sábado, 9 de maio de 2020

Qual é idioma indígena mais falado no Brasil

Dialogo em Tupi antigo por indios Tupinambá - Qual é seu nome? Mará-pe nde rera? /  Xe rera Pindobuçu  Eu me chamo Pindobuçu
A resposta duplamente errada seria  “o Tupi-Guarani é o idioma mais falado depois do português”.

O equivoco é duplo por que o primeiro idioma mais falado é o Tikuna, com 34mil falantes no Brasil. E segundo por que o ‘Tupi-Guarani’ não é um idioma, mas sim um tronco lingüístico.

 O Tupinambá, por ser o idioma mais falado ao longo da costa atlântica durante o processo de colonização, foi incorporado por grande parte dos colonos e missionários, sendo ensinado aos índios nas missões e reconhecida como Língua Geral ou Nheengatu. Até hoje, muitas palavras de origem Tupi fazem parte do vocabulário dos brasileiros como socar, caipira, capim, etc..

 O IBGE aprimorou a investigação sobre a população indígena no Brasil no ano de 2010 e identificou que dos 896,9 mil indígenas, 36,2% residia em áreas urbanas e o português era falado por 605,2 mil deles, 76,9% em reservas indígenas e 96,5% fora delas.

No total são 305 etnias falando 274 línguas, destas 160 são substancialmente diferentes uma das outras, distribuídas em 21 grupos lingüísticos (veja http://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/01/indios-brasileiros-em-toy-art-grupos.html ) distintos. A etnia Tikúna é a que tem o maior numero de integrantes na America, com 46,1 mil indígenas, sendo 34mil no Brasil e também o segundo idioma mais falado no Brasil, além do português com 34,1 mil falantes.

O grupo linguistico Tupi-Guarani só aparece em 4o lugar com 19 mil falantes e através da etnia Guajajara (nas tabelas como Tenetehara), e em 7o lugar por meio do Nheengatú, o idioma que mais se aproxima do Tupi Antigo, ainda hoje falado em São Miguel da Cachoeira, cidade considerada como a Meca dos idiomas indígenas no Brasil.

Tab 1 - População indígena, números gerais e dentro do território brasileiro:

.

No
Etnia
População Geral
População no Brasil
Grupo Lingúistico
1
Tikuna
46.045
39.349
Tikuna
2
Guarani Kaiowá
43.401
35,276
Tupi Guarani
3
Kaingang
37.470
31.814
4
Makuxi
28.912
22.568
Karib
5
Terena
28.845
19.219
Aruak
6
Tenetehara
24.428
19.955
Tupi Guarani
7
Yanomami
21.982
20.604
Yanomami
8
Potiguara
20.554
15.240
Tupi-Guarani
9
Xavante
19.259
15.953
10
Pataxó
13.588
7.207
11
Sateré-Mawé
13.310
11.060
Tupi-Guarani
12
Mundurukú
13.103
8.845
Tupi-Guarani
13
Murá
12.479
3.460
Murá
14
Xukurú
12.471
7.508
Xukurú
15
Baré
11.990
2.794
Aruak


Tab 2 -  Número aproximado de falantes do idioma, números gerais e dentro do território brasileiro:

No
Etnia
População Geral
População no Brasil
Grupo Lingúistico
1
Tikuna
42.000
34.000
Tikuna
2
Kaingang
25.000
23.000
3
Terena
20.000
19.000
aruak
4
Tenetehara
19.000
18.000
Tupi-Guarani
5
Guarani Kayowá & M’bya
18,000
18.000
Tupi-Guarani
6
Makuxi
15.000
15.000
Karib
7
Nheengatú
15.000
15.000
Tupi-Guarani
8
Xavante
13.000
13.000
9
Mundukuru
10.000
10.000
Tupi-Guarani
10
Pirahã
10.000
10.000
Murá
.

Uma vez identificados os idiomas mais falados no Brasil, seguimos mostrando suas características principais. É importante dizer que o território brasileiro tem dimensões continentais e muitas dessas tribos eram beligerantes, não tinham muita harmonia com seus vizinhos desde o período holoceno, acredita-se que até o mesmo desde o pleistoceno – com isso, os idiomas acabaram se distanciando muito. Pelo grau de diferenciação de um idioma e outro, que tenham a mesma origem, é possível estimar a quanto tempo eles se separaram, é a chamada Glotocronologia de Morris Swadish.

Suponhamos que uma tribo tenha tido uma briga na qual formaram-se dois grupos, um deles decide formar uma nova tribo (isso aconteceu muito por aqui) com o passar do tempo gírias são criadas, palavras são esquecidas e reinventadas, e novos objetos precisam de novos nomes. É assim que surge um novo idioma.

Segundo Swadish, uma taxa de 81% de cognatos (palavras semelhantes), indicaria aproximados 500 anos da separação, 36% indicaria 2.500 anos e por ai vai...

Decidimos levar em consideração elementos emblemáticos da fala para descrever suas diferenças, tal como a nasalização, se a consoante é oclusiva ou fricativa ( o ‘B’ do Tupi-Antigo por exemplo é fricativo, ou seja, para pronunciá-lo os lábios não se fecham, assim o ‘be’ teria som de ‘we’ ).  Observamos também a prosódia, o ritmo e todas as propriedades acústicas da fala que não podem ser preditas pela transcrição fonética. Em todas as línguas a fala possui ritmo, embora o seu ritmo dependa da natureza de cada língua. O francês ou o italiano, por exemplo, integram-se ao ritmo silábico no qual todas as sílabas tendem a articular-se durante um tempo aproximadamente igual.

0 – Tupi Antigo

Comecemos pela estrela dos idiomas brasileiros, o Tupi Antigo. Alem de ser o idioma que tem mais documentação acadêmica, é também o que mais conhecemos por fazer parte do nosso dia-a-dia, através de nomes de cidades, pontes, shopping centers, etc.. 

