Casulos habitacionais em uma samaumeira centenária - Amazônia High-Tech. Temos que nos tornar cada vez mais YANOMAMI THËPË sermos cada vez menos NAPË. |
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Recentemente Davi Kopenawa da etnia Ianomâmi, que tem sido chamado de ‘Dalai Lama da Floresta’, acompanhado por Fiona Watson, Diretora de Pesquisa da ONG Survival International, e especialista mundial em tribos isoladas. deram entrevistas para a imprensa americana e várias palestras em e ao redor de San Francisco, falando sobre o incansável trabalho para proteger a terra de sua tribo na Amazônia, e de como essa experiência pode se aplicar para o mundo.
Não é de hoje que a floresta amazônica tem sido reconhecida como um repositório de serviços ecológicos, não só para as tribos e as comunidades locais, mas também para o resto do mundo. É também a única floresta que nos sobra em termos de tamanho e a diversidade.
Sua continua queima e o aquecimento global se agravam, a saúde das florestas tropicais está intimamente relacionada à saúde do resto do mundo e o impacto do desmatamento na Amazônia continua a desfazer gradualmente os frágeis processos ecológicos que foram refinados ao longo de milhões de anos.
A solução para essa questão de como encontrar o equilíbrio necessário para a sobrevivência da floresta e conseqüentemente do planeta, não pode ser encontrado na ciência em si, mas sim na ciência aliada a questões filosóficas de povos locais, como os Ianomâmis.
Para os Ianomâmi o mundo é dividido em dois grupos de indivíduos, a dos YANOMAMI THËPË (seres humanos, gente) e a dos NAPË (nos, homens brancos, os inimigos os ‘ferozes’) |
Os ianomâmis já foram tidos como um povo ‘feroz’ na sensacionalista e atrasada obra Yanomamö: The Fierce People (Yanomamö: O Povo Feroz), de antropólogo americano Napoleon Chagnon, que os descreve como “manhosos, agressivos, e intimidadores” e até hoje é tida como a bíblia do recém graduado de antropologia, levando o resto do mundo a idéias cada vez mais preconceituosas.
O bom é que isso vem mudando com o tempo, e passamos a ouvir cada vez mais a sabedoria do povo da floresta - do ponto de vista Ianomâmi o mundo é dividido em dois grupos de indivíduos, a dos YANOMAMI THËPË (seres humanos, gente) e a dos NAPË (nos, homens brancos, os inimigos os ‘ferozes’).
A floresta não se queima por si só e os rios não se auto-poluem, são os NAPË que o fazem.
A poluição de rios é reflexo de uma postura ativa dos NAPË, se deixarmos de jogar poluentes nos rios Tiete e Pinheiros no perímetro urbano, por exemplo, teríamos os rios limpos em questão de semanas. De fato, nós os NAPË somos proativos em poluir e devastar, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente.
Se perguntarmos a um índio Ianomâmi, o que ele acha do homem branco - NAPË, acabamos por ter vergonha de sua resposta.
De acordo com os índios Ianomâmis, o NAPË, não pensa em nada, não ama a terra, não ama a floresta, tem uma visão egoísta, inconseqüente e de curto prazo. Os conceitos dos Ianomâmis parecem ser muito mais elevados e muitas vezes de difícil concepção para nossa cultura, por isso resolvi classificá-los em grupos:
O conceito de ‘ser vivo’
O ‘ser vivo’ dos Ianomâmis é o que tratamos como ‘gente’, expresso como YANOMAMI THËPË.
O NAPË (homem branco) parece se importar apenas com ele mesmo e em nível secundário, com seus familiares diretos. Esse sentimento tende a diminuir com seus vizinhos e familiares distantes e são quase inexistentes para as outras pessoas do mundo, mas o lado positivo é que ele adota animais de estimação e isso parece ser um pequeno indicio de amor a outros ‘seres vivos’ que não pertença a classificação de Homo sapiens .
