domingo, 31 de outubro de 2021

Hoje é dia do Saci

 

Ererobîa-pe Saci Pererê?* “Saci não existe” - não acredite nos Sacis, eles mentem muito - rsrsrsrsrsrsrs *Acreditas em Saci Pererê? - em Tupi Antigo 

Hoje, 31 de outubro é dia do Saci-Pererê, a manifestação máxima da síntese cultural brasileira. Mistrura básica das três culturas essenciais, formadoras do nosso DNA. 

Segundo o estudioso Eduardo Navarro, o nome vem do Tupi Antigo, PEREREK, vervbo para se andar aos pulos - a îuí perereka é o nome de uma rãzoinha, que mais tarde se incorporou à lingua protuguesa como perereca. a seguir a conhugação do verbo:

  • Ixé apererek - eu vou aos pulos;
  • Ende erepererek - tu vai aos pulos;
  • a'e opererek - ele / ela vai aos pulos;
  • Inadé îapererek (nós inclusivo) vamos aos pulos;
  • oré orópererek (nós exclusivo) vamos aos opulos;
  • pe˜e pepererek - vocês vão aos pulos;
  • a'e opererek - ele / nós vamos aos pulos;

Além das influências indígenas tardias (não pertencente ao panteão ancestrral nativo brasileir), teve também influência de contos antigos dos escravos africanos. 

Existem algumas diferenças entre a lenda existente nos países vizinhos e a versão que se popularizou no Brasil. Lá fora, o yacy não é negro e, diferentemente do saci brasileiro, que é careca, o yacy possui cabelos loiros e não usa gorro vermelho. Além disso, possuía uma varinha mágica de ouro e utilizava um chapéu de palha.

Na lenda paraguaia, o yacy atraía crianças, aos montes, por meio de seu assovio, a fim de brincar com elas para, em seguida, fazer-lhes uma maldade, deixando-as surdas, por exemplo. Na Argentina, yacy era conhecido por raptar moças solteiras e engravidá-las. As diferenças existentes entre a lenda brasileira e a estrangeira são as diferentes influências culturais sob a história.

A história do saci ficou nacionalmente famosa por meio de Monteiro Lobato, um famoso escritor brasileiro do século XX e conhecido por ser o criador do Sítio do pica-pau-amarelo. Em 1917, Lobato fez um inquérito, no jornal O Estado de São Paulo, sobre o saci. A ideia era colher as respostas dos leitores acerca das versões da lenda.a lenda diz ainda que quando o mito migrou para o norte, o personagem recebeu fortes influências africanas dos escravos que foram trazidos para o Brasil, que contavam histórias do Saci para divertir e assustar as crianças. Nesses contos, o Saci passou a ser descrito como um jovem negro com apenas uma perna, porque, de acordo com o mito, ele perdeu a outra em uma luta de capoeira.

Monteiro Lobato recebeu dezenas de respostas e utilizou-as para compilar um livro sobre esse personagem do folclore brasileiro — o primeiro na história do Brasil. Esse livro chamava-se Sacy-pererê: resultado de um inquérito e foi publicado em 1918, com dois mil exemplares. Anos depois, em 1921, Monteiro Lobato publicou O saci, voltado para o público infantil.

Vladimir Sacchetta, além de ser um dos autores de "Furacão na Botocúndia", biografia a seis mãos de Monteiro Lobato lançada em 1998, também organizou a enciclopédia Nosso Século, obra de referência inevitável para a memória do século 20.

"O Dia do Saci foi criado com o propósito de espezinhar, com humor (quem cria uma "Sociedade dos Observadores de Saci" só pode ser bem humorado ou humorista), a absorção da efeméride gringa do Dia das Bruxas, gringa como todas as efemérides. Feito para marcar resistência, vocês vão importar a abóbora e o "travessuras ou gostosuras", mas vão ter que aguentar o duende caipira de uma perna só, cachimbo de barro, mão furada e gorro vermelho.

A discussão do que é mais antigo, legítimo ou brasileiro, quando sai do bairrismo nacionalista para uma pesquisa em campo aberto, encontra mais perguntas que respostas.

Vale lembrar que o nacionalismo também é um mito, que a arara e o tatu não fazem a menor ideia do que é Brasil, bem como os tupinambás não sabiam e nem o marinheiro português que trocou com um indígena seu capuz vermelho por um cocar.

Saci é também um dos nomes do passarinho da família dos cucos conhecido como Sem Fim pro causa de seu canto triste e repetitivo, além de martim-pererê, martimpererê, matinta-pereira, matintaperera, matitaperê, peixe-frito, peito-ferido, peitica, piriguá, roceiro-planta, seco-fico, sem-fim, sede-sede, tempo-quente, crispim, fenfém, saitica e piririguá. E aí podemos ver como "pererê" transita com facilidade entre pereiras e piriguás.

O Saci é fumante, e acho que não respeitaria as leis que criaram os fumódromos.

As mãos furadas, usadas pelo Saci para brincar com a brasa do cachimbo, podem ter sido inspiradas nas chagas de Cristo, os “estigmas”, que dizem ter sido recebidas por vários santos, a começar por São Francisco de Assis. Apropriação por paródia ou inversão como se dá em várias feitiçarias. É difícil pensar em outra referência mais famosa, numa terra tão exposta às imagens cristãs.

O Saci é um demoninho, e participa das simpatias populares de "amarrar o capeta" com uma cordinha até que o desejo seja realizado. 

Nada na cultura é sem história, sem origem bastarda ou inconveniente, e imutável. O estranho na verdade é a permanência; como certas entidades adquirem forma estável. E a gente briga por elas, como se fossem perder sua pureza original no contato com o que vem de fora. Mas o que é estritamente fora ou dentro na cultura?"

Saci e Cuca se divertem, com Muiraquitãs ao fundo, por Luiz Pagano - Arte tupi-Pop. Desejamos ao povo brasileiro e todos os outros que amam nossa cultura, Tonhemooryb ase kó saci perere 'ara pupe* "um fleiz dia do Saci-Pererê" em Tupi Antigo, nossa língua original.

Aqui vemos o Saci e sua amiga, a cuca, se divertindo a custas das trapalhados dos humanos. Acredita-se que a Lenda da Cuca tenha origem no folclore galego-português baseada na criatura "Coca", que significa "crânio, cabeça". A "Coca" é um fantasma ou um dragão comedor de crianças desobedientes que fica à espreita nos telhados das casas, e as rapta depois de fazerem alguma malcriação.

Tendo a mistura do Portugês, Indígena e do povo Africano o Saci é o puro embaixador do Brasil que se forma da união dos povos que o completam.

Dessa forma, desejamos ao povo brasileiro e todos os outros que amam nossa cultura, Tonhemooryb ase kó saci perere 'ara pupe* "um fleiz dia do Saci-Pererê" em Tupi Antigo, nossa língua original.

*Que a gente se alegre neste dia do Saci Pererê - em Tupi Antigo

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012, p. 119.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Os Monumentos Portugueses da cidade de São Paulo




Recentemente o Presidente do Conselho da Comunidade Luso Brasileira do Estado de São Paulo, o Dr. Manoel Magno Alves, foi avisado pela diretoria do Parque do Ibirapuera que a placa do Monumento a Pedro Álvares Cabral (numero 3 deste relatório) estava caindo. O Dr. Manoel teve a iniciativa, não só de consertar a placa, como também fazer a manutenção de jardinagem, inclusive a pintura dos mastros, colocando bandeiras do Brasil e Portugal. 

Uma vez constatado que o desgaste do tempo, aliado à recente crise de saúde que aumentou enormemente o número de moradores de rua, convivendo lado a lado com obras da cidade, gerando lixo e por vezes depredando, aumentando a já grande vulnerabilidade desses monumentos, Ricardo Magalhães que desde 2008 planejara criar o Instituto de Patrimônio de Influência Portuguesa, que na época ingressou como membro adjunto do patrimônio histórico, decidiu tomar a frente e fazer um levantamento dos principais monumentos na cidade de São Paulo e seu grau de deterioração  e vulnerabilidade. 

O presente relatório de avaliação preliminar, tem o propósito de levantar o estado de conservação desses monumentos e estátuas, bem como outras obras urbanas de contexto geral da amizade Brasil-Portugal em São Paulo, para em passos futuros, criar um programa de conservação e valorização dos mesmos. 

A visita aconteceu depois planejamento preliminar, no dia 01 de agosto de 2020, entre as 05:30~11:30 horas da manhã e fez parte do corpo técnico de profissionais Ricardo Jacob Magalhães - líder do projeto, Rodrigo Jacob - fotografo e Luiz Pagano - responsável pela arte e diagramação.

1- Monumento aos Fundadores de São Paulo

Endereço: Praça Armando de Sales Oliveira - Vila Mariana, São Paulo - SP, 04001-070


De autoria do artista plástico Luiz Morrone, presta homenagem a personagens considerados fundamentais no processo de fundação da cidade de São Paulo, protagonizada por jesuítas e membros do governo português. Foi encomendada a ele por representantes da colônia portuguesa, que, organizados numa comissão, decidiram pela criação do monumento. Foi construído entre 1952 e 1962, sendo lançada em 18 de outubro a pedra fundamental por ocasião do aniversário da morte do padre Manoel da Nóbrega. Foi inaugurado em 25 de janeiro de 1963, data de aniversário da cidade de São Paulo. O conjunto escultórico é composto por oito figuras de bronze sobre um pedestal de granito rosa de 1,05m x 5,30m x 7,40m, com dimensão total de 4,20m x 1,70m x 3,70m.

