sábado, 8 de fevereiro de 2020

Itagenemimética os Top 12 aprendizados legados de nossos indígenas brasileiros

Citei apenas 11 aprendizados que me ocorreu, facilmente podemos chegar nos 20, 40, 100 ou 1000 deles...



Você já ouviu falar da Meperita? Uma cola adesiva feita com própolis, usada pelos Mehinako — o "Super Bonder™ da floresta", totalmente biodegradável e eficaz. Ou do PÜKÜTIVE, uma estrutura usada por eles para transportar objetos pesados sobre a cabeça, aproveitando o equilíbrio do corpo com eficiência energética. E que tal o sabão vegetal dos Tupinambás ou a bebida fermentada Cauim, rica em significado e microbiota?

Estes exemplos não são curiosidades exóticas. São soluções engenhosas, desenvolvidas com base na observação atenta do meio ambiente e na convivência respeitosa com a natureza. Hoje, essas práticas podem inspirar alternativas mais saudáveis e sustentáveis para nosso cotidiano.

Vida em Harmonia com o Ambiente

A superioridade da vida tropical indígena não está nos confortos da tecnologia, mas na elegância da convivência com a natureza. As florestas, rios, plantas e animais não são apenas recursos: são parentes, divindades, fontes de aprendizado. Segundo Murgel (1930), a relação dos povos indígenas com a natureza é tão profunda que transforma rios em deuses e árvores em símbolos de sabedoria. Assim, o cuidado com o ambiente não é um dever — é parte da identidade.

Costumo chamar essa sabedoria aprendida oralmente, de geração em geração e reforçada por relatos históricos, de itagenemimética (o ato de imitar os mais velhos).

Os últimos avanços em bioengenharia, combinados com o conhecimento ancestral indígena, podem abrir perspectivas nunca antes inimaginadas ​​para a humanidade, como medicamentos para curar diferentes tipos de câncer, vitaminas capazes de aumentar a longevidade e muitas outras.

Em 1614, D’Abbdeville registrou que os indigenas reconheciam fenômenos naturais no horizonte que escapavam aos marinheiros mais experientes. Eles sabiam, só com o olhar, distinguir entre uma nuvem e uma terra distante. Isso não é apenas sensibilidade: é ciência de observação, transmitida oralmente, dia após dia, geração após geração  (saiba mais sobre astronomia indígena).

Saberes que revolucionaram (e podem continuar revolucionando)

Você sabia que o conhecimento indígena sobre plantas medicinais ajudou a desenvolver a anestesia moderna? Com domínio de mais de 200 mil espécies da flora, os indígenas testaram, categorizaram e ensinaram os usos terapêuticos das plantas muito antes da ciência ocidental reconhecê-los. Sem esse saber, boa parte da medicina atual simplesmente não existiria.

Além disso, hábitos tão naturais para muitos brasileiros — como dormir em redes, tomar banhos diários, consumir guaraná — vêm diretamente dos povos originários. Ainda hoje, há práticas que podemos (e devemos) redescobrir:

1- Guaraná – o estimulante 100% brasileiro


Os indigenas da etnia Sateré Mawé foram os primeiros a descobrirem e nos legar os benéficos efeitos do guaraná, uma as bebidas mais consumidas no Brasil na forma de refrigerantes.

 A Paullinia Cupana, é atualmente usada também como suplemento nutricional, haja vista as suas propriedades estimulantes, principalmente da guaranina, substancia estimulante cuja o efeito é de 4 a 7 vezes mais eficiente do que o da cafeína, alem das vitaminas A, B1, B3, E, PP, Cálcio, Ferro, etc. tem importante papel na regulação do peso, diurético, para tratamento de diabéticos o guaraná é um importante coadjuvante no controle de glicemia, melhora o desempenho intelectual e sexual.

O guaraná tem sua maior produção no estado da a Bahia, onde o cultivo além de ser feito em larga escala, possui grande notoriedade socioeconômica.

Preparo e consumo do guaraná pelos Saterés Mawés

Para fazer o bastão de çapó, a mulher Sateré Mawé inicia o processo colhendo os grãos de guaraná maduros das plantas. Em seguida, ela os descasca para obter as sementes, que são deixadas de molho em água por um período específico. Depois desse tempo, as sementes são secas em um forno.