Os Ianomâmis são capazes de dialogar com tudo e com todos ao seu redor. |
É muito comum ver índias amamentando seu bebe em um dos seios e um macaco, ou outro animal no outro, cena que causa incompreensão e repulsa ao homem branco que a presencia pela primeira vez. Para os índios esses animaizinhos também são ‘gente’ e tem direito ao leite materno, que não é da mulher mas sim da natureza.
Toy Art Yanomami |
O homem branco se considera único e diferente dos outros seres ao seu redor, - Os NAPË vivem sob o conceito de ‘silêncio dos espaços infinitos de Blaise Paschoal’, estamos sozinhos, em um monologo. Os Ianomâmis não, eles são capazes de dialogar com tudo e com todos ao seu redor.
Para eles, quase tudo é ‘ser vivo’, ou ‘gente’ – o animal é gente, a planta é gente e até mesmo alguns artefatos também são tidos como gente, e essa ‘gente’ toda jamais deveria ser incomodada, e muito menos ofendida.
Para os Ianomâmis, ninguém gosta de ser ofendido e cada vez que isso acontece, o ofendido se manifesta contra o ofensor.
Dessa forma, surgem algumas conseqüências e indagações, tais como:
- O que acontece se matamos um animal para comer? – matar um ser vivo é uma ofensa muito grave, mesmo que este tenha o titulo de YARO (animais de caça). isso não os impede de matar os YARO, mesmo conscientes de que sua morte terá conseqüências.
Eles pensam, “ao matarmos esses seres, aguarde pela reação que pode se manifestar de diversas formas, pode ser pequena indigestão, ou até mesmo na forma do ataque de outros animais do grupo, por exemplo de onças, parceiras do animal morto.
O conceito de ‘propriedade’
Nós não temos terra, a terra é que nos tem. A propriedade aos bens físicos é intangível posto que nossa matéria é perecível. Tais posses podem levar ao sofrimento (tal como no budismo).
- a Amazônia é importante pois dela vem o conhecimento que devemos ter para superarmos a crise civilizatória, de degradação do ambiente.
O conceito de ‘Evolução’
Os NAPË estão num estado de evolução inferior aos YANOMAMI THËPË (os próprios ianomâmis), porem existem seres mais evoluídos, como os YAI, seres da floresta isentos de nome.
É nessa hora que o leitor fica indignado - como eles podem nos achar mais atrasados que eles?
Existem diversas formas de nos fazer ver o quão pouco evoluídos somos em comparação, por exemplo a questão do lixo.
Na natureza, o lixo de qualquer ser vivo se incorpora como utilidade para outro ser vivo (eg. as fezes de mamíferos viram fertilizantes para plantas, o oxigênio expurgado pela arvore vira o ar que respiramos, etc.). Nós os NAPË, produzimos uma enorme quantidade de lixo que mais prejudica do que ajuda outros seres vivos.
A relação dos YAI com os YANOMAMI THËPË e com os NAPË é a mesma que nos, homens brancos, temos com as amebas.
O homem tem percepção de 4 dimensões, capacidade de raciocinar sobre os acontecimentos ao seu redor, lê livros, constrói pontes e observa as amebas no microscópio. As amebas por sua vez vivem num mundo muito mais limitado, tem diminuta capacidade de percepção que as possibilitam apenas comer formas vivas ao seu redor, não são capazes de ler nem, muito menos de construir pontes.
Os YAI nos observam como nós, homens observamos as amebas, sem que sequer nos demos conta. São infinitamente superiores e transitam por dimensões ainda inconcebíveis para nós.
O conceito de ‘URIHI’ - palavra Ianomâmi para floresta, ecossistema
A palavra yanomami UHIRI designa a floresta tudo que nela habita, com conexões e inter-relações infinitas, IPA URIHI, "minha terra", pode referir-se à região de nascimento ou à região de moradia atual do enunciador. URIHI pode ser, também, o nome do mundo: UHIRI A PREE, "a grande terra-floresta".
