A resposta talvez esteja em nomes que ousaram transformar o mundo com ideias que, no início, pareciam absurdas. Takashi Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão pós-guerra através da estética pop e da crítica embutida no movimento Superflat. Yuval Noah Harari ajudou a humanidade a se enxergar de forma nova com histórias bem contadas sobre o passado e o futuro. Santos=Dumont, ao se elegantemente e trazer o voo para a humanidade não apenas inventou uma máquina — ele inventou uma identidade. Thomas Edison não criou apenas lâmpadas, mas acendeu uma era.
Todos eles sabiam que narrativas mudam civilizações. E é essa mesma convicção que move a Blemya, meu projeto de vida.
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Logo da Blemya |
A Blemya é arte, é marketing, é cultura de resistência, é tecnologia emocional. É um monstro simbólico que não tem cabeça — porque pensa e sente com o peito. Um símbolo do Brasil que ressurge de si mesmo. Um esforço estético e estratégico para fazer do Tupi-pop uma nova lente para o país se enxergar com mais coragem, humor, dignidade e propósito.
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Luiz Pagano com amigos na exposição de Takashi Murakami em Versailles - Setenmbro de 2010 |
A primeira vez que vi a arte de Takashi Murakami foi no lugar mais improvável: o Palácio de Versalhes, em agosto de 2010. Era uma mistura entre o universo pop japonês e a opulência barroca do palácio, que me causou, num primeiro momento, um certo desconforto — quase como se fosse uma profanação estética. Mas algo naquela provocação me fisgou. Dias depois, folheando o photobook oficial da exposição, com a assinatura do próprio Murakami na capa ( que acabei comprando), tive uma espécie de epifania. Era como se o universo me enviasse um sinal: o que ele fazia com a cultura japonesa, eu poderia — e deveria — fazer com o Brasil.
Inspirado por Murakami que fez flores brotarem em bombas atômicas, pretendo fermentar o cauim no cuspe da baixa autoestima dos vira-latas.
Murakami criou o movimento Superflat, um estilo artístico que rompe fronteiras entre arte erudita e cultura de massa, influenciado por mangás, animes e pela estética gráfica japonesa. Sua crítica à superficialidade da cultura consumista nipônica não é feita de fora, mas sim a partir de dentro — ele a abraça e a ressignifica. Combinando estética pop, produção em escala (com estúdios operando como fábricas) e colaborações com grandes marcas como a Louis Vuitton, Murakami transformou sua arte em marca, e sua marca em símbolo de identidade cultural.
Essa visão foi o estopim para algo que, no fundo, sempre esteve dentro de mim.
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Luiz Pagano com amiga na exposição Tupi Pop - Agosto de 2017 |
Antes disso tudo, em 2007 criei a Blemya Media Group, que nasceu com uma missão ambiciosa: melhorar o Brasil por meio de duas frentes complementares. A primeira é a criação de melhores condições de vida por meio de inteligência, criatividade e tecnologia, estruturada pelo conceito que chamo de Prospenomics, baseado na minha monografia da faculdade — a economia da prosperidade. A recente onda do Blog abriu esse caminho para mim.
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Luiz Pagano pintando em seu estúdio (chamdo de Blemya) - Referências de Murakami e Brecheret servem de código para mudar a autoestima de uma nação. |
A segunda é o resgate e a valorização da cultura indígena brasileira, especialmente por meio do Tupi Pop, criando um novo imaginário nacional capaz de dialogar com o mundo com sofisticação e originalidade.
Junto a um grupo de colaboradores improváveis, construímos uma plataforma cultural que conecta ancestralidade com contemporaneidade. Nosso projeto central é o Py’araku, termo em tupi antigo que significa “fazer crescer o Deus interior, de alma quente, com um coração quente” (para referência, a Blemya é um monstrinho fofo que não tem cabeça e, portanto, o coração e o cérebro estão juntos no peito). Py’araku é nossa ferramenta de avaliação e difusão de boas práticas culturais e humanas — uma espécie de “entusiasmo estruturado” para o Brasil, equivalente ao mono no aware japonês ou ao enthousiasmós grego.
