domingo, 25 de maio de 2025

Blemya a Arte de Acreditar No Brasil



Seria possível mudar a baixa autoestima de uma nação — ou até mesmo reescrever seu destino — por meio da arte, da cultura ou do marketing?

A resposta talvez esteja em nomes que ousaram transformar o mundo com ideias que, no início, pareciam absurdas. Takashi Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão pós-guerra através da estética pop e da crítica embutida no movimento Superflat. Yuval Noah Harari ajudou a humanidade a se enxergar de forma nova com histórias bem contadas sobre o passado e o futuro. Santos=Dumont, ao se elegantemente e trazer o voo para a humanidade não apenas inventou uma máquina — ele inventou uma identidade. Thomas Edison não criou apenas lâmpadas, mas acendeu uma era.

Todos eles sabiam que narrativas mudam civilizações. E é essa mesma convicção que move a Blemya, meu projeto de vida.

Logo da Blemya

A Blemya é arte, é marketing, é cultura de resistência, é tecnologia emocional. É um monstro simbólico que não tem cabeça — porque pensa e sente com o peito. Um símbolo do Brasil que ressurge de si mesmo. Um esforço estético e estratégico para fazer do Tupi-pop uma nova lente para o país se enxergar com mais coragem, humor, dignidade e propósito.
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Luiz Pagano com amigos na exposição de Takashi Murakami em Versailles - Setenmbro de 2010

A primeira vez que vi a arte de Takashi Murakami foi no lugar mais improvável: o Palácio de Versalhes, em agosto de 2010. Era uma mistura entre o universo pop japonês e a opulência barroca do palácio, que me causou, num primeiro momento, um certo desconforto — quase como se fosse uma profanação estética. Mas algo naquela provocação me fisgou. Dias depois, folheando o photobook oficial da exposição, com a assinatura do próprio Murakami na capa ( que acabei comprando), tive uma espécie de epifania. Era como se o universo me enviasse um sinal: o que ele fazia com a cultura japonesa, eu poderia — e deveria — fazer com o Brasil.

Inspirado por Murakami que fez flores brotarem em bombas atômicas, pretendo fermentar o cauim no cuspe da baixa autoestima dos vira-latas.


Murakami criou o movimento Superflat, um estilo artístico que rompe fronteiras entre arte erudita e cultura de massa, influenciado por mangás, animes e pela estética gráfica japonesa. Sua crítica à superficialidade da cultura consumista nipônica não é feita de fora, mas sim a partir de dentro — ele a abraça e a ressignifica. Combinando estética pop, produção em escala (com estúdios operando como fábricas) e colaborações com grandes marcas como a Louis Vuitton, Murakami transformou sua arte em marca, e sua marca em símbolo de identidade cultural.

Essa visão foi o estopim para algo que, no fundo, sempre esteve dentro de mim.

Luiz Pagano com amiga na exposição Tupi Pop - Agosto de 2017

Antes disso tudo, em 2007 criei a Blemya Media Group, que nasceu com uma missão ambiciosa: melhorar o Brasil por meio de duas frentes complementares. A primeira é a criação de melhores condições de vida por meio de inteligência, criatividade e tecnologia, estruturada pelo conceito que chamo de Prospenomics, baseado na minha monografia da faculdade — a economia da prosperidade. A recente onda do Blog abriu esse caminho para mim.

Luiz Pagano pintando em seu estúdio (chamdo de Blemya) - Referências de Murakami e Brecheret servem de código para mudar a autoestima de uma nação.

A segunda é o resgate e a valorização da cultura indígena brasileira, especialmente por meio do Tupi Pop, criando um novo imaginário nacional capaz de dialogar com o mundo com sofisticação e originalidade.


Junto a um grupo de colaboradores improváveis, construímos uma plataforma cultural que conecta ancestralidade com contemporaneidade. Nosso projeto central é o Py’araku, termo em tupi antigo que significa “fazer crescer o Deus interior, de alma quente, com um coração quente” (para referência, a Blemya é um monstrinho fofo que não tem cabeça e, portanto, o coração e o cérebro estão juntos no peito). Py’araku é nossa ferramenta de avaliação e difusão de boas práticas culturais e humanas — uma espécie de “entusiasmo estruturado” para o Brasil, equivalente ao mono no aware japonês ou ao enthousiasmós grego.

Indigenas em Toy Art colecionáveis  - A cada caixa muitas informações e entretenimento. 

Assim como Murakami resgatou o orgulho cultural do Japão em meio ao trauma pós-guerra e à invasão cultural americana, acredito que o Brasil precisa também curar suas feridas internas, usando como código o Tupi de Policarpo Quaresma — especialmente a persistente síndrome de vira-latas, que nos faz admirar apenas o que vem de fora.

Tupi e Brecheret

Outra referência fundamental para mim foi o Tupi de São Paulo — uma presença muito mais viva nos anos 1970, durante minha infância,  do que parece hoje. Explico: lembro com carinho dos passeios com meu pai ao Parque do Ibirapuera. Depois, seguíamos para o Shopping Iguatemi, e ai voltavamos para casa, minha avó assistia a TV Tupi e comíamos mandioca com catupiry. Pode parecer simples, mas ali o Tupi e Brecheret apareciam com naturalidade no meu cotidiano.

Essas referências não estavam em museus distantes, no dia-a-dia, nos nomes, nas paisagens. Por isso, além de Murakami, Brecheret se tornou para mim uma influência obrigatória — ambos me ajudaram a entender que é possível criar uma arte contemporânea com raízes profundas e autênticas.

Foi um grande privilégio e orgulho ter uma das capivaras do Capivara Parade feito com a intervenção de Jaime Lerner (sua equipe), o incrível urbanista que criou, entre outras coisas, o ônibus biarticulado e a capivara biarticulada.

Projetos como a Capivara Parade, em parceria com o Shopping Palladium de Curitiba, e a recriação do cauim através do Tiakau — uma bebida indígena ancestral transformada em símbolo de brasilidade — são expressões práticas desse movimento. São ações que unem arte, cultura, branding e impacto social. São sementes de autoestima plantadas em solo nacional.