Nós os NAPË, somos a única espécie do planeta que produzimos lixo sem que esse entre em equilíbrio com o ecossistema. |
A floresta amazônica é a maior região de floresta continua do planeta, corta nove países, corresponde a 60% do território brasileiro, quase 6 milhões de km2. O Rio Amazonas tem 6.800km de extensão, 105km a mais do que o Nilo de acordo com a medição de 2007, nele se encontra 20% da água doce do mundo.
Atualmente 18% da floresta já foi devastada, essa devastação aparece na forma de Pecuária extensiva e de baixa inteligência, propriedade ilegal, garimpo irregular.
Parece pouco mas 1% de área devastada, o mesmo índice de desmatamento em 1975, 60mil km2 é maior do que o estado do Rio de Janeiro ( aprox. 43.000km2).
O Brasil pode ser muito ruim no que diz respeito com o trato com os rios de suas capitais principalmente devido a corrupção e motivos eleitoreiros, mas trabalhos isolados na Amazônia chamam a atenção pela genialidade.
O conceito de Itagenemimética ou itagenemimicry
Você sabia que os europeus aprenderam o habito de fumar ervas com os índios americanos? Talvez a industria do cigarro tenha sido a primeira a usar do conceito de Itagenemimética (a arte/ciência de aprender com povos indígenas e tradições ancestrais). É importante que se diga que o cigarro que conhecemos hoje, causador de mortes e doenças sofreu uma serie de modificações para pior desde sua adoção inicial ou melhor dizendo, foi sem duvida uma adoção de habito degradativo vinda de nossos ancestrais. Ma a grande maioria dos hábitos que adquiríamos deles no entanto, como dormir em rede, tomar banho todos os dias e beber o guaraná, tem sem mostrando muito saudáveis.
A biomimética* juntamente com a itagenemimética**, são as melhores e mais eficazes ferramentas de aprendizado que nossa civilização pode fazer uso atualmente.
O homem civilizado vem se distanciando cada vez mais de seus irmãos que vivem nas tribos, os hábitos degradativos dos civilizados parecem ser muito piores do que o dos indígenas, dispersar plástico no planeta e emitir CO2 são alguns deles.
Os indígenas que conheço dizem que os civilizados são muito burros, nos fazemos coisas que nenhum animal faz, nós defecamos na água que bebemos. É evidente que com o nosso atual nível de desenvolvimento cultural, viver em tribos e abandonar os bens materiais e conquistas que tivemos poderia ser tido como uma involução, no entanto prestamos cada vez mais atenção no que eles tem a nos dizer.
*Itagenemimetics or itagenemimicry is the imitation of the models, systems, and elements adopted by ancestral communities or indigenous native people for the purpose of solving complex human problems (Greek: ιθαγενείς, itageneis - indigenous people, and μίμησις, imitation, from μιμεῖσθαι, to imitate, from μῖμος, actor).
Não podemos colocar uma cúpula de proteção sobre a Amazônia
A proteção ambiental só pode acontecer se não se opor as enormes forças econômicas, portanto temos que atribuir valor para floresta em pé, e não desmatada.
Tudo que temos que fazer é usar a inteligência YANOMAMI THËPË para nos guiar. Mais dia, menos dia, as arvores muito velhas caem naturalmente como parte do processo de renovação, parte do ciclo natural da floresta. Se bem monitoradas, essas arvores podem ter suas quedas administradas por agrônomos legais e sua madeira pode ser utilizada com mais inteligência.
Um tronco de uma sumaumeira centenária vale pouco mais de R$10,00 no mercado negro, enquanto que um belo artesanato feito com pouco mais de 50 cm de comprimento da mesma arvore pode chegar a valer R$ 300,00.
Este é um bom exemplo de como transformar uma atitude NAPË em YANOMAMI THËPË
Creio que o grande fato gerador dos problemas da Amazônia atual foi o PIN, Programa de Integração Nacional, programa de cunho geopolítico criado pelo governo militar brasileiro através do Decreto-Lei Nº1106, de 16 de julho de 1970, assinado pelo Presidente Médici.
