrelas δ Crucis, β Crucis e γ Crucis. A parte traseira do Veado é formada por todas as estrelas da constelação Crux.

As duas pernas da frente começam em SAO 250683 e θ Carinae sendo que uma delas passa por υ Carinae, terminando em β Carinae (Miaplacidus) e a outra termina em ω Carinae. As duas pernas de trás começam em η Crucis e ζ Crucis sendo que uma delas passa por λ Muscae e ε Muscae, terminando em γ Muscae e a outra passa por α Muscae e β Muscae, terminando em δ Muscae.

A parte de cima do corpo do Veado é formada pelas estrelas γ Crucis, π Centauri e φ Velorum, terminando na estrela κ Velorum, onde começa o seu pescoço.

Referências Bibliográficas


BRANDÃO, Carlos Rodrigues. "Os Guarani: índios do Sul – religião, resistência e adaptação."

BUENO, Eduardo. "Brasil: uma História." São Paulo: Ática, 2002.

BUENO, Eduardo. "Capitães do Brasil – A Saga dos Primeiros Colonizadores." Coleção Terra Brasilis. Objetiva, 1999.

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KEEGAN, John. (2006). Uma História da Guerra. São Paulo: Companhia das Letras.

KEELEY, Lawrence H. (1996) War Before Civilization. New York: Oxford University Press.

KOK, Glória. "Descalços, violentos e famintos." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. pp.23 a 24.

MONTEIRO, John. "Bandeiras Mestiças." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. pp.17 a 21.

NEVES, Erivaldo Fagundes. "Guerra aos Tapuias." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. p.35.

NEUMANN, Eduardo Santos. "Vale o escrito." Dossiê Jesuítas in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 7, nº 81, p. 19.

PERUSSET, Macarena; Rosso, Cintia N. Guerra. "Canibalismo y Venganza Colonial: Los Casos Mocoví y Guaraní."

RESENDE, Maria Leônia Chaves de. "Sertão mineiro loteado à força." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. p.37.

PAUCKE, Florian. Hacia allá y para cá. Ministerio de Innovación y Cultura de la
Provincia de Santa Fe, 2010.

SILVA, Isabelle Braz Peixoto da. "Vilas de índios no Ceará Grande: dinâmicas locais sob o diretório pombalino." Campinas: Unicamp, 2003.

SILVA, Reginaldo Miranda da. "Piauí de paulista." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. p.36.

STADEM, Hans. "Duas Viagens ao Brasil."

Web:

Dialetico – "Tapuias"
Jornal A União – "A origem siberiana dos Tarairus."
Olimpiadas Nacionales de Contenidos Educativos en Internet – "La cultura Guaraní: ¿Un Paraíso Terrenal?"
Villarrica, seção Folklore – "Los Guaraníes"
Povos Indígenas no Brasil – "Tupiniquim," "Potiguara," "Tremembé"
Blog Família Naves – "Cidade de São Paulo (458 anos), Berço da família Naves no Brasil"
IBGE, Brasil 500 – "Os números da população indígena."

domingo, 25 de maio de 2025

Blemya a Arte de Acreditar No Brasil



Seria possível mudar a baixa autoestima de uma nação — ou até mesmo reescrever seu destino — por meio da arte, da cultura ou do marketing?

A resposta talvez esteja em nomes que ousaram transformar o mundo com ideias que, no início, pareciam absurdas. Takashi Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão pós-guerra através da estética pop e da crítica embutida no movimento Superflat. Yuval Noah Harari ajudou a humanidade a se enxergar de forma nova com histórias bem contadas sobre o passado e o futuro. Santos=Dumont, ao se elegantemente e trazer o voo para a humanidade não apenas inventou uma máquina — ele inventou uma identidade. Thomas Edison não criou apenas lâmpadas, mas acendeu uma era.

Todos eles sabiam que narrativas mudam civilizações. E é essa mesma convicção que move a Blemya, meu projeto de vida.