Uma vez secas, as sementes são colocadas em um pilão e socadas até se transformarem em uma massa homogênea. Água é adicionada gradualmente à massa, formando uma mistura semelhante à massa de modelar, conhecida como "pão de çapó".

Com a massa pronta, ela molda o "pão de çapó" em bastões ou rolos, que são colocados para secar em um fumeiro. O fumeiro é uma tenda quente onde fogueiras são acesas para defumar o bastão de çapó. Esse processo de defumação dá ao bastão de çapó seu aroma característico e o prepara para ser ralado na língua de pirarucu durante o ritual de preparo do çapó.

O çapó, guaraná em bastão ralado na água, é a bebida cotidiana, ritual e religiosa, consumida por adultos e crianças em grandes quantidades. O preparo e o consumo do çapó seguem uma série de práticas que somadas resultam em uma sessão ritual, que são sempre as mesmas, seja quando o çapó é oferecido para a família, ou durante uma reunião de tuxauas.

Cabe à mulher do anfitrião, ou a uma de suas filhas, ralar o guaraná numa pedra que cabe na palma da mão, ou, mais recentemente, numa língua de pirarucu (Arapaima gigas). Esta operação é feita com a bola ou o bastão de guaraná molhados, em fricção com a superfície da pedra ou da língua de pirarucu, formando uma espécie de uma “lama” fina de guaraná que vai sendo dissolvida com água dentro de uma cuia (Crescentia cujete). A cuia quando não está no colo da fazedora do çapo, ou quando não está passando de mão em mão, permanece apoiada no patawi.

Quando a mulher que está preparando o çapó verifica que chegou a quantidade correta de guaraná ralado diluído na água, passa a cuia para seu marido, que primeiramente se serve de um pouco do çapó, para então passar para os presentes, entregando a cuia em primeiro lugar para os mais velhos, ou para visitantes ilustres. Daí em diante, a cuia passa de mão em mão, e quando esvaziada é entregue para o dono da casa, que por sua vez devolve à esposa que prepara uma nova rodada de çapó.


Caso algum participante da sessão de çapó não goste da bebida não irá recusá-la, bebendo apenas um pequeno gole e passando adiante. Outra formalidade importante é que a ultima pessoa da rodada de çapó não deve devolver a cuia vazia para o dono da casa, sempre deixando um pouquinho de çapó.


As sessões de çapó têm várias rodadas, ou seja, a mulher do dono da casa irá preparar várias cuias de çapó conforme a disposição dos visitantes e familiares de tomarem çapó e conversarem. Geralmente o dono da casa que encerra a sessão passando a cuia com o restinho de çapó para algum membro de sua família;

2- Meperita – a Super Bonder™ da floresta 


Recentemente cientistas da Unicamp e da Universidade de Rochester (EUA) obtiveram resultados promissores com o uso do própolis de abelha como agente antimicrobiano no combate à cárie e à doença periodontal. Um estudo recente mostrou que o uso de um enxaguatório oral com própolis do Rio Grande do Sul por indivíduos que se abstiveram de escovar os dentes durante 3 dias e ainda fizeram bochechos com uma solução de sacarose (o açúcar refinado comum) cinco vezes ao dia tiveram uma redução de 40% na formação da placa bacteriana, grande vilã no desenvolvimento das duas principais doenças da cavidade oral.

O mecanismo de ação parece estar associado à inibição da enzima glicosil-transferase, responsável pela transformação do açúcar que ingerimos em polissacarídeos insolúveis, que por sua vez formam uma espécie de cola biológica utilizada pelas bactérias para se fixarem à superfície dental. Protegidos e seguros nesse micro-habitat, os microorganismos metabolizam o açúcar e produzem ácidos e toxinas que desmineralizam o esmalte dentário e agridem os tecidos periodontais (gengiva, fibras de inserção do dente e osso). Alguns compostos presentes no própolis agiriam derrubando a casa das bactérias, por assim dizer, diferentemente do que ocorre com a ação de outros agentes químicos usados no combate à placa dental, como é o caso da Clorexidina, que age diretamente sobre a célula bacteriana.