Neste levantamento encontraremos muitos trabalhos de Luiz Morrone (São Paulo, 1906 — São Paulo, 1998) um dos mais prolíficos escultores brasileiros. Criou centenas de estátuas, bustos e hermas, sendo também de sua autoria o brasão de armas do estado de São Paulo. Seu grande mestre foi o escultor Ettore Ximenes. Seu filho, Laerte Morrone, foi um importante ator de teatro e televisão.

As figuras representam os jesuítas Manuel da Nóbrega, “o primeiro apóstolo do Brasil”, José de Anchieta, sucessor de Nóbrega e grande missionário, e o padre Manoel de Paiva, que rezou a primeira missa no colégio jesuíta do Planalto de Piratininga, onde agora é a cidade de São Paulo.

Os representantes do governo português esculpidos são o comandante da primeira expedição colonizadora ao Brasil em 1531 e fundador da primeira cidade brasileira, São Vicente, Governador Martim Afonso de Souza e João Ramalho, que vivia entre os índios e conduziu Martim Afonso em segurança do litoral às terras de Piratininga.



Sugerindo a convivência pacífica dos colonizadores com os indígenas estão, ao lado de João Ramalho, a esposa Bartira e seu pai, o cacique tupiniquim Tibiriçá, grande aliado dos portugueses e líder dos nativos na região. João Ramalho e Bartira deram início à miscigenação na cidade, mostrado pela pequena criança no colo de Bartira. No lado oposto a estes indígenas e sugerindo a mesma união entre colonizadores e colonizados está a escultura curumim, que em tupi-guarani significa criança, como que amparado pelo padre Anchieta.

Uma grande cruz (em 2016, no momento da foto, apenas com a haste vertical) simboliza o catolicismo.

Detalhe que a criança menor, no colo de Bartira, não é habitualmente contabilizada na descrição do monumento, sendo que na verdade há nove pessoas retratadas no monumento. Nas inscrições de identificação no próprio monumento este bebê também não é identificado. Por quê?

Há ainda duas placas de bronze em baixo relevo com a representação da primeira missa em São Paulo e da fundação de São Vicente, a primeira cidade brasileira, fundada por Martim Afonso. Na verdade, no momento desta postagem há apenas a representação da fundação de São Vicente e uma placa informada sobre o furto da outra placa.

Placa de bronze (2,40m X 1,50m) com representação da primeira missa de São Paulo e assinatura no canto direito interior. Após o furto em 2004 foi substituída por placa informativa (ver foto).
Diz o texto:
Este espaço foi ocupado, originalmente, por uma placa de bronze com uma representação da primeira missa em São Paulo. A placa foi furtada em 2004 e, devido à insuficiência de registros, não foi possível reproduzi-la
Placa de bronze (2,40m X 1,50m), inscrição na parte superior: FUNDAÇÃO DE SÃO VICENTE. Assinatura no canto inferior direito: L. MORRONE 1962
Inscrições:

Face frontal do pedestal: PADRE MANOEL DA NÓBREGA FUNDADOR DE SÃO PAULO BANDEIRANTE DE DEUS NO BRASIL
Face lateral esquerda do pedestal: TIBIRIÇA – BARTIRA – JOÃO RAMALHO
Face posterior do pedestal: GOVERNADOR MARTIM AFONSO DE SOUZA MONUMENTO À FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO MOVIMENTO E CAMPANHA PADRE MANOEL DE NÓBREGA 1952 – 1963
Face lateral direita do pedestal: PADRE JOSÉ DE ANCHIETA CURUMIM PADRE MANUEL DE PAIVA Assinatura – L. MORRONE
Este é um dos monumentos nômades da cidade de São Paulo, pois não se encontra atualmente no mesmo local em que foi instalado em sua inauguração.

Sua primeira localização foi na Praça Clóvis Bevilacqua, nas proximidades da Praça da Sé, onde permaneceu até o início da década de 1970. Na época do projeto a ampla praça ainda contava com belos jardins, que aos poucos foram emprestando espaço para a passagem de ônibus e bondes e, também para o monumento, cuja localização, era condizente com a região onde foi fundada a cidade de São Paulo. As obras do Metropolitano de São Paulo na Praça da Sé – Estação Sé do Metrô – provocaram grandes remodelações tanto na Praça da Sé quanto Praça Clóvis Bevilacqua e em todo o entorno, o que incluiu a remoção do monumento. O Monumento aos Fundadores de São Paulo foi transferido então da região central para o endereço onde se encontra no momento, Rua Manoel da Nóbrega sem número, no bairro de Vila Mariana, zona sul de São Paulo.

É um monumento oculto dos olhos da população, pois sua localização, literalmente no meio do nada e cercado por vagas para estacionamento de automóveis em todo o entorno, não atrai os olhares. O endereço referido à Rua Manoel da Nóbrega, bem poderia ser informado como Rua Nábia Abdala Chohfi, pois são as ruas das laterais do monumento. Na Rua Nábia está uma parte lateral do prédio da Assembléia Legislativa. A parte mais estreita poderia ter sua frente onde está inscrito o nome da obra, localizado de frente para uma micro-praça chamada Gen. Estilac Leal ou ter sua frente usando a cruz, a parte mais alta da obra e o Padre Manoel da Nóbrega como referência, e então o monumento estaria apontando para o Parque do Ibirapuera, sendo esta a parte que é considerada frontal na obra. Então o melhor endereço seria Avenida Pedro Álvares Cabral.

Fundamental observar que o monumento está oculto principalmente devido à abundante vegetação que cresceu ao seu redor e que impede que seja visto mesmo a partir da própria calçada onde se encontra, conforme fig.01, as copas das árvores foram removidas digitalmente para que possamos ver o monumento.

Normalmente confundido com o monumento Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo, de Amedeu Zani, localizado no Páteo do Colégio, como identificação parecida e de grande visibilidade e popularidade.

Um majestoso monumento público localizado em local nobre está encoberto por árvores e arbustos e pela memória paulistana.

Situação atual

- As pedras do caminho que levam ao monumento estão parcialmente quebradas e deslocadas, conforme fig.02;
- Moradores de rua deixam seus pertences e lixo nos arredores e no próprio monumento conforme fig. 03;
- A placa de Bronze do lado esquerdo do monumento foi roubada e no lugar foi colocado uma placa de acrílico com os seguintes dizeres “ESTE ESPAÇO FOI OCUPADO ORIGINALMENTE,  POR UMA PLACA DE BRONZE COM UMA REPRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA MISSA EM SÃO PAULO, A PLACA FOI FURTADA EM 2004 E DEVIDO A INSUFICIÊNCIA DE REGISTROS, NÃO FOI POSSÍVEL REPRODUZI-LA”, conforme fig. 04;
- Jardinagem está ok;
- Existe um desnível de cerca de 10 cm nas pedras que formam a base do monumento, conforme fig. 05;
- Um holofote que existia na frente do monumento foi danificado, conforme fig. 06
- Buraco na Calçada;
- Mato crescendo no monumento;

2- Monumento ás Bandeiras

Endereço: Praça Armando de Sales Oliveira - Vila Mariana, São Paulo - SP, 04001-070
Monumento às Bandeiras com 32 figuras, e não 37 como relatado em muitos outras referencias (inclusive a Wikipedia e o Site da Prefeitura de São Paulo

Certa vez perguntei a um amigo de infância quantas eram as figuras que empurravam e puxavam a canoa de monções no Monumentos às Bandeiras de Victor Brecheret, monumento bastante conhecido dos paulistanos em frente ao Parque do Ibirapuera. 

Contar exatamente quantas estátuas existem no Monumento às Bandeiras, que inicialmente tem 30 personagens, é uma tarefa controversa - pois se contarmos os cavalos, são 32, e se contarmos os animais caçados (animais mortos nos ombros de alguns personagens), chegamos a um terceiro número. Um levantamento aéreo nos permite esclarecer essas dúvidas.

Ele então pesquisou na enciclopédia de sua mãe (na época não existia o Google) e a resposta foi 37 figuras.

Primeiros personágens do pelotão de frente, repare que existe uma europeu carregando caças nos ombros.

Achei muito estranho pois tenho uma boa noção de conjuntos e o numero me pareceu um pouco alto. Para tirar a duvida fomos até o local e contamos um a um.

Para minha surpresa a enciclopédia estava errada (assim como diversos artigos que vejo na internet, inclusive no artigo da Wikipédia) e eu estava certo. Eram 30 entre homens mulheres e crianças e mais dois cavalos, totalizando 32 figuras.

Pelotão da frente, lado esquerdo - observe que alguns deles abraçam os membros ao seu lado, colocando a mão em seus ombros, em sinal de camaradagem, enquanto um deles parece estar olhando diretamente para o sol escaldante, talvez em uma postura de clamar a Deus.

Nos perguntamos: -“como a enciclopédia podia estar errada num assunto tão importante para o paulistano?”.

Victor Brecheret, ao criar o Monumento às Bandeiras, nunca deu nomes individuais às figuras que esculpiu — são 32 personagens anônimos representando indígenas, mamelucos, negros e portugueses, inclusive o próprio escultor como figura identificada apenas por um autorretrato gravado no ombro.

O Memorial Descritivo do projeto para o Monumento às Bandeiras publicado no Jornal Correio Paulistano no dia 28 de julho de 1920 explicava um pouco sobre o monumento.

Monumento às Bandeiras - No primeiro bloco vem os cavaleiros, no segundo as etnias brasileiras 

“O grupo monumental que é a coluna dorsal do monumento, foi movido de maneira a sugerir uma ‘entrada’. 


