Ererobîa-pe Saci Pererê?* “Saci não existe” - não acredite nos Sacis, eles mentem muito - rsrsrsrsrsrsrs *Acreditas em Saci Pererê? - em Tupi Antigo |
Hoje, 31 de outubro é dia do Saci-Pererê, a manifestação máxima da síntese cultural brasileira. Mistrura básica das três culturas essenciais, formadoras do nosso DNA.
Segundo o estudioso Eduardo Navarro, o nome vem do Tupi Antigo, PEREREK, vervbo para se andar aos pulos - a îuí perereka é o nome de uma rãzoinha, que mais tarde se incorporou à lingua protuguesa como perereca. a seguir a conhugação do verbo:
- Ixé apererek - eu vou aos pulos;
- Ende erepererek - tu vai aos pulos;
- a'e opererek - ele / ela vai aos pulos;
- Inadé îapererek (nós inclusivo) vamos aos pulos;
- oré orópererek (nós exclusivo) vamos aos opulos;
- pe˜e pepererek - vocês vão aos pulos;
- a'e opererek - ele / nós vamos aos pulos;
Além das influências indígenas tardias (não pertencente ao panteão ancestrral nativo brasileir), teve também influência de contos antigos dos escravos africanos.
Existem algumas diferenças entre a lenda existente nos países vizinhos e a versão que se popularizou no Brasil. Lá fora, o yacy não é negro e, diferentemente do saci brasileiro, que é careca, o yacy possui cabelos loiros e não usa gorro vermelho. Além disso, possuía uma varinha mágica de ouro e utilizava um chapéu de palha.
Na lenda paraguaia, o yacy atraía crianças, aos montes, por meio de seu assovio, a fim de brincar com elas para, em seguida, fazer-lhes uma maldade, deixando-as surdas, por exemplo. Na Argentina, yacy era conhecido por raptar moças solteiras e engravidá-las. As diferenças existentes entre a lenda brasileira e a estrangeira são as diferentes influências culturais sob a história.
A história do saci ficou nacionalmente famosa por meio de Monteiro Lobato, um famoso escritor brasileiro do século XX e conhecido por ser o criador do Sítio do pica-pau-amarelo. Em 1917, Lobato fez um inquérito, no jornal O Estado de São Paulo, sobre o saci. A ideia era colher as respostas dos leitores acerca das versões da lenda.a lenda diz ainda que quando o mito migrou para o norte, o personagem recebeu fortes influências africanas dos escravos que foram trazidos para o Brasil, que contavam histórias do Saci para divertir e assustar as crianças. Nesses contos, o Saci passou a ser descrito como um jovem negro com apenas uma perna, porque, de acordo com o mito, ele perdeu a outra em uma luta de capoeira.
Monteiro Lobato recebeu dezenas de respostas e utilizou-as para compilar um livro sobre esse personagem do folclore brasileiro — o primeiro na história do Brasil. Esse livro chamava-se Sacy-pererê: resultado de um inquérito e foi publicado em 1918, com dois mil exemplares. Anos depois, em 1921, Monteiro Lobato publicou O saci, voltado para o público infantil.
Vladimir Sacchetta, além de ser um dos autores de "Furacão na Botocúndia", biografia a seis mãos de Monteiro Lobato lançada em 1998, também organizou a enciclopédia Nosso Século, obra de referência inevitável para a memória do século 20.
"O Dia do Saci foi criado com o propósito de espezinhar, com humor (quem cria uma "Sociedade dos Observadores de Saci" só pode ser bem humorado ou humorista), a absorção da efeméride gringa do Dia das Bruxas, gringa como todas as efemérides. Feito para marcar resistência, vocês vão importar a abóbora e o "travessuras ou gostosuras", mas vão ter que aguentar o duende caipira de uma perna só, cachimbo de barro, mão furada e gorro vermelho.
A discussão do que é mais antigo, legítimo ou brasileiro, quando sai do bairrismo nacionalista para uma pesquisa em campo aberto, encontra mais perguntas que respostas.
Vale lembrar que o nacionalismo também é um mito, que a arara e o tatu não fazem a menor ideia do que é Brasil, bem como os tupinambás não sabiam e nem o marinheiro português que trocou com um indígena seu capuz vermelho por um cocar.
Saci é também um dos nomes do passarinho da família dos cucos conhecido como Sem Fim pro causa de seu canto triste e repetitivo, além de martim-pererê, martimpererê, matinta-pereira, matintaperera, matitaperê, peixe-frito, peito-ferido, peitica, piriguá, roceiro-planta, seco-fico, sem-fim, sede-sede, tempo-quente, crispim, fenfém, saitica e piririguá. E aí podemos ver como "pererê" transita com facilidade entre pereiras e piriguás.
O Saci é fumante, e acho que não respeitaria as leis que criaram os fumódromos.
As mãos furadas, usadas pelo Saci para brincar com a brasa do cachimbo, podem ter sido inspiradas nas chagas de Cristo, os “estigmas”, que dizem ter sido recebidas por vários santos, a começar por São Francisco de Assis. Apropriação por paródia ou inversão como se dá em várias feitiçarias. É difícil pensar em outra referência mais famosa, numa terra tão exposta às imagens cristãs.
O Saci é um demoninho, e participa das simpatias populares de "amarrar o capeta" com uma cordinha até que o desejo seja realizado.
Nada na cultura é sem história, sem origem bastarda ou inconveniente, e imutável. O estranho na verdade é a permanência; como certas entidades adquirem forma estável. E a gente briga por elas, como se fossem perder sua pureza original no contato com o que vem de fora. Mas o que é estritamente fora ou dentro na cultura?"
Aqui vemos o Saci e sua amiga, a cuca, se divertindo a custas das trapalhados dos humanos. Acredita-se que a Lenda da Cuca tenha origem no folclore galego-português baseada na criatura "Coca", que significa "crânio, cabeça". A "Coca" é um fantasma ou um dragão comedor de crianças desobedientes que fica à espreita nos telhados das casas, e as rapta depois de fazerem alguma malcriação.
Tendo a mistura do Portugês, Indígena e do povo Africano o Saci é o puro embaixador do Brasil que se forma da união dos povos que o completam.
Dessa forma, desejamos ao povo brasileiro e todos os outros que amam nossa cultura, Tonhemooryb ase kó saci perere 'ara pupe* "um fleiz dia do Saci-Pererê" em Tupi Antigo, nossa língua original.
*Que a gente se alegre neste dia do Saci Pererê - em Tupi Antigo
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012, p. 119.
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