Arte plumária Indígena no Brasil |
Uma das expressões plásticas mais tradicionais
e autenticas e impactantes das culturas nativas do Brasil. A definição usual de
arte plumária diz respeito aos objetos confeccionados com penas e plumas de
aves, muitas vezes associadas a outros materiais.
É uma prática que tem grande antiguidade,
há pinturas rupestres dos século X, que foram primeiramente relatadas por Candido Rondom, encontradas
ao longo do rio Erepecuru próximo as cachoeiras de Armazem, Zoada e Resplendor,
onde pode se ver etnias antigas usando adornos plumários.
Muitas tradições indígenas utilizam a arte
plumária, que se multiplica em originalidade e unicidade pelo numero de etnias
e tribos espalhadas por todo território brasileiro.
Embora cada grupo apresente uma técnica e estilo
específico a tribo dos Urubus-Kaapor é uma das mais evoluídas na arte de
confecção de adornos plumários.
Coifa vegetal Kayapó-Mekranoti (Lori-lori), Diadema Kayapó, Capacete Palikúr e Brincos da etnia Waurá |
Nas palavras de Darcy Ribeiro e Bertha
Ribeiro,
"É na plumária que encontramos a
atividade mais eminentemente artística dos nossos índios, aquela em que revelam
os mais elaborados impulsos estéticos e mais vigorosas características de
criação própria e singular. E é natural que assim seja, porque a plumagem dos
pássaros, com sua variedade de formas e riqueza de colorido, constitui o
material mais precioso e mais acabado, por assim dizer, que a natureza oferece
aos índios para se exprimirem artisticamente. o seu maior interesse estético,
por outro lado, está voltado para o embelezamento do próprio corpo. Da
combinação daqueles recursos e desta tendência, resultaria a elaboração de uma
técnica requintada que, associando penas e plumas a diversos outros materiais,
permitiria criar obras de arte capazes de competir em beleza com os mesmos pássaros".
De acordo com a legislação brasileira os
indígenas têm o direito de caçar a fauna silvestre com fins exclusivos de
alimentação e confecção de objetos cerimoniais, mas peças com produtos ou
subprodutos da fauna silvestre, categoria onde entram os objetos plumários, não
podem ser comercializadas. A proibição está em vigor desde 1998, e só abre
exceções para a pesquisa acadêmica e a preservação em museus. Não obstante, o
comércio já atinge grandes proporções e o controle é difícil.Ao mesmo tempo, a
combinação de restrições e propaganda governamental causa uma situação de
paradoxo. Na apresentação do livro Povos Indígenas no Brasil 2001/2005, os
autores disseram:
"Vale destacar a imagem do cocar
Kayapó que aparece na lombada deste volume, confeccionado com a técnica de
praxe, porém com canudinhos de plástico no lugar das tradicionais penas de
arara, papagaio e mutum. Proibidos de comercializar artesanato com
matérias-primas oriundas de animais silvestres, essa recente e criativa solução
Kayapó simboliza a contradição de um país campeão mundial do desmatamento e bem
colocado no topo da lista do tráfico e da extinção de aves, cuja diplomacia
costuma exibir no exterior a arte plumária indígena como símbolo primeiro da
identidade nacional".
Técnicas de confecção
Na produção, geralmente as penas são amarradas umas às outras e muitas delas são associados a outros materiais, tal qual fibras vegetais, madeiras, couro de animais, folhas, taquaras. No tocante à cor, a arte plumária designa uma arte muito colorida, donde várias tribos do Brasil, além de utilizarem as penas nas cores do próprio pássaro, utilizam técnicas de tingimento, conhecida como “tapiragem”, ou seja, a transformação da cor da pena, com o intuito de se aproximar da coloração amarelo-alaranjado.
As muitas formação de amarração - o Molho de penas, amarração de pena com nó simples e a trama de plumas feita pelos talentosíssimos índios Urubus-Ka'apor |
De tal modo, eles utilizam essa arte repleta de cores e matizes, sejam com funções socioculturais, baseadas nos momentos ritualísticos e cerimoniais, de forma a indicar a hierarquia social, gênero, idade; ou simplesmente como objetos utilitários (cestos, armas, instrumentos) e de adorno corporal (máscaras, cocares, mantos, colares, coroas, pulseiras, braceletes, brincos, etc.).
Para melhor descrevemos as peças e quais penas são usadas, é importante conhecermos os diferentes formatos de penas que constituem a asa das aves.
Pariko Bororo
Nesses trezentos anos de contato, os
Bororo, por serem um dos povos indígenas vivos mais pesquisados,
Percebe-se então, nesse universo social,
que há dezenas de formas diferentes de manufaturar um Pariko, e neste
comentário abordaremos um Pariko genérico sem associá-lo as metades, clãs ou
sub-clãs. Seguindo novamente as descrições de Dorta (1982).