Este artigo, junto com tanos outros,  é a continuação de um post que escrevi em 2012 neste mesmo blog, no qual perguntei "como seria o Brasil se a cultura Tupi tivesse superado a cultura portuguesa?" (saiba mais).

Essa pergunta me ocorreu no início dos anos 2000, quando eu ilustrava para a revista Superinteressante, mais precisamente para a seção "Superfantástico", na qual perguntavam "e se..." (Ilustrei "e se pudéssemos nos teletransportar" - edição 175, maio de 2002 e "e se os gregos nunca tivessem existido" edição 175 do mesmo ano).

Todos esses quetionamento me fizeram ciriar o movimento Nova Tupi e o estilo artistico Tupi Pop (saiba mais).


Logo da Blemya

A Blemya é arte, é marketing, é cultura de resistência, é tecnologia emocional. É um monstro simbólico que não tem cabeça — porque pensa e sente com o peito. Um símbolo do Brasil que ressurge de si mesmo. Um esforço estético e estratégico para fazer do Tupi-pop uma nova lente para o país se enxergar com mais coragem, humor, dignidade e propósito.
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Luiz Pagano com amigos na exposição de Takashi Murakami em Versailles - Setenmbro de 2010

A primeira vez que vi a arte de Takashi Murakami foi no lugar mais improvável: o Palácio de Versalhes, em agosto de 2010. Era uma mistura entre o universo pop japonês e a opulência barroca do palácio, que me causou, num primeiro momento, um certo desconforto — quase como se fosse uma profanação estética. Mas algo naquela provocação me fisgou. Dias depois, folheando o photobook oficial da exposição, com a assinatura do próprio Murakami na capa ( que acabei comprando), tive uma espécie de epifania. Era como se o universo me enviasse um sinal: o que ele fazia com a cultura japonesa, eu poderia — e deveria — fazer com o Brasil.

Inspirado por Murakami que fez flores brotarem em bombas atômicas, pretendo fermentar o cauim no cuspe da baixa autoestima dos vira-latas.


Murakami criou o movimento Superflat, um estilo artístico que rompe fronteiras entre arte erudita e cultura de massa, influenciado por mangás, animes e pela estética gráfica japonesa. Sua crítica à superficialidade da cultura consumista nipônica não é feita de fora, mas sim a partir de dentro — ele a abraça e a ressignifica. Combinando estética pop, produção em escala (com estúdios operando como fábricas) e colaborações com grandes marcas como a Louis Vuitton, Murakami transformou sua arte em marca, e sua marca em símbolo de identidade cultural.

Essa visão foi o estopim para algo que, no fundo, sempre esteve dentro de mim.

Luiz Pagano com amiga na exposição Tupi Pop - Agosto de 2017

Antes disso tudo, em 2007 criei a Blemya Media Group, que nasceu com uma missão ambiciosa: melhorar o Brasil por meio de duas frentes complementares. A primeira é a criação de melhores condições de vida por meio de inteligência, criatividade e tecnologia, estruturada pelo conceito que chamo de Prospenomics, baseado na minha monografia da faculdade — a economia da prosperidade. A recente onda do Blog abriu esse caminho para mim.

Luiz Pagano pintando em seu estúdio (chamdo de Blemya) - Referências de Murakami e Brecheret servem de código para mudar a autoestima de uma nação.

A segunda é o resgate e a valorização da cultura indígena brasileira, especialmente por meio do Tupi Pop, criando um novo imaginário nacional capaz de dialogar com o mundo com sofisticação e originalidade.


Junto a um grupo de colaboradores improváveis, construímos uma plataforma cultural que conecta ancestralidade com contemporaneidade. Nosso projeto central é o Py’araku, termo em tupi antigo que significa “fazer crescer o Deus interior, de alma quente, com um coração quente” (para referência, a Blemya é um monstrinho fofo que não tem cabeça e, portanto, o coração e o cérebro estão juntos no peito). Py’araku é nossa ferramenta de avaliação e difusão de boas práticas culturais e humanas — uma espécie de “entusiasmo estruturado” para o Brasil, equivalente ao mono no aware japonês ou ao enthousiasmós grego.