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Indigenas em Toy Art colecionáveis - A cada caixa muitas informações e entretenimento. |
Assim como Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão em meio ao trauma pós-guerra e à invasão cultural americana, acredito que o Brasil precisa também curar suas feridas internas, usando como código o Tupi de Policarpo Quaresma — especialmente a persistente síndrome de vira-latas, que nos faz admirar apenas o que vem de fora.
Tupi e Brecheret
Outra referência fundamental para mim foi o Tupi de São Paulo — uma presença muito mais viva nos anos 1970, durante minha infância, do que parece hoje. Explico: lembro com carinho dos passeios com meu pai ao Parque do Ibirapuera. Depois, seguíamos para o Shopping Iguatemi, e ai voltavamos para casa, minha avó assistia a TV Tupi e comíamos mandioca com catupiry. Pode parecer simples, mas ali o Tupi e Brecheret apareciam com naturalidade no meu cotidiano.
Essas referências não estavam em museus distantes, no dia-a-dia, nos nomes, nas paisagens. Por isso, além de Murakami, Brecheret se tornou para mim uma influência obrigatória — ambos me ajudaram a entender que é possível criar uma arte contemporânea com raízes profundas e autênticas.
Projetos como a Capivara Parade, em parceria com o Shopping Palladium de Curitiba, e a recriação do cauim através do Tiakau — uma bebida indígena ancestral transformada em símbolo de brasilidade — são expressões práticas desse movimento. São ações que unem arte, cultura, branding e impacto social. São sementes de autoestima plantadas em solo nacional.
Mesmo com recursos limitados, as intenções são grandes. Através da Prospenomics, abrimos caminhos onde arte e identidade nacional caminham juntas, de forma acessível, poderosa e transformadora.
O Mundo é o Que Fazemos Dele
Um amigo me disse, certa vez: “Você já está quase com 60 anos e sua arte não pegou. O cauim não foi pra frente, os Heróis da Bruzundanga venderam de forma pífia, sua estética é considerada ruim, e a única coisa que funcionou — mal — foram as ilustrações da Superinteressante, os poucos quadros vendidos e a Capivara Parade... Desista.” Naquele momento, suas palavras soaram como uma verdade dura e inevitável.
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Luiz Pagano no estúdio 'Blemya', pintando sua Capivara para o Capivara Parade de Curtiba - 2016 |
Mas, com o tempo, percebi que essa visão é limitada. Sim, é natural querermos que nossa arte seja vista, compreendida e acolhida. Talvez a minha não seja agradável aos olhos da estética dominante, nem se encaixe nos moldes atuais do mercado. Mas esse é justamente o preço de andar na contramão — e eu aceito pagá-lo.
Porque, no fundo, eu não faço arte para agradar. Faço para comunicar. Faço para que a mensagem ressoe em quem estiver pronto para ouvi-la. Chris Langan, com sua teoria CTMU, afirma que o universo é uma constante interação entre múltiplas consciências. E a minha consciência — por mais teimosa que pareça — está presa a uma missão clara: traduzir o Brasil profundo por meio do Tupi Pop.
É nisso que acredito. É isso que me move. Porque o mundo não é o que os outros dizem que ele é. O mundo é o que fazemos dele.
Projetos sob o guarda-chuva Py’araku
0. Prospenomics (1988) — Quando Tudo Começou
A proposta da monografia era ousada: usar a ficção científica como ferramenta para repensar a economia e a administração pública. Inspirado por “Star Trek” e pelos mundos visionários de Júlio Verne, imaginei sistemas prósperos, éticos e sustentáveis — um exercício de futuro aplicado ao presente, que viria a se tornar o embrião da Prospenomics, a “economia da prosperidade” Saiba mais.
A UNIFIEO, afinal, tem uma história que poucos conhecem e muitos ignoram. Foi fundada por Amador Aguiar, criador do Bradesco — um dos maiores bancos do Brasil — e está fincada na cidade de Osasco, berço do primeiro voo motorizado da América Latina, feito por Dimitri Sensaud de Lavaud, verdadeiro gênio pioneiro do século XX. Esses fatos são apagados pela nossa própria falta de autoestima nacional, mas são pedras fundamentais de um Brasil que acredita em si mesmo.
Prospenomics nasce desse espírito: uma resposta criativa e crítica à cultura do fracasso, com o sonho realista de um país que se reinventa com inteligência, arte e coragem.