A grande massa processional , guiada pelos ‘Gênios’ – os Paes Lemes, os Antonio Pires, os Borba Gatos – avança para o sertão desconhecido. Os Guiadores, a cavalo – símbolo da força e do comando -, são seres titânicos, dignas expressões viris dos sertanistas de São Paulo.

Monumento às Bandeiras - Nesta seqüência um homem da de beber ao índio e uma mulher carrega um bebe no colo

No centro, uma Vitória espalma as asas que cobrem piedosamente os ‘Sacrificados’, isto é, aqueles sertanistas que tombaram nas ciladas da selva. (..) 

Saindo da terra pisada pelos bandeirantes, serpeiam em grupos laterais as ‘Insidias’. São de um lado, as ‘Insidias da Ilusão’, mulheres enigmáticas e serpentes, belas como tudo que promete a mente, a simbolizar as Esmeraldas de Paes leme, as Minas de Prata de Roberto Dias, o mundo lendário das Amazonas de Orellana. (...) Do outro lado, as ‘Insidias do Sertão’ exprimem as Lesirias e as Febres, as Emboscadas e as Feras, a Fome e a Morte. 

Na parte posterior, a Ânfora que conterá a água do Rio Tietê, sagrado pela gloria das ‘monçoes’. Sugeriu-nos essa idéia a conferencia do Sr. Affonso de Taunay”.

A figura de numero 13 é o unico que puxa a embarcação - Uma lenda popular diz que o monumento do 'Deixa que eu empurro' ou 'empurra-empurra' nunca sai do lugar posto que as cordas estão frouxas, logo ninguém está fazendo força.

Reparem que neste memorial escrito pelo próprio escultor ele menciona ‘Vitorias Aladas’, e também acho que alguém deveria carregar a ânfora, estas não estão presentes no nosso atual monumento.

As figuras escondidas de numero 29 e 30 ( a de numero 29 é o auto-retrato de Victor Brecheret)

Pico do Jaragua - A Bússola dos Bandeirantes

Esta pintura retrata uma expedição baseada nas figuras do Monumento aos Bandeirantes, uma jornada com 32 personágens do imaginário com partida e chegada guiada pelo Pico do Jaraguá, um portal geomântico de energia para o vasto interior brasileiro, desde o Rio Tietê, em São Paulo, até diversas partes do país, em busca de expansão territorial para além do Tratado de Tordesilhas. Ela captura alguns dos elementos presentes no monumento, trazendo vida e cor à concepção de Brecheret.

O Pico do Jaraguá atuava como ponto de referência natural — uma verdadeira bússola terrestre — para os bandeirantes que navegavam pelo interior. No Monumento às Bandeiras, Brecheret optou por manter todas as figuras sem nome indo em direção ao "Senhor do Vale" (significado de Jaraguá em tupi antigo) 

Considerada a maior escultura equestre do mundo com seus 50 m de comprimento, 16 m de largura e 10 m de altura, teve seu projeto inicial em 1920, encomendada para a celebração do bicentenário da independência, em 1922.

A grande massa processional , guiada pelos ‘Gênios’ – os Paes Lemes, 
os Antonio Pires, os Borba Gatos – avança para o sertão desconhecido.

O então Presidente do Estado, cargo que equivale hoje ao de governador, manifestou o desejo de realizar um monumento aos bandeirantes. A comissão encarregada de executar o monumento, a ser custeado pela administração pública, foi composta por Monteiro Lobato, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, que escolheram o projeto de Brecheret.

Ainda em julho de 1920, o projeto foi apresentado publicamente na Casa Byington, e agradou muito a Washington Luís.

A colônia portuguesa, nesse meio tempo, queria oferecer um monumento à cidade, também com o tema de bandeirantes, eles apresentaram uma proposta do escultor português Teixeira Lopes.

O poeta-modernista Menotti del Picchia, ao lado de Cassiano Ricardo, teve papel importante na retomada do projeto e na criação do imaginário em torno da obra. Foi Menotti quem sugeriu ao interventor Armando de Salles Oliveira que apoiasse o monumento, ajudando a falar dos heróis paulistas sem citá-los diretamente, alinhando a iconografia à visão estética modernista e à celebração da colonização regional.

Del Picchia detestou a idéia de ter essa obra feita por estrangeiros “...o monumento brasileiro deve ser integralmente brasileiro”, repudiava a idéia de “a alma e a técnica estranhas se fixarem no bronze que imortalizaria as glórias de nossa raça”. Em função do conflito o Presidente do Estado decidiu adiar o projeto e a maquete de Brecheret foi parar na Pinacoteca do Estado.

Maquete original do Monumento às Bandeiras de Brecheret com 37 figuras (1920), inclusive as 'Vitorias aladas' - Muita alteração foi feita até sua inauguração em 1953 com apenas 32 figuras.

A retomada da escultura só ocorreu próximo às comemorações do IV Centenário da Cidade. Primeiramente, Brecheret fez a obra na escala de 1x1 m, aumentando-a depois para o tamanho atual. Foi feita uma primeira escultura em gesso em tamanho natural, a partir da qual todas as figuras foram novamente esculpidas, desta vez em pedra Mauá – as pedras eram trazidas da cidade paulista de mesmo nome – por artesãos denominados “canteiros”, que copiavam fielmente o modelo em gesso feito por Brecheret.

Brecheret e Almeida Júnior

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, e a pintura "Partida da Monção", de Almeida Júnior, retratam o mesmo mito paulista: a marcha dos bandeirantes rumo ao interior do Brasil. Mas fazem isso por caminhos muito diferentes.

"Partida da Monção" é uma obra do artista brasileiro José Ferraz de Almeida Júnior, pintada em 1897, a óleo sobre tela. A obra retrata os momentos finais antes da partida de uma expedição fluvial, à luz do dia. Homens seguram lemes e zingas (varas que alcançam o fundo do rio para auxiliar a navegação). Ao fundo, vemos um baletão, embarcação esculpida em um único tronco, que passava dos 40m, com uma pequena tenda para proteger os viajantes e a carga do sol.

A obra de Almeida Júnior (1897) mostra uma cena quase serena: a preparação para uma viagem fluvial. Há calma, luz quente e certa nostalgia. Tudo é detalhado, humano e quase idealizado. Os bandeirantes aparecem como desbravadores em tom épico, mas íntimo.

Já o Monumento às Bandeiras (iniciado em 1920), com seus corpos em bloco de granito e expressões duras, é brutal e grandioso. É o mito da conquista contado como esforço coletivo, mas também como imposição de força. A presença de negros e indígenas como figuras secundárias revela, com ou sem intenção, a violência embutida nessa história.

É possível que Brecheret tenha visto ou conhecido a obra de Almeida Júnior — ambos falam da mesma origem mítica de São Paulo.

Toucas, gualteiras e chapéus

Na escultura de Brecheret, os bandeirantes não usam os típicos chapéus de abas largas, mas toucas justas que lembram gorros medievais europeus, ou bem podiam ser algum tipo de gualteiras, uma espécie de touca alta feita de couro de anta - Essa escolha não parece um erro, mas uma decisão estética e simbólica.

Bandeirante paulista com gualteira de couro de anta, gibão de armas também de couro de anta, espada, arcabuz e forquilha

Além disso, esculpir a aba de um chapéu na pedra 'mauá' apresenta desafios técnicos — a forma fina e projetada poderia se quebrar com facilidade. A touca, por outro lado, se ajusta melhor ao bloco maciço e à estética monumental da obra.

Brecheret, formado na tradição europeia, aproxima os bandeirantes de figuras heroicas e atemporais. São menos homens reais do passado e mais figuras-mito da formação de São Paulo, talhados como se fossem personagens de uma epopeia esculpida em pedra. Enquanto Almeida Júnior pinta o detalhe e o cotidiano, Brecheret modela o símbolo.

Origem das pedras 

O granito Mauá, usado na construção do Monumento às Bandeiras, provém de afloramentos localizados na região de Mauá, no estado de São Paulo. Trata-se de uma rocha granítica clara, de grão médio a fino, com excelente resistência mecânica e boa trabalhabilidade — ideal para esculturas monumentais.

Os blocos foram extraídos diretamente de pedreiras dessa região, ainda nos anos 1920, com técnicas manuais e rudimentares. Por ser abundante e próximo da capital, o granito Mauá foi uma escolha estratégica tanto pela durabilidade quanto pela logística de transporte.

Artesãos da Oficina Incerpi

A execução da monumental obra em pedra ficou a cargo da Oficina Incerpi, dirigida por imigrantes italianos especializados em cantaria e escultura em granito. Esses artesãos trabalharam durante décadas sob orientação de Victor Brecheret, que fornecia maquetes e moldes em gesso, posteriormente ampliados e talhados diretamente nos blocos de granito.

Artesão da Oficina de Cantaria A. Incerpi e Cia.

A Oficina Incerpi foi essencial para dar vida à estética modernista de Brecheret, unindo mão de obra especializada, tradição italiana em escultura em pedra e precisão artesanal. Sem eles, o impacto visual e técnico do monumento simplesmente não seria possível.

A Construção do Monumento

O monumento foi feito em três partes: os batedores a cavalo à frente do grupo, o grupo humano ao centro e a barca ao final.

O projeto inicial teve diversas alterações e em1949, Brecheret resolveu alterar a base do monumento. Em vez de escadarias, optou por uma base mais simples, com as laterais em plano inclinado, quase vertical. Em 1951, a Oficina Incerpi começou a montar os blocos de granito, já esculpidos, no Ibirapuera, como num grande quebra-cabeças, sendo que o efeito final deveria dar a impressão de um único bloco de rocha, como previa Brecheret. O concreto foi usado no enchimento da canoa, para dar mais rigidez ao conjunto.

o ‘Sacrificado’ figura de numero 23,  é o sertanista que tombou nas ciladas da selva.