O Tupi antigo, na forma de Língua Geral Paulistana ou Língua Brasílica, foi o idioma mais falado no Brasil até 1750, quando o Marques de Pombal proibiu seu uso em detrimento do Português e expulsou os Jesuítas para Portugal, principais patrocinadores do idioma no Brasil.

Algumas iniciativas isoladas tentam trazer esse importante idioma a tona, no ano de 1994 o Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro aprovou uma recomendação para que o Tupi Antigo fosse ensinado nas escolas de segundo grau e o professor Eduardo Navarro da USP, assim como o personagem fictício Policarpo Quaresma, ainda tem por objetivo lutar pela inclusão do idioma Tupi Antigo como matéria optativa no currículo das escolas paulistas. Eu mesmo aprendi o Tupi Antigo para desenvolver a recriação da receita do Cauim http://ameobrasil.blogspot.com/2015/10/cauim-carauna-o-primeiro-cauim.html , por esse motivo, uso esse idioma como base de referência lingüística, tal qual o Latin para idiomas europeus.

Vogais


oral
oral
nasal
oral
nasal
i
ĩ
ɨ
ɨ̃
u
ũ
ɛ
ɛ̃


ɔ
ɔ̃


a
ã



Consoantes


Pós-alveolar

Surda
Sonora
Surda
Sonora
Surda
Sonora
Oclusiva
p
b ~ mb
t
d ~ ⁿd


k
g ~ ŋg
ʔ
Nasal
m


n

ɲ

ŋ

Fricativa

β
s

ʃ


ɣ

Semivogal

w



j



Vibrante simples



ɾ






Gramática

O Tupi Antigo é um idioma que se caracteriza pela fala nasal, sujeito-verbo-objeto (SVO), portadora de média complexidade do ponto de vista linguístico, fonológicas e sintáticas, com pausas (representadas aqui pelo uso do hífen) e tem sons não encontrados na língua portuguesa como o ‘y’ que tem o som do corresponde ao hamza do árabe – ybytyra ( ißi ' tira ) - montanha ; “ y [ Pi ] – água.

No Tupi Antigo os verbos de segunda classe são na verdade adjetivos, por não existir os verbos ‘ser/estar’ , para expressar ação usas-se a adjetivação do substantivo - dessa forma, eu não posso dizer ‘Eu me lembro, tenho que dizer ‘sou lembrante’, 

Se quero dizer 'Eu me lembro de sua mãe' devo dizer –‘xe’ma enduar nde sy (resé)’ – lit. Eu sou lembrante (a respeito) de sua mãe.

Uma coisa que eu particularmente gosto do Tupi Antigo é que de forma conceitual, uma pessoa não pode possuir terras, animais e pessoas, e essa noção filosófica é expressa na gramática do idioma; é errado escrever Pindobuçu Ybirá (a arvore de Pindobuçu), isso é inconcebível, pois a árvore pertence à natureza.

Existem os chamados 'nomes possíveis', objetos que permitem a posse, tais como ‘xe akanga’ minha cabeça, ‘Tukana tî’ bico do tucano, ou ‘abati potira’ (a flor do milho), etc.  

E existem os 'nomes impossíveis', elementos que não podem ser possuídos por humanos, como ybaka (céu), pirá (peixe), Ybirá (arvore, como já vimos).

Verbos

Os verbos do tupi antigo não expressam tempo,nem presente ou passado, assim como diversos outros idiomas indígenas da America do Sul, a primeira pessoa do plural, ‘nós’ é dividido em inclusivo, quando o ouvinte faz parte do grupo e exclusivo quando este é excluído, exemplo:

-Se dissermos aos índios “nós somos portugueses”, os índios não fazem parte desse grupo, dessa forma usa-se ‘oré peró’ 
- Se dissermos porem “nós morreremos um dia”, ai sim os índios fazem parte do grupo, dessa forma usa-se Îandé.

Diferentemente do português, o morfema que muda o verbo vem na frente, ou seja, o verbo chegar em português é conjugado da seguinte forma:

Eu che’go – Eu (NOM) che (raiz) go (morfema que muda)
Tu che’gas – Eu (NOM) che (raiz) go (morfema que muda)
 Ele che’ga – Eu (NOM) che (raiz) go (morfema que muda)
----

Repare que o morfema que muda o vrebo vem na frente:

(Ixé) a-syc – Ixé (NOM) a (morfema que muda) syc (raiz) 
(Endé) ere-syc – Endé (NOM) ere (morfema que muda) syc (raiz) 

outros verbos:

Verbo falar - Infinitivo: nhe´eng-a
(Ixé) a-nhe´eng = eu falo 
(Endé) ere-nhe´eng = tu falas 
(A´e) o-nhe´eng = ele fala, falou 
(Îandé) îa-nhe´eng = nós falamos (inclusivo) 
(Oré) oro-nhe´eng = nós falamos (exclusivo) 
(Pe´ẽ) pe-nhe´eng = vós falais 
(A´e) o-nhe´eng = eles falam 

Texto em Tupi Antigo

“Cauim é uma bebida alcoólica tradicional dos povos indígenas do Brasil desde tempos pré-colombianos. 

Ainda feito hoje em reservas indígenas, o cauim é feito através da fermentação alcoólica da mandioca e tem graduação alcoólica entre 8 e 12 por cento”.

—-

Kaûĩ tembi'u karaíba kaûĩtatáramo oikó. 
Kaûĩapósára kaûĩ oîapó 
abaeté brasil suíxuára rekoágûéra rupi.
Akûeî abaeté o-ka'ú amẽ Brasil-pe 
a'e karaíba Colombo séryba'e îepotára renondé. 

Kaûĩ îapópýramo oîkó ko'yr abé abáeté retãme. 
Asé kaûĩ oîapó mani'oka ratãngatú "fermentação alcoólica" 'îába rupi. 
Ko'yté Satãngatú oîkó oito suí doze por cento pukúî.