Indigenas em Toy Art colecionáveis  - A cada caixa muitas informações e entretenimento. 

Assim como Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão em meio ao trauma pós-guerra e à invasão cultural americana, acredito que o Brasil precisa também curar suas feridas internas, usando como código o Tupi de Policarpo Quaresma — especialmente a persistente síndrome de vira-latas, que nos faz admirar apenas o que vem de fora.

Tupi e Brecheret

Outra referência fundamental para mim foi o Tupi de São Paulo — uma presença muito mais viva nos anos 1970, durante minha infância,  do que parece hoje. Explico: lembro com carinho dos passeios com meu pai ao Parque do Ibirapuera. Depois, seguíamos para o Shopping Iguatemi, e ai voltavamos para casa, minha avó assistia a TV Tupi e comíamos mandioca com catupiry. Pode parecer simples, mas ali o Tupi e Brecheret apareciam com naturalidade no meu cotidiano.

Essas referências não estavam em museus distantes, no dia-a-dia, nos nomes, nas paisagens. Por isso, além de Murakami, Brecheret se tornou para mim uma influência obrigatória — ambos me ajudaram a entender que é possível criar uma arte contemporânea com raízes profundas e autênticas.

Foi um grande privilégio e orgulho ter uma das capivaras do Capivara Parade feito com a intervenção de Jaime Lerner (sua equipe), o incrível urbanista que criou, entre outras coisas, o ônibus biarticulado e a capivara biarticulada.

Projetos como a Capivara Parade, em parceria com o Shopping Palladium de Curitiba, e a recriação do cauim através do Tiakau — uma bebida indígena ancestral transformada em símbolo de brasilidade — são expressões práticas desse movimento. São ações que unem arte, cultura, branding e impacto social. São sementes de autoestima plantadas em solo nacional.

Mesmo com recursos limitados, as intenções são grandes. Através da Prospenomics, abrimos caminhos onde arte e identidade nacional caminham juntas, de forma acessível, poderosa e transformadora.

O Mundo é o Que Fazemos Dele

Um amigo me disse, certa vez: “Você já está quase com 60 anos e sua arte não pegou. O cauim não foi pra frente, os Heróis da Bruzundanga venderam de forma pífia, sua estética é considerada ruim, e a única coisa que funcionou — mal — foram as ilustrações da Superinteressante, os poucos quadros vendidos e a Capivara Parade... Desista.” Naquele momento, suas palavras soaram como uma verdade dura e inevitável.

Luiz Pagano no estúdio 'Blemya', pintando sua Capivara para o Capivara Parade de Curtiba - 2016

Mas, com o tempo, percebi que essa visão é limitada. Sim, é natural querermos que nossa arte seja vista, compreendida e acolhida. Talvez a minha não seja agradável aos olhos da estética dominante, nem se encaixe nos moldes atuais do mercado. Mas esse é justamente o preço de andar na contramão — e eu aceito pagá-lo.

Porque, no fundo, eu não faço arte para agradar. Faço para comunicar. Faço para que a mensagem ressoe em quem estiver pronto para ouvi-la. Chris Langan, com sua teoria CTMU, afirma que o universo é uma constante interação entre múltiplas consciências. E a minha consciência — por mais teimosa que pareça — está presa a uma missão clara: traduzir o Brasil profundo por meio do Tupi Pop.

É nisso que acredito. É isso que me move. Porque o mundo não é o que os outros dizem que ele é. O mundo é o que fazemos dele.