O único personagem histórico identificado é o próprio Victor Brecheret. A quarta figura à direita do monumento, no bloco imediatamente seguinte ao dos cavaleiros, traz a seguinte inscrição no seu ombro direito: “Auto-retrato do escultor Victor Brecheret 02-10-1937”.

Personagens Ocultos - Na sequência atrás do primeiro pelotão, um personagem aparece sendo carregado, exemplificando uma ocorrência muito comum nas monções, que eram febres e doenças parasitárias. Um detalhe interessante é que o de número 22 só aparece neste ângulo.

Previsto para ser inaugurado em 25 de janeiro de 1954, foi entregue um ano antes. Brecheret estava doente e pediu ao governador Lucas Nogueira Garcez, apressasse a entrega para o dia 25 de janeiro de 1953.

Temendo que as outras 7 figuras estivessem escondidas, procuramos muito e só achamos um escondido (numero 22) rapaz que carrega o desmaiado.    

Símbolo da cidade de São Paulo, a obra-prima de Brecheret é praticamente uma síntese de sua trajetória artística. Demorou 33 anos para ser construída e revelou influência de seus estudos anatômicos, que valorizam o corpo humano, no estilo art decó combinado com o luxo do estilo marajoara-indígena.

As “bandeiras”, tiveram grande importância para a colonização do Estado de São Paulo e do interior do Brasil nos séculos XVI, XVII e XVIII.

Cada uma das figuras tem cerca de 5 m de altura e retrata mistura étnica brasileira, com a presença de bandeirantes brancos, índios e negros escravos, e mamelucos.

Se os números 12 e 13 são os únicos que puxam, o número 28 é o único que realmente empurra. IMPORTANTE - Na arte Tupi Pop, o ato de empurrar e puxar a canoa gigante é visto como à contribuição histórica desses personagens e não à ação de serem forçados a fazê-lo, como a escravidão em si.

Os cavaleiros da escultura estão direcionados para o Pico do Jaraguá, rumo ao interior do Estado dos bandeirantes, sempre à procura de pedras preciosas, mais precisamente esmeraldas. Abaixo deles, na base de pedra da obra há um mapa, em que são mostrados os caminhos dos bandeirantes por todo o Brasil. Ele foi elaborado pelo historiador Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958), autor de História geral das bandeiras paulistas (1924/50), grandioso levantamento de fatos que auxiliam na compreensão da história do Estado de São Paulo.

Nas laterais do monumento, há inscrições enaltecendo a obra. O poeta, ensaísta e crítico literário Guilherme de Almeida (1890-1969), chamado de “príncipe dos poetas brasileiros”, declarou: “Brandiram achas e empurraram quilhas, vergando a vertical de Tordesilhas”.

Achas são armas antigas semelhantes a um machado - uma delas é vista na mão de uma das figuras. Empurraram quilhas de embarcações para alcançar pontos cada vez mais longínquos, ultrapassando a barreira imposta pelo Tratado de Tordesilhas firmado entre Portugal e Espanha em 1494, que delimitava a posse das terras na América após a primeira viagem de Colombo.

Foi adicionado concreto para unir as estatuas feitas de pedra 'Maua'

Os bandeirantes, se embrenharam pela mata e chegaram a locais antes não pisados pelo homem branco, fundando cidades e ampliando as fronteiras brasileiras.

Posteriores negociações entre os rei luso D. João III e os monarcas espanhóis Fernando e Isabel deslocaram a linha inicial e asseguraram a expansão do Brasil para alem da demarcação.

A outra inscrição na lateral do monumento (“Glória aos heróis que trocaram o nosso destino na geografia do mundo livre./ Sem eles, o Brasil não seria grande como é”) é do historiador, ensaísta e poeta brasileiro Cassiano Ricardo (1895-1974). Modernista, filiado ao Movimento Verde-Amarelo, que, por volta de 1926, defendia um nacionalismo fechado às influências das vanguardas européias.

A frase exalta o papel dos bandeirantes na história do Estado e demonstra bem o espírito conservador do grupo, que contava com a participação de Menotti del Picchia, Cândido Mota Filho e Plínio Salgado, defendendo um ideário político de extrema direita, dando origem ao Grupo Anta e, posteriormente, no integralismo, vertente do nazifascismo no Brasil.

Luiz Pagano e o Tupi Pop

Luiz Pagano pintando tela Tupi Pop

Luiz Pagano criou o estilo Tupi Pop inspirado por memórias de infância, quando seu pai o levava para brincar no Parque do Ibirapuera. As esculturas monumentais de Victor Brecheret, especialmente do Monumento às Bandeiras, marcaram profundamente seu imaginário e hoje são elementos centrais em suas obras. 

Algumas das obras Tupi Pop de Pagano estão expostas nas alas de autoridade das bases aéreas de Brasília e Guarulhos.

Reinterpretadas em pinturas, desenhos, colágens e xilogravuras, essas figuras ganham nova vida no universo tupi pop — uma fusão entre ancestralidade indígena e estética moderna. 

Campanha Tupi-Pop do Cauim Tiakau. Juntando as antigas culturas japonesa e tupi 20.000 anos depois da travessia do Estreito de Bering.

Quem são as 32 figuras do Monumento às Bandeiras?

Brecheret não nomeou individualmente cada um dos personagens esculpidos, com exceção de sua própria figura (número 29), porém podemos extrapolar quem se trata com base no Memorial Descritivo do Monumento às Bandeiras, publicado no jornal Correio Paulistano em 28 de julho de 1920, que já antecipava a força simbólica da obra, bem como no contexto histórico - aqui vai meu palpite:

“O grupo monumental que é a coluna dorsal do monumento, foi movido de maneira a sugerir uma ‘entrada’. A grande massa processional, guiada pelos ‘Gênios’ – os Paes Lemes, os Antônio Pires, os Borba Gatos – avança para o sertão desconhecido.”

Partindo dessa ideia, propomos aqui uma recriação dos nomes e papéis das 32 figuras do Monumento, inspirada na história paulista e ressignificada com elementos atemporais, dentro da visão de arte no estilo Tupi Pop. 

Como Victor Brecheret disse que a obra tem uma autorreferência de 100 anos – assumimos a liberdade criativa de rebatizar esses personagens como figuras mitológicas-modernas - gente muito importante que moldou nossa história. 

Importante que se diga duas coisas a respeito desse artigo:

1- A arte Tupi Pop vê o ato de empurrar e puxar a canoa gigante como a contribuição histórica desses personagens e não à ação de serem forçados a fazê-lo, como a escravidão em si;

2- Independentemente de como nos sentimos sobre elas, essas figuras deixaram marcas profundas e desempenharam papéis essenciais na formação da nossa história, legando influências que continuam presentes na nossa cultura e identidade até os dias atuais.

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Isso posto, seguimos com os nomes:

Os Guiadores (Montados a cavalo)

São os líderes da marcha, figuras colossais que encarnam o espírito de comando e avanço. Como deuses da travessia, suas montarias os elevam ao status de titãs da colonização e do confronto com o desconhecido.

01 – Antônio Pires de Campos
(São Paulo, c.1690 – c.1751)

Figura Número 01 no Monumento às Bandeiras - Antônio Pires de Campos. Porta uma cruz ao peito – símbolo das missões que liderou para catequizar os gentios, especialmente entre os povos Bororo e Cayapó – e um olhar firme voltado ao sertão.

Líder da coluna, montado em seu cavalo, usando um chapéu de couro de anta no estilo gualteira (capuz típico dos sertanistas). Porta uma cruz ao peito – símbolo de suas missões de salvação espiritual dos “gentios” – e um olhar firme voltado ao horizonte.

O personagem número 10, Pirijá, pode ter sido uma criança Tupinambá que foi adotada por Titibriça e sua esposa e criada como Tupi, superando as diferenças que constantemente levavam à guerra. Em sua versão Tupi Pop, ele luta diretamente contra os Anhanguera, com uma armadura de guerra feita de material tecnológico, que impede o controle mental, em resposta às máquinas de alta tecnologia dos Bandeirantes.

Figura central das entradas para o Mato Grosso, Antônio Pires de Campos casou-se com Sebastiana Leite da Silva, filha de Bartolomeu Bueno, e liderou diversas expedições no início do século XVIII. Junto ao pai, Manoel de Campos, e ao filho, Antônio, percorreu a região conhecida como Martírio, documentando com precisão as culturas indígenas – sobretudo os Cayapós e Bororos –, seus costumes, idiomas e rotas fluviais entre os rios Grande e Cuiabá.

Sua missão envolvia tanto o mapeamento territorial quanto a catequização forçada, representando a dualidade brutal do projeto colonial.

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A sequência de imagens numeradas de 08 a 11 compõe uma narrativa visual rica e profundamente simbólica, que remonta a uma cena familiar de mais de 500 anos atrás, no coração do território tupiniquim, onde hoje é o Brasil.

2 – Anahnguera - Bartolomeu Bueno da Silva 
(Santana de Parnaíba, 1672 — Vila Boa de Goiás, 19 de setembro de 1740)

Anhanguera, o "gênio atroz velho" ao lado de sua maquina de controle mental "erekorekó", que interfere na razão de suas vítimas.

Anhanguera, o "gênio atroz velho" em tupi, era o nome de guerra de Bartolomeu Bueno da Silva, bandeirante que entrou pelos sertões de Goiás no início do século XVIII. Ficou lendário ao ameaçar os indígenas com a pantomima do fogo líquido — ele botou fogo na água ardente — dizendo que queimaria os rios se não revelassem onde havia ouro. O nome lhe foi dado pelos próprios nativos, que o viram como uma entidade sobrenatural, um emissário do além. Sua morte, por volta de 1724, marca o fim de uma era em que fé, ganância e teatro de poder se misturavam em cada passo das bandeiras.