——-
Tradução 
———

Kaûĩ tembi'u (A bebida Cauim) karaíba kaûĩtatáramo (Como a aguardente dos Caraíbas) oikó (é)

Kaûĩapósára (os preparadores de Cauim) kaûĩ oîapó 
abaeté (índios legítimos) brasil suíxuára (do Brasil) rekoágûéra (O costume antigo) rupi (de acordo com)

Akûeî abaeté (aqueles índios legítimos) o-ka’ú (bebiam Cauim) amẽ (costumeiramente) Brasil-pe (no Brasil)

a'e karaíba Colombo séryba'e (aquele caraíba que tem o nome Colombo)  îepotára (a chegada por mar) renondé (antes de)

Kaûĩ îapópýramo oîkó (Cauim como que é preparado) ko'yr (hoje) abé (também) abáeté retãme (na terra dos índios legítimos - nas aldeias) 

Asé kaûĩ oîapó (prepara-se Cauim) mani'oka ratãngatú (A força da mandioca) “fermentação alcoólica" 'îába (chamada fermentação alcoólica) rupi (através de)

Ko'yté (enfim) Satãngatú oîkó (a força dela é)oito suí (de oito) doze por cento pukúî (até doze por cento) 

——

Asé ka’ugûasúreme, o nhemomara’áramo.
Tábo asé sabeypóra i abaeté.
Îandé tekokuábamo t’îaka’ú.

Quando a gente bebe muito, se torna doente.
A embriaguez pelas aldeias é terrível.
Vamos beber sendo prudentes.

——-

Peîeapysaká!
Ta’ýra t’oka’ú umẽ o 18 ro’ý mopore’ỹme bé.

Escutai bem!
Que as crianças não bebam antes de completarem 18 anos.


Dialogo da etnia Tikuna: taxacüi cuega = ‘Como é o seu nome?’ - Chaega Eni – Meu nome é Eni





Tikuna é o idioma autóctone mais falado no Brasil, é tonal, sujeito-verbo-objeto (SVO), portador de grande complexidade do ponto de vista linguístico, fonológicas e sintáticas. Como ja vimos, é falado por uma grande população que vive na região amazônica e se estende por três países fronteiriços: Brasil, Colômbia e Peru.

Os índios Tikuna autodenominavam-se a nação Magüta que significa “povo pescado com vara” por Yo’i, seu principal herói mitológico. A designação “Tikuna” se originou do idioma Tupi e significa “nariz preto”, em referência ao costume Tikuna de pintar o rosto com tinta de jenipapo para indicar a pertença a determinados clãs.

Por se tratar de um idioma importante da cultura brasileira, foi criado o Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT), a primeira organização indígena de escala local a funcionar no Brasil. Através do CGTT, os Ticuna articulariam sua vigorosa luta pela autodeterminação e pelo reconhecimento dos seus direitos territoriais, assim como as questões vinculadas à saúde e à educação.

Vogais



Oral

A
E
I
O
U

Nasal
Ã
Ĩ
Õ
Ũ
Ü
Ǖ.

Consoantes


Pós-alveolar

Surda
Sonora
Surda
Sonora
Surda
Sonora
Oclusiva
P
B
T
D


K
G
H
Nasal
M


N

N

N

Fricativa

b
S

F


Y

Semivogal

W



J



Vibrante simples


TCH
I






Gramática

Ao se perguntar “onde você vai? “ – em Tikuna – ngexta cuxũ? – observe que o ‘x’ representa uma pausa glotal, dessa forma, a pronuncia ficara como “nhê-ta cú-un?’

Chapatawa chaxũ – vou para casa. Cha (1a pessoa) patawa (casa) chaxũ (eu vou)

cuega = nome – taxacüi cuega =  ‘como é seu nome?’
taxacüii naega? Qual é o nome dele?
Chaega Eni – Meu nome é Eni

Básicos do dia-a-dia:
Ngüũ – sim – a letra ‘ü’ tem o mesmo som do ‘y’ no Tupi Antigo (a pronúncia aproximada é nhun) 
Tama – não 

Verbos

Verbo ir
Chaxũ – cha (primeira pessoa - eu)  xũ ir - eu vou
Cuxũ – tu vais 
Naxũ – ele vai
Taxĩ – nós vamos – (xĩ morfema de plural)
Pexĩ – vocês vão
Naxĩ - eles vão

Texto 

-Tchamanaãcü, nucüma i nori i tchama - cüana?? – tchou nangema ya tchaunatü, natürü tchama ru Tunetüwa* tchaya, Tunetucuã’ tchií i tchana,  natürü mu’üma i duũũgü rü tama núũ nacua’ega na nhunhaãcü nayi’iü I tchoru maũ, ru tchorü bu, na ngeta na tchabuü; tchama tchabu cüana i nagu i tunetü, ngema nu’cümaütchima ngeta Yo’i tüũ i pogüũwa, ngema Eware** nawa ngemaũ i tunetügu tchabu i tchama.

Eu mesmo, antigamente existia meu pai para mim, não é mesmo?? – Então eu me criei no Tunetü*, sou natural do Tunetü, mas muitas pessoas não sabem como é minha vida e minha infância e onde eu nasci. Eu nasci no Tunetü, aquele onde a muito tempo Yo’i nos pescou, no Eware**, dentro do Tunietü, nasci eu. 

*Tunetu – igarapé da derrubada;
**Eware – local mítico de origem de todos os Tikuna.

Dialogo da etnia Kaingang - :ẽn jiji hẽ ne (ke)ti / ‘Como é o seu nome?’ - Iñ jiji ne Kagru - Meu nome é Ka􏰁gru

A língua Kaingang é uma das línguas da família Jê, de ordem predominante SOV, integrante do tronco Macro-Jê. O Kaingang e o Xokleng (língua muito próxima do Kaingang, hoje falada apenas em Santa Catarina) formam o conjunto restrito das línguas e culturas Jê do Sul do Brasil. A maioria das línguas e povos da família Jê vive bem mais ao norte: os Xavante (Mato Grosso), os Parakatéye (Pará), os Mebengokre, conhecidos como Kayapó (Pará e Mato Grosso), os Xerente, os Krahô, os Apinayé (Tocantins), os Apaniekrá, os Pukobyé, os Krinkati (Maranhão) e alguns outros.