Projetos sob o guarda-chuva Py’araku

0. Prospenomics (1988) — Quando Tudo Começou


A semente da Prospenomics foi plantada em 1988, durante minha monografia na UNIFIEO — minha verdadeira alma mater. Digo isso com convicção, mesmo sabendo que muitos torcem o nariz para a instituição, presos à síndrome de vira-latas que insiste em desvalorizar tudo que é brasileiro e fora dos grandes centros consagrados. Mas foi lá que tive a honra de ser orientado pelo Professor Decano Antônio Pacheco Mercier, um dos educadores mais brilhantes e íntegros que já conheci.

A proposta da monografia era ousada: usar a ficção científica como ferramenta para repensar a economia e a administração pública. Inspirado por “Star Trek” e pelos mundos visionários de Júlio Verne, imaginei sistemas prósperos, éticos e sustentáveis — um exercício de futuro aplicado ao presente, que viria a se tornar o embrião da Prospenomics, a “economia da prosperidade” Saiba mais.

A UNIFIEO, afinal, tem uma história que poucos conhecem e muitos ignoram. Foi fundada por Amador Aguiar, criador do Bradesco — um dos maiores bancos do Brasil — e está fincada na cidade de Osasco, berço do primeiro voo motorizado da América Latina, feito por Dimitri Sensaud de Lavaud, verdadeiro gênio pioneiro do século XX. Esses fatos são apagados pela nossa própria falta de autoestima nacional, mas são pedras fundamentais de um Brasil que acredita em si mesmo.

Prospenomics nasce desse espírito: uma resposta criativa e crítica à cultura do fracasso, com o sonho realista de um país que se reinventa com inteligência, arte e coragem.

Logo do Tupi Pop


1. Tupi-Pop (Início dos anos 1990)
Estilo artístico criado por Luiz Pagano para promover o amor ao Brasil, inspirado na forma como os japoneses valorizam sua cultura. A própria font usada tem referências japonesas e tupi.

Conecta elementos indígenas e japoneses como raízes espirituais comuns Saiba mais.

1.1 alfabeto Tupi- Pop

Desde pequeno, lembro-me de um alfabeto estranho que encontrei entre os livros do meu avô. Ele era um tropeiro de Leopoldina, Minas Gerais, e, assim como eu, tinha grande admiração pela cultura brasileira, principalmente tupi.


Decidi adaptar esse alfabeto para a minha arte, já que o alfabeto também desempenha um papel fundamental na autoestima de um povo, como bem observou o rei coreano Sejong.

O rei Sejong mudou profundamente a história coreana com a introdução do alfabeto Hangul. Antes da criação do alfabeto Hangul, apenas membros da classe alta eram alfabetizados. Sabendo que os sacerdotes não permitiriam que o alfabeto sagrado fosse alterado, ele decidiu usar um truque para enganá-los, escreveu com uma substância doce em folhas de pandamus, para que as formigas as comessem em padrões pré-determinados.

Alfabeto Tupi Pop de Luiz Pagano

Ele mostrou as marcas aos sacerdotes e disse-lhes que os deuses haviam enviado um novo sistema de escrita - voilà! Um novo alfabeto, muito mais simples, foi institucionalizado (saiba mais).


2. Blogs – Ame o Brasil (2007)
Plataforma de ativação com base na filosofia Angatú ("de alma boa").

Em "Ame o Brasil", a premissa é simples: para amar é preciso conhecer. Quem conhece cuida; quem ama, cuida. Esse projeto nasceu do desejo de recontar as histórias e lendas que formam o imaginário nacional, preservando nossa identidade e inspirando novas expressões artísticas.

Importante que se diga que não tem nada a ver com a campanha política dos anos 1970.

Na época, utilizamos um novo canal de blogs para dar voz a narrativas esquecidas e redescobrir contos que corriam o risco de se perder no tempo. Um exemplo marcante foi a recontagem da lenda da Gruta da Sununga, em Ubatuba ou a história dos sambaquis—a partir delas, os mistérios e tradições se entrelaçaram com o universo da Toy Art indígena, lançando novos olhares e interpretações sobre nossa cultura.

