Consciência Insular Noronhense para salvar o planeta |
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Hoje temos plena consciência de que muitas atitudes da população humana tornaram-se patogênicas em relação a nossa sobrevivência e bem-estar ( patogênico - literalmente significa aquele que causa sofrimento” πάθος pathos “sofrimento, paixão” e -γενής – genēs “causador”), tanto no que diz respeito as relações interpessoais quanto ao cuidado com nosso próprio planeta. A população humana cresceu indiscriminadamente, estamos constantemente destruindo o ambiente no qual evoluímos, ocupamos e dominamos todos os principais ecossistemas, expulsando outras formas de vidas de lá. Em resumo, não somos mais um bando de primatas inconsequentes e errantes nos pastos da África Oriental como éramos a três milhões de anos atrás.
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É bem sabido que os ilhéus tendem a usar de forma consciente os escassos recursos, colaborarem mutuamente e estabelecerem uma relação de respeito e harmonia com a comunidade – caso contrario – eles mesmos põem sua própria sobrevivência em risco.
A esperança que vem dessa pequena ilha no litoral do Brasil. Reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial Natural, Fernando de Noronha, à 390km da costa brasileira, tem muito a ensinar sobre civilização ao Brasil e ao resto do mundo.
Essa condição de isolamento não só determina as peculiaridades quanto à fauna, à flora e aos ecossistemas, como também às pessoas que lá vivem. Diferenciando-os de tudo que ocorre no continente, todo este processo e todas as inter-relações no Arquipélago estão sustentados por um frágil equilíbrio que, quando exposto a uma mais leve intervenção, pode ser quebrado. Agora começamos a entender que em escala global, o planeta Terra tem a mesma fragilidade de tal ilha, com a diferença que caso a terra se deteriore, ainda não temos outro lugar para onde fugir.
“Esse cuidado todo é fácil de ser tomado pois trata-se de uma ilha, quero ver fazer isso no resto do Brasil”.
Golfinho-rotador (Stenella longirostris) seguindo nossa embarcação |
Antigamente eu saia por ai dizendo “não existe nenhuma cidade brasileira que não tenha esgoto a céu aberto, sem tratamento”. Felizmente esta ilha formidável me reservou uma outra boa surpresa.
O Noronhense é tão brasileiro quanto qualquer um de nós, ele só tem a chamada “consciência insular”, que paradoxalmente nos leva a melhor viver em comunidade, de forma a melhor gerir o frágil equilíbrio planetário.
A seguir, destaco algumas das iniciativas que advêm da consciência insular.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Projeto Navi - lente de 3m x 2m , que possibilita a visão submarina |
O Noronhense aprende sobre ecologia desde pequeno, em casa e na escola, já o turista pode contar com o Projeto Navi, que tem o objetivo de fazer o "Turismo de Expedição Científica", unindo a diversão com informação. A hidronave é um barco com tecnologia militar russa, desenvolvida no período da Guerra Fria. O Navi foi fabricado na cidade de Yaroslav, e conta com uma lente de 3m x 2m , que possibilita a visão submarina. Já foram realizadas mais de 500 expedições, e na grande maioria, os turistas avistaram diversos peixes e até golfinhos.
Um instrutor certificado trabalha como guia da expedição, descrevendo cientificamente o ambiente submarino e explicando o delicado equilíbrio ecológico da região.
ENERGIA
Desde 1989 a Usina Termoelétrica Tubarão, administrada pela CELPE, fornece energia a partir de geradores a diesel (nada ecológico), mas recentemente a Universidade Federal de Pernambuco, em convênio com o governo da Dinamarca, iniciou a implantação de turbinas eólicas, reduzindo na sua primeira fase em 10% do consumo de 80.000 litros/mês de diesel.
Num outro impulso verde, foi inaugurada em 2012 a primeira usina solar fotovoltaica do arquipélago, situada no Comando da Aeronáutica, em um terreno de 5.000 m², a Usina Solar Noronha I tem potência instalada de 400 kWp (quilowatt-pico), o que resulta na geração estimada de 600 MWh/ano, cerca de 4% do consumo da ilha.
A previsão é de que até 2018 a ilha será abastecida 100% com energia solar e eólica.
Coral de Fogo - Millepora alcicornis avistado através da enorme lente do Navi |
ICMBIO
O arquipélago de Fernando de Noronha é formado por 21 ilhas, ilhotas e rochedos. A maior delas virou território do Parque Nacional Fernando de Noronha, sob responsabilidade do ICMBio (O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) uma autarquia brasileira vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e integrada ao Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).
O IBAMA
Luiz Pagano na Hidronave - Fernando de Noronha |
IBAMA (INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS) teve preocupação especial com os pescadores, dando atividades alternativas ou viabilizando a pesca não-predatória, de forma que eles não sentissem o impacto do projeto de preservação de forma drástica. Na realidade, uma vez que a preservação de certas áreas começa, o número de animais marinhos tende a subir, o que só beneficia a pesca de qualidade sem destruição ambiental. O pescador passou a ver a importância de preservar no seu próprio bolso.
Conforto e Educação Ambiental em Fernando de Noronha |
TAXA DE PERMANÊNCIA
Um preço salgado para os moldes brasileiros, mas que é absolutamente necessária para a boa manutenção desse sistema de desenvolvimento sustentado. O número limitado de visitantes em Noronha também traz benefícios: fica mais fácil gerenciar problemas típicos humanos, como consumo de água e eletricidade, geração de lixo, e também permite um certo “isolamento” que dá ao turista em alguns recantos aquela sensação libertadora de ilha deserta.
MABUIAS E CAFUÇUS DO MUNDO
Todo aquele que pisa na ilha passa por um curioso processo de reeducação, semelhante a desintoxicação que um ex-fumante percebe nos dias decorrentes de sua decisão de largar o cigarro. Os benefícios aparecem evidentemente fortes no primeiro dia, são muito perceptíveis uma semana depois e para aqueles que tomam a decisão de se tornarem Mabuias ♀ e Cafuçus ♂ (apelido carinhoso pelo qual os ilhéus chamam as mulheres e os homens que decidem habitar na ilha) o período de dez anos é crucial, tanto do ponto de vista das adaptações mentais necessárias para se adequar as realidades da ilha, quanto para conseguir o direito legal de habita-la.
Embora seja impossível demonstrar a real importância dessa “consciência insular” sem jamais ter estado em Fernando de Noronha, eu os convido a serem um pouco mais Cafuçus e Mabuias, e a tratarem nosso mundo como uma ilha sem continente próximo, com frágeis conexões ecológicas, dignas de muito cuidado, carinho e respeito.
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