terça-feira, 29 de outubro de 2024

Perguntas e Respostas sobre o Cauim Tiakau

 

1 - O que é Cauim Tiakau?

Resposta: É a primeira e talvez ainda a única marca Cauim do mercado, desenvolvida por porfissionais da industria de bebida, com carreira pregressa na Pernod Ricard, Red Bull, Veue Clicquot que decidiram trazer qualidade e inovação para a recente categoria Cauim no Brasil. 

2 – O que é Cauim?

Resposta: O Cauim é uma bebida alcoólica produzida a partir da fermentação da mandioca, para fins ritualísticos em aldeias indígenas, por praticamente todas as mais de 250 etnias brasileiras, nossos ancestrais indígenas.

A característica mais interessante da produção dessa bebida é o uso da amilase salivar - sim, os indígenas mastigam a mandioca para promover a quebra do amido em açúcares.

3 – O que é o Cauim do Inhapuambuçu

Resposta: O Cauim do Inhapuambuçu é o cauim que era consumido por Tibiriça, Baritra e João Ramalho, antes da chegado dos portugueses no Brasil. Nossa proposta foi a de recriar esse cauim originário da região do triangulo histórico de São Paulo.

No local onde é hoje a Praça da Liberdade, vindo da rua Tabatinguera, existiram as aldeias de Caiubi e Tibiriçá, o lar dos nossos povos originários. Ao sul existia a Itaecerá, pedra quadrangular, que alegadamente teria sido atingida por um raio, e fora usada como marco por Anchieta, bem como o Morro Careca do Inhapuambuçu. No século 17 esse morro era conhecido como Morro da Forca, area ocupada hoje em dia pelo o Jardim Japonês e o Torii da Liberdade.

O Inhapuambuçu é um local sagrado para indígenas, afro-brasileiros, descendentes de europeus e japoneses, abrangendo praticamente todas as etnias que compõem o povo brasileiro.

4 -  Como o Cauim Contemporâneo é produzido?

Resposta: 


Existem três processos para se produzir o CAUIM (até o momento), que são nomeados em Tupi Antigo - uma espécie de língua franca indígena, generalizadamente falada em quase todo o Brasil até sua proibição pelo Marquês de Pombal, no ano de 1790.

O processo mais antigo conhecido é o Processo Ancestral (REKOAGUERA RUPI - lit. "conforme o costume antigo"), que é usado até os dias de hoje nas aldeias para fins ritualísticos.

Nesse processo a quebra do amido em açúcares é feita com amilase salivar, em Tupi Antigo é dito "Aîpi o-su'u su'u I nomu", literalmente - "com mastigação e cusparada".

Sim, as indígenas mastigam pedaços de mandioca cozidos e ralados, logo após cospem em dornas feias de troncos que se assemelham a canoas, chamadas de Casirirenas, ou em vasos de argila cozida chamada de Cambutis, para passarem por um lento processo de fermentação com leveduras endógenas.

Este método faz parte de um ritual complexo, belo e rico, em que o cauim é um elemento importante e que jamais poderia ser reduzido a uma mera bebida para consumo.

Tal bebida jamais poderia ser usada para fins comerciais, no entanto, o Cauim Contemporâneo pode ser produzido através do Processo Enzimático, desenvolvido por Hildo Sena, ou do Processo Japonês, desenvolvido por Luiz Pagano.

Abaixo descreveremos os dois processos cuja as denominações também são descritas em Tupi Antigo:

PROCESSO JAPONÊS - PAGANO

No processo japonês, a matéria-prima é o sagu de mandioca, também cahamdo de (1) "pérolas de mandioca" (ITAITINGA BEIJU), (2) que, após serem cozidas no vapor, passam por (3) inoculação com Koji  (KOJI APÓ) para iniciar a quebra de amido em açúcares (SABẽ MBEÍU MOE'ẽ). 

Depois, são adicionadas leveduras, iniciando uma (5)fermentação paralela múltipla(HAGINO), na qual as enzimas continuam quebrando o amido em açúcares que são fermentados, tudo ao mesmo tempo.