Mas os indígenas já fazem uso da própolis para diversos fins a muito mais tempo, um dos exemplos mais impressionantes é a massa adesiva “Meperitchia” feita pelos Mehinakos a partir da própolis que funciona como um Durepox™.

3- Dormir em redes


Uma tese de doutorado feita pelo professor Ricardo Ramos da Universidade Estadual de Roraima (UERR) comprovou que os benefícios de se dormir em redes vão além da transmissão de sensação de conforto.

Natural da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o enfermeiro e doutor em Ciências, Ricardo Ramos, disse que a idéia surgiu por meio de uma observação empírica, já nos primeiros dias em que chegou ao Estado, a mais de dez anos atrás.

“A pesquisa foi feita pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro [Unirio], por meio do programa de doutorado de Enfermagem e Biociências, do qual eu fazia parte como aluno. Os testes foram todos feitos dentro do laboratório do curso de enfermagem da Universidade Estadual de Roraima [UERR]...”.

Segundo ele, foram realizados aproximadamente 100 testes no laboratório de enfermagem da UERR. Durante os testes, o especialista notou diferenças perceptíveis na temperatura corporal das cobaias. “40 pessoas foram utilizadas no estudo e elas realizaram teste tanto em redes quanto nos colchões, com tempo cronometrado em 30 minutos.

Os benefícios são múltiplos, principalmente para os convalescentes, tais como alivio do peso do corpo em muitos casos de danos à coluna, melhor resposta a febres e doenças ligadas a capacidade da pele de resfriar o corpo, alem do grande beneficio de reduzir o custo na ampliação de leitos hospitalares, “Nas unidades hospitalares, nós já temos a adoção das redes para os pacientes indígenas. Porque também não oferecer o mesmo para os não indígenas? Isso ajudaria de alguma forma a desafogar leitos, que é um dos principais problemas da atualidade. Temos também a questão dos pacientes acamados em casa, que também passam a contar com essa vantagem, já que o custo de uma cama está em torno de R$ 1.500, e um colchão hospitalar na faixa de R$ 600”complementa o médico.

O primeiro relato sobre as redes encontra-se na carta de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil, lá vemos os detalhes sobre a vida na floresta, endereçada ao o rei de Portugal, Dom Manuel Primeiro, em 1500.

"Havia 9 ou 10 casas as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitânia; e eram de madeira; tinham por dentro muitos esteios e de esteio a esteio uma rede, atada pelos cabos, em cada esteio e altas, nas quais dormiam", revela o documento.

"Ela significa ou representa também a certidão de nascimento da rede, já que ela registra o primeiro contato dos europeus, dos portugueses com os indigenas no Brasil", relata o historiador e antropólogo Márcio Couto Henrique, que ainda complementa "A rede serve não só pra embalar o corpo das pessoas, mas os sonhos, as fantasias e a vontade de viver".

4- Fumo, Ayahuasca e Paricá – ‘medicinas’ da floresta


Como já mencionei no texto introdutório, a cultura civilizada transformou o habito de fumar em um dos mais degenerativos da nossa sociedade atual, isso se deveu à um total desequilíbrio de consumo – os indigenas sabem muito bem que forças da natureza são remédios, que se usados na dosagem certa curam, mas em mal uso tornam-se em poderosos venenos.

Do ponto de vista espiritual, todas essas ‘medicinas’ indígenas vem sido usadas na sociedade atual como uma nova forma religiosa e filosófica de se integrar ao mundo natural, respeitar o planeta e entender as gigantescas forças de equilíbrio que nos movem.

Ainda em estudos, a ayahuasca vem sido usada na lida de dependentes de drogas ilícitas, usada em tratamentos não ortodoxos, em contexto religioso/filosófico, como auxiliar na redução do consumo abusivo de psicoativos. Foi utilizada em pesquisas de estudo de caso, no qual entrevistas abertas com uma usuários regulares de cocaína, nicotina e álcool que abandonaram este comportamento após entrar em contato com a ayahuasca. Apesar de ser considerado com tabu, pesquisa como essa abre as portas para resolver um dos mais graves problemas sociais que enfrentamos hoje no mundo.