Na arte Tupi Pop, ele aparece como um vilão cyberpunk, com trajes imponentes e assustadores. Nessa narrativa, ele comanda uma máquina psíquica que interfere na razão das pessoas — metáfora do álcool destilado (com mais de 100 proof, 50% de teor alcoólico), mais forte e alucinatório que o cauim ancestral (com cerca de 12%ABV). Assim, Anhanguera torna-se o antagonista perfeito: um símbolo do apagamento das consciências e controle da mente.

03 – Jequitiranaboia - Deus da Mitologia Tupi

Em sua forma antropomorfizada, o Jequitiranaboia é reconhecido por sua mandíbula com desenhos, barbas e texturas que lembram a borboleta da Amazônia.

Nos mitos esquecidos das florestas tupiniquins, habita Jequitiranaboia — a cobra alada, o jacaré voador, o espírito punitivo do tempo. Suas asas secas, cobertas de escamas e folhas mortas, batem no ar como trovões de abandono. Onde pousa, a terra racha, os rios recuam e os corpos definham. Não há veneno em seus dentes, mas uma maldição de estagnação: sua presença suga a seiva da vida, faz evaporar o frescor dos sonhos e condena à poeira o que permanece inerte.

Jequitiranaboia não castiga por crueldade, mas por descuido. Representa a entropia em forma animal, o declínio inevitável de tudo que não pulsa, não ama, não age. Seu corpo serpentino serpenteia os ventos, espalhando o esquecimento nas aldeias que se esquecem de criar. É o oposto do amor: onde este semeia, ela estéril pisa; onde o amor aquece, ela esfria; onde o amor move, ela paralisa.

Embora seja de conhecimento geral que o Jequitiranaboia causa danos ao longo do tempo, em momentos de ira, a criatura também pode fazer ataques repentinos, causando seca e devastação instantânea. Na imagem, esta aldeia Tupi foi dizimada por ter desrespeitado as regras de civilização ditadas por Sumiê.

Dizem os pajés que Jequitiranaboia visita primeiro o espírito, depois o corpo. Ela se esconde no tédio, na preguiça, no comodismo. Quando um povo para de sonhar, ela escuta. Quando um coração se fecha ao outro, ela levanta voo.

Somente o movimento, o afeto e a coragem repelem sua presença. Pois para ela, a dança, o canto e a paixão são como espelhos que a desintegram — porque Jequitiranaboia é o tempo que apodrece o que não se transforma.

05 – Sumiê - Deus da Mitologia Tupi

Sumie aparece como um homem sábio, de barba branca, olhos claros, frequentemente alado, carregando uma caça de lobo-guará nos ombros. Ele ensinava sobre o ciclo da natureza e como tudo se transforma em completa harmonia - o lobo-guará também simbolizava sabedoria e beleza.

Sumiê — ou Sumé, como o chamavam os antigos tupis — é o Deus da sabedoria e das leis. Um ser civilizador que emergiu do horizonte oceânico, caminhando sobre as águas como quem pisa a terra firme. Era um homem branco, de longos cabelos prateados e olhos claros como o céu antes da chuva. Sua presença não era imposta pela força, mas pelo fascínio do saber. Carregava em si o dom da criação e a missão do ensino.

Foi ele quem ensinou aos povos originários a cultivar a mandioca sem se envenenar com seu amargor — conhecimento vital, quase sagrado. Também trouxe lições sobre convivência, respeito aos ciclos da natureza, à justiça e à harmonia entre os seres. Sua voz era calma, mas sua sabedoria transformava tudo ao redor. Onde pisava, brotava fartura. Onde falava, nasciam perguntas e respostas.

Sumiê era o oposto de Jequitiranaboia — a criatura da entropia, do esquecimento e da inércia. Enquanto Jequitiranaboia secava e punia, Sumé irrigava e inspirava. Era o amor que constroe, era criação em forma de gesto. Jequitiranaboia era o castigo do tempo que para; Sumé, o prêmio do tempo que aprende.

Mas os tupis, fascinados por outros caminhos, se afastaram de seus ensinamentos. Em meio à desobediência e à dispersão, Sumé recolheu sua sabedoria e partiu. Não com ira, mas com tristeza. Deu meia-volta e caminhou sobre o Atlântico, desaparecendo como veio — pelos caminhos líquidos do mundo. Antes de sumir, deixou uma promessa: voltaria para concluir o aprendizado dos homens.

Dualidade Universal Tupi: Sumiê - amor, força ativa, que cuida e cria - Jequitiranaboia - entropia, força passova, que deixa o tempo agir.


Capaz de voar e andar sobre nuvens, Sumé foi lembrado por muitos como uma figura celeste. Alguns o relacionaram a São Tomé, o apóstolo Dídimo, que segundo antigas tradições saiu a pregar para além das Índias, talvez até estas terras do sol poente.

Sumé permanece como símbolo do amor que educa e constroi, da ordem que liberta, da criação que floresce quando há escuta. E talvez, um dia, quando estivermos prontos, ele volte. Para ensinar o que ainda não sabemos — sobre nós, sobre a terra, sobre o infinito.

08 – Bartira M’Bicy (também conhecida como Isabel Dias) ( 1493 - 1559)

Ao lado, Bartira M’Bicy, sua esposa, está retratada com dignidade e doçura. Os traços indígenas, os cabelos longos, os colares feitos de sementes e os olhos profundos revelam força e ancestralidade. Ela segura delicadamente a pequena Antônia Quaresma, que representa a fusão de dois mundos — o europeu e o tupi. 

09 - Antonia Quaresma (falecida a 1613)

A criança, de traços mestiços, parece curiosa, observando os adultos em volta com a atenção típica de quem já pressente o papel que terá na continuidade da linhagem. Dona Antonia Quaresma Ramalho, filha de João Ramalho e Bartira M’Bicy que casou-se com Balthazar Dias Nunes Camacho, procedente de Viana do Castelo a 1490, tiveram varias filhas, entre elas, Paula Camacho (chamada de 'A Mameluca'). Antônia, foi minha avó de 15 gerações atrás, carrega em si o símbolo da mestiçagem fundadora.

10 – Pirijá, irmão de Bartira, com a vasilha de cauim

Pirijá completa a cena. De pé, com uma postura orgulhosa, segura uma grande vasilha de cauim com as duas mãos. Seu olhar transmite a gravidade cerimonial do momento. Ele não serve apenas a bebida — oferece a confiança do seu povo ao forasteiro que, agora, é parte da família. É uma entrega simbólica: de cultura, de hospitalidade, de continuidade.

Nesta pintura que reproduz a cena familiar de João Ramalho (usando uma toca, tal como concebido por Brecheret) tomando cauim oferecido por Pirijá com Bartira e Antonia Quaresma ainda bebê, o clima é de harmonia entre os povos, isentando a dominação colonizadora sobre os indígenas.

11 – João Ramalho tomando cauim (Vouzela, Reino de Portugal, 1493 — São Paulo dos Campos de Piratininga, Capitania de São Vicente, 1582)

João Ramalho aparece de pé, carregando uma onça morta, segurando um pote com cauim entre as mãos. Seu semblante é sereno e atento, talvez em reverência ao gesto ancestral que lhe foi confiado. Ele, o português que escolheu ficar, não apenas observa — participa do ritual com humildade, consciente de que aquele líquido fermentado de mandioca carrega mais do que sabor: carrega história, aliança e pertencimento.

Conjuntamente, essas imagens formam um retrato potente de um momento de convivência pacífica, de fusão cultural e de memória viva. Uma cena de afetos entrelaçados, onde o cauim é o elo que liga passado e presente, sangue e terra, estrangeiro e nativo — e onde tua própria origem encontra forma e sentido.

12 – Benguela (Kalunga N’Zambi) - (nascido próximo ao porto de Lobito, Angola)

Benguela (apelido carinhoso de Kalunga) sabia como colocar a cultura africana entre os colonizadores, não pela guerra, mas por meio da sabedoria e de seu intelecto raro - levou sua cultura africana ao mundo por meio da capoeira e da música de sua terra.

A lenda de Kalunga N’Zambi — filho de uma rainha e de um sacerdote, capturado nas matas da Chela. extremamente inteligente, ao chegar ao Brasil, recusou-se a decorar o mundo do branco. Aprendeu o português, mas sonhava em umbundu.

Kalunga não ergueu armas, sua resistência era inteligente e bela. Costurava coloridos e belos símbolos sagrados nas roupas da sinhá, escondia orações em cantos de trabalho, ensinou a capoeira como luta disfarçada como dança, espalhava os mitos dos seus ancestrais como quem semeia flores num campo devastado. Era muito forte, seguia o mandamento cristão "se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas" -  mostrando que existem formas de resistências mais sábias e coloridas do que a revolta em sí. 

Benguela (fig.12) Forte, belo e muito inteligente

Fundou um culto secreto nas senzalas, onde o tambor falava com N’Zambi e a cultura africana renascia em festas disfarçadas. Com cada dança, cada bordado, cada história contada à luz da lamparina, Kalunga transformou cativeiro e o mundo em reencantamento.