Preocupados em perder o vasto território amazônico pela dificuldade de monitorar suas fronteiras, o governo militar propôs realocar as vitimas da improdutividade das regiões de seca nordestina e transformá-los em mão de obra na prospera região amazônica, dessa forma ocupar os vazios demográficos amazônicos, "integrar para não entregar" e "terra sem homens para homens sem terras" foram as palavras de ordem da época.
O PIN teve o maravilhoso mérito de mobilizar o sentimento nacionalista, independentemente de visão política e promover a colonização da Amazônia.
A rodovia Transamazônica foi a ferramenta escolhida por Médici como via de acesso à floresta. Com 4 223 km de comprimento, ligando a cidade de Cabedelo, na Paraíba à Lábrea, no Amazonas, a estrada corta sete estados brasileiros: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas.
Ao lado da estrada algumas rotas surgiram, e dessas outras ruas pequenas, ligando as fazendas, comunidades e casas - a chamada espinha de peixe, é a causa para a ocupação irregular e o consequente desmatamento.
O homem do nordeste, em sua grande maioria, junto com outros de outras regiões do Brasil e do mundo, que lá chegaram encontraram grande facilidade em ter cabeças de gado, posto que para se obter a posse da terra eles somente tinham que transformar 50% de suas terras em pastagem.
Hoje existem 60.000.000 cabeças de gado na Amazônia, uma relação de 3 bois para cada habitante da região.
Como mudar a filosofia NAPË em YANOMAMI THËPË?
Nós NAPË olhávamos a floresta como mato não como fazenda, se quisermos plantar algo ali, temos que desmatar para depois plantar, mas índios locais inspiraram um grupo de japoneses a criar os chamados SISTEMAS AGRO-FLORESTAIS.
Um grupo de imigrantes japoneses chegou ao município de Tomé-Açu, no Pará, no fim da década de 1920 com proposta de plantar da pimenta-do-reino, Nos anos 70 com a queda dos preços e epidemias nos pimentais fez com que repensassem seu negocio.
Baseado em antigo conhecimento indígena, eles passaram a cultivar a pimenta-do-reino no mesmo espaço do cacau, bem como com o cupuaçu, mamão, açaí, coco, maracujá, castanha-do-pará, borracha natural e paricá. A praga dos pimentais foi combatida por predadores locais, trazidas pelas outras plantas, em equilíbrio com a natureza.
De lá para cá, o sistema foi aperfeiçoado na base da tentativa e do erro para a escolha das melhores combinações de espécies. Hoje, Tomé-Açu é referência nesse tipo de plantio e a cooperativa acumula diversos prêmios relacionados a empreendedorismo e sustentabilidade.
Além disso, a CAMTA promove e orienta a adoção dos sistemas agro-florestais para agricultura familiar em municípios vizinhos e realiza a comercialização dessa produção, um projeto que atende cerca de mil famílias da região.
A idéia básica desse sistema agro-florestal é realizar o plantio integrado de diferentes espécies vegetais, de tamanho variado, juntas em uma mesma área, formando diversos 'andares' – o processo recebe justamente o nome de agricultura em andares.
O sistema agro-florestal, conhecido dos povos indígenas já a muito tempo, oferece uma série de vantagens como:
- Como gera grande quantidade de matéria orgânica no solo proveniente de diversas culturas, há menos necessidade de adubos e agrotóxicos;
- Essa variedade de nutrientes gera alimentos mais saudáveis;
- A cobertura vegetal abundante também retém a umidade da terra, protege as plantações do Sol e proporciona um ambiente mais agradável para o trabalho no campo;
- O plantio de diversas culturas ao mesmo tempo permite a produção continuada e gera renda durante o ano todo.
Depois de tanto tempo catequizando nossos índios de acordo com heranças culturais européias, agora chegou a hora de nos catequizarmos nos moldes do povo da floresta, quem sabe assim poderemos salvar nossas almas e nossas vidas.
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