"Ame o Brasil" é, portanto, um convite: ao mergulhar nessas histórias, o leitor se reconecta com as raízes do país, reconhecendo que, ao conhecer, surge a responsabilidade de cuidar e preservar. Essa reconexão não só fortalece o orgulho nacional, mas também alimenta uma revolução cultural, transformando lendas em arte e, assim, contribuindo para a construção de um Brasil mais consciente, belo e, sobretudo, amado.
Logo da Capivara Parade

3. Capivara Parade (2008), Realizada em (2016) — Arte, Resistência e Solidariedade

A Capivara Parade nasceu quado eu passava de trem pelas águas poluídas do Rio Pinheiros, em São Paulo. A pergunta que surgiu foi: como esses animais conseguem sobreviver nesse ambiente degradado? Essa imagem se tornou um símbolo da resiliência e adaptabilidade da fauna brasileira frente à urbanização desenfreada.

Luiz Pagano na abertura do Capivara Parade de Curitiba - Junho de 2016

Inspirada na Cow Parade de Pascal Knapp, a Capivara Parade foi um dos artigos do blog (Saiba mais), junto com a Lenda da Capivara Paulistana e quadros do memso tema, concebida como uma homenagem à resistência das capivaras nos rios urbanos. A iniciativa ganhou vida em 2016, em Curitiba, por meio de uma parceria entre o Shopping Palladium e o estúdio Fábrica, de William Batista. O projeto contou com a participação de diversos artistas e personalidades, como o urbanista Jaime Lerner, que criou a "Capivara Biarticulada" em alusão ao sistema de transporte coletivo que implementou na cidade, e o humorista Diogo Portugal, que apresentou a "Risoleta", uma capivara comediante. Outros artistas envolvidos incluíram Dani Heining, Di Magalhães, Luiz Pagano, Juarez Fagundes e designers 

A exposição foi composta por oito esculturas de capivaras em fibra de vidro, com 1 metro de altura e 1,5 metro de largura, pintadas e customizadas pelos artistas participantes. Inicialmente exibidas no Shopping Palladium, as obras posteriormente percorreram diversos pontos turísticos de Curitiba, como a Boca Maldita, Praça Santos Andrade, Praça Rui Barbosa, Jardim Botânico, Mercado Municipal e Parque Barigui. 

O projeto teve um caráter beneficente, com o leilão das esculturas revertendo R$23.000,00 para a Campanha do Agasalho de Curitiba, evidenciando o poder transformador da arte aliada à solidariedade. 

A Capivara Parade exemplifica como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para conscientização ambiental e engajamento social, promovendo a valorização da cultura brasileira e incentivando ações em prol de um país mais justo e sustentável.



4. Indígenas e Orixás em Toy Art (2008)

O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" surgiu de uma constatação pessoal: meu filho conseguia nomear quase uma centena de personagens de Pokémon, mas mal reconhecia dez etnias indígenas brasileiras. Essa disparidade evidenciou a necessidade de criar ferramentas lúdicas que aproximassem as crianças da rica diversidade cultural do Brasil.

Indigenas em Toy Art colecionáveis  - A cada caixa muitas informações e entretenimento. 

Inspirado por essa percepção, desenvolvi uma linha de 'toys colecionáveis' (saiba mais) que representassem mais de 240 etnias indígenas, com pesquisa elaborada num trabalho que já dura uma vida, pois desde pequeno pesquiso e desenho essas etinas. 

Tem também os orixás das religiões de matriz africana, personágens como Lampião e lendas como o Saci Pererê - todos na forma de Toy Art. A ideia era simples, mas poderosa: só se protege o que se ama, e só se ama o que se conhece. Ao transformar essas figuras em brinquedos acessíveis e atrativos, buscava-se fomentar o interesse e o respeito pelas culturas originárias do país.