Um Pariko pode ser dividido em quatro camadas vistas a seguir |
1- A primeira camada é composta de penas retrizes de araras
–- podendo também ser inserida retriz de outras aves –- dispostas em
semicirculo decrescente e com as pontas aparadas, onde recebem colagem de
plumas brancas de pato selvagem. Dizem os Bororo que essa distribuição da
armação decrescente das retrizes acompanha a distribuição natural como se
encontram nas aves utilizadas. Alguns Parikos não tem as pontas cortadas e nem
recebem a emplumação.
2 - A segunda camada é composta de penas de
diversas aves, podendo ser retrizes ou tectrizes aparadas nas pontas e
combinadas com outros elementos decorativos como lascas de taquara revestidas
de plumas ou de acúleos de ouriço, estiletes de madeira ou nervuras de buriti.
3- A terceira camada é formada de penas aparadas na sua parte
terminal e recobre os cálamos das outras duas camadas. Alguns Parikos dispensam
esta camada.
4- A última parte a qual denominaremos de suporte-base é
flexível e tem a forma de um arco e é confeccionado com nervuras de babaçu e
revestidas com tiras de folíolo de babaçu.
5- Os cordéis-atilho são manufaturados de
seda de tucum e resinados para maior durabilidade.
Como já foi dito, através de um Pariko,
pode-se identificar o sub-clã, o clã e a metade do seu usuário. Na sociedade
Bororo, essas divisões apropriam de seres espirituais, da fauna, da flora, de
objetos minerais, dos mitos, dos pontos geográficos, de corpos celestes e
chegando até as minúcias do universo existente.
Baseando nas pesquisas realizadas por
Dorta, será feita uma síntese de algumas situações:
• A
construção de um Pariko obedece à forma da flora e fauna aquática, tendo no
peixe pacu um dos modelos, ou como das folhas-do-brejo e de outras folhas
aquáticas. Essa circunstância é identificadora, apesar de não ser a principal.
• Das
três camadas, a pesquisadora salienta que é a segunda camada, por possuir um
maior numero de matéria-prima, que os códigos identificatórios têm mais realce.
• Também
são significativas para a identificação de um Pariko, as cores das penas, suas
distribuições e combinações com outros de seus elementos.
Outro caráter identificador é a colação das
plumas no ápice das tectrizes,devendo observar sua distribuição no seu
perímetro.
Este é um resumo desse magnífico adorno,
que dá ao seu possuidor, status de grandeza, poder e beleza.
Arte plumária Karajá
Para compreender a plumária Karajá é
preciso entender a organização do de sua cosmologia. Existem três mundos
miticos:
O Mundo das Águas, local de origem dos
Karajá, onde está a aldeia dos
Berahatxi Mahãdu povo do fundo das águas peixes (peixe
cuiú-cuiú, pirarucu);
O Mundo da Superfície, que é habitado pelos
Karajá(podem ser tanto animais da floresta - veado, onça, raposa); e,
O Mundo do Céu, que é o nível celeste
alcançado somente pelos xamãs (hari) durante as viagens espirituais e depois da
morte. o plano celeste é governado por Xiburè, é habitado pelos Biuludu
(habitantes do Céu) e dentre estes há os Ijasò do céu..
Para os Karajá não há uma distribuição dos
animais nos planos cosmológicos como nós pensaríamos, os pássaros não estão
sempre ligados ao Mundo do Céu ou os peixes ao Mundo das Águas.
O Urubu-Rei. Portando, não há entre os
Karajá uma relação funcional ou utilitarista de classificação do mundo, como já
alertou Lévi-
Strauss (2010) ao falar do “pensamento
selvagem”. Trata
-se de uma relação complexa entre os níveis
cosmológicos que são mediados
pelos xamãs a fim de manter o equilíbrio do cosmo.
A maior parte dos adornos de plumária é
usada pelos mais jovens, a medida que a pessoa envelhece menos ela os usa. Ao
mesmo tempo esses adornos estão, quase que em sua totalidade, relacionados aos
rituais; estão presentes: na “dança dos Aruanã”.
O Leque de occipício A. conta a historia do
heroi mitico Kanakiwe, que pressionou o Urubu Rei (representado pela harpia), a
presentear sua tribo com tal representação do disco solar.
Feito com penas rêmiges de harpia (Harpya harpya); da garça branca (Casmerodius albus); penas de voo de
arara Canindé (Ara ararauna); retriz de japu (Psarocolius decumanus);
coberteiras de asa, provavelmente de arara-canga.
A estrutura e montada em estilete de estipe
de palmeira de babaçu, penas são coladas com cera de abelha e amarradas a um
suporte grosso de cordel de fios de algodão.
Os Brincos B são de uso masculino,
principalmente em cerimônias, feitos com coberteiras inferiores da asa e plumas
dorsais da arara-canga (ara macao) e da arara-vermelha (Ara chloroptera), o
suporte é de pecíolo de tucum.
O leque de occipício C é feito com penas do
de japu (Psarocolius decumanus) e da
arara canga.
A coroa vertical D, usada por mulheres é
adornada com plumas de da arara-canga (ara macao) e da arara-vermelha (Ara
chloroptera).