Ayahuasca - A palavra ayahuasca tem sua origem na língua Quéchua, língua falada nos altiplanos andinos (Dobkin de Rios, 1972), e significa, dentre outras, "corda dos mortos", em referência às várias espécies de cipó utilizadas como base da preparação de um psicoativo utilizado por pelo menos 72 grupos indígenas diferentes, espalhados pelo Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Bolívia e Equador.

Paricá - Existem basicamente dois utensílios utilizados no costume inalar o rapé (Paricá) - ó Tepí, utilizado pelo xamã para assoprar a medicina no membro da aldeia e o Kuripe, utilizado pelo próprio usuário. Pode ser utilizado por meio dos quatro elementos: 1-Fogo: é o tabaco queimado em cachimbos e apenas baforado, sem tragá-lo. Utilizado por meios de ritualizações e rezas. Considera-se que a fumaça lançada ao ar carrega a oração até o Grande Espírito; 2-Terra: é o tabaco seco mascado e cuspido; 3-Água: preparado pela sua infusão em água a dias e inalado via nasal ou oral(de acordo com o ritual); e o 4-Ar, usado no ritualístico do rapé (aspirado via nasal);

5- O Sabonete Tupi, Genipapo Verde, o Banho Diário, Ervas e a Garrafada – os remédios da Floresta


Muito antes da chegada dos europeus, os povos Tupis já conheciam o poder da natureza para cuidar do corpo e do ambiente. Um exemplo marcante é o uso da saponária, nome popular para o fruto do Sapindus saponaria, também conhecido como genipapo verde, sabão-de-soldado ou saboeiro.

Essa planta nativa das Américas era usada pelas comunidades indígenas como sabão natural — bastava esfregar os frutos em contato com a água para formar espuma e realizar a higiene pessoal ou até lavar utensílios. Era uma tecnologia viva, passada entre gerações, que mostrava o equilíbrio entre ciência e natureza.

O segredo está no seu princípio ativo natural: as saponinas. Essas substâncias têm ação detergente, antimicrobiana e antifúngica, capazes de limpar suavemente sem agredir a pele ou o meio ambiente. Hoje, esse conhecimento ganha nova relevância frente à busca por alternativas sustentáveis e menos químicas na indústria cosmética e de limpeza.

A saponária é mais do que uma planta: é símbolo da inteligência ecológica e bioquímica dos povos originários, que há séculos entendem o que a ciência só recentemente começa a validar.

O banho em águas termais e seus efeitos benéficos são antigos conhecidos da humanidade, mas foi o convívio com nossos indigenas que fez com que os colonizadores percebessem que a higiene era a melhor profilaxia contra milhares de enfermidades relacionadas a falta dela, tais como a cólera, leptospirose, amebíase, ascaridíase, etc,

No século 14 a malaria assolava o mundo, mas os jesuítas que estavam no Brasil pareciam ter a solução, eles faziam infusões com a casca de cinchona para combater os sintomas, o remédio dos indigenas funcionava perfeitamente. Mas foi só no século 18 que dois químicos franceses, Joseph Pelletier e Joseph Caventou, isolaram a quinina presente na cinchona e identificaram seu principio ativo como a cura da malaria. O feito talvez tenha sido o primeiro ato de itagenemimética, na qual um conhecimento indígena secular, se mostrou cientificamente como solução a um mal mundial. Alem disso,  proporcionou a popularização mundo do remédio indígena e, de quebra, a invenção da água tônica, refrigerante de quinino, derivado da quinina.

Clayton Coelho, pesquisador da Unifesp em uma recente pesquisa da Universidade da Paraíba analisou 23 especiarias usadas popularmente como remédios antimicrobianos com origem em conhecimentos indígenas. Depois de avaliar os efeitos, 40% das plantas tiveram suas propriedades comprovadas. Isso porque nenhum conhecimento surge do nada, sem qualquer embasamento.