Caixa de Toy Art Ashaninka

O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" também se insere nesse contexto de resgate e valorização cultural, utilizando o lúdico como meio de educação e conscientização. Ao transformar elementos culturais em brinquedos, busca-se não apenas entreter, mas também educar, promovendo o conhecimento e o respeito pelas diversas culturas que compõem o Brasil.

Essa iniciativa é um passo na construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente de sua diversidade, onde as crianças crescem reconhecendo e valorizando as múltiplas identidades que formam o tecido social brasileiro.

Logo do Projeto Kauin

5. Cauim – Diálogo e Cultura Através da Bebida (2010)

Cultura líquida como ferramenta de transformação

O projeto Cauim nasceu da união entre duas grandes paixões que moldam minha trajetória: o Brasil — com sua complexa trama de culturas originárias — e o universo das bebidas, que carrega em si séculos de história, trocas e civilização. 

Luiz Pagano usando a camiseta do Projeto "Kauin" e  作永ひかる(Hikaru Sakunaga)

O cauim, bebida fermentada ancestral dos povos tupis, foi por muito tempo invisibilizado — tratado como curiosidade antropológica ou folclore exótico. O objetivo aqui é outro: resgatá-lo como ativo contemporâneo, etílico-gastronômico e cultural, com potencial para inaugurar uma nova categoria de bebidas autênticas, ligadas ao território, ao saber indígena e aos biomas brasileiros.

Este projeto não é apenas sobre bebida, é sobre pertencimento e autonomia. Ao estimular a produção do cauim dentro das aldeias — respeitando rituais, ingredientes e conhecimentos locais — buscamos gerar renda, visibilidade e protagonismo para culturas indígenas optantes que desejam se projetar no mercado com sua própria narrativa. É uma forma de ativar uma economia cultural conectada ao passado, mas com os olhos voltados para o futuro.

Lançar uma nova categoria de bebidas é raro. Fazer isso a partir de uma bebida nativa, com raízes tão profundas, é uma oportunidade de reescrever o mercado e, ao mesmo tempo, contribuir para a valorização e a preservação de culturas e ecossistemas inteiros.

Cauim Contemporâneo não é apenas uma bebida: é um convite ao diálogo. É uma ponte líquida entre civilizações.

Logo do Cauim Tiakau

5.1 Tiakau (2016)

Tiakau, que em tupi antigo significa “vamos beber”, é a marca atual que consolida uma trajetória de pesquisa e paixão em torno do cauim — bebida fermentada ancestral dos povos indígenas brasileiros.

Garrafa de Cauim Tiakau - Grandes restaurantes brasileiros como DOM, Mocotó e Banzeiro são obrigados a servir vinhos europeus para harmonizar com pratos brasileiros elaborados - o cauim Tiakau surge como a solução perfeita para esse problema: desenvolvemos um cauim premium, uma bebida sofisticada 100% mandioca e 100% brasileira.

O projeto ganhou forma a partir de experiências práticas que realizei ao lado da Sommeliere de sake Grande amiga 作永ひかる (Hikaru Sakunaga), especialista na fermentação japonesa e na produção de bebidas tradicionais como o sake e o shōchū. Em uma viagem ao Japão, aprofundei meus estudos no método koji kin, buscando compreender como as técnicas milenares japonesas de fermentação poderiam dialogar com a mandioca, ingrediente sagrado dos povos originários brasileiros.

Luiz Pagano e Hildo Sena produziram um lote inical de Cauim Tiakau - 100% Mandioca - Novembro de 2023

Esse intercâmbio cultural e técnico deu origem ao Tiakau, uma bebida que respeita o espírito do cauim tradicional, mas que também inova ao aplicar rigor científico e métodos controlados de fermentação, maturação e envase. O projeto ganhou força com a associação ao engenheiro Hildo Sena, com quem fundei a marca Cauim Tiakau (saiba mais)

Tiakau não é só uma bebida. É uma nova categoria dentro do mercado de bebidas artesanais — com potencial etílico, gastronômico e simbólico. Une duas paixões: o Brasil profundo, com sua riqueza de biomas e tradições, e o mercado de bebidas, com sua capacidade de criar cultura líquida, gerar valor e promover transformações sociais.