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Logo do Tupi Pop |
1. Tupi-Pop (Início dos anos 1990)
Estilo artístico criado por Luiz Pagano para promover o amor ao Brasil, inspirado na forma como os japoneses valorizam sua cultura. A própria font usada tem referências japonesas e tupi.
Conecta elementos indígenas e japoneses como raízes espirituais comuns Saiba mais.
1.1 alfabeto Tupi- Pop
Desde pequeno, lembro-me de um alfabeto estranho que encontrei entre os livros do meu avô. Ele era um tropeiro de Leopoldina, Minas Gerais, e, assim como eu, tinha grande admiração pela cultura brasileira, principalmente tupi.
Decidi adaptar esse alfabeto para a minha arte, já que o alfabeto também desempenha um papel fundamental na autoestima de um povo, como bem observou o rei coreano Sejong.
O rei Sejong mudou profundamente a história coreana com a introdução do alfabeto Hangul. Antes da criação do alfabeto Hangul, apenas membros da classe alta eram alfabetizados. Sabendo que os sacerdotes não permitiriam que o alfabeto sagrado fosse alterado, ele decidiu usar um truque para enganá-los, escreveu com uma substância doce em folhas de pandamus, para que as formigas as comessem em padrões pré-determinados.
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Alfabeto Tupi Pop de Luiz Pagano |
Ele mostrou as marcas aos sacerdotes e disse-lhes que os deuses haviam enviado um novo sistema de escrita - voilà! Um novo alfabeto, muito mais simples, foi institucionalizado (saiba mais).
2. Blogs – Ame o Brasil (2007)
Plataforma de ativação com base na filosofia Angatú ("de alma boa").
Em "Ame o Brasil", a premissa é simples: para amar é preciso conhecer. Quem conhece cuida; quem ama, cuida. Esse projeto nasceu do desejo de recontar as histórias e lendas que formam o imaginário nacional, preservando nossa identidade e inspirando novas expressões artísticas.
Importante que se diga que não tem nada a ver com a campanha política dos anos 1970.
Na época, utilizamos um novo canal de blogs para dar voz a narrativas esquecidas e redescobrir contos que corriam o risco de se perder no tempo. Um exemplo marcante foi a recontagem da lenda da Gruta da Sununga, em Ubatuba ou a história dos sambaquis—a partir delas, os mistérios e tradições se entrelaçaram com o universo da Toy Art indígena, lançando novos olhares e interpretações sobre nossa cultura.
"Ame o Brasil" é, portanto, um convite: ao mergulhar nessas histórias, o leitor se reconecta com as raízes do país, reconhecendo que, ao conhecer, surge a responsabilidade de cuidar e preservar. Essa reconexão não só fortalece o orgulho nacional, mas também alimenta uma revolução cultural, transformando lendas em arte e, assim, contribuindo para a construção de um Brasil mais consciente, belo e, sobretudo, amado.
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Logo da Capivara Parade |
3. Capivara Parade (2008), Realizada em (2016) — Arte, Resistência e Solidariedade
A Capivara Parade nasceu quado eu passava de trem pelas águas poluídas do Rio Pinheiros, em São Paulo. A pergunta que surgiu foi: como esses animais conseguem sobreviver nesse ambiente degradado? Essa imagem se tornou um símbolo da resiliência e adaptabilidade da fauna brasileira frente à urbanização desenfreada.
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Luiz Pagano na abertura do Capivara Parade de Curitiba - Junho de 2016 |
Inspirada na Cow Parade de Pascal Knapp, a Capivara Parade foi um dos artigos do blog (Saiba mais), junto com a Lenda da Capivara Paulistana e quadros do memso tema, concebida como uma homenagem à resistência das capivaras nos rios urbanos. A iniciativa ganhou vida em 2016, em Curitiba, por meio de uma parceria entre o Shopping Palladium e o estúdio Fábrica, de William Batista. O projeto contou com a participação de diversos artistas e personalidades, como o urbanista Jaime Lerner, que criou a "Capivara Biarticulada" em alusão ao sistema de transporte coletivo que implementou na cidade, e o humorista Diogo Portugal, que apresentou a "Risoleta", uma capivara comediante. Outros artistas envolvidos incluíram Dani Heining, Di Magalhães, Luiz Pagano, Juarez Fagundes e designers
A exposição foi composta por oito esculturas de capivaras em fibra de vidro, com 1 metro de altura e 1,5 metro de largura, pintadas e customizadas pelos artistas participantes. Inicialmente exibidas no Shopping Palladium, as obras posteriormente percorreram diversos pontos turísticos de Curitiba, como a Boca Maldita, Praça Santos Andrade, Praça Rui Barbosa, Jardim Botânico, Mercado Municipal e Parque Barigui.