Tal como o quinino e a aspirina, que fez uso da casca de arvores (o salgueiro no caso da aspirina, descoberta pelos indigenas americanos e também por Hipocrates, do outro lado do mundo), a toxina d-tubocurarina, extraída do curare, veneno que os indigenas colocam na ponta das flechas para imobilizar caças virou relaxante muscular, usado por anestesistas durante cirurgias, principalmente para controlar convulsões. Já o jaborandi, árvore típica das regiões Norte e Nordeste, oferece os colírios de pilocarpina, que os indigenasusam há séculos para estimular a produção de suor, que mais tarde se descobriu como um importante remédio usado na cura do glaucoma.

Já remédios químicos que tratam arritmia e insuficiência cardíaca devem sua vida a uma planta ornamental de flores em forma de sininhos, a dedaleira. O chá dessa planta era feito pelos indigenas nativos para um distúrbio na circulação do sangue que causa insuficiência do coração.

6- Sistema Agroflorestal – a fazenda inteligente

Um grupo de imigrantes japoneses chegou ao município de Tomé-Açu, no Pará, no fim da década de 1920 com proposta de plantar da pimenta-do-reino, Nos anos 70 com a queda dos preços e epidemias nos pimentais fez com que repensassem seu negocio. Baseado em antigo conhecimento indígena, eles passaram a cultivar a pimenta-do-reino no mesmo espaço do cacau, bem como com o cupuaçu, mamão, açaí, coco, maracujá, castanha-do-pará, borracha natural e paricá. A praga dos pimentais foi combatida por predadores locais, trazidas pelas outras plantas, em equilíbrio com a natureza.

De lá para cá, o sistema foi aperfeiçoado na base da tentativa e do erro para a escolha das melhores combinações de espécies. Hoje, Tomé-Açu é referência nesse tipo de plantio e a cooperativa acumula diversos prêmios relacionados a empreendedorismo e sustentabilidade. Além disso, a CAMTA promove e orienta a adoção dos sistemas agro-florestais para agricultura familiar em municípios vizinhos e realiza a comercialização dessa produção, um projeto que atende cerca de mil famílias da região.

Os Saterés Mawés tem suas mudas de guaraná plantadas em meio a floresta, com isso as plantas eram polinizadas e multiplicadas naturalmente, bem como tinham as suas pragas combatidas por agentes endógenos das matas. É também o caso do cacau e do cupuaçu, no qual muitas etnias indígenas perceberam que as pequenas abelhas uruçu-amarela (Melipona flavolineata) pareciam fazer multiplicar o numero de frutos dessas arvores. Mais tarde, pesquisadores do Embrapa descobriram que estas abelhas são as principais polinizadoras desses frutos.

O sistema agro-florestal, conhecido dos povos indígenas já a muito tempo, oferece uma série de vantagens como:
- Como gera grande quantidade de matéria orgânica no solo proveniente de diversas culturas, há menos necessidade de adubos e agrotóxicos;
- Essa variedade de nutrientes gera alimentos mais saudáveis;
- A cobertura vegetal abundante também retém a umidade da terra, protege as plantações do Sol e proporciona um ambiente mais agradável para o trabalho no campo;
- O plantio de diversas culturas ao mesmo tempo permite a produção continuada e gera renda durante o ano todo.

7 – O cauim - a bebida de catequese da floresta

“Nos últimos anos venho dedicando minhas atividades às funções de artista e cientista, principalmente no que se refere ao CAUIM, bebida alcoólica fermentada de mandioca, consumida por mais de 270 etnias indígenas brasileiras, que eu quero trazer para o grande publico na forma de uma bebida industrial, (com garrafa bonita e tudo) produzida com processos sofisticados, com grandes similaridades ao saquê. Essa iniciativa tem o grande propósito de fazer com que sintamos orgulho de sermos brasileiros de origem Tupi - sonho com o dia em que todos nós, brasileiros e/ou estrangeiros, poderemos comer os pratos sofisticados de Alex Atala ou Tiago Castanho harmonizado com Cauim dos Yekuanas ou dos Waurás, embalados na 'Tupi Pop Culture'.

A produção do Cauim dentre os Wajampis, chamado por eles de Caxiri, acontece conforme ritual antigo de tradição oral - a mandioca é ralada e mastigada pelas virgens Wajuins, o mosto então fervido e colocado em barcas de madeira, chamadas de Kasirirenas, recipientes que se caracterizam por serem rasos e largos, expondo grande área de superfície em contato com o ar, promovendo uma fermentação alcoólica promovida por leveduras endógenas que pode durar 20 dias.