Mesmo com recursos limitados, as intenções são grandes. Através da Prospenomics, abrimos caminhos onde arte e identidade nacional caminham juntas, de forma acessível, poderosa e transformadora.

O Mundo é o Que Fazemos Dele

Um amigo me disse, certa vez: “Você já está quase com 60 anos e sua arte não pegou. O cauim não foi pra frente, os Heróis da Bruzundanga venderam de forma pífia, sua estética é considerada ruim, e a única coisa que funcionou — mal — foram as ilustrações da Superinteressante, os poucos quadros vendidos e a Capivara Parade... Desista.” Naquele momento, suas palavras soaram como uma verdade dura e inevitável.

Luiz Pagano no estúdio 'Blemya', pintando sua Capivara para o Capivara Parade de Curtiba - 2016

Mas, com o tempo, percebi que essa visão é limitada. Sim, é natural querermos que nossa arte seja vista, compreendida e acolhida. Talvez a minha não seja agradável aos olhos da estética dominante, nem se encaixe nos moldes atuais do mercado. Mas esse é justamente o preço de andar na contramão — e eu aceito pagá-lo.

Porque, no fundo, eu não faço arte para agradar. Faço para comunicar. Faço para que a mensagem ressoe em quem estiver pronto para ouvi-la. Chris Langan, com sua teoria CTMU, afirma que o universo é uma constante interação entre múltiplas consciências. E a minha consciência — por mais teimosa que pareça — está presa a uma missão clara: traduzir o Brasil profundo por meio do Tupi Pop.

É nisso que acredito. É isso que me move. Porque o mundo não é o que os outros dizem que ele é. O mundo é o que fazemos dele.

Projetos sob o guarda-chuva Py’araku

0. Prospenomics (1988) — Quando Tudo Começou


A semente da Prospenomics foi plantada em 1988, durante minha monografia na UNIFIEO — minha verdadeira alma mater. Digo isso com convicção, mesmo sabendo que muitos torcem o nariz para a instituição, presos à síndrome de vira-latas que insiste em desvalorizar tudo que é brasileiro e fora dos grandes centros consagrados. Mas foi lá que tive a honra de ser orientado pelo Professor Decano Antônio Pacheco Mercier, um dos educadores mais brilhantes e íntegros que já conheci.

A proposta da monografia era ousada: usar a ficção científica como ferramenta para repensar a economia e a administração pública. Inspirado por “Star Trek” e pelos mundos visionários de Júlio Verne, imaginei sistemas prósperos, éticos e sustentáveis — um exercício de futuro aplicado ao presente, que viria a se tornar o embrião da Prospenomics, a “economia da prosperidade” Saiba mais.

A UNIFIEO, afinal, tem uma história que poucos conhecem e muitos ignoram. Foi fundada por Amador Aguiar, criador do Bradesco — um dos maiores bancos do Brasil — e está fincada na cidade de Osasco, berço do primeiro voo motorizado da América Latina, feito por Dimitri Sensaud de Lavaud, verdadeiro gênio pioneiro do século XX. Esses fatos são apagados pela nossa própria falta de autoestima nacional, mas são pedras fundamentais de um Brasil que acredita em si mesmo.

Prospenomics nasce desse espírito: uma resposta criativa e crítica à cultura do fracasso, com o sonho realista de um país que se reinventa com inteligência, arte e coragem.

Logo do Tupi Pop


1. Tupi-Pop (Início dos anos 1990)
Estilo artístico criado por Luiz Pagano para promover o amor ao Brasil, inspirado na forma como os japoneses valorizam sua cultura. A própria font usada tem referências japonesas e tupi.

Conecta elementos indígenas e japoneses como raízes espirituais comuns Saiba mais.

1.1 alfabeto Tupi- Pop

Desde pequeno, lembro-me de um alfabeto estranho que encontrei entre os livros do meu avô. Ele era um tropeiro de Leopoldina, Minas Gerais, e, assim como eu, tinha grande admiração pela cultura brasileira, principalmente tupi.


Decidi adaptar esse alfabeto para a minha arte, já que o alfabeto também desempenha um papel fundamental na autoestima de um povo, como bem observou o rei coreano Sejong.

O rei Sejong mudou profundamente a história coreana com a introdução do alfabeto Hangul. Antes da criação do alfabeto Hangul, apenas membros da classe alta eram alfabetizados. Sabendo que os sacerdotes não permitiriam que o alfabeto sagrado fosse alterado, ele decidiu usar um truque para enganá-los, escreveu com uma substância doce em folhas de pandamus, para que as formigas as comessem em padrões pré-determinados.

Alfabeto Tupi Pop de Luiz Pagano

Ele mostrou as marcas aos sacerdotes e disse-lhes que os deuses haviam enviado um novo sistema de escrita - voilà! Um novo alfabeto, muito mais simples, foi institucionalizado (saiba mais).


2. Blogs – Ame o Brasil (2007)
Plataforma de ativação com base na filosofia Angatú ("de alma boa").

Em "Ame o Brasil", a premissa é simples: para amar é preciso conhecer. Quem conhece cuida; quem ama, cuida. Esse projeto nasceu do desejo de recontar as histórias e lendas que formam o imaginário nacional, preservando nossa identidade e inspirando novas expressões artísticas.

Importante que se diga que não tem nada a ver com a campanha política dos anos 1970.

Na época, utilizamos um novo canal de blogs para dar voz a narrativas esquecidas e redescobrir contos que corriam o risco de se perder no tempo. Um exemplo marcante foi a recontagem da lenda da Gruta da Sununga, em Ubatuba ou a história dos sambaquis—a partir delas, os mistérios e tradições se entrelaçaram com o universo da Toy Art indígena, lançando novos olhares e interpretações sobre nossa cultura.

"Ame o Brasil" é, portanto, um convite: ao mergulhar nessas histórias, o leitor se reconecta com as raízes do país, reconhecendo que, ao conhecer, surge a responsabilidade de cuidar e preservar. Essa reconexão não só fortalece o orgulho nacional, mas também alimenta uma revolução cultural, transformando lendas em arte e, assim, contribuindo para a construção de um Brasil mais consciente, belo e, sobretudo, amado.
Logo da Capivara Parade

3. Capivara Parade (2008), Realizada em (2016) — Arte, Resistência e Solidariedade

A Capivara Parade nasceu quado eu passava de trem pelas águas poluídas do Rio Pinheiros, em São Paulo. A pergunta que surgiu foi: como esses animais conseguem sobreviver nesse ambiente degradado? Essa imagem se tornou um símbolo da resiliência e adaptabilidade da fauna brasileira frente à urbanização desenfreada.