Assim como no idioma japonês, os kaingang usam posposição nominativa, uma partícula que marca o sujeito ‘wã’ e.g.a fala - ‘eu sou Kingang’ - Ik wã Kaingang (Ik 1a pessoa do singular, posposição nominativa wã).

Em diversos nomes e topônimos Kaingang percebemos a recorrência de GOI ou GOIO (município de Goioere, Goioxin, Goio-en;, etc.), significa água, rio. De fato, a palavra é NGOI, porque na pronúncia Kaingang, antes do “G” há um som nasal que pertence à consoante, parecendo “ng”.

Outro som recorrente é o RÊ (Cherê, Jembrê,Erebango, etc.) significa campo, campina, mas devido à forma como os Kaingang pronunciam o seu R, os brasileiros costumam registrar, na escrita, uma vogal antes do R, igual à vogal da sílaba. Por exemplo, a palavra RÃ, que quer dizer “sol”, é comum encontrarmos escrita, por 4 pesquisadores brasileiros,como ARA ̃ou ARAN .

Assim temos:

- GOIOXIM = NGOI + XĨ = água pequena, isto é, rio pequeno.
- EREXIM = RÊ + XĨ = campo pequeno.
- EREBANGO = RÊ + MBÂGN = campo grande, campina grande.
- GOIO-ERÊ = campina d’água
-
Existem muitas diferenças regionais entre os falantes de Kaingang, a mais importante esta a distinçao de falantes de São Paulo e falantes do Sul. D ́Angelis (2000, p.127) diz que, “diferentemente dos dialetos do Sul, o Kaingáng de São Paulo está ameaçado de extinção”77. E, em trabalho posterior, ao tratar a unificação e diversificação ortográfica, o autor mostra que:

O isolamento geográfico terá sido, certamente, uma das causas da diferenciação dialetal mais pronunciada observada nos Kaingáng paulistas em relação aos grupos Kaingáng situados ao sul do Paranapanema. Outras razões certamente serão as relações interétnicas estabelecidas em cada região (não apenas com respeito ao sul e norte do rio Paranapanema, mas também, em regiões distintas dos Kaingáng da parte meridional), o que implicou em empréstimos e mútuas influências entre as diferentes línguas. (D ́ANGELIS, 2005, p. 30)

Pronomes pessoais

Essa diferença pode ser bem observada entre os pronomes pessoais de aldeias relativamente próximas, a de Icatu em Braúna-SP e a aldeia Vanuíre localizada em Tupã-SP:


CONVENÇÃO LINGUÍSTICA Aldeia Vanuíre (2000)
USOS RECENTES Aldeia Icatu (2010)
EM PORTUGUÊS
1. ik
ik
Eu (1a.p.s.)
2. ã
Você (2a.p.s.)
3. ti
Ele (3a.p.s.)
4. wi
Ela (3a.p.s.)
5. eng
eng
Nóŝ (1a.p.p.)
6. ãiak
ẽ wã
Voceŝ (2a.p.p.)
7. ak
ak tí
Eles(3a.p.p.)
8. wak
wak wí
Elaŝ (3a.p.p.)

De forma geral, segue construção gramatical básica, compreensível em ambas as aldeias:

Inh panh ta jun hur
1SG pai NOM chegar agora.PAS
‘Meu pai (já) chegou.’

ẽn jiji hẽ ne (ke)ti 
‘Como é o seu nome?’
ẽn 2SG jiji nome hẽ (marcador de interrogação ‘como’ hẽ) 3SG.M (literalmente como ele te chama?) 

Meu nome é Ka􏰁gru
Iñ jiji ne Kagru
Eu sou denominado Kagru (nome típico dos Kaingang)
adaptado de D ́Angelis, 2008a, p.46

Verbos

Verbo chegar

Inh panh ta jun hur
1SG pai NOM chegar agora pas
Meu pai já chegou

Kófa t􏰂 jun huri. 
Velho NOM chegar já
‘O velho já chegou’

Eu - ik wã jun
Tu - Ti tĩ jun
Ele – Ti wã jun
Ela – Wi wã jun
Nós – En wã jun
Vós  - Eẽ wã jun
Eles - Ak wã jun
Elas – Wak wã jun

Kotit_e ti-wã iamĩ _kuprí kakané pehut nha-tĩ 
Criança_PL 3SG-NOM pão_branco fruta comer ASP-ir
As crianças foram comer pão e fruta

Verbo dar
I-ma-nim 
1SG-BENEF-dar
‘Dá para mim.’

Ti mâ nim 
3SG.M BENEF dar
‘Dá para ele.’

Texto em Kaingang

Kanhgág ag tóg ẽmã tag kren ja nῖgtῖ, fó ag mỹ prỹg tỹ 1960 kuju kãmῖ, kanhgág ag tỹ ga tag kri nỹtῖ ja ag pétẽn kãn ja ag nῖ fóg ag. Kỹ sóg nén
kar tag kãmῖ ũn tátá tag fag rãnhrãj kỹ han ja ẽn to inh vẽnhrá han jé ke
mũ. Fag jagnẽ kóm han han ja ẽn, fag tỹ fag krẽ jijinjin, gaf krẽ krẽ ti ke
gé. 

A aldeia sofreu, até meados de 1960, o esbulho total de seu território e a expulsão dos nossos antepassados kaingang que ali viviam. Nesse contexto, estudo a atuação dessas mulheres, considerando suas trajetórias, os seus caminhos e de suas famílias, bem como as alianças entre as mulheres, as redes de parentesco e a preocupação com a nominação kaingang dos filhos e netos, com sua influência na vida da pessoa. 

