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Homem da roça tenta apanhar a carapuça do Saci enquanto crianças acompanham admiradas a tentativa frustrada. |
Há muitos jeitos de pegar saci, mas o
melhor é o de peneira. Arranja-se uma peneira de cruzeta…
- Peneira de cruzeta? – interrompeu o
menino (Pedrinho) – Que é isso?
- Nunca reparou que certas peneiras têm
duas taquaras mais largas que se cruzam bem no meio e servem para reforço? Olhe
aqui – e tio Barnabé mostrou ao menino uma das tais peneiras que estava ali num
canto. Pois bem, arranja-se uma peneira desas e fica-se esperando um dia de
vento bem forte, em que haja rodamoinho e zás! – joga-se a peneira em cima. Em todos
os rodamoinhos há saci dentro, porque fazer rodamoinhos é justamente a
principal ocupação dos sacis neste mundo.
- E depois?
- Depois, se a peneira foi bem atirada e o
saci ficou preso, é só dar jeito de otar ele dentro de uma garrafa e arrolhar
muito bem. Não esquecer de riscar uma cruzinha na rolha, porque o que prende o
saci na garrafa não é a rolha e sim a cruzinha riscada nela. É preciso ainda
tomar a carapucinha dele e a esconder bem escondida. Saci sem carapuça é como
cachimbo sem fumo.
Eu já tive um saci na garrafa, que me
prestava muitos bons serviços. Mas veio aqui um dia aquela mulatinha sapeca que
mora na casa do compadre Bastião e tanto lidou com a garrafa que a quebrou.
Bateu logo um cheirinho de enxofre. O perneta pulou em cima de sua carapuça,
que estava ali naquele prego, e “até logo, tio Barnabé!”
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Depois de ouvir com a maior atenção,
Pedrinho voltou para casa decidido a pegar um saci, custasse o que custasse.
Contou o seu projeto a Narizinho e longamente discutiu com ela sobre o que faria
no caso de escravizar um daqueles terríveis capetinhas. Depois de arranjar uma
boa peneira de cruzeta, ficou à espera do dia de S. Bartolomeu, que é o mais
ventoso do ano.
(O Saci. Monteiro Lobato.(
O Saci também é conhecido como saci-pererê,
saci-cererê, matimpererê, matita perê, saci-saçurá e saci-trique, é um
personagem do folclore brasileiro. Tem sua origem presumida entre os indígenas
da Região das Missões, no Sul do país, retratado como um curumim endiabrado,
com duas pernas, cor morena e possuidor de um rabo típico. A mitologia
africana o transformou em um negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira.
Também, herdou desta mesma mitologia o cachimbo. Da mitologia européia herdou
o “píleo”, um gorrinho vermelho, usado pelos trasgos (seres encantados do
folclore de Portugal).É descrito como um pequeno ser, descalço, de uma perna só, sem camiseta
e com um pito (tipo de cachimbinho). Em alguns casos o Saci usa saia e têm
duas mãos furadas, em outros usa shorts, o Saci faz peraltice e esconde as
coisas dentro do rodamoinho.
já na mitologia romana, registrava
Petrônio, no Satiricon, que o píleo conferia poderes ao íncubo e recompensas a
quem o capturasse.
Considerado uma figura brincalhona, que se
diverte com os animais e pessoas, fazendo pequenas travessuras que criam dificuldades
domésticas, ou assustando viajantes noturnos com seus assovios – bastante
agudos e impossíveis de serem localizados. Assim é que faz tranças nos cabelos
dos animais, depois de deixá-los cansados com correrias; atrapalha o trabalho
das cozinheiras, fazendo-as queimar as comidas, ou ainda, colocando sal nos
recipientes de açúcar ou vice-versa; ou aos viajantes se perderem nas estradas.
O mito existe pelo menos desde o fim do
século XVIII ou começo do XIX.4
O Saci tem o controle, sabedoria e
manuseios de tudo que está relacionado às plantas medicinais, por isso, o
saci, tem o domínio das Matas.
Os sacis nascem em brotos de bambu, vivem
sete anos dentro destes brotos e mais setenta e sete fora deles. Depois morrem
e viram um cogumelo ou uma orelha de pau.
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José Bento Monteiro Lobato com Emilia, Saci, Narizinho e o Vsiconde de Sabugosa - Ilustração de Benedito Carneiro Bastos Barreto - Belmonte - |
Em 2003, o deputado Aldo Rebelo apresentou
o PL-2762/2003, que propõe transformar o dia 31 de outubro no Dia Nacional do Saci-pererê,
visando substituir a importação cultural do "Halloween".