O projeto teve um caráter beneficente, com o leilão das esculturas revertendo R$23.000,00 para a Campanha do Agasalho de Curitiba, evidenciando o poder transformador da arte aliada à solidariedade.
A Capivara Parade exemplifica como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para conscientização ambiental e engajamento social, promovendo a valorização da cultura brasileira e incentivando ações em prol de um país mais justo e sustentável.
4. Indígenas e Orixás em Toy Art (2008)
O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" surgiu de uma constatação pessoal: meu filho conseguia nomear quase uma centena de personagens de Pokémon, mas mal reconhecia dez etnias indígenas brasileiras. Essa disparidade evidenciou a necessidade de criar ferramentas lúdicas que aproximassem as crianças da rica diversidade cultural do Brasil.
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Indigenas em Toy Art colecionáveis - A cada caixa muitas informações e entretenimento. |
Inspirado por essa percepção, desenvolvi uma linha de 'toys colecionáveis' (saiba mais) que representassem mais de 240 etnias indígenas, com pesquisa elaborada num trabalho que já dura uma vida, pois desde pequeno pesquiso e desenho essas etinas.
Tem também os orixás das religiões de matriz africana, personágens como Lampião e lendas como o Saci Pererê - todos na forma de Toy Art. A ideia era simples, mas poderosa: só se protege o que se ama, e só se ama o que se conhece. Ao transformar essas figuras em brinquedos acessíveis e atrativos, buscava-se fomentar o interesse e o respeito pelas culturas originárias do país.
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Caixa de Toy Art Ashaninka |
O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" também se insere nesse contexto de resgate e valorização cultural, utilizando o lúdico como meio de educação e conscientização. Ao transformar elementos culturais em brinquedos, busca-se não apenas entreter, mas também educar, promovendo o conhecimento e o respeito pelas diversas culturas que compõem o Brasil.
Essa iniciativa é um passo na construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente de sua diversidade, onde as crianças crescem reconhecendo e valorizando as múltiplas identidades que formam o tecido social brasileiro.
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Logo do Projeto Kauin |
5. Cauim – Diálogo e Cultura Através da Bebida (2010)
Cultura líquida como ferramenta de transformação
O projeto Cauim nasceu da união entre duas grandes paixões que moldam minha trajetória: o Brasil — com sua complexa trama de culturas originárias — e o universo das bebidas, que carrega em si séculos de história, trocas e civilização.
O cauim, bebida fermentada ancestral dos povos tupis, foi por muito tempo invisibilizado — tratado como curiosidade antropológica ou folclore exótico. O objetivo aqui é outro: resgatá-lo como ativo contemporâneo, etílico-gastronômico e cultural, com potencial para inaugurar uma nova categoria de bebidas autênticas, ligadas ao território, ao saber indígena e aos biomas brasileiros.
Este projeto não é apenas sobre bebida, é sobre pertencimento e autonomia. Ao estimular a produção do cauim dentro das aldeias — respeitando rituais, ingredientes e conhecimentos locais — buscamos gerar renda, visibilidade e protagonismo para culturas indígenas optantes que desejam se projetar no mercado com sua própria narrativa. É uma forma de ativar uma economia cultural conectada ao passado, mas com os olhos voltados para o futuro.
Lançar uma nova categoria de bebidas é raro. Fazer isso a partir de uma bebida nativa, com raízes tão profundas, é uma oportunidade de reescrever o mercado e, ao mesmo tempo, contribuir para a valorização e a preservação de culturas e ecossistemas inteiros.
Cauim Contemporâneo não é apenas uma bebida: é um convite ao diálogo. É uma ponte líquida entre civilizações.
