domingo, 25 de agosto de 2013

Como a escrita aumentou a auto-estima da cultura Nova Tupi


Etnias Indígenas Brasileiras com um alfabeto próprio 

“Em meio as anotações de Jose Francisco Pagano Brundo, tropeiro de Leopoldina MG, encontramos o mais importante documento da cultura ‘Nova Tupi’ em meio a livros de arte escrito em Russo de 1807, Uma antiga edição ‘Terra de Santa Cruz’  de Viriato Correa e algumas outras preciosidades. Trata-se de um estudo de caligrafia do recém criado alfabeto Tupi Novo.
 
Estudo de caligrafia do recém criado alfabeto Tupi Novo de José Francisco Pagano Brundo
Estima-se que tenha sido escrito em 1811 pelo estudioso que falava Tupi Antigo fluentemente e é o mais antigo documento dessa importante fase que nos conduziu a cultura Tupi atual.

O que aconteceu com os grupos indígenas aqui no Brasil não foi diferente do ocorrido com os japoneses, que aprenderam caracteres chineses a fim de ler e escrever a língua chinesa e por volta do século 6 dC começaram a utilizar o sistema de escrita chinês para representar sua própria língua.  Foi um enorme desafio, porque chineses e japoneses pertencem a famílias de línguas não relacionadas, com sons completamente distintos, gramática e vocabulário muito diferentes.
 
Textos em Tupi Antigo escritos em alfabeto Novo Tupi o Abá-Poru e Ancheta Tupã Mongeta-û
Tal como os japoneses, os Novos Tupis, adaptaram o alfabeto latino usado pelos colonizadores portugueses para criar os 47 Signos Tupis. No exercício de Jose Francisco Pagano Brundo, percebe-se que a caligrafia teve muito pouca modificação nos últimos 200 anos”.

Não fosse pela proibição do Idioma Tupi pelo Marquês de Pombal em 1758, talvez as tribos indígenas tivessem uma grafia como esta. Criada para ilustrar os benefícios de um alfabeto próprio esta grafia tem como base a gramática Tupi escrita pelo Padre Anchieta em 1595 e a Arte da Língua Brasílica de Luiz Figueira, 1621, entre outros textos.

Alfred Burns trata das maravilhas da escrita para nossa civilização no livro ‘The Power of the Written Word: The Role of Literacy in the History of Western Civilization’. Burns conta como que através da escrita fomos capazes de ler textos do período clássico - romanos e gregos, textos de Darwin - que nos fizeram questionar a bíblia, o nascimento da medicina moderna, como Newton fez nascer a ciência a partir da filosofia.

O alfabeto também tem importância fundamental para a auto estima de um povo, como foi constatado pelo rei coreano Sejong.

O Rei Sejong, mudou profundamente a história coreana com a introdução do alfabeto Hangul. Antes da criação do alfabeto Hangul, apenas os membros da mais alta classe eram alfabetizados. Hanja era tipicamente usado para escrever coreano usando caracteres chineses adaptados, enquanto Hanmun, usado para escrever documentos judiciais em chinês clássico.
 
Alfabeto 'Novo Tupi' -
A melhor forma de institucionalizar o Tupi Antigo para as próximas gerações 
Preocupado com a falta de motivação da nação coreana em defender a pátria contra os constantes ataques inimigos, bem como o alto nível de analfabetismo, o rei Sejong decidiu modificar o alfabeto para um mais simples.

Sabendo que os sacerdotes não iriam permitir a mudança do sagrado alfabeto, resolveu usar um artifício para enganá-los. Escreveu com uma substancia doce em folhas de pandamus, para que as formigas comessem em padrões predeterminados.

Mostrou as marcas aos sacerdotes e disse a eles que os deuses haviam enviado um novo sistema de escrita.
 
Rei Sejong e a importancia da escrita para a nação Coreana
- escrita simples que representa o espirito de um povo
A nova escrita foi adotada em 1446. Com apenas algumas horas de estudos uma pessoa pode ler e escrever em Hangul, alfabeto que tornou-se a base cultural da nação coreana.


Durante os anos 40 ao anos 50, William Cameron Townsend (9 de julho de 1896 – 23 de abril de 1982) um importante missionário cristão cujo ministério começou no início do século XX, visitou diversas tribos de povos indígenas no Brasil, Suriname, Bolívia, etc., e fundou o ILV (instituto lingüístico de Verano) o mais famoso e ativo instituto de evangelização pelo idioma e de lingüística aplicada.  


Quando o jovem William Cameron Townsend tentava vender bíblias em espanhol na Guatemala em 1917-1918, ele descobriu que a maior parte das pessoas que ele conhecia não entendiam o espanhol. Eles também não possuíam uma forma escrita para a sua língua, o Cakchiquel. Townsend abandonou sua iniciativa de vender Bíblias e passou a viver com os Cakchiquéis. Ele aprendeu a língua deles, criou um alfabeto para a língua, analisou a gramática, e traduziu o Novo Testamento em apenas dez anos.

A maior parte das traduções ortográficas que existem hoje feitas entre os povos indígenas se derivam do desenho dos alfabetos e silabários criados pelos missionários da ILV. A importância que se outorga a produção de material escrito também parece ser uma herança da linha de trabalho desta organização missionária. No interesse de preservação dos idiomas e das culturas, se faz urgente manter as ricas tradições orais e fortalecer a transmissão generacional da língua através de sua escrita.
 
Silabário de Afaka - um Ndyuka do povoado de Benanu no baixo Tapanahony no Suriname criou em 1910 um alfabeto composto de 56 símbolos que transcrevem cada uma das silabas usadas no idioma.
Esteve no Brasil no ano de 1956, com a chegada da SIL (Sociedade Internacional de Lingüística) no Rio de Janeiro, a convite do antropólogo Darcy Ribeiro. Aqui a SIL chegou a trabalhar com 62 diferentes idiomas indígenas.Além dessa contribuição, a presença da SIL em terras brasílicas foi determinante para o desenvolvimento da própria disciplina lingüística nos centros acadêmicos brasileiros.

Tal como o alfabeto Hangul, o “alfabeto Novo Tupi” é baseado na arte indígena rupestre das cavernas da Pedra do Castelo, no estado do Piauí, tem elementos que facilitam a arte da caligrafia e sintetizam bem os morfemas das mais de 230 etnias indígenas brasileiras.

Silabário Tupi

Recentemente foi encontrado um original silabário Tupi na Universidade de Lyon, França. Embora não se saiba a procedencia nem a data, acredita-se que tenha sido escrito na mesma epoca do sulabario de Afaka. 

     
Silábario Tupi encontrado na Universidade de Lyon FR
Silábario Tupi cursivo encontrado na Universidade de Lyon FR
Alexandre Raymond, responsável pelo achado descreve a seguir como este silabário deve ser usado:


A partir destes 42 sons de base, é possível fazer modificações.


Esta escrita reafirma a essencia do idioma Tupi e pode ser uma incrível ferramenta de valorização de auto estima para toda uma cultura.

2 comentários:

  1. Muita semelhança com as escritas orientais. Os traços, costumes, olhos puxados, tudo se interliga entre os índios e os asiáticos. São um povo de mesma origem. Parabéns pelo artigo maravilhoso.

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  2. Eu penso que o alfabeto primário dos índios deve ser o alfabeto original deles mais próximo do Alberto oriental até mesmo como silabario. Alfabeto latino e seus silabarios são europeus e italicos e negam a cultura primária dos índios devem vir em segundo e terceiro lugar. Os índios já perderam muito sua cultura em contato com europeus precisam resgata-la. Muito da cultura deles está na Ásia e na Oceania.

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