A festa da cauinagem é a relação da bebida com a espiritualidade de nossos indigenas é muito similar com a relação que o saquê tem com a religião xintoísta no Japão, ambas as culturas compartilham de muitos elementos em comum, por isso adotei técnicas japonesas para produzir a bebida em sua forma industrial.

Trazer o Cauim para o consumidor brasileiro parece se a maior, a primeira, e a mais simbólica das atitudes de itagenemimética, tarefa a qual dedico toda a minha ciência, filosofia, historia e religião”. Luiz Pagano.

Numa situação imaginária vemos mestres Cauineiros de etnias optantes colocando mosto no tanque de fermentação, com a evolução social nas aldeias, o cauim comercial, diferentemente do cauim ritualístico, pode ser feito por homens. Infewlizmente essa é uma imagem aspiracional - quem sabe um dia veremos essa e outras censa como essa nas aldeias.

8- Spas Pihin – pintura corporal como forma de carinho e relaxamento



Em 2006 a top Gisele Bündchen passou dois dias na aldeia dos Kisêdjê, no Parque Indígena do Xingu - nordeste de Mato Grosso e entregou-se de corpo e alma aos costumes da etnia.

Após ser recebida pelo cacique Kuiussy Suyá e pelas integrantes da aldeia, Gisele foi transformada em uma nativa com a cuidadosa aplicação das pinturas corporais. Para a top mais majestosa do planeta, as índias fizeram grafismos tradicionais, destinados às mulheres que se destacam na comunidade por sua beleza. 
Inspirado nos saberes dos povos indígenas brasileiros, o Spas Pihin resgata uma tradição milenar onde o toque, a escuta e a pintura corporal se unem como forma profunda de carinho e cura. Mais do que uma estética, as pinturas com jenipapo e urucum desenham a alma sobre a pele, promovendo acolhimento, identidade e conexão com o sagrado. Nesse espaço de relaxamento, as pessoas não apenas recebem massagens que aliviam o estresse físico, mas são envolvidas por gestos de afeto e rituais que trazem equilíbrio emocional e espiritual. O corpo é tratado com respeito, o espírito é honrado, e o bem-estar emerge como consequência natural de uma troca verdadeira entre quem cuida e quem é cuidado. Em tempos de desconexão e correria, o Spas Pihin nos convida a parar, respirar e lembrar: o toque humano, guiado por sabedoria ancestral, ainda é uma das medicinas mais poderosas que existem.

Até então nunca tinha visto uma integração genuinamente brasileira tão prospera e a idéia de um Spa Pihin me pareceu, e ainda me parece o melhor investimento brasileiro em turismo. Em sua concepção original os Spas ‘Tupi Culture’ tem como atração principal a terapia do ‘Pihin’, também chamada de ‘terapia da pintura corporal’.

A técnica de Pihin busca trazer a civilização urbana o equilíbrio supremo através do conhecimento milenar da arte da pintura corporal indígena. Também conhecida como ‘a terapia completa’, a tecnica Pihin promove o melhoramento do indivíduo em todos seus aspectos; físico, estético, mental, espiritual e psicológico. http://ameobrasil.blogspot.com/2013/09/spa-pihin-ou-spa-nova-tupi-uma-nova.html

9 – Pegar onda na pororoca

A exemplo dos investimentos nos esportes de inverno, feitos pela Red Bull na Suíça e na Áustria, o Brasil também entra nesse cenário, com a pratica de esportes em meio às forças da natureza, patrocinados pela marca de energéticos Austríaca.

Em 2005 Serginho Laus conseguiu medir com precisão o que é surfar na pororoca do rio Araguari; Ele foi a 19,6km/h, por num percurso de 11,8km, que durou 36 minutos.

A ABRASPO - Associação Brasileira de Surf na Pororoca é a entidade que desde 1999 anos promove e divulga o surf na pororoca. isso também é uma forma de incentivar o turismo e o intercambio cultural entre o publico jovem.