5.1 Tiakau (2016)
Tiakau, que em tupi antigo significa “vamos beber”, é a marca atual que consolida uma trajetória de pesquisa e paixão em torno do cauim — bebida fermentada ancestral dos povos indígenas brasileiros.
O projeto ganhou forma a partir de experiências práticas que realizei ao lado da Sommeliere de sake Grande amiga 作永ひかる (Hikaru Sakunaga), especialista na fermentação japonesa e na produção de bebidas tradicionais como o sake e o shōchū. Em uma viagem ao Japão, aprofundei meus estudos no método koji kin, buscando compreender como as técnicas milenares japonesas de fermentação poderiam dialogar com a mandioca, ingrediente sagrado dos povos originários brasileiros.
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Luiz Pagano e Hildo Sena produziram um lote inical de Cauim Tiakau - 100% Mandioca - Novembro de 2023 |
Esse intercâmbio cultural e técnico deu origem ao Tiakau, uma bebida que respeita o espírito do cauim tradicional, mas que também inova ao aplicar rigor científico e métodos controlados de fermentação, maturação e envase. O projeto ganhou força com a associação ao engenheiro Hildo Sena, com quem fundei a marca Cauim Tiakau (saiba mais):
Tiakau não é só uma bebida. É uma nova categoria dentro do mercado de bebidas artesanais — com potencial etílico, gastronômico e simbólico. Une duas paixões: o Brasil profundo, com sua riqueza de biomas e tradições, e o mercado de bebidas, com sua capacidade de criar cultura líquida, gerar valor e promover transformações sociais.
Mais do que uma retomada, Tiakau é um convite: vamos beber para celebrar, para lembrar, para reconectar — com a terra, com o sagrado, com a nossa própria história.
Antes se chamava Caraúna (folha parda, alusão ao dinheiro), e evoluiu com o foco na experiência cultural e valorização indígena.
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Logo do Projeto Tembiu |
6. Tembi’u – Gastronomia em Tupi Antigo (Abril 2015)
O Projeto Tembi’u (que em tupi significa "comida" ou "aquilo que se come") nasceu de uma inquietação comum: como valorizar a riqueza dos ingredientes amazônicos e inseri-los com dignidade e protagonismo na coquetelaria brasileira?
Em parceria com a Pernod Ricard Brasil, e com verba institucional da vodka Absolut, reuni-me aos mixologistas Jamesm Guimarães, Alan Souza e Rafael Maricachi em uma expedição criativa e sensorial rumo à Amazônia. Lá, sob a orientação dos irmãos Thiago e Felipe Castanho, chefs do lendário restaurante Remanso do Peixe, de Belém, mergulhamos no território, nos mercados, nas aldeias e nos quintais amazônicos.
Foi uma jornada de pesquisa e escuta — mais do que trazer ingredientes exóticos ao copo, queríamos entender o que eles significavam para os povos da região. O jambu, por exemplo, que hoje aparece em drinks Brasil afora por seu efeito anestésico e sua excentricidade sensorial, foi um dos elementos que resgatamos, junto a tucupi negro, priprioca, bacuri, castanha-do-pará, entre outros.
Esse movimento, pioneiro na coquetelaria nacional, ajudou a romper a lógica de importação de tendências e ingredientes e inaugurou um novo olhar sobre o Brasil como território de inovação — a partir da sua própria biodiversidade e ancestralidade.
Mais do que criar receitas, o Projeto Tembi’u ajudou a lançar uma tendência: a da coquetelaria de pertencimento, onde o copo conta histórias e carrega o gosto de um país complexo, vivo e potente.
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Logo dos Heróis da Bruzundanga |
7. Heróis da Bruzundanga (HQ)
Os Heróis da Bruzundanga, uma HQ Tupi Pop, é uma releitura dos textos críticos e satíricos de Lima Barreto — especialmente de sua obra Os Bruzundangas e Triste Fim de Policarpo Quaresma — transformada em uma narrativa visual voltada ao público jovem, mas com camadas de reflexão que dialogam com todas as idades.