Mais do que uma retomada, Tiakau é um convite: vamos beber para celebrar, para lembrar, para reconectar — com a terra, com o sagrado, com a nossa própria história.
Antes se chamava Caraúna (folha parda, alusão ao dinheiro), e evoluiu com o foco na experiência cultural e valorização indígena.

Logo do Projeto Tembiu


6. Tembi’u – Gastronomia em Tupi Antigo (Abril 2015)

O Projeto Tembi’u (que em tupi significa "comida" ou "aquilo que se come") nasceu de uma inquietação comum: como valorizar a riqueza dos ingredientes amazônicos e inseri-los com dignidade e protagonismo na coquetelaria brasileira?

Luiz Pagano e a equipe de mixologistas da Pernod Ricard: Rafael Mariachi, James Guimarães e Alan Souza trouxeram mais de 110 ingredientes da floresta amazônica para o evento da Absolut Flavors, que reuniu Gastronomia e coquetelaria - Projeto Tembiu

Em parceria com a Pernod Ricard Brasil, e com verba institucional da vodka Absolut, reuni-me aos mixologistas Jamesm Guimarães, Alan Souza e Rafael Maricachi em uma expedição criativa e sensorial rumo à Amazônia. Lá, sob a orientação dos irmãos Thiago e Felipe Castanho, chefs do lendário restaurante Remanso do Peixe, de Belém, mergulhamos no território, nos mercados, nas aldeias e nos quintais amazônicos.


Foi uma jornada de pesquisa e escuta — mais do que trazer ingredientes exóticos ao copo, queríamos entender o que eles significavam para os povos da região. O jambu, por exemplo, que hoje aparece em drinks Brasil afora por seu efeito anestésico e sua excentricidade sensorial, foi um dos elementos que resgatamos, junto a tucupi negro, priprioca, bacuri, castanha-do-pará, entre outros.

Esse movimento, pioneiro na coquetelaria nacional, ajudou a romper a lógica de importação de tendências e ingredientes e inaugurou um novo olhar sobre o Brasil como território de inovação — a partir da sua própria biodiversidade e ancestralidade.

Mais do que criar receitas, o Projeto Tembi’u ajudou a lançar uma tendência: a da coquetelaria de pertencimento, onde o copo conta histórias e carrega o gosto de um país complexo, vivo e potente.

Logo dos Heróis da Bruzundanga


7. Heróis da Bruzundanga (HQ)

Os Heróis da Bruzundanga, uma HQ Tupi Pop, é uma releitura dos textos críticos e satíricos de Lima Barreto — especialmente de sua obra Os Bruzundangas e Triste Fim de Policarpo Quaresma — transformada em uma narrativa visual voltada ao público jovem, mas com camadas de reflexão que dialogam com todas as idades.

Lançamento da HQ Os Heróis da Bruzundanga na Livraria Cultura - 2017

Neste universo alternativo, o Brasil é um país próspero, belo e repleto de potencial. Já a Bruzundanga representa o seu oposto: um espelho distorcido do Brasil real, corroído por corrupção, má administração e desvalorização cultural. É nesse cenário que surgem os Heróis da Bruzundanga: personagens que, munidos da força simbólica da Cultura Tupi-Pop, enfrentam inimigos inusitados e provocadores, como Fujoshi, o Exército das Formigas e os Tupi-Rerekoara — uma seita radical canibal que distorce os valores originários.

A HQ é mais do que entretenimento: é uma ferramenta crítica e criativa para discutir o Brasil de forma acessível, satírica e, ao mesmo tempo, esperançosa. Com uma estética original que mistura grafismos indígenas, cultura pop e uma narrativa dinâmica, a série visa reconstruir o imaginário coletivo nacional, oferecendo aos leitores histórias que nunca nos contaram na infância — mas que deveriam ter contado.