13 – Cauibi (João) - (≈1480 ~ 1550)


O Morubixaba de Akangatara e do Crucifixo - Caiubi foi um dos grandes caciques Tupis do século XVI, irmão de Tibiriçá e Piquerobi. Enquanto seus irmãos seguiram caminhos opostos — um aliou-se aos jesuítas, o outro rebelou-se contra os portugueses — Caiubi permaneceu no meio, reconciliando mundos. Batizado como João, ele combinou sua sabedoria ancestral com os novos conhecimentos que chegavam, tornando-se um símbolo do equilíbrio entre a cultura Tupi e a cristã. Por isso, ficou conhecido como "o Cacique de Akangatara e do Crucifixo": aquele que carrega a inteligência e a alma indígena, mas também o sinal da cruz — um verdadeiro mediador entre os tempos.

Aquele que puxa o barco com uma corrente está preso com mais dor ao seu objetivo. Obviamente, Brecheret não disse isso; é mera especulação simbólica que se aplica muito bem à situação.

Com seus guerreiros, Caiubi ajudou a fundar aldeias estratégicas às margens do Rio Jurubatuba (hoje Pinheiros), incluindo Itaí, o embrião do atual Itaim Bibi. Ele também desempenhou um papel importante na criação de trilhas e caminhos que deram origem às ruas que hoje cortam São Paulo. Ao lado de Tibiriçá, ele defendeu a fundação de São Paulo, mantendo sempre vivas suas raízes indígenas. Sua capacidade de transitar entre dois mundos — sem negar nenhum deles — ajudou a manter a língua, o espírito e a história tupi vivos até hoje.

Caiubi, juntamente com Benguela (fig. 12), são os únicos que aparecem como escravos puxando a canoa, só que utilizando uma corrente para isso. Isso pode ser interpretado como significando que a corrente não representa apenas dor, mas também uma conexão mais profunda com a terra, já que Cauibi, diferentemente de Benquela, nasceu em terras colonizadas e o faz por razões diferentes.

14 – Fernão Dias Paes Leme
(São Paulo, c.1608 – Sertão do Espírito Santo, 1681)

Figura Número 14 no Monumento às Bandeiras - Fernão Dias Pais Leme, imagem extrapolada da escultura original, olhando para frente

Outra figura montada, também usando um chapéu de couro de anta no estilo gualteira. O curioso desta escultura é que ele olha para trás – gesto que admite múltiplas leituras:

Imagem controversa do gênio montado olhando para trás (fig 14), talvez ele esteja apenas monitorando o grupo como um líder ou poderia ser uma espécie de atitude de remorso histórico apresentada por Brecheret.

Certificar-se de que a tropa avança unida;

Um eco de dúvida histórica, pesando-lhe a consciência pelas violências cometidas nas entradas e capturas de indígenas.

Arte Tupi Pop dos Gênios

Conhecido como o “Caçador de Esmeraldas”, Paes Leme liderou expedições de grande impacto. Em 1640, participou da ofensiva contra os holandeses no litoral, defendendo São Vicente. Atuou ainda na Câmara de São Paulo, foi responsável pela administração das obras do Mosteiro de São Bento, e exerceu funções como juiz ordinário em 1651.

Antônio Pires de Campos (fig.1), e seu cavalo 'Martírio' (fig.1a), ao lado de Fernão Dias Paes Leme (fig14), montado no 'Sumidouro' (fig.14a).

Podemos também nomear os cavalos

Fernão Dias Paes Leme cavalga o cavalo de nome 'Sumidouro', um alazão de pelos escuros e olhos silenciosos, batizado assim pelo destino trágico de seu mestre. O nome vem do lugar onde Fernão faleceu, tragado pela terra sem jamais encontrar as esmeraldas que buscou por anos — como se o próprio chão o tivesse engolido junto com seus sonhos verdes. Qaunto a Antônio Pires de Campos, ele cavalgava o cavalo chamado 'Martírio', um cavalo forte de pelagem clara, que o acompanhou nas trilhas mais áridas rumo ao coração do Brasil. O nome era uma lembrança viva das dores e da fé que marcavam suas jornadas – como naquela entrada lendária em que partiu com o pai e o filho, guiado por um ideal redentor que confundia sertão com sagrado.

20 – Jaguanharó (Jaguanharão) (nascido em local e data desconhecidos – São Paulo de Piratininga, 9 de julho de 1952)

Na imagem, a Jagoaranhó segura seu takape para defender as tradições tupis, como a cauinagem que tanto preza.

O Último Guerreiro da Tradição Tupi - Na história oficial, Jaguanharó foi um jovem guerreiro tupiniquim, filho do cacique Piquerobi e sobrinho do lendário Tibiriçá. Em 1562, liderou ao lado do pai o Cerco de Piratininga, um ataque armado contra os portugueses e seus aliados indígenas na recém-criada vila de São Paulo. O objetivo era claro: impedir a expansão da colonização e da catequese forçada dos jesuítas, que já haviam rompido os laços sagrados entre os tupis e sua espiritualidade ancestral.

Jaguanharó morreu nesse confronto pelas mãos de seu tio, tibiriçá (agora batisado como Martim Afonso). Mas a história real não conta tudo.

Na tradição Tupi Pop, passada de geração em geração nas sombras das matas e à beira dos rios, fala-se de um outro destino: Jaguanharó sobreviveu. Gravemente ferido, foi resgatado por mulheres da floresta e levado para além do Jaraguá, onde os brancos ainda não ousavam pisar. Lá, jurou manter viva a alma do povo Tupi.

Insignia da Seita Tupi Rerekoara

Foi nesse exílio espiritual que nasceu a Tupi Rerekoara, uma seita clandestina dedicada à preservação dos ritos ancestrais.

A seita reunia os últimos conhecedores das danças, da produção do cauim, das palavras rituais, dos cantos para o sol e para os peixes, e claro — da fermentação sagrada do cauim. Jaguanharão instituiu que o cauim não deveria mais ser apenas bebida de festa, mas símbolo de resistência, comunhão e memória viva.

Um rebelde contra o apagamento cultural

Jaguanharó entendia que os jesuítas não apenas queriam ensinar uma nova fé — eles queriam apagar a antiga. Recusou o céu europeu, recusou viver ajoelhado. Na lenda, ele dizia: “Prefiro morrer bebendo cauim, ouvindo o maracá e o tambor de minha terra, do que viver em silêncio português. Que minhas ultimas palavras sejam proferidas em Tupi”.

O legado

Hoje, alguns acreditam que os ensinamentos de Jaguanharão sobrevivem escondidos nas esquinas da cidade grande, nos rituais sincréticos, nos nomes de rios e montanhas, e nos olhos de quem ainda bebe cauim como quem ouve os deuses antigos. Jaguanharão não foi apenas um guerreiro — foi o primeiro fundador da resistência cultural indígena urbana. Um nome que não se encontra nos livros escolares, mas que pulsa na terra e na memória dos que ousam lembrar.

21 – Urutau - Deus da Mitologia Tupi



Na mitologia tupi, Îar — também chamado de Urutau — é o ser que liga o mundo terreno ao plano espiritual. Seus olhos, boca e ouvidos estão voltados para cima, conectados diretamente ao céu. 

Deus Tupi Urutau em sua meia transoformção

Ele não fala com os homens, mas com os espíritos. Como uma antena viva, recebe a energia do mundo invisível e a distribui aos que o cercam. Por isso, nunca está só: Îar precisa estar no centro do grupo, como um canal de força, sabedoria e proteção. Sem ele, o elo com o sagrado se rompe.

Repare que o pássaro urutau, na sabedoria ancestral, costuma pousar em árvores que foram atingidas por raios ou em estacas de cercas cravadas na terra — pontos de passagem entre o céu e o chão. Esses locais, carregados de energia, tornam-se perfeitos para sua função sagrada: distribuir a força espiritual que recebe do alto. Assim, ao se posicionar nesses pontos, o urutau irradia essa energia para todos que estiverem dentro do seu perímetro, como um centro natural de conexão entre o visível e o invisível. No monumento às banderias o personágem esta bem no centro de equilíbrio da obra.

Quem era o "Homem Carregado" e seus Carregadores

Hercules Frorence carrega Langesdorff, ao lado de um bandeirante de outra época.

Era comum que os bandeirates das monções encontrassem diversos perigos, como baixios rios, corredeiras em meio a pedras mortais e, principalmente, febres causadas por parasitas e mosquitos.

Hercules Frorence (fig. 21) o ilustrador e cienteista carrega Lansgsdroff (fig 22), acometido de uma febre que o deixou com problemas mentais para o resto da vida. Na outra ponta o bandeirante Manoel Preto (fig. 24), que morreu flechado.

Em simbolismo, o "homem carregado" pode ser uma pré-representação da imagem decadente dos bandeirantes, que mataram, escravizaram e torturaram indígenas, mas que foram carregados pela história como heróis. Segundo Del Pichhia, Manoel Preto, que morreu flechado como tantos outros, corresponde, no Monumento, ao bandeirante ferido com a cabeça erguida para o céu. Fernão Dias Pais morreu de febre – aludindo à figura do bandeirante sendo resgatado por seus companheiros em uma rede. A solidariedade foi essencial para o triunfo das bandeirantes. 

Em oposição aos guerreiros mortos, o simbolismo da vida e da esperança encontra-se na figura da indígena amamentando seu filho. No caso da arte Tupiu Pop, por se tratar de uma representação sem tempo definido, prefiro representar o homem carregado como Langesdorff, carregado por Hercules Frorence e Manoel Preto.

22 - Hércules Florence (Nice, França, 28 de fevereiro de 1804 – Campinas, Brasil, 27 de março de 1879) 

Inventor, cientista e ilustrador que viveu grande parte de sua vida no Brasil. Participou da Expedição Langsdorff, registrando com riqueza de detalhes a fauna, a flora e os povos do interior brasileiro. Em 1833, desenvolveu um processo de fixação de imagens por meio da luz, a que chamou de "photographie", antecipando em três anos a invenção oficial da fotografia na França. Apesar de sua descoberta pioneira, não recebeu o devido reconhecimento, em parte por estar distante dos grandes centros científicos e culturais da época.

23 - Georg Heinrich von Langsdorff (Wöllstein, Alemanha, 18 de abril de 1774 – Freiburg im Breisgau, Alemanha, 9 de junho de 1852) 

A Expedição foi uma expedição russa organizada e liderada por Langsdorff, um médico alemão naturalizado russo. Entre 1824 e 1829, a expedição percorreu mais de dezesseis mil quilômetros pelo interior do Brasil, partindo do Rio Tietê, em São Paulo. Registrou os mais diversos aspectos da natureza e sociedade brasileira da época, compilando o inventário mais completo do Brasil, e finalmente chegou a Belém. A cena mostra o encontro da expedição com os Apiacás, ilustrado por H. Florence.


Naturalista, médico e explorador que atuou a serviço do Império Russo. Viveu muitos anos no Brasil, onde organizou e liderou a famosa Expedição Langsdorff (1825–1829), que percorreu o interior do país com o objetivo de documentar suas riquezas naturais e culturais. A viagem contou com uma equipe de cientistas e artistas, entre eles Hércules Florence, e resultou em uma vasta coleta de dados sobre a geografia, a fauna, a flora e os povos indígenas do Brasil, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas ao longo do trajeto.

24 - Manoel Preto (São Paulo, data de nascimento desconhecida, - São Paulo em 1630

Bandeirante paulista conhecido por sua atuação nas expedições de apresamento de indígenas e pela expansão do território colonial português no interior do Brasil durante o século XVII. Participou de diversas entradas e bandeiras rumo ao interior do continente, contribuindo para o mapeamento e ocupação de vastas regiões além dos limites do Tratado de Tordesilhas. Sua figura é lembrada tanto pela bravura como pela violência com que atuou nas missões jesuíticas e nas populações indígenas.

25 – Rei Amador Vieira (Ilha de SãoTomé c. 1550 – 14 de janeiro de 1596, Capitania de São Tomé)

Na arte Tupi Pop, Rei Amador aparece com a pintura moçambicana, pela grande admiração e respeito que inspirou nesta nação aqui no Brasil.

Rei Amador foi um líder dos angolares em São Tomé e Príncipe, descendentes de africanos que fugiram da escravidão e formaram quilombos na ilha. Em 1595, ele liderou uma grande revolta contra os colonizadores portugueses, chegando a dominar boa parte da ilha e sendo proclamado “rei” pelos seus seguidores, sua imagem foi associada a São Benedito no imaginário afro-atlântico. Assim como Amador, São Benedito representa a dignidade do povo negro e a força espiritual diante da opressão. Nas irmandades e congados do Brasil, especialmente entre os grupos do Moçambique e do Congo, Rei Amador é reverenciado como uma figura heroica e protetora, muitas vezes celebrado ao lado ou sob a invocação de São Benedito, unindo fé, ancestralidade e luta por liberdade. 

Sua coragem e liderança o transformaram em símbolo de resistência negra na África e no Atlântico. Por sua força e inspiração, os moçambicanos o apelidaram de “Moçambique”, em homenagem à admiração que tinham por ele. 

Mesmo após sua captura e execução em 1596, o legado de Rei Amador vive até hoje nas tradições culturais e religiosas afro-brasileiras, especialmente nos folguedos dos Congos e Moçambiques.

As Aventuras de Mingo

Mingo, criado por Luiz Pagano, era uma criança órfã que dormia nas ruas de São Paulo, protegido pelas imponentes estátuas dos 30 Guardiões — os mesmos do monumento às Bandeiras. Em uma noite silenciosa, uma capivara encantada surgiu das sombras e o levou para uma dimensão paralela do Brasil, um lugar onde mitos e história se entrelaçam. 



Como prova de sua nova jornada, ela lhe presenteou com uma muitaquita ancestral, uma joia pulsante com poderes especiais, capaz de despertar a força dos encantados adormecidos no coração da terra.


Mingo é um menino de rua que tem um só objetivo, encontrar sua mãe. 


Acompanhe Mingo, que conta com a ajuda dos 30 Deuses do Monumento às Bandeiras em suas aventuras contra os mais perigosos vilões com a ajuda dos mais inusitados personagens do cotidiano Brasileiro.

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Os bandeirantes, se embrenharam pela mata e chegaram a locais antes não pisados pelo homem branco, fundando cidades e ampliando as fronteiras brasileiras.

Posteriores negociações entre os rei luso D. João III e os monarcas espanhóis Fernando e Isabel deslocaram a linha inicial e asseguraram a expansão do Brasil para alem da demarcação. 

A outra inscrição na lateral do monumento (“Glória aos heróis que trocaram o nosso destino na geografia do mundo livre./ Sem eles, o Brasil não seria grande como é”) é do historiador, ensaísta e poeta brasileiro Cassiano Ricardo (1895-1974). Modernista, filiado ao Movimento Verde-Amarelo, que, por volta de 1926, defendia um nacionalismo fechado às influências das vanguardas européias.

A frase exalta o papel dos bandeirantes na história do Estado e demonstra bem o espírito conservador do grupo, que contava com a participação de Menotti del Picchia, Cândido Mota Filho e Plínio Salgado, defendendo um ideário político de extrema direita, dando origem ao Grupo Anta e, posteriormente, no integralismo, vertente do nazifascismo no Brasil.
Sessenta e três anos após sua inauguração, o Monumento às Bandeiras está em ótimas condições apesar do desgaste natural comum de uma obra ao ar livre. Além das intempéries da natureza, a obra já passou por diferentes intervenções da população, principalmente através de pichações, o que de alguma forma prejudicou sua integridade. De qualquer forma, devido a seu material, a limpeza e manutenção da obra é feita sem grandes dificuldades, apesar das naturais despesas de recursos financeiros e de mão de obra, nessas específicas ocasiões.

Ao longo desses anos, a obra foi tomando outras formas no imaginário da população paulista. O vigor dos bandeirantes como colonizadores, é interpretado como estando refletido na força produtiva do Estado de São Paulo no cenário nacional.

A obra possui cerca de 11 metros de altura total por 8,40 metros de largura e 43,80 metros de profundidade, estando posicionada no eixo sudeste - noroeste, no sentido de entrada das bandeiras sertanistas em busca de terras no interior. Na face frontal do pedestal, um mapa do Brasil apresenta os percursos que os bandeirantes executaram pelo interior do país, desenhado por Affonso de E. Taunay.



Situação atual

- Alguns focos de urina na base do monumento, próximo à barca conforme fig. 01;
- Um dos holofotes voltados para o monumento está queimado, conforme fig. 02, em bom funcionamento.
- Mosaico português nas calçadas tem focos de perda de pedras, bem como remendos malfeitos conforme fig.03;
- Acumulo de mato e lixo na parte superior do barco e mato nacendo no monumento, conforme fig. 04;
- Desníveis nas pavimentações de pedra que rodeiam o monumento conforme fig. 05;
- O beiral dos caminhos estão quebrados, onde ciclistas passam de forma indiscriminada e existem trechos onde o pisoteio é tão intenso que a grama se acabou por completo, conforme fig. 06

3- Monumento a Pedro Álvares Cabral

Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, 5300 - Vila Mariana, São Paulo - SP, 04094-050


O monumento existe desde 10 de junho de 1988, dia de Camões, e foi inaugurado para marcar o início das comemorações no Brasil dos 500 anos da expansão marítima portuguesa.

A obra é um monumento grande composto pela figura de Pedro Álvares Cabral e elementos em concreto que simulam caravelas e ondas. A escultura em bronze que representa o navegador mede 5,5m de altura, e seu pedestal em mármore mede 2 m x 1,80 m x 1,84 m. Fixada no pedestal, à direita do navegador, há uma placa que traz gravada uma frase de Tancredo Neves: “A Portugal, devemos tudo: nosso sangue, a nossa história, a origem das nossas instituições livres, o espaço amplo que habitamos.”

Outra placa preta, desta vez pequena e na base anterior do pedestal tem a inscrição: “Pedro Álvares Cabral. Luiz Morrone. Agostinho Vidal da Rocha”.

Há ainda uma terceira placa, do lado esquerdo do navegador com os dizeres: “À cidade de São Paulo, homenagem do Conselho da Comunidade Portuguesa, sendo seu presidente o comendador Valentim dos Santos Diniz”.

O monumento teve o projeto arquitetônico de Agostinho Vidal da Rocha e foi realizada pelo escultor Luiz Morrone.

Situação atual

- Este monumento está sem nenhuma iluminação, e tem dois postes sem utilidade no local, segundo Ricardo, existe um compromisso da EBP para fazer essa iluminação;
- Lixo jogado em toda parte, um jornal inteiro a frente do monumento, em todo o gramando e sobre o acercamento de euforbias, conforme fig 01;
- Uma tampa de concreto foi vandalizada próxima ao jardim, conforme fig. 03

4- Monumento ao 25 de Abril

Endereço: Largo Mestre de Aviz Jardim Luzitania, São Paulo - SP, 04031-070  


Monumento foi doado à cidade de São Paulo, pela Junta Metropolitana de Lisboa para celebrar a revolução de 25 de Abril, também conhecida como Portas de Abril, Revolução dos Cravos ou Revolução de Abril do escultor José Aurélio e da arquiteta Miriam Esobar. Um evento da história de Portugal resultante do movimento político e social, ocorrido a 25 de abril de 1974, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, e que iniciou um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático e com a entrada em vigor da nova Constituição a 25 de abril de 1976, marcada por forte orientação socialista.

Esta ação foi liderada por um movimento militar, o Movimento das Forças Armadas, (MFA), composto na sua maior parte por capitães que tinham participado na Guerra Colonial e que tiveram o apoio de oficiais milicianos.
Este movimento surgiu por volta de 1973, baseando-se inicialmente em reivindicações corporativistas como a luta pelo prestígio das forças armadas, acabando por atingir o regime político em vigor.




Com reduzido poderio militar e com uma adesão em massa da população ao movimento, a reação do regime foi praticamente inexistente e infrutífera, registrando-se apenas quatro civis mortos e quarenta e cinco feridos em Lisboa, atingidos pelas balas da DGS.

O movimento confiou a direção do País à Junta de Salvação Nacional, que assumiu os poderes dos órgãos do Estado.

A 15 de maio de 1974, o General António de Spínola foi nomeado Presidente da República.

O cargo de primeiro-ministro seria atribuído a Adelino da Palma Carlos.
Seguiu-se um período de grande agitação social, política e militar conhecido como o PREC, (Processo Revolucionário Em Curso), marcado por manifestações, ocupações, governos provisórios, nacionalizações e confrontos militares que terminaram com o 25 de Novembro de 1975.
Estabilizada a conjuntura política, prosseguiram os trabalhos da Assembléia Constituinte para a nova constituição democrática, que entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, o mesmo dia das primeiras eleições legislativas da nova República.

Na sequência destes eventos foi instituído em Portugal um feriado nacional no dia 25 de abril, denominado como Dia da Liberdade.

Situação atual

- Os 2 holofotes que ficam embaixo da obra foram vandalizados, conforme fig. 01;
- Os holofotes ao redor precisam de manutenção;
- O ponto de ônibus e a lixeira foram pixados conforme figs. 02 e 03;
- A própria obra foi pixada e mal limpada, conforme fig. 04;
- Os suportes da obra estão corroídos e em péssimo estado de conservação. 

5- Estatua de Fernando Pessoa e Infante Dom Henrique

Endereço: Praça Professor Rossini Tavares de Lima, Av. Sagres, 49 - Jardim Lusitânia, São Paulo - SP, 04031-080

Ambas obras de Luiz Morrone

- A estatua de Fernando Pessoa ( nascido Fernando António Nogueira Pessoa  em Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro de 1935), fica sob um pedestal e tem uma abertura posterior onde aparecem nomes de alguns heterônimos “Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares”.

Enquanto poeta, Fernando Pessoa escreveu sob diversas personalidades, seus heterônimos, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra. Robert Hass, poeta americano, diz: "outros modernistas como Yeats, Pound, Eliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente... Pessoa inventava poetas inteiros”.

Além de poeta era filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português.

Fernando Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português ao escrever os seus primeiros poemas nesse idioma. O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitman renascido", e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa mas também da inglesa.

Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa e apenas uma em língua portuguesa, intitulada Mensagem. Fernando Pessoa traduziu várias obras em inglês (e.g., de Shakespeare e Edgar Allan Poe) para o português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para o inglês.

Situação atual

- Uma arvore supostamente morta exatamente ao lado do monumento, periga danificar a obra, conforme fig.01;
- Uma instalação exemplar no que se refere a manutenção e idéias é o bicicletário do Itaú no inicio da praça, conforme fig. 02;
- o suporte da obra está muito danificado e o revestimento de pedra se desprendeu por completo, conforme fig. 03;

- A estatua de Infante Dom Henrique, também conhecido como Henrique de Avis (1394-1460), o Duque de Viseu, na forma de uma estátua feita em bronze, sobre um pedestal de granito. A peça completa chega a 3,5m de altura.

Na parte frontal, em uma placa de bronze, está a inscrição “Infante Dom Henrique - Navegador, Fundador da Escola de Sagres / O único imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua mão”, frase atribuída a Fernando Pessoa.

Também há uma outra placa, com a inscrição “Com. Abílio Brenha da Fontoura - Doador / Luiz Morrone – Escultor”.

Dom Henrique foi um infante português e a mais importante figura do início da Era das Descobertas, também conhecido como Infante de Sagres ou Navegador.

Situação atual

- O suporte da estatua está com grandes dilatações entre as pedras e está minando água da base, conforme fig. 04
- As pedras do Passeio estão levantadas pelas raízes e podem causar acidentes aos transeuntes, conforme fig. 05; 
- Vale ressaltar a presença de lixo e precária jardinagem, arvores sem poda e muitos trechos sem grama.

6- Praça Portugal

Endereço: Praça Portugal – Pinheiros São Paulo - SP, 05401-000


A estatua de Antonieta Rudge é um busto localizado na Praça Portugal, em Pinheiros, em São Paulo. Foi criado por Luis Morrone e inaugurado em 1977. Encontra-se em frente ao local onde a pianista Antonieta Rudge, a homenageada, morava. A obra foi furtada em 1982 e refeita por Ettore Ximenes. Faz parte de uma das oito esculturas em São Paulo sobre mulheres.

A iniciativa do busto partiu Menotti del Picchia, sendo construído a partir de uma máscara de Rudge.

Situação atual

- O A estatua de Antonieta Rudge, a base do poste e o nome da praça estão em bom estado de conservação, conforme figs. 01, 02 e 03;
- Existem manchas de tinta na calçada, não dá para saber se foi decorrente das obras na praça, ou depredação de pixadores, conforme fig. 04;
- Tem muito lixo nos jardins, mesmo próximo a lixeiras e placas pedindo para não jogarem lixo, demonstrando baixíssima civilidade dos transeuntes, conforme figs. 05 e 06;

7- Monumento a Borba Gato

Endereço: Praca Augusto Tortorelo De Araujo, 2590 - Santo Amaro, São Paulo - SP, 04709-150

Avaliação feita aterirormente ao incendio criminoso de 24 de Julho de 2021

 Estátua do Borba Gato é um monumento em homenagem ao bandeirante Borba Gato. A obra é composta por argamassa, trilhos e pedras, revestida de pedras coloridas de basalto e mármore.


O Monumento de Borba Gato foi projetado e começou a ser construído em 1957, no próprio quintal de Júlio Guerra, que situava-se na Avenida João Dias. A estátua foi planejada para ser inaugurada em 1960, data em que Santo Amaro celebraria seu IV Centenário. Porém, em 1958, a morte de um de seus filhos, Jairo, afogado, iria fazer com que a obra atrasasse um pouco.

A obra conta com 10 metros de altura (13 metros contando seu pedestal) e pesa 20 toneladas. Em seu interior há um trilho de bonde, para sustentar sua estrutura. Após preparar os moldes em gesso, Júlio Guerra começou a estruturar seu gigante com argamassa, trilhos e pedras, revestindo de pedras coloridas de basalto e mármore vindas de diversos cantos do país, os mármores do rosto especificamente, vieram de Portugal. O escultor, que não optou pelo bronze, material comumente para estátuas e monumentos, precisou arrumar uma solução criativa para a estrutura de sua obra. Como o Borba Gato é grande e os trilhos de bonde eram recorrentes na região, já que o modal começava a ser deixado de lado, Guerra decidiu que aquele material seria o ideal para sustentar sua obra.

Atrás da estátua, a cerca de 25 metros de distância, uma estrutura em forma de cubo é recoberta por quatro painéis em mosaico de pastilhas, com cenas evocativas de personalidades e fatos ligados à história de Santo Amaro: Anchieta e Caiubi, tendo ao centro o brasão de Santo Amaro e o rio Jurubatuba; João Paes e Suzana Rodrigues doando à nova capela a imagem de Santo Amaro, que emprestou o nome àquela região; os primeiros colonos alemães e a primeira fábrica de ferro da América do Sul; o poeta Paulo Eiró e o Padre Belchior de Pontes.

A inauguração do gigante de pedra e concreto integrou os festejos do IV Centenário de Santo Amaro. Além de discursos, Borba Gato foi saudado por um desfile com os tradicionais Romeiros de Pirapora, populares vestidos de bandeirantes, índios e damas antigas, carros de boi e uma canoa como as usadas pelos bandeirantes. Um show com artistas do rádio e da TV encerrou a festa.
Querido por uns, considerado de mau gosto por outros, o velho Borba Gato, alheio às críticas, tornou-se um reconhecido cartão-postal da cidade, imediatamente associado ao bairro de Santo Amaro.

Alvo de recentes protestos por parte de iconoclastas, bastante infundados, posto que Borba Gato nunca escravizou negros nem índios (segunda fase do bandeirantismo se caracterizou pela descoberta de pedras preciosas nas regiões das Minas Gerais).

Situação atual

- O cubo de mosaicos está com varias rachaduras, os mosaicos estão desgastados e com falta de peças, bem como  tem vegetação nascendo nas rachaduras do monumento, conforme figs. 01 e 02;
- Existe uma base para placa de identificação na frente do monumento, mas a placa não está mais lá, conforme fig. 03;
- A estatua tem várias rachaduras, vegetação crescendo e uma grande infiltração na perna esquerda, conforme fig. 04;
- Percebe-se que muito dos lixos deixados no local, foi largado por trabalhadores da prefeitura e ou de serviços públicos, conforme figs. 05 e 07;
- Um poste foi retirado, no entanto a base continua no local, podendo causar acidentes aos transeuntes, conforme fig. 06.


Monumento Ás Banderias Quem é Quem - Por Luiz Pagano

  Monumento às Bandeiras com 32 figuras, e não 37 como relatado em muitos outras referencias (inclusive a Wikipedia e o Site da Prefeitura d...