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Lançamento da HQ Os Heróis da Bruzundanga na Livraria Cultura - 2017 |
Neste universo alternativo, o Brasil é um país próspero, belo e repleto de potencial. Já a Bruzundanga representa o seu oposto: um espelho distorcido do Brasil real, corroído por corrupção, má administração e desvalorização cultural. É nesse cenário que surgem os Heróis da Bruzundanga: personagens que, munidos da força simbólica da Cultura Tupi-Pop, enfrentam inimigos inusitados e provocadores, como Fujoshi, o Exército das Formigas e os Tupi-Rerekoara — uma seita radical canibal que distorce os valores originários.
A HQ é mais do que entretenimento: é uma ferramenta crítica e criativa para discutir o Brasil de forma acessível, satírica e, ao mesmo tempo, esperançosa. Com uma estética original que mistura grafismos indígenas, cultura pop e uma narrativa dinâmica, a série visa reconstruir o imaginário coletivo nacional, oferecendo aos leitores histórias que nunca nos contaram na infância — mas que deveriam ter contado.
A proposta é clara: usar a ficção como força transformadora. Criar um laço entre arte, crítica social e identidade nacional. Os Heróis da Bruzundanga são parte fundamental da costura de um Brasil alternativo e próspero — onde conhecer e amar o país é o primeiro passo para protegê-lo e transformá-lo.
Outros Projetos Associados
Blog A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont (saiba mais) : para inspirar jovens a valorizarem a ciência e a se orgulharem do Brasil por meio de um herói nacional.
Nasceu do desejo de resgatar o orgulho nacional por meio da valorização de um dos maiores gênios que o Brasil já teve: Alberto Santos=Dumont. Muito além de ser o “pai da aviação”, Dumont representa o espírito criativo, visionário e generoso que o brasileiro pode — e deve — cultivar em si mesmo.
O Prêmio Mérito Homem Voa criado por Luiz Pagano em 2016, em Tóquio, e agraciado pelo Insittuto Cultural Santos Dumont (saiba mais) , que celebra brasileiros e estrangeiros que, com suas ideias e ações, elevam a imagem do país e mostram que voar é possível — no sentido literal e no simbólico.
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Luiz Pagano - criado do Prêmio Mérito Homem Voa |
O primeiro homenageado foi a equipe da Revista Agora, da primeira classe da Japan Air Lines, entre eles Yasuyuki Ukita, um descendente de Kōkichi Ukita (浮 田 幸 吉, 1757 - 1847) o premiado foi o neurocientista Miguel Nicolelis, por seu trabalho inovador e humanista que conecta ciência, tecnologia e impacto social.
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Professor Nicolelis recebendo o Prêmio Mérito Homem Voa, das mãos de sobrinhos-bisnetos do Aviador |
O objetivo do blog é claro: estimular jovens a sonhar alto, investir na ciência, se inspirar nos heróis brasileiros e reconstruir o senso de orgulho por nossa história e nosso potencial. Com linguagem acessível e temas que dialogam com tecnologia, cultura e inovação, “A Maravilhosa Vida de Santos Dumont” mostra que o futuro do Brasil pode — e deve — ser grandioso. Basta que a gente reconheça o que já somos capazes de fazer.
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Promover o respeito e a admiração pelas coisas do Brasil — suas culturas, seus biomas, seus povos originários e saberes — é uma tarefa que exige mais do que talento ou boas ideias. É preciso insistência, coragem e, acima de tudo, amor. Projetos como o Cauim Tiakau, a Capivara Parade, os Heróis da Bruzundanga, entre tantos outros que compartilhei aqui, nascem de uma visão artística e de marketing que se propõe a ir além da estética: buscam tocar consciências, reencantar o olhar sobre o que é nosso.
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Capivara Parade - sonho que se realiza nas ruas de Curitiba - Junho de 2016 |
Confesso que muitas vezes é difícil transformar essas ideias em realidade. A distância entre o mundo ideal que carrego na mente e o mundo real é imensa — e por vezes frustrante. Mas sigo acreditando que é possível construir um Brasil mais admirado por seus próprios habitantes, por meio da cultura, da bebida, da arte, do riso e da história contada de um novo jeito.
Se você leu até aqui e algo disso ressoou em você, te peço uma coisa simples, mas poderosa: me ajude a divulgar esse trabalho. Curta, compartilhe, fale sobre ele. Porque só se protege o que se ama — e só se ama o que se conhece. Vamos fazer o Brasil se reconhecer e se respeitar. Juntos.