A proposta é clara: usar a ficção como força transformadora. Criar um laço entre arte, crítica social e identidade nacional. Os Heróis da Bruzundanga são parte fundamental da costura de um Brasil alternativo e próspero — onde conhecer e amar o país é o primeiro passo para protegê-lo e transformá-lo.

Outros Projetos Associados

Blog A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont (saiba mais) : para inspirar jovens a valorizarem a ciência e a se orgulharem do Brasil por meio de um herói nacional.

Nasceu do desejo de resgatar o orgulho nacional por meio da valorização de um dos maiores gênios que o Brasil já teve: Alberto Santos=Dumont. Muito além de ser o “pai da aviação”, Dumont representa o espírito criativo, visionário e generoso que o brasileiro pode — e deve — cultivar em si mesmo.

O Prêmio Mérito Homem Voa criado por Luiz Pagano em 2016, em Tóquio, e agraciado pelo Insittuto Cultural Santos Dumont (saiba mais) , que celebra brasileiros e estrangeiros que, com suas ideias e ações, elevam a imagem do país e mostram que voar é possível — no sentido literal e no simbólico. 

Luiz Pagano - criado do Prêmio Mérito Homem Voa

O primeiro homenageado foi a equipe da Revista Agora, da primeira classe da Japan Air Lines, entre eles Yasuyuki Ukita, um descendente de Kōkichi Ukita (浮 田 幸 吉, 1757 - 1847) o premiado foi o neurocientista Miguel Nicolelis, por seu trabalho inovador e humanista que conecta ciência, tecnologia e impacto social.

Professor Nicolelis recebendo o Prêmio Mérito Homem Voa, das mãos de sobrinhos-bisnetos do Aviador

O objetivo do blog é claro: estimular jovens a sonhar alto, investir na ciência, se inspirar nos heróis brasileiros e reconstruir o senso de orgulho por nossa história e nosso potencial. Com linguagem acessível e temas que dialogam com tecnologia, cultura e inovação, “A Maravilhosa Vida de Santos Dumont” mostra que o futuro do Brasil pode — e deve — ser grandioso. Basta que a gente reconheça o que já somos capazes de fazer.

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Promover o respeito e a admiração pelas coisas do Brasil — suas culturas, seus biomas, seus povos originários e saberes — é uma tarefa que exige mais do que talento ou boas ideias. É preciso insistência, coragem e, acima de tudo, amor. Projetos como o Cauim Tiakau, a Capivara Parade, os Heróis da Bruzundanga, entre tantos outros que compartilhei aqui, nascem de uma visão artística e de marketing que se propõe a ir além da estética: buscam tocar consciências, reencantar o olhar sobre o que é nosso.

Capivara Parade - sonho que se realiza nas ruas de Curitiba - Junho de 2016

Confesso que muitas vezes é difícil transformar essas ideias em realidade. A distância entre o mundo ideal que carrego na mente e o mundo real é imensa — e por vezes frustrante. Mas sigo acreditando que é possível construir um Brasil mais admirado por seus próprios habitantes, por meio da cultura, da bebida, da arte, do riso e da história contada de um novo jeito.

Se você leu até aqui e algo disso ressoou em você, te peço uma coisa simples, mas poderosa: me ajude a divulgar esse trabalho. Curta, compartilhe, fale sobre ele. Porque só se protege o que se ama — e só se ama o que se conhece. Vamos fazer o Brasil se reconhecer e se respeitar. Juntos.


Calendário Tupi Contemporâneo do Inhapuambuçu - Por Luiz Pagano

Calendário Anual Tupi Contemporâneo Tudo começou com esta pergunta: "Como seria o Brasil se a cultura dos Tupis tivesse sobressaido à d...