Luiz Pagano na abertura do Capivara Parade de Curitiba - Junho de 2016

Inspirada na Cow Parade de Pascal Knapp, a Capivara Parade foi um dos artigos do blog (Saiba mais), junto com a Lenda da Capivara Paulistana e quadros do memso tema, concebida como uma homenagem à resistência das capivaras nos rios urbanos. A iniciativa ganhou vida em 2016, em Curitiba, por meio de uma parceria entre o Shopping Palladium e o estúdio Fábrica, de William Batista. O projeto contou com a participação de diversos artistas e personalidades, como o urbanista Jaime Lerner, que criou a "Capivara Biarticulada" em alusão ao sistema de transporte coletivo que implementou na cidade, e o humorista Diogo Portugal, que apresentou a "Risoleta", uma capivara comediante. Outros artistas envolvidos incluíram Dani Heining, Di Magalhães, Luiz Pagano, Juarez Fagundes e designers 

A exposição foi composta por oito esculturas de capivaras em fibra de vidro, com 1 metro de altura e 1,5 metro de largura, pintadas e customizadas pelos artistas participantes. Inicialmente exibidas no Shopping Palladium, as obras posteriormente percorreram diversos pontos turísticos de Curitiba, como a Boca Maldita, Praça Santos Andrade, Praça Rui Barbosa, Jardim Botânico, Mercado Municipal e Parque Barigui. 

O projeto teve um caráter beneficente, com o leilão das esculturas revertendo R$23.000,00 para a Campanha do Agasalho de Curitiba, evidenciando o poder transformador da arte aliada à solidariedade. 

A Capivara Parade exemplifica como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para conscientização ambiental e engajamento social, promovendo a valorização da cultura brasileira e incentivando ações em prol de um país mais justo e sustentável.



4. Indígenas e Orixás em Toy Art (2008)

O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" surgiu de uma constatação pessoal: meu filho conseguia nomear quase uma centena de personagens de Pokémon, mas mal reconhecia dez etnias indígenas brasileiras. Essa disparidade evidenciou a necessidade de criar ferramentas lúdicas que aproximassem as crianças da rica diversidade cultural do Brasil.

Indigenas em Toy Art colecionáveis  - A cada caixa muitas informações e entretenimento. 

Inspirado por essa percepção, desenvolvi uma linha de 'toys colecionáveis' (saiba mais) que representassem mais de 240 etnias indígenas, com pesquisa elaborada num trabalho que já dura uma vida, pois desde pequeno pesquiso e desenho essas etinas. 

Tem também os orixás das religiões de matriz africana, personágens como Lampião e lendas como o Saci Pererê - todos na forma de Toy Art. A ideia era simples, mas poderosa: só se protege o que se ama, e só se ama o que se conhece. Ao transformar essas figuras em brinquedos acessíveis e atrativos, buscava-se fomentar o interesse e o respeito pelas culturas originárias do país.

Caixa de Toy Art Ashaninka

O projeto "Indígenas e Orixás em Toy Art" também se insere nesse contexto de resgate e valorização cultural, utilizando o lúdico como meio de educação e conscientização. Ao transformar elementos culturais em brinquedos, busca-se não apenas entreter, mas também educar, promovendo o conhecimento e o respeito pelas diversas culturas que compõem o Brasil.

Essa iniciativa é um passo na construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente de sua diversidade, onde as crianças crescem reconhecendo e valorizando as múltiplas identidades que formam o tecido social brasileiro.

Logo do Projeto Kauin

5. Cauim – Diálogo e Cultura Através da Bebida (2010)

Cultura líquida como ferramenta de transformação

O projeto Cauim nasceu da união entre duas grandes paixões que moldam minha trajetória: o Brasil — com sua complexa trama de culturas originárias — e o universo das bebidas, que carrega em si séculos de história, trocas e civilização. 

Luiz Pagano usando a camiseta do Projeto "Kauin" e  作永ひかる(Hikaru Sakunaga)

O cauim, bebida fermentada ancestral dos povos tupis, foi por muito tempo invisibilizado — tratado como curiosidade antropológica ou folclore exótico. O objetivo aqui é outro: resgatá-lo como ativo contemporâneo, etílico-gastronômico e cultural, com potencial para inaugurar uma nova categoria de bebidas autênticas, ligadas ao território, ao saber indígena e aos biomas brasileiros.

Este projeto não é apenas sobre bebida, é sobre pertencimento e autonomia. Ao estimular a produção do cauim dentro das aldeias — respeitando rituais, ingredientes e conhecimentos locais — buscamos gerar renda, visibilidade e protagonismo para culturas indígenas optantes que desejam se projetar no mercado com sua própria narrativa. É uma forma de ativar uma economia cultural conectada ao passado, mas com os olhos voltados para o futuro.

Lançar uma nova categoria de bebidas é raro. Fazer isso a partir de uma bebida nativa, com raízes tão profundas, é uma oportunidade de reescrever o mercado e, ao mesmo tempo, contribuir para a valorização e a preservação de culturas e ecossistemas inteiros.

Cauim Contemporâneo não é apenas uma bebida: é um convite ao diálogo. É uma ponte líquida entre civilizações.

Logo do Cauim Tiakau

5.1 Tiakau (2016)

Tiakau, que em tupi antigo significa “vamos beber”, é a marca atual que consolida uma trajetória de pesquisa e paixão em torno do cauim — bebida fermentada ancestral dos povos indígenas brasileiros.

Garrafa de Cauim Tiakau - Grandes restaurantes brasileiros como DOM, Mocotó e Banzeiro são obrigados a servir vinhos europeus para harmonizar com pratos brasileiros elaborados - o cauim Tiakau surge como a solução perfeita para esse problema: desenvolvemos um cauim premium, uma bebida sofisticada 100% mandioca e 100% brasileira.