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PROCESSO ENZIMÁTICO - SENA

O processo enzimático tem algumas diferenças importantes: 

Aqui a (1) matéria-prima não é o sagú, mas sim a fécula da mandioca (MANIKUERA), também conhecida como polvilho doce, que é lentamente diluída em água até que o mosto se gelatinize (T-Y-PûERA MBO'YÚ–SARA - lit. "fase de hidratação"). 

Nesta fase exclusiva do processo enzimático(2), o amido de mandioca é hidratado homogeneamente (MBOARURU).


Depois disso vem a adição de enzimas como a B-Amilase (SABẽ APó).

Note que aqui também o processo é diferente, pois no processo japonês, as enzimas são produzidas no local pela ação do koji, enquanto que no processo enzimático as enzimas já estão prontas e simplesmente são adicionadas ao mosto.

Daí para frente os processos se igualam, acontece a (4) fermentação (HAGUINO) na dorna (KAUBA), a (5) filtração ( Mbeîu mogûaba ), a clarificação (KûARA) e as (7) finalizações (MONDYKABA), como o engarrafamento (Ybyraygá pupé) e a pasteurização (que em tupi Antigo poderia ser dito como PASTEUR RUPI KAûĩ REREKÓ).

Agora que você conhece os processos de produção do cauim, poderá aproveitar melhor essa deliciosa iguaria que aos poucos está chegando ao mercado.

5 – Produzir o Cauim Tiakau não configura apropriação cultural?

Resposta: Não, produzir o Cauim Tiakau não configura apropriação cultural por alguns motivos importantes:

Herança Ancestral: Luiz Pagano, idealizador do projeto, é descendente de Tibiriçá por meio de Antonia Quaresma, filha de João Ramalho e Bartira, em uma linhagem familiar que abrange 16 gerações, que vai de Camacho, Barros, Caldeira até os Correa de Morais; composta por mamelucos, portugueses, italianos e diversas outras nacionalidades e etnias que compõem o tecido social de São Paulo e do povo paulistano. Isso estabelece uma conexão direta e legítima com a cultura e tradição indígena.

Como dizia Dona. Zuzu Correa de Morais Pagano, avó de Luiz, "para encontrar um Tupi hoje, basta olhar para um paulistano de tradição familiar antiga".

Genograma Descenente de Tibiriçá até Luiz Pagano

Pesquisa Independente: As técnicas utilizadas para a produção do Cauim Tiakau não foram obtidas diretamente de comunidades indígenas. O processo envolveu uma pesquisa profunda, incluindo viágens ao Japão para estudar o koji e o saquê, elementos essenciais para o desenvolvimento do produto de forma comercial e respeitosa.

Colaboração com Comunidades Indígenas: O projeto foi desenvolvido com a possibilidade de que, se as aldeias indígenas optarem por produzir sua bebida ancestral de forma comercial, Luiz Pagano oferece consultoria gratuita para implementar unidades de produção nas aldeias, garantindo que o conhecimento e os benefícios econômicos sejam compartilhados com as comunidades de forma justa e transparente.

6-Qual é a diferença entre o Cauim tradicional e o Cauim Tiakau?

Resposta: O Cauim tradicional é produzido com a mandioca mastigada pelos indígenas, utilizando a amilase salivar para converter o amido em açúcares. O Cauim Tiakau, por outro lado, substitui a amilase salivar pelo koji e enzimas específicas usadas no mercado de bebidas alcoólicas, mantendo a essência ancestral, mas adaptando o processo para fins comerciais e sanitários.

7 - Pergunta: O Cauim Tiakau está disponível para venda atualmente?

Resposta: Ainda não. Embora o Cauim Tiakau tenha avançado significativamente, não há uma legislação específica para a comercialização da bebida. No entanto, desde dezembro de 2022, o Cauim já consta no texto preliminar da nova lei de bebidas alcoólicas, e o projeto aguarda a documentação final para iniciar a comercialização.

8 - Pergunta: Como o projeto do Cauim Tiakau se conecta com outras culturas, como a japonesa?

Resposta: Para desenvolver o Cauim Tiakau, Luiz Pagano foi ao Japão estudar o koji e o processo de produção do saquê. Essa pesquisa trouxe elementos técnicos importantes para modernizar o Cauim e adaptá-lo ao mercado comercial, criando uma conexão cultural que respeita as tradições indígenas brasileiras enquanto incorpora técnicas japonesas.

9 - Pergunta: O Cauim Tiakau é semelhante ao saquê?

Resposta: Embora compartilhe alguns aspectos técnicos com o saquê, como o uso do koji, o Cauim Tiakau é único. Ele utiliza mandioca como base e preserva os elementos culturais e sabores específicos dessa raiz brasileira, resultando em um produto diferente e autêntico, que reflete a identidade e cultura brasileira.

10 - Pergunta: Existe um plano para exportar o Cauim Tiakau?

Resposta: Sim, uma vez que a regulamentação e a produção comercial estejam estabelecidas, o plano é expandir a comercialização do Cauim Tiakau, tanto no Brasil quanto no exterior. A ideia é promover a cultura brasileira e valorizar as tradições indígenas, levando esse patrimônio a um público global.

11 - Pergunta: Como posso experimentar o Cauim Tiakau antes que ele esteja disponível comercialmente?

Resposta: Atualmente, o Cauim Tiakau é oferecido em eventos e jantares especiais que visam apresentar e divulgar a bebida. 

Jantar harmonizado de Cauim Tiakau com pratos indígenas, Hotel Toriba, Chef Kalymarakaya e Fabio Eustáquio - Maio de 2019 - Antes do jantar, Luiz Pagano e Hildo Sena deram ao público um pouco de contexto sobre os principais aspectos históricos do Cauim Contemporâneo

Esses eventos incluem harmonizações com pratos brasileiros e proporcionam uma experiência cultural completa. Fique atento às redes sociais e aos canais de comunicação do projeto para saber sobre as próximas oportunidades de degustação.

Palestra e degustação de Cauim Tiakau por Luiz Pagano no Encontro Selvágem, na Cervejaria Tarantino - São Paulo ago/2023

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Para saber mais, visite nossa página www.cauimtiakau.com.br

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Solana Star e o Verão da Lata



Essa é a história verídica de um navio que, ameaçado pela polícia, despeja 22 toneladas de latas contendo maconha no litoral brasileiro em Ubatuba, próximo às praias Grande, do Tenório e das Toninhas, e acaba soando como mentira de pescador, ou mesmo, conto de surfista.

Dizem que o Brasil é o lugar onde tudo acontece.. e é verdade


Tudo começou em agosto de 1987, quando o delegado de polícia federal Antônio Carlos Rayol e Carlos Mandim de Oluveira receberam um comunicado do DEA americano, o Drug Enforcement Administration, informando que um navio que havia partido de Singapura, o Solana Star de bandeira panamenha, com um grande carregamento de maconha se destinava ao Brasil, com destino final em Miami. Eram 22 toneladas de maconha embaladas a vácuo em latas de 1,5kg. 

O mandante da operação foi um criminoso de Aspen, no Colorado, que já havia patrocinado uma outra viágem antes desta, partindo do Panamá e seguindo para as Filipinas, via Vietnã, com um carregamento intorpecentes para Los Angeles.

Como o navio não foi capturado, a operação havia sido bem sucedida e muito lucrativa, o mandante ordenou uma segunda viagem, comandada pelo mesmo capitão de nome Archibald, que desta vez faria uma nova rota. 

Comporu um novo barco na Austrália, um atuneiro chamado Solana Star de 41m x 7m x 3m, capaz de deslocar 540 toneladas, com motor diesel de 1.500 HP e dois auxiliares de 350 HP. Rumou com seu novo barco para Bangkok, via Japão, onde o carregou a mercadoria, maconha acondicionada em latas de suco de toranja, de uma marca de fachada chamada “Berri”, criada especialmente para a operação. 

Uma vez carregado com as latas, dirigiu-se ao sul, pelo mar do Sul da China, com destino ao Rio de Janeiro.

Suco de Toranja Berri - marca fictícia das latas do verão de 1987

Caça Ao Solana Star e Operação Cata-latas

No dia 8 de agosto de 1987, às 10:00hs, saiu do porto do Rio de Janeiro a primeira missão de caça, a bordo de uma fragata da marinha brasileira em parceria com o DEA.  A operação não foi bem sucedida, pois o navio ainda não havia chegado em àguas territoriais brasileiras, estava no meio do atlantico devido a duas tempestades que acometeram o navio no meio do Atlântico.

Novos acontecimentos deram origem a uma nova operação de caça, devido à prisão em Miami do mandante do tráfico quando tentava embarcar em voo para o Rio de Janeiro. A inteligência da DEA indicou que a mercadoria deveria ser transferida para outra embarcação no litoral da Ilha Grande, no Rio de Janeiro.

Mais uma vez o delegado Mandim organizou uma operação policial em 28 de agosto de 1987, desta vez, fizeram uso do contratorpedeiro Sergipe, emprestada pela Marinha do Brasil - novamente a operação não teve sucesso.

Como aquelas latas foram parar nas praias?

O desfecho mais interessante surge com um relato do jornal A Tribuna de Santos no dia 19 de setembro de 1987, dizendo que no Guarujá, quando um varredor de rua que coletava lixo na praia das Astúrias se deparou com uma grande lata fechada, movendo-se para frente e para trás na espuma das ondas. Outras latas começaram a ser encontradas por pescadores no litoral de Guarjuá, Ubatuba e Ilha Bela, mais tarde, levadas pela maré começou a chegar também no Rio de Janeiro. Imediatamente iniciou-se um comércio clandestino das latas e seus conteúdos, promovida principalmente por pescadores que escondiam as latas em caixas de isopor cheias de peixes, sendo uma contravenção muito mais lucrativa do que a pesca.

No dia 14 de setembro, os tripulantes do Solano Star, foram avisados que a Policia Federal e a Marinha do Brasil e o DEA já sabiam da carga de maconha que estava a bordo, com medo de serem presos, os tripulantes - cinco americanos, um haitiano e um costarriquenho, despejaram as cerca de 15 mil latas contendo maconha no mar, e o episódio passou a ser chamado de "Verão da Lata", marcado na história brasileira.

Tripulação do Solana Star joga latas de maconha no mar

A história ganhou destaque na mídia e causou uma corrida entre curiosos e autoridades para ver quem as encontrasse primeiro, o fato de a maconha estar embalada em latas de metal semelhantes às de leite em pó tornou a situação ainda mais inusitada.

Solana Star despejando as latas no mar

Logo a situação ficou muito popular e cômica, alguns diziam que a lata, assim como acontecia com o marinheiro Popeye, mudava a realidade, trazendo poderes especiais à aqueles que as consumisse. Outros disseram que os contidos nas latas eram considerados de qualidade superior a qualquer outra coisa jamais vista. A história ficou tão marcante que inspirou livros, músicas e até mesmo uma mística sobre o assunto, no qual featas eram dadas com um ritual de abertura de latas em homenagem à qualidade do produto era realizado.

Apesar dos esforços das autoridades para apreender as latas e investigar o caso, apenas uma pequena fração foi recuperada pela polícia, pois sua grande maioria foi encontrada por banhistas e pescadores e posteriormente comercializada.

A Polícia Federal conseguiu recuperar 3.292 doses. Caso o produto final tivesse chegado aos traficantes de Miami, estima-se que a operação teria rendido US$ 90 milhões.

Desfecho

Dos sete tripulantes, seis escaparam pelo aeroporto do Galeão dois dias após chegarem ao Rio. Apenas o cozinheiro americano Stephen Skelton foi preso e condenado a 20 anos de prisão, mas cumpriu apenas um ano no Brasil antes de ser extraditado. O navio envolvido no incidente foi apreendido e posteriormente leiloado, o Solana Star acabou sendo vendido após a conclusão da perícia no caso relacionado ao contrabando de maconha. Seu nome foi alterado para Charles Henri e, finalmente, Tunamar II, quando pertenceu à uma empresa japonesa de pesca de atum. 

O cozinheiro americano Stephen Skelton foi preso

Estranhamente, o destino da embarcação estava ligado às àguas brasileiras. No dia de outubro de 1994 encontrou seu trágico final, naufragando a 8 milhas náuticas do Arraial do Cabo, no litoral do Rio de Janeiro (22º59'240"S / 41º57'250"O), resultando na morte de 11 tripulantes.

Em 2012, foi lançado o livro “O Verão da Lata: Um verão que ninguém esqueceu”, do escritor Wilson Aquino que aborda o assunto.

Perguntas e Respostas sobre o Cauim Tiakau

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