10 – Estética, Design e arte

A partir desse décimo ponto, coloco algumas conjecturas e sonhos, mesclados e baseados em atuais realidades –

Oskar Metsavaht da Osklen, lancou no SPFW de2015 lanço uma linha completa de roupas com motivos baseados na cultura Ashaninka, foi grande sucesso no Brasil e no mundo.

O uso de piercings e botoques feitos de plexiglas podem vir a ser as principais manifestações culturais para adolescentes e simpatizantes da Tupi Pop Culture, muita arte ainda pode e será criada a partir de elementos Inspirados em artefatos indígenas. Inspirada nos Frank Gehry's Fish Lamps, vemos este ‘Abajur Pirarucu’;

11- Ocas tecnológicas e cidades sustentáveis

Talvez a melhor contribuição dos indigenas seja o fato de eles terem casas sustentáveis e biodegradáveis e aldeias despoluidoras em completa harmonia com a natureza – nesse campo os arquitetos e cientistas de vida urbana deveriam concentrar seus maiores esforços.

Nessa oca tecnológica, tal como a casa grande das aldeias os jovens se reúnem em um espaço de convivência escolar, inaugurando uma nova forma de pedagogia.

Casas com sistemas de compostágem e tratamento de água individuais,  poderiam ser construídas sem nenhum impacto as margens de rios repletos de vida.

Aqui vemos um prédio inteiramente construído de fibras vegetais e novidades de bio & nano tecnologia aprendida a partir do conhecimento indígena, no qual cada residente sente o balanço do vento em relaxante atmosfera de convivo a natureza.


Seguramente a Itagenemimética pode nos dar infinitas soluções para os problemas atuais, desafio o leitor a colocar nos comentários todas as aprendizagens que conhece, de nossos indigenas brasileiros ou de outras origens, para fazermos com que essa lista chegue em centenas de itens.



12- Pião de Tucumã

Aqui vemos o sábio Sykyã fazendo o pião de tucumã para seus netos

 Quanto a origem do pião, muitas teorias são atribuídas, no entanto sabe-se que o relato mais antigo vindo das notações feitas na expedição de Meriwether Lewis e William Clark pela America do Norte em 1804, descreve crianças de diversas etnias brincando com piões. parecia ser a nova coqueluche pelas aldeias da época.

O brinquedo tem sua existência relatada na tradição desde o inicio dos tempos por diversas etnias,  na América do norte e do sul. Quando os Panará foram transferidos de suas terras para dentro do Parque do Xingu, pelos irmãos Villas Boas, devido a construção da estrada BR 163, eles foram morar em uma aldeia junto com os indigenas Suyá. 

O pião pode ser feito com a semente do tucumã, uma fruta de uma palmeira típica da região amazônica ou com uma pequena cabaça.

Muito além do folclore

A diversidade cultural indígena do Brasil é comparável à da Europa: 222 etnias contra 234 no continente europeu. Mas ao contrário do que se pensa, esse universo não é estático, nem romântico — é altamente funcional e ainda inexplorado em seu potencial transformador para os desafios modernos, como mudanças climáticas, segurança alimentar e saúde preventiva.

Ao estudarmos, respeitarmos e aplicarmos esses saberes ao nosso cotidiano, não apenas homenageamos os povos originários, mas abrimos portas para soluções que respeitam o planeta e transformam nossa forma de viver.

Então, que tal começar por algo simples? Usar menos plástico, tomar um banho com consciência, dormir numa rede, repensar o que colocamos no prato ou buscar alternativas naturais de cura. A floresta tem muito a ensinar — basta ouvir.


REFERÊNCIAS

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http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/246176/mod_resource/content/1/Cosmologia%20ind%C3%ADgena%20
brasileira%20-%20Tupinamb%C3%A1s%20e%20Guaranis.pdf. Acesso em: 2 Abr.2016.
LEVI-STRAUSS, Claude. O cru e o cozido. Editora Cosac & Naify. São Paulo: Brasiliense, 1991.
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http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol6/Num1/cosmologia.pdf. Acesso em: 5 Mai.2016
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FABIAN, Stephen M. Space-Time of the Bororó of Brazil. Gainesville: University Press of Florida, 1992.

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