O projeto ganhou forma a partir de experiências práticas que realizei ao lado da Sommeliere de sake Grande amiga 作永ひかる (Hikaru Sakunaga), especialista na fermentação japonesa e na produção de bebidas tradicionais como o sake e o shōchū. Em uma viagem ao Japão, aprofundei meus estudos no método koji kin, buscando compreender como as técnicas milenares japonesas de fermentação poderiam dialogar com a mandioca, ingrediente sagrado dos povos originários brasileiros.

Luiz Pagano e Hildo Sena produziram um lote inical de Cauim Tiakau - 100% Mandioca - Novembro de 2023

Esse intercâmbio cultural e técnico deu origem ao Tiakau, uma bebida que respeita o espírito do cauim tradicional, mas que também inova ao aplicar rigor científico e métodos controlados de fermentação, maturação e envase. O projeto ganhou força com a associação ao engenheiro Hildo Sena, com quem fundei a marca Cauim Tiakau (saiba mais)

Tiakau não é só uma bebida. É uma nova categoria dentro do mercado de bebidas artesanais — com potencial etílico, gastronômico e simbólico. Une duas paixões: o Brasil profundo, com sua riqueza de biomas e tradições, e o mercado de bebidas, com sua capacidade de criar cultura líquida, gerar valor e promover transformações sociais.

Mais do que uma retomada, Tiakau é um convite: vamos beber para celebrar, para lembrar, para reconectar — com a terra, com o sagrado, com a nossa própria história.
Antes se chamava Caraúna (folha parda, alusão ao dinheiro), e evoluiu com o foco na experiência cultural e valorização indígena.

Logo do Projeto Tembiu


6. Tembi’u – Gastronomia em Tupi Antigo (Abril 2015)

O Projeto Tembi’u (que em tupi significa "comida" ou "aquilo que se come") nasceu de uma inquietação comum: como valorizar a riqueza dos ingredientes amazônicos e inseri-los com dignidade e protagonismo na coquetelaria brasileira?

Luiz Pagano e a equipe de mixologistas da Pernod Ricard: Rafael Mariachi, James Guimarães e Alan Souza trouxeram mais de 110 ingredientes da floresta amazônica para o evento da Absolut Flavors, que reuniu Gastronomia e coquetelaria - Projeto Tembiu

Em parceria com a Pernod Ricard Brasil, e com verba institucional da vodka Absolut, reuni-me aos mixologistas Jamesm Guimarães, Alan Souza e Rafael Maricachi em uma expedição criativa e sensorial rumo à Amazônia. Lá, sob a orientação dos irmãos Thiago e Felipe Castanho, chefs do lendário restaurante Remanso do Peixe, de Belém, mergulhamos no território, nos mercados, nas aldeias e nos quintais amazônicos.


Foi uma jornada de pesquisa e escuta — mais do que trazer ingredientes exóticos ao copo, queríamos entender o que eles significavam para os povos da região. O jambu, por exemplo, que hoje aparece em drinks Brasil afora por seu efeito anestésico e sua excentricidade sensorial, foi um dos elementos que resgatamos, junto a tucupi negro, priprioca, bacuri, castanha-do-pará, entre outros.

Esse movimento, pioneiro na coquetelaria nacional, ajudou a romper a lógica de importação de tendências e ingredientes e inaugurou um novo olhar sobre o Brasil como território de inovação — a partir da sua própria biodiversidade e ancestralidade.

Mais do que criar receitas, o Projeto Tembi’u ajudou a lançar uma tendência: a da coquetelaria de pertencimento, onde o copo conta histórias e carrega o gosto de um país complexo, vivo e potente.

Logo dos Heróis da Bruzundanga


7. Heróis da Bruzundanga (HQ)

Os Heróis da Bruzundanga, uma HQ Tupi Pop, é uma releitura dos textos críticos e satíricos de Lima Barreto — especialmente de sua obra Os Bruzundangas e Triste Fim de Policarpo Quaresma — transformada em uma narrativa visual voltada ao público jovem, mas com camadas de reflexão que dialogam com todas as idades.

Lançamento da HQ Os Heróis da Bruzundanga na Livraria Cultura - 2017

Neste universo alternativo, o Brasil é um país próspero, belo e repleto de potencial. Já a Bruzundanga representa o seu oposto: um espelho distorcido do Brasil real, corroído por corrupção, má administração e desvalorização cultural. É nesse cenário que surgem os Heróis da Bruzundanga: personagens que, munidos da força simbólica da Cultura Tupi-Pop, enfrentam inimigos inusitados e provocadores, como Fujoshi, o Exército das Formigas e os Tupi-Rerekoara — uma seita radical canibal que distorce os valores originários.

A HQ é mais do que entretenimento: é uma ferramenta crítica e criativa para discutir o Brasil de forma acessível, satírica e, ao mesmo tempo, esperançosa. Com uma estética original que mistura grafismos indígenas, cultura pop e uma narrativa dinâmica, a série visa reconstruir o imaginário coletivo nacional, oferecendo aos leitores histórias que nunca nos contaram na infância — mas que deveriam ter contado.

A proposta é clara: usar a ficção como força transformadora. Criar um laço entre arte, crítica social e identidade nacional. Os Heróis da Bruzundanga são parte fundamental da costura de um Brasil alternativo e próspero — onde conhecer e amar o país é o primeiro passo para protegê-lo e transformá-lo.

Outros Projetos Associados

Blog A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont (saiba mais) : para inspirar jovens a valorizarem a ciência e a se orgulharem do Brasil por meio de um herói nacional.

Nasceu do desejo de resgatar o orgulho nacional por meio da valorização de um dos maiores gênios que o Brasil já teve: Alberto Santos=Dumont. Muito além de ser o “pai da aviação”, Dumont representa o espírito criativo, visionário e generoso que o brasileiro pode — e deve — cultivar em si mesmo.

O Prêmio Mérito Homem Voa criado por Luiz Pagano em 2016, em Tóquio, e agraciado pelo Insittuto Cultural Santos Dumont (saiba mais) , que celebra brasileiros e estrangeiros que, com suas ideias e ações, elevam a imagem do país e mostram que voar é possível — no sentido literal e no simbólico. 

Luiz Pagano - criado do Prêmio Mérito Homem Voa

O primeiro homenageado foi a equipe da Revista Agora, da primeira classe da Japan Air Lines, entre eles Yasuyuki Ukita, um descendente de Kōkichi Ukita (浮 田 幸 吉, 1757 - 1847) o premiado foi o neurocientista Miguel Nicolelis, por seu trabalho inovador e humanista que conecta ciência, tecnologia e impacto social.

Professor Nicolelis recebendo o Prêmio Mérito Homem Voa, das mãos de sobrinhos-bisnetos do Aviador

O objetivo do blog é claro: estimular jovens a sonhar alto, investir na ciência, se inspirar nos heróis brasileiros e reconstruir o senso de orgulho por nossa história e nosso potencial. Com linguagem acessível e temas que dialogam com tecnologia, cultura e inovação, “A Maravilhosa Vida de Santos Dumont” mostra que o futuro do Brasil pode — e deve — ser grandioso. Basta que a gente reconheça o que já somos capazes de fazer.

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Promover o respeito e a admiração pelas coisas do Brasil — suas culturas, seus biomas, seus povos originários e saberes — é uma tarefa que exige mais do que talento ou boas ideias. É preciso insistência, coragem e, acima de tudo, amor. Projetos como o Cauim Tiakau, a Capivara Parade, os Heróis da Bruzundanga, entre tantos outros que compartilhei aqui, nascem de uma visão artística e de marketing que se propõe a ir além da estética: buscam tocar consciências, reencantar o olhar sobre o que é nosso.

Capivara Parade - sonho que se realiza nas ruas de Curitiba - Junho de 2016

Confesso que muitas vezes é difícil transformar essas ideias em realidade. A distância entre o mundo ideal que carrego na mente e o mundo real é imensa — e por vezes frustrante. Mas sigo acreditando que é possível construir um Brasil mais admirado por seus próprios habitantes, por meio da cultura, da bebida, da arte, do riso e da história contada de um novo jeito.

Se você leu até aqui e algo disso ressoou em você, te peço uma coisa simples, mas poderosa: me ajude a divulgar esse trabalho. Curta, compartilhe, fale sobre ele. Porque só se protege o que se ama — e só se ama o que se conhece. Vamos fazer o Brasil se reconhecer e se respeitar. Juntos.


terça-feira, 6 de maio de 2025

O Parque Indígena do Xingu PIX

 


Para evidenciar a riqueza da nossa cultura ancestral, despertar o interesse dos jovens estudantes e evitar estigmatizar indivíduos, decidi abordar cada etnia por meio da Toy Arts (saiba mais sobre o trabalho das etnias na Toy Art), na qual reproduzi detalhadamente mais de 240 etnias que habitam o território brasileiro, com informações detalhadas sobre cada etnia, respeitando aspectos de sua cultura material, modo de vida, produção de artigos para uso nas aldeias, padrões de pintura corporal (estudada em detalhes para cada etnia) e sua relação com o seu universo coletivo. 

Reproduzo aqui um dos artigos em que falo sobre o Parque Indígena do Xingu.

O Parque Indígena do Xingu, anteriormente Parque Nacional Indígena do Xingu, é uma terra indígena brasileira, considerada a maior e uma das mais famosas reservas do gênero no mundo. Criado em 1961 pelo então presidente brasileiro Jânio Quadros, foi a primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Seus principais idealizadores foram os irmãos Villas Bôas, mas quem redigiu o projeto foi o antropólogo e então funcionário do Serviço de Proteção ao Índio, Darcy Ribeiro.

Com uma área de 2.642.003 hectares, o Parque está situado no norte do estado de Mato Grosso, numa zona de transição entre os biomas de cerrado e amazônico. A região, toda ela plana, é caracterizada pela predominância de matas altas entremeadas de cerrados e campos, sendo cortada pelos formadores do Rio Xingu e por seus primeiros afluentes da direita e da esquerda. Os cursos formadores são os rios Kuluene, Tanguro, Kurisevo e Ronuro - o Kuluene assume o nome de Xingu a partir da desembocadura do Ronuro, no local conhecido pelos indígenas como Mÿrená (Morená). Os afluentes são os rios Suiá Miçu, Maritsauá Miçu, Auaiá Miçu, Uaiá Miçu e o Jarina, próximo da cachoeira de Von Martius.

O Parque Indígena do Xingu é considerado a maior e uma das mais famosas reservas do gênero no mundo. Criado em 1961, durante o governo de Jânio Quadros, foi resultado de vários anos de trabalho e luta política, envolvendo os irmãos Villas-Bôas, ao lado de personalidades como o Marechal Rondon, Darcy Ribeiro, Noel Nutels, Café Filho e muitos outros

Historia

A história do Parque Nacional do Alto Xingu remonta à à pré-história da região até a chegada dos europeus e além. Entre os anos 800 e 1400, os ancestrais dos atuais Aruak xinguanos estabeleceram-se na área, evidenciados por cerâmicas características e aldeias circulares. Durante os séculos seguintes, surgiram grandes aldeias fortificadas, indicando uma população densa e organizada. No entanto, a presença europeia trouxe mudanças, incluindo incursões bandeirantes e confrontos, até a primeira visita documentada de Karl von den Steinen em 1884. Esse período também testemunhou a chegada de outros grupos étnicos, como os Tupi Kamayurá e Aweti, consolidando a diversidade étnica no Alto Xingu.

Após as expedições iniciais de Karl von den Steinen, a região do Alto Xingu passou por uma série de transformações com a chegada de outros pesquisadores e exploradores, que trouxeram consigo não apenas conhecimento, mas também influências e impactos significativos para os povos indígenas da região. No entanto, foi a partir da década de 1940 que a presença dos irmãos Villas Bôas marcou uma nova era na história do Parque Indígena do Xingu.

A Fundação Brasil Central (FBC), liderada pelos irmãos Villas Bôas, desempenhou um papel fundamental na proteção e promoção dos interesses dos povos do Xingu. Em contraste com outras regiões do Brasil, onde a presença indígena muitas vezes era vista como um obstáculo ao progresso, os Villas Bôas reconheceram a importância de preservar a cultura e os modos de vida dos habitantes do Parque.

Orlando Villas Bôas, em particular, assumiu a direção da FBC e implementou uma série de políticas destinadas a garantir a integridade e autonomia das comunidades indígenas. Uma das iniciativas mais importantes foi o estabelecimento de um programa de assistência médica em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que continua até os dias atuais. Esse programa não apenas proporcionou cuidados de saúde essenciais, mas também ajudou a fortalecer os laços de confiança entre os índios e os agentes da FBC.

Além disso, os Villas Bôas lideraram esforços para demarcar as terras indígenas e proteger o Parque contra as ameaças externas, como a exploração madeireira, a mineração e a expansão agrícola. Suas ações foram guiadas por uma visão de que os povos do Xingu representavam "índios de cultura pura" e que seu modo de vida deveria ser preservado a todo custo.

No entanto, a abordagem paternalista dos Villas Bôas também gerou controvérsias, especialmente em relação à transferência de alguns povos para o Parque, como os Kaiabi, Ikpeng, Tapayuna e Panará. Embora essas ações tenham sido tomadas com a intenção de proteger as comunidades indígenas, alguns críticos argumentaram que elas limitaram a autonomia e liberdade dos próprios índios.

Apesar das críticas, a gestão da FBC sob os Villas Bôas conseguiu criar um ambiente relativamente isolado para os povos do Xingu, protegendo-os das influências externas que poderiam comprometer sua cultura e modos de vida tradicionais. Ao mesmo tempo, promoveu uma nova postura de respeito e valorização das comunidades indígenas por parte da sociedade nacional e internacional.

As Etnias que Vivem no Xingu

Entre os anos 1400 e 1600, surgiram grandes aldeias fortificadas, indicando uma densa população e influências de outras culturas. A presença europeia e as incursões bandeirantes a partir de 1750 marcaram um período de desafios e mudanças para as comunidades indígenas.

Grupos Maiores

EtniaPopulaçãoGrupo LinguísticoObs
Aweti195Tupi-Gaurani
Ikpeng459Karibconhecidos como Txikão
Kalapalo855Karib
Kamaiurá467Tupi-Gaurani
Kawaieté (Kaiabi)1193Tupi-Gaurani
Kisedjê (Suya) 330
Kuikuro653Karib
Yudjá (Juruna)348Juruna
Mehinako254Arauak
Yawalapití156Arauak
Waurá409Arauak
Grupos Menores e Kayapó

Matipu149Karib
Nafukuá126Karib
Trumai97Trumai
Tapayuna60Tapayuna
Naruvôtu69Karib
Kayapó 6365Kayapô*não faz parte do parque do Xingu
Ao longo dos anos, as etnias do Xingu mantiveram suas tradições, enfrentaram desafios e adaptaram-se às mudanças, preservando sua identidade e contribuindo para a diversidade cultural do Brasil.

Vamos dar uma olhada mais detalhada nas 16 etnias que habitam o Parque Indígena do Xingu e seu contexto:


1- Kayapó, Começando pelo norte do Parque, a etnia que melhor representa o parque, más que ironicamente não está dentro das limitações do mesmo, principalmente por sua mais forte liderança, é a dos Kayapo, cuja o principal representante Metyktire é o cacique Raoni.

Mesmo que a Terra Indígena Kayapó não faça parte do Parque Indígena do Xingu, sua localização na fronteira norte do parque, no estado do Pará, tem grande importância para a reserva indígena. A Terra Indígena Kayapó abrange uma área significativa onde vivem diversas comunidades da etnia Kayapó, incluindo as divisões Metyktire, Kremoro e outras.

Embora não faça parte do Parque Indígena do Xingu, a Terra Indígena Kayapó compartilha muitas semelhanças culturais e históricas com as comunidades que habitam o Xingu. Ambas as regiões são importantes para a preservação da cultura indígena e para a conservação da biodiversidade amazônica.

Falantes do idioma pertencente ao grupo linguístico Jê, os Kayapó estavam divididos em três grandes grupos, os Irã'ãmranh-re ("os que passeiam nas planícies"), os Goroti Kumrenhtx ("os homens do verdadeiro grande grupo") e os Porekry ("os homens dos pequenos bambus"). Destes, descendem os sete subgrupos kayapó atuais: Gorotire, Kuben-Krân-Krên, Kôkraimôrô, Kararaô, Mekrãgnoti, Metyktire e Xikrin, que habitam o norte do Parque Indígena do Xingu:

Metyktire: Esta divisão dos Kayapó é uma das mais conhecidas e estudadas. Localizada no norte do Parque Indígena do Xingu, Metyktire é uma das aldeias mais importantes e influentes da região. Os Metyktire mantêm uma forte identidade cultural e são conhecidos por sua habilidade em artesanato, como a produção de cestaria e objetos de madeira entalhada. Sua liderança tem desempenhado um papel significativo na defesa dos direitos indígenas e na preservação ambiental.

Kremoro: Outra divisão dos Kayapó que habita o norte do Xingu é Kremoro. Embora talvez não seja tão proeminente quanto Metyktire, Kremoro ainda desempenha um papel importante na comunidade Kayapó. Eles compartilham muitas das tradições e práticas culturais dos Metyktire, mas também têm suas próprias nuances e identidade única dentro do grupo Kayapó.

Xikrin: Os Xikrin, também conhecidos como Kayapó do Cateté, são uma divisão dos Kayapó que habita a região nordeste do Parque Indígena do Xingu, na Terra Indígena Trincheira Bacajá. Eles têm uma história rica e uma cultura vibrante, conhecida por sua cerâmica tradicional e suas habilidades na produção de artesanato. Os Xikrin também são ativos na defesa de seus direitos territoriais e na luta pela preservação ambiental.

Cada uma dessas divisões dos Kayapó contribui para a diversidade cultural e étnica do Parque Indígena do Xingu, desempenhando papéis únicos na comunidade e na preservação da identidade cultural e dos direitos indígenas.
 

2-Kalapalo: Os Kalapalo também viram flutuações em sua população ao longo dos anos. Originários da região, eles mantiveram uma presença significativa no Xingu, enfrentando desafios como epidemias e conflitos, mas também contribuindo para a diversidade cultural da área.


3-Kamaiurá: Com uma história que remonta ao século XIX, em 1946 passam a ter contatos regulares com os membros da expedição Roncador-Xingu, liderada pelos irmãos Villas-Bôas. Finalmente, em 1961, o território que habitam converte-se e Parque Nacional, hoje subordinado à Funai (Fundação Nacional do Índio).

A Casa Antropomorfa Kamayurá

Uma estrutura bem conhecida no Parque do Xingu é a casa antropomorfa Kamayurá é mais do que apenas uma estrutura física; é um símbolo vivo da cultura e tradição profundamente enraizadas dos Kamayurás e Yawalapitis. Sua construção não apenas proporciona abrigo, mas também fortalece os laços comunitários e transmite conhecimento ancestral de geração em geração.


Enquanto os homens trabalham na construção física da oca, as mulheres desempenham um papel igualmente importante na preparação dos alimentos e no apoio logístico. Essa divisão de trabalho não apenas demonstra a complementaridade de papéis de gênero na sociedade Kamayurá, mas também destaca a interdependência e cooperação entre os membros da comunidade.

Além de ser um local de convívio e celebração, a Casa Antropomorfa Kamayurá serve como palco para rituais, cantos e danças sagradas que conectam os Kamayurás com seus ancestrais e o cosmos. Sob o céu estrelado, esses povos compartilham histórias, ensinamentos e memórias.


4-Kuikuro: Com sua população sofrendo altos e baixos ao longo dos anos. Os Kuikuro habitavam, em 2004, três aldeias. A aldeia principal e maior era Ipatse, pouco distante da margem esquerda do médio Culuene, onde viviam mais de 300 pessoas. Em 1997, surgiu a aldeia de Ahukugi, na margem direita do Culuene, rio acima de Ipatse, com cerca de 100 pessoas. Em seguida, formou-se uma terceira aldeia no local da antiga Lahatuá, com um grupo familiar de uma dezena de pessoas.Sua presença na região contribui para a diversidade cultural e para a compreensão da história e dos desafios enfrentados pelas comunidades indígenas.


5-Matipu: Originários da região, os Matipu são conhecidos no parque pelos gritos matinais dos homens, uma característica marcante de sua cultura O contato com a sociedade não indígena e esforços de preservação cultural estão intimamente ligados à sua história e a do Parque Indígena do Xingu.


6-Mehinako: Até onde se tem conhecimento, os Mehinako sempre viveram na bacia do Xingu, na região dos rios Tuatuari e Kurisevo. A primeira aldeia de que se tem registro é Yulutakitsi, que deve ter sido habitada há 150 anos ou mais em localidade incerta, enfrentando desafios semelhantes aos de outras etnias da região. Sua história e cultura são uma parte importante do tecido cultural do Parque.


7-Nahukwá: Com uma história que remonta ao século XIX, os Nahukuá compõem o mais diminuto dos grupos que integram a área cultural conhecida como Alto Xingu, sua presença no Xingu contribui para a diversidade cultural e para a compreensão da história da região. Quando Karl von den Steinen esteve nessa área, em 1884 e 1887, os Nahukuá-Kalapalo-Kuikuro, então reconhecidos como um único povo, eram um dos grupos mais numerosos e estavam distribuídos em nove aldeias. Paul Ehrenreich, que acompanhou Von den Steinen em sua segunda expedição, afirma que uma aldeia nahukuá localizava-se no rio Kurisevo e que, nessa mesma época, seis ou oito aldeias mais se distribuíam ao longo do rio Kuluene.


8-Trumai: Os Trumai são considerados o último grupo a ter chegado na área dos formadores do Rio Xingu, tendo atingido a região na primeira metade do século XIX. A língua Trumai é considerada isolada, isto é, não apresenta parentesco genético com nenhuma outra língua do Xingu, nem com outras famílias lingüísticas brasileiras. A situação atual do Trumai é um pouco sensível, pois não há muitos falantes. A maioria das crianças já fala o Português como primeira língua; algumas delas também dominam outras línguas xinguanas, como o Kamayurá, o Aweti ou o Suyá.


9-Waurá ou Wauja: Os Waurá são notórios pela singularidade de sua cerâmica, o grafismo de seus cestos, sua arte plumária e máscaras rituais. Além da riqueza de sua cultura material, esse povo possui uma complexa e fascinante mito-cosmologia, na qual os vínculos entre os animais, as coisas, os humanos e os seres extra-humanos permeiam sua concepção de mundo e são cruciais nas práticas de xamanismo.

Desde os tempos primordiais, quando a escuridão envolvia o mundo, os Waurás acreditavam na existência de seres antropomorfos ou zooantropomorfos, conhecidos como yerupoho, que habitavam a superfície da terra juntamente com os humanos. Esses seres eram dotados de uma ambiguidade que os tornava simultaneamente gente e animal, artefato ou fenômeno natural.

A chegada iminente do sol representava uma ameaça para os yerupoho, que se lançaram em frenética atividade para se proteger, criando indumentárias e máscaras para se transformarem em apapaatai, seres sobrenaturais invisíveis e visíveis. Aqueles que conseguiram vestir suas indumentárias a tempo tornaram-se apapaatai visíveis, enquanto os que ficaram "nus" foram transformados em apapaatai iyajo, seres perigosos que representavam uma ameaça para os humanos.


A ontologia (área da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da realidade) dos Waurás abrange três macrocategorias de seres: os iyãu (seres humanos), os mona (animais, plantas e artefatos) e os kumã (monstros). Os kumã são dotados de uma natureza extraordinária e podem ser tanto apapaatai quanto yerupoho. A relação entre esses seres é complexa e baseia-se na noção de "roupa" (nai), que permite aos yerupoho se transformarem em apapaatai através de uma variedade de formas animais, vegetais ou minerais.

Essa relação tríadica entre yerupoho, apapaatai e os seres do mundo natural constitui a base da cosmografia waurá, onde cada ser é percebido como co-extensivo, compartilhando uma mesma alma (paapitsi). Essa co-extensão implica que os perigos dos seres sobrenaturais também estão presentes na dimensão visível dos seres do mundo natural, criando uma fronteira tênue entre o ordinário e o extraordinário, o visível e o invisível.


10-Yawalapiti: Yawalapiti significa "aldeia dos tucuns", a localização mais antiga de que se recordam e está situada entre o Posto Diauarum e o travessão Morená (sítio próximo à confluência dos rios Kuluene e Batovi). 

Os Yawalapiti são reconhecidos pelos seu incríveis instrumentos musicais, associados a rituais e festas, dentre estas incluem a flauta Uruá, tocada somente por homens, sendo-lhe atribuído o poder de afastar os maus espíritos antes do Kuarup, com cerca de dois metros, feita de bambu, composta por dois tubos sem furos atados de tamanhos diferentes, soprados de forma alternada.


Além dos instrumentos de sopro, os Yawalapiti também utilizam uma variedade de instrumentos de percussão, que dentro do parque tem vários nomes, dependendo da etnia que os usa. É o caso do uay (ou oapy ou uapi), um tambor típico e os classícos mbarakás nome tupi para as marácas, que ganham outras versões em idiomas diferentes, como o mutomburé, o cutõe e o cotecá. E por fim os isntrumentos de percussão, como o Ngo-Kon, a maraca ou chocalho dos Kayapo-Xikrin.

Ritual do Pomeri, home com o rosto coberto por resina e penas de aves

11-Ikpeng: Vieram para a região do Xingu ainda no século XX, quando guerreavam com os habitantes locais. O contato com o homem branco se deu no início da década de 60, e teve conseqüências desastrosas para sua população, que foi reduzida em menos da metade em razão de doenças e assassintos.

O ritual do Pomeri é a principal festa de iniciação masculina, uma festa marcada pela tatuagem dos rostos dos meninos, e seu significado e práticas ritualísticas são fundamentais para a cultura e a cosmologia desse povo.

Durante o ritual do Pomeri, os meninos Ikpeng têm seus rostos tatuados como parte do processo de iniciação na vida adulta. O ritual começa com várias sessões de dança e é seguido por uma grande caçada, na qual os pais das crianças participam como donos da festa. Após aproximadamente um mês, um mensageiro retorna à aldeia anunciando o retorno dos caçadores. No dia seguinte, durante uma sessão de danças ao som de flautas e canto do cacique, os caçadores retornam com uma grande quantidade de caça, especialmente macacos.

Durante o ritual, os participantes revestem seus corpos com resina de madeira e penas de aves, realizam danças e consomem alimentos como mingau de perereba doce. Na última manhã da festa, as crianças são tatuadas. Incisões são feitas nos rostos das crianças com espinhos de tucum, e carvão é aplicado nas incisões, resultando na tatuagem.

Além do ritual do Pomeri, os Ikpeng também adotaram outras festas e práticas rituais do Alto Xingu, como o Tawarawanã e o Yamurikumã. Esses rituais são importantes para a identidade cultural e espiritual dos Ikpeng, refletindo suas crenças, valores e modo de vida.

A confusão entre humano e animal durante o ritual, como representado pelas máscaras de polpa de bambu que os dançadores usam para cegar a si mesmos, é uma característica importante da cosmologia Ikpeng. Isso reflete sua concepção complexa de identidade e sua compreensão da relação entre humanos e o mundo natural ao seu redor.



12-Kaiabi (ou Kawaieté) - A origem do nome Kaiabi perde-se no tempo e hoje os próprios índios não sabem dizer de onde surgiu e qual seu significado. É provável que seja a forma pela qual os Apiaká ou os Bakairi, que representam as primeiras fontes de informação sobre os Kaiabi no século XIX, a eles se referiam. Certamente não se trata de auto-denominação do grupo. Georg Grünberg, um etnógrafo que pesquisou os Kaiabi nos anos 60, sugere que a auto-denominação seja o termo iputunuun, que significa algo como "o nosso pessoal".

Ficaram conhecidos pelo incidente em 1983, no qual para reivindicar melhor atendimento da Funai eles interceptaram um avião no Posto Diauarum, localizado no Baixo Xingu, os Kawaieté têm uma história longa na região, enfrentando desafios como a pressão de frentes de expansão econômica ao longo dos anos. Sua presença no Xingu contribui para a diversidade cultural e para a compreensão da história do Parque.


13-Yudjá: Os Yudjá têm uma história marcada por sua habilidade como canoeiros, ameaçada por projetos de implantação de complexos hidrelétricos na região, preservam seu idioma natural, pertencente ao tronco Tupi-Guarani e nem todos os homens com mais de 50 anos dominam o português e talvez apenas a metade das mulheres adultas tenha dele uma compreensão razoável.

O nome Juruna ou Yudjá sediferem dos dois outros nomes par os humanos,  os Abi “Índios”, em idioma juruna incluem todos os povos indígenas que nem são falantes do juruna, e os Karaí, homens brancos.

Membro da etnia Kisêdjê vestido para celebrar a festa do rato - Amtô

14-Suyá: Os Suyá ou Kisêdjê são os únicos representantes do grupo linguistico Jê no PIX, desde sua chegada na região, provavelmente na segunda metade do século XIX, seu contato com outros povos xinguanos e, principalmente, com aqueles da chamada área cultural do Alto Xingu, ocasionou a incorporação de muitos costumes e tecnologias alheias. 

Más nunca abriram mão da sua singularidade cultural, cujo principal emblema pode ser reconhecido num estilo particular de canto ritual, expressão máxima das individualidades e do modo de ser da sociedade Kisêdjê. Até algumas décadas atrás, outro marco diferencial do grupo eram os grandes discos labiais e auriculares que, mais do que ornamentos, apontavam a importância do cantar e do ouvir para esse povo.


15-Aweti: Também conhecidos conhecidos como “Auetö”, tradicionalmente, exercem um importante papel entre os povos alto-xinguanos como intermediários na circulação de notícias ou bens e como anfitriões para os viajantes, mas a perda populacional catastrófica sofrida nas primeiras décadas do século XX, que quase resultou no seu desaparecimento como grupo, fez com que sua presença na área se tornasse menos visível. 

Certamente, os Aweti constituem o povo menos conhecido do Alto Xingu, e o mesmo vale para sua língua, com a recuperação populacional, no entanto, os Aweti retomam muito da vida cultural tradicional e têm procurado marcar presença na atual sociedade alto-xinguana.


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