3- Terena
Diálogo em Terena- Na kixeaye ne ihe? Como se chama? Peturu kohea - Me chamo pedro

A terceira língua mais falada no Brasil, da família Aruak, pertencente ao subgrupo maipureano, muitos de seus falantes têm pouca proficiência no idioma português; 20% são alfabetizados em seu próprio idioma, e 80% no português, tal como o Japonês, é uma língua aglutinante:

Nake ie ihe? Como você está?
Unati n’goiye – eu estou bem.
Unati upan neiye – Bom dia!

É falado principalmente no estado do Mato Grosso do Sul, especialmente nos municípios de Aquidauana, Miranda, Nioaque, Sidrolândia, Anastácio e Dois Irmãos do Buriti; também se encontram falantes do terena em Porto Murtinho, na terra indígena dos cadiueus, em Dourados, na terra indígena guarani-caiouá, e em São Paulo, no Posto Araribá, perto de Avaí e Bauru.

Vogais

 


i ĩ iː
(ɨ)
u ũ uː
Medial
e ẽ eː

o õ oː
ɛ ɛː

ɔ ɔː

a ã aː

[5]

Consoantes

 


surda
p
t

k
ʔ
pré-nasal
ᵐb
ⁿd

ᵑɡ

surda

s
ʃ

h
pré-nasal

ⁿz
ⁿʒ


m
n




ɾ




l



w

j


Gramática

Um dos raros idiomas que apresenta a seqüência VOS (verbo-objeto-sujeito) sem duvida uma das principais particularidades do Terena - na frase Koepekoatimo huyeno ne kamo, o verbo vem no inicio da frase, literalmente “matará o homem este cavalo”

“Enepone xâne ákoti yútoe enóne ne xâne ákoti píha tumúne”.
“O povo que não tem escrita é um povo que não se desenvolve”. Vygostk

Pronomes

Undí – eu Undi xünati – eu sou forte
Iití – você – iití xünati – você é forte
Né’e – ele – Xünati né’é – ele ou ela é forte
utí – nós – Uutí xünatí – nós somos fortes
 vós não existe na língua Terena
Xünatihiko – eles são fortes

Verbos

Arau-ng-o-ti-mo - eu vou nadar – 1SG nadar modo futuro
Y-arau-k-o-ti-mo – você vai nadar – 2SG nadar modo futuro
o-arau-k-o-ti-mo – Ele (ou ela )vai nadar – 3SG nadar modo futuro
V-arau-k-o-ti-mo – Nós vamos nadar – 1PL nadar modo futuro
Y-arau-k-o-ti-noe-mo – Vocês vão nadar – 2PL nadar modo futuro
o-arau-k-o-ti-hiko-mo – Eles vão nadar – 3PL nadar modo futuro

ma-hi ovoe ko-eha?
-EVID jabuti CAUS-nome
"Se chamava jabuti".

Heruruxa ne ihe yara hoyuhopetike – rabisque seu nome nesse caderno;
Yitaxa ihe yara keyuhopeke – escreva seu nome no caderno;
Mbahukoa yundoxea ne ihe – errei de escrever seu nome

Na kixeaye ne ihe? Como se chama? Peturu kohea - Me chamo pedro

Texto em Terena

“Enepone vokoo ho'openo


voko'o n. acauã. (ave, Herpetotheres cachinnans)

oti heru kixo peyo kaxe ahati ihamakea xoko movo'oti xuve tikoti oposiko nika, kutiati semu, koexoe. kuanemaka imapeti enepo eneo, akomaka topi inonexoku sairio sairio kixoa ne tuti. Enepo haikopono ouke ovokuti vaere kikoekone eto'okoti koe neko xane meku. Kuane enepo kamokono eneya ya xapa uhiti koima'iti kixoku ne eneya. Kuane akomaka eneohi akoe, kuatru koe okoku enepo eneo, ukeaku yuponiti, ukeaku kassati, ukeako mane koke yoko onomekopoku kiyoi kaxe.Enepo eneo ya ukeaku mane koke kixoikoti keno'okea xunati uko, enepo eneo ya ukeaku kassati, kixoikoti kassati, enepo eneo ya ukeaku yuponiti unati eyekouti, enepo eneo ya onomekopoku kaxe harakene vahere eyekouti. Enepora yutoiti undi yutoxoa ngaunae
yuho xane meku, epoxo kanauti
kixoikone.”

Português

O acauã é um pássaro da família dos gaviões e se alimenta de insetos e répteis como lagartos, cobras entre outros. É um pássaro muito ágil e usa as suas garras para pegar presas. É uma pássaro muito "agoreiro", segundo os antepassados, quando ele passa cantando em cima de uma casa é sinal que alguma coisa ruim vai acontecer naquela família, como morte por exemplo. Ele canta em quatro sentidos: norte, sul, leste e oeste e para cada canto tem um significado. Quando canta para o norte está avisando que vai chover, para o sul avisa que vai esfriar, para o leste é aviso de que alguma coisa muito boa vai acontecer para quem ouvir, já para o norte está avisando de algo muito ruim, como morte. Esses são os relatos dos antepassados que eu guardo e acredito por que já presenciei muito desses avisos.
Fonte: Anésio Alfredo Pinto, 2013)

6 – Makuxí

Diálogo Makuxi - Anî’ ayese’? - Qual é seu nome? Uyese’ Ani’ke - Meu nome é Ani’ke
Macuxi é a mais populosa das línguas Karib, sendo falada por 30 mil pessoas no Brasil e na Guiana. Também conhecido como Teweya ou Teueia. Abbot (1991) descreve Macushi como tendo ordem de palavras OVS (objeto – verbo – sujeito), porém, para destacar o sujeito se usa SOV.




Consoantes[3]

surda
p
 

t
 

k
 
sonora
b

d


surda


s

h
sonora
z


m

n






w


j



Gramática

Assim como grande parte das linguas indigenas americanos, o Macuxí também faz uso da adjetivação do substantivo:

Aranne' pe pra e'tî, ta'pîiya.
Não tenha medo, ele disse
Temerosos como não seja disse ele.

Pronomes pessoais 

Tal como no Tupi antigo, existem duas formas de ‘nós’, o exclusivo que deixa de fora o interlocutor e o inclusivo, no qual o ouvinte faz parte do grupo.

Uruî – eu,me,mim
Amîrî – tu, te, você, lhe
Mîîkîrî – ele, ela
Anna – nós, nos, nosso, nossa (exclusivo)
Uurînîkon – nós (inclusivo)
Amîrînîkon – vocês
Inkamoro – eles. 
To – eles, elas, deles, delas

Verbo
Verbo chegar
Uuipî – Eu chego
Aipî – Você chega
Iipî – ele, ela chega

Eu sou bonito – Mîînîrîpe uurî
Minha esposa é bonita – Ema’non u’nopî
A lua é bonita – Morî kapoi

Os Makuxis tem topônimos em seu próprio idioma para o lugares com nome em português:
Kuai Kîrî – Boa vista
Ken Pona - Rio Branco
Pîkaruma ipin – Serra da missão do Surumu

Anî’ ayese’? - Qual é seu nome? Uyese’ Ani’ke - Meu nome é Ani’ke

Inkamoro epuꞌnenan aminke pai iipîꞌsan warayoꞌkonya tenkuꞌtîsaꞌ epuꞌtî tîuya
yeꞌnen pata esaꞌ Herodes ekoreꞌmaꞌpî mararî pra. Mîrîrî yeꞌnen tamîꞌnawîronkon moreyamîꞌ warayoꞌkon tîꞌka meꞌpoꞌpîiya asakîꞌne konoꞌ maꞌrankon Belém po. Moropai iwoi tîîkoꞌmansenon. Inkamoro moreyamîꞌ asakîꞌne konoꞌ maꞌrankon tîꞌka meꞌpoꞌpîiya maasa pra inkamoro warayoꞌkon aminke pai iipîꞌsanya, îꞌ pensa kaiwano’ era’ma’pî tîuya’nîkon ekareme’sa ye’nen.

Português

Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos.


Dialogo em Sater-Mawé - Kat ei eset? -> Qual o seu nome? - Valeria 

O idioma Sateré-Mawé é falado por aproximadamente 10 mil indivíduos sateré-mawé que habitam, em sua maioria, as margens do médio rio Amazonas, na região fronteiriça dos estados Amazonas e Pará, do tronco linguístico Tupi. 

Como tem raiz Tupi, o idioma também faz uso da adjetivação do substantivo - para se dizer ‘Eu estou com raiva’, diz-se literalmente ‘eu enraivecido’, com o sujeito ‘eu’ no inicio da frase e o verbo no final (SOV) ficando assim: Uipy’ahak (eu – py’ahak, enraivecido). 

Se tiver interesse em saber mais, existe esse grupo no FACEBOOK - https://www.facebook.com/groups/362923040386578/

Básicos do dia-a-dia:

Ihot’ok -> Bom dia
Heika’at -> Boa Tarde
Wantym -> Boa Noite
Eriot! -> Vem!
Ei!-> ok!
Waku Sese!-> Tudo bem!(Muito Obrigado!)
Aikotai?? -> Como está?
Uito uipat ewywo -> Eu quero ir com você
Uhesy’at -> Tô com fome
ta’i -> sim.
En -> você.
Ui’ahu -> tô doente(com febre)
Moroky’e -> TE AMO
Torania -> Todos!
Uhehat’at aru! -> Sentirei Saudade!
Kan? -> Oquê?
Yt kat hap’i -> de nada
Uhe na’ak -> Estou com frio
Areken’e kahato -> Tenho muito medo
To’iro -> Vamos!
Are y’utui -> Quero água (tô com sede)
Uipy’ahak -> Estou com raiva
Arehum kahato -> Estou Feliz
Uiket’at -> estou com sono!
Mowyro -> Ajuda
ha’ã -> sim (fala feminino)
Mi’itã -> Com certeza
U’i -> Farinha
Mi’u -> Comida
Y’y -> água
Waikiru -> Estrela

Pessoas e Animais

Seruwai -> Cunhado
Mi’i -> Ele
hary -> Vó
haryporia -> Mulher
hirokat -> Criança
Puruwei -> Professor
Puruweira -> Professora
Popera -> Caderno
Pira -> Peixe
Meh? -> Moço
Pi’ã hin -> Moça
Waipaka -> Galinha
Aware -> Cachorro
Ase’i -> Idoso
Uito -> Eu
hapiri -> rato
Moi -> Cobra
Ahut -> Papagaio

het = nome - katsom eset =  ‘como é seu nome?’
Kat ei eset? -> Qual o seu nome?


Verbos
Em Sateré-Mawé os verbos médios e ativos são formados, basicamente, de prefixo pessoal agentivo (que indica o agente da ação), seguido de índice radical verbal (Uito uipat ewywo -> Eu quero ir com você). Os verbos ativos, especificamente, podem ser flexionados por prefixo pessoal inativo ou prefixo portmanteau.

Conjugação do verbo falar - haˆ ‘falar’

uhehaˆ - ‘eu falo’ - 1SG:So-rel-falar
ehaˆ ˆ - ‘tu falas’ - 2SG:So-rel-falar
ihaˆ ˆ - ‘ele fala’ - 3SG:So-rel-falar 
uruehaˆ ˆ -  ‘nós falamos’ - 1PL.EXCL:So-rel-falar
ahehaˆ ˆ - ‘nós falamos’ - 1PL.INCL:So-rel-falar 
ehehaˆ ˆ ‘vocês falam - 2PL:So-rel-falar
i’atuehaˆ ˆ - eles falam’ - 3PL:So-rel-falar

REFERÊNCIAS

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ALVAREZ, G. O. O ritual da Tocandira entre os Sateré-Mawé: Aspectos simbólicos do Waumat. (Série Antropologia 369). Brasília, Universidade de Brasília. Disponível em: <http//vsites.unb.br/ics/dan/Serie369empdf.pdf>. Acesso em 03/03/2007
ALVAREZ, G. O. Sateré-Mawé: Do movimento social à política local. (Série Antropologia 366). Brasília, Universidade de Brasília. Disponível em: <http//vsites.unb.br/ics/dan/Serie366empdf.pdf>. Acesso em 03/03/2007.
____________. A Língua Kaingang, a formação de professores e o ensino escolar. In. ALBANO, E. (orgs). et all. Saudades da Língua: a linguística e os 25 anos do IEL. Campinas/SP: Mercado das letras, Campinas, 2003. p. 373-391
D ́ANGELIS, W.R.; SILVA, M.A.R. Estructura silábica y nasalidad vocálica en el Kaingang paulista. Actas I Congreso de Lenguas Indígenas de Sudamérica, Lima-Peru, tomo I, Universidad Ricardo Palma,
DIETRICH, W. More evidence for an Internal Classification of Tupi-Guarani Language. (=Indiana, Supplement 12) Berlin: Gebr. Mann, 1990
FRANCESCHINI, Dulce do Carmo. La Langue Sateré-Mawé: Description et Analyse Morphosintaxique. 1999. 297 p. Tese (Doutorado) – Université Paris VII (Denis Diderot), Paris, 1999.GRAHAM, A. & S. Assinalamento fonológico das unidades gramaticais em Sateré. Tradução Mabel Meader. (Arquivos de Anatomia e Antropologia, Vol. III – ano III). Rio de Janeiro, 1978. p. 219-231.
GRAHAM, S. Sateré-Mawé Pedagogical Grammar. Summer Institute of Linguistics, 1995.
LEITE, A. G. de O. Educação Indígena Ticuna: Livro didático e identidade étnica. Dissertação (Mestre).UFMT.Cuiabá, 1994.
NAVARRO, EDUARDO DE ALMEIDA
Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos
Editora Vozes, 1998
NIMUENDAJÚ, C. Zur Sprache der Maué-Indianer. Journal de La Société des Américanistes 22. 1929. p. 131-140.
NIMUENDAJÚ, C. The Mawé and Arapiun, Handbook of South American Indians, Vol. III: Cooper Square publishers, N.Y. 1948. p. 245-254.
PIKE, K. Phonetics. Michegan, University of Michegan Press. 1943. ____________.Phonemics: a Technique for Reducing Language to Writting.
Ann Arbor, University of Michegan Press. 1947.



sábado, 8 de fevereiro de 2020

Itagenemimética os Top 12 aprendizados legados de nossos indígenas brasileiros

Citei apenas 11 aprendizados que me ocorreu, facilmente podemos chegar nos 20, 40, 100 ou 1000 deles...



Você já ouviu falar da Meperita? Uma cola adesiva feita com própolis, usada pelos Mehinako — o "Super Bonder™ da floresta", totalmente biodegradável e eficaz. Ou do PÜKÜTIVE, uma estrutura usada por eles para transportar objetos pesados sobre a cabeça, aproveitando o equilíbrio do corpo com eficiência energética. E que tal o sabão vegetal dos Tupinambás ou a bebida fermentada Cauim, rica em significado e microbiota?

Estes exemplos não são curiosidades exóticas. São soluções engenhosas, desenvolvidas com base na observação atenta do meio ambiente e na convivência respeitosa com a natureza. Hoje, essas práticas podem inspirar alternativas mais saudáveis e sustentáveis para nosso cotidiano.

Vida em Harmonia com o Ambiente

A superioridade da vida tropical indígena não está nos confortos da tecnologia, mas na elegância da convivência com a natureza. As florestas, rios, plantas e animais não são apenas recursos: são parentes, divindades, fontes de aprendizado. Segundo Murgel (1930), a relação dos povos indígenas com a natureza é tão profunda que transforma rios em deuses e árvores em símbolos de sabedoria. Assim, o cuidado com o ambiente não é um dever — é parte da identidade.

Costumo chamar essa sabedoria aprendida oralmente, de geração em geração e reforçada por relatos históricos, de itagenemimética (o ato de imitar os mais velhos).

Os últimos avanços em bioengenharia, combinados com o conhecimento ancestral indígena, podem abrir perspectivas nunca antes inimaginadas ​​para a humanidade, como medicamentos para curar diferentes tipos de câncer, vitaminas capazes de aumentar a longevidade e muitas outras.

Em 1614, D’Abbdeville registrou que os indigenas reconheciam fenômenos naturais no horizonte que escapavam aos marinheiros mais experientes. Eles sabiam, só com o olhar, distinguir entre uma nuvem e uma terra distante. Isso não é apenas sensibilidade: é ciência de observação, transmitida oralmente, dia após dia, geração após geração  (saiba mais sobre astronomia indígena).

Saberes que revolucionaram (e podem continuar revolucionando)

Você sabia que o conhecimento indígena sobre plantas medicinais ajudou a desenvolver a anestesia moderna? Com domínio de mais de 200 mil espécies da flora, os indígenas testaram, categorizaram e ensinaram os usos terapêuticos das plantas muito antes da ciência ocidental reconhecê-los. Sem esse saber, boa parte da medicina atual simplesmente não existiria.

Além disso, hábitos tão naturais para muitos brasileiros — como dormir em redes, tomar banhos diários, consumir guaraná — vêm diretamente dos povos originários. Ainda hoje, há práticas que podemos (e devemos) redescobrir:

1- Guaraná – o estimulante 100% brasileiro


Os indigenas da etnia Sateré Mawé foram os primeiros a descobrirem e nos legar os benéficos efeitos do guaraná, uma as bebidas mais consumidas no Brasil na forma de refrigerantes.

 A Paullinia Cupana, é atualmente usada também como suplemento nutricional, haja vista as suas propriedades estimulantes, principalmente da guaranina, substancia estimulante cuja o efeito é de 4 a 7 vezes mais eficiente do que o da cafeína, alem das vitaminas A, B1, B3, E, PP, Cálcio, Ferro, etc. tem importante papel na regulação do peso, diurético, para tratamento de diabéticos o guaraná é um importante coadjuvante no controle de glicemia, melhora o desempenho intelectual e sexual.

O guaraná tem sua maior produção no estado da a Bahia, onde o cultivo além de ser feito em larga escala, possui grande notoriedade socioeconômica.

Preparo e consumo do guaraná pelos Saterés Mawés

Para fazer o bastão de çapó, a mulher Sateré Mawé inicia o processo colhendo os grãos de guaraná maduros das plantas. Em seguida, ela os descasca para obter as sementes, que são deixadas de molho em água por um período específico. Depois desse tempo, as sementes são secas em um forno.

Uma vez secas, as sementes são colocadas em um pilão e socadas até se transformarem em uma massa homogênea. Água é adicionada gradualmente à massa, formando uma mistura semelhante à massa de modelar, conhecida como "pão de çapó".

Com a massa pronta, ela molda o "pão de çapó" em bastões ou rolos, que são colocados para secar em um fumeiro. O fumeiro é uma tenda quente onde fogueiras são acesas para defumar o bastão de çapó. Esse processo de defumação dá ao bastão de çapó seu aroma característico e o prepara para ser ralado na língua de pirarucu durante o ritual de preparo do çapó.

O çapó, guaraná em bastão ralado na água, é a bebida cotidiana, ritual e religiosa, consumida por adultos e crianças em grandes quantidades. O preparo e o consumo do çapó seguem uma série de práticas que somadas resultam em uma sessão ritual, que são sempre as mesmas, seja quando o çapó é oferecido para a família, ou durante uma reunião de tuxauas.

Cabe à mulher do anfitrião, ou a uma de suas filhas, ralar o guaraná numa pedra que cabe na palma da mão, ou, mais recentemente, numa língua de pirarucu (Arapaima gigas). Esta operação é feita com a bola ou o bastão de guaraná molhados, em fricção com a superfície da pedra ou da língua de pirarucu, formando uma espécie de uma “lama” fina de guaraná que vai sendo dissolvida com água dentro de uma cuia (Crescentia cujete). A cuia quando não está no colo da fazedora do çapo, ou quando não está passando de mão em mão, permanece apoiada no patawi.

Quando a mulher que está preparando o çapó verifica que chegou a quantidade correta de guaraná ralado diluído na água, passa a cuia para seu marido, que primeiramente se serve de um pouco do çapó, para então passar para os presentes, entregando a cuia em primeiro lugar para os mais velhos, ou para visitantes ilustres. Daí em diante, a cuia passa de mão em mão, e quando esvaziada é entregue para o dono da casa, que por sua vez devolve à esposa que prepara uma nova rodada de çapó.


Caso algum participante da sessão de çapó não goste da bebida não irá recusá-la, bebendo apenas um pequeno gole e passando adiante. Outra formalidade importante é que a ultima pessoa da rodada de çapó não deve devolver a cuia vazia para o dono da casa, sempre deixando um pouquinho de çapó.


As sessões de çapó têm várias rodadas, ou seja, a mulher do dono da casa irá preparar várias cuias de çapó conforme a disposição dos visitantes e familiares de tomarem çapó e conversarem. Geralmente o dono da casa que encerra a sessão passando a cuia com o restinho de çapó para algum membro de sua família;

2- Meperita – a Super Bonder™ da floresta 


Recentemente cientistas da Unicamp e da Universidade de Rochester (EUA) obtiveram resultados promissores com o uso do própolis de abelha como agente antimicrobiano no combate à cárie e à doença periodontal. Um estudo recente mostrou que o uso de um enxaguatório oral com própolis do Rio Grande do Sul por indivíduos que se abstiveram de escovar os dentes durante 3 dias e ainda fizeram bochechos com uma solução de sacarose (o açúcar refinado comum) cinco vezes ao dia tiveram uma redução de 40% na formação da placa bacteriana, grande vilã no desenvolvimento das duas principais doenças da cavidade oral.

O mecanismo de ação parece estar associado à inibição da enzima glicosil-transferase, responsável pela transformação do açúcar que ingerimos em polissacarídeos insolúveis, que por sua vez formam uma espécie de cola biológica utilizada pelas bactérias para se fixarem à superfície dental. Protegidos e seguros nesse micro-habitat, os microorganismos metabolizam o açúcar e produzem ácidos e toxinas que desmineralizam o esmalte dentário e agridem os tecidos periodontais (gengiva, fibras de inserção do dente e osso). Alguns compostos presentes no própolis agiriam derrubando a casa das bactérias, por assim dizer, diferentemente do que ocorre com a ação de outros agentes químicos usados no combate à placa dental, como é o caso da Clorexidina, que age diretamente sobre a célula bacteriana.

Mas os indígenas já fazem uso da própolis para diversos fins a muito mais tempo, um dos exemplos mais impressionantes é a massa adesiva “Meperitchia” feita pelos Mehinakos a partir da própolis que funciona como um Durepox™.

3- Dormir em redes


Uma tese de doutorado feita pelo professor Ricardo Ramos da Universidade Estadual de Roraima (UERR) comprovou que os benefícios de se dormir em redes vão além da transmissão de sensação de conforto.

Natural da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o enfermeiro e doutor em Ciências, Ricardo Ramos, disse que a idéia surgiu por meio de uma observação empírica, já nos primeiros dias em que chegou ao Estado, a mais de dez anos atrás.

“A pesquisa foi feita pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro [Unirio], por meio do programa de doutorado de Enfermagem e Biociências, do qual eu fazia parte como aluno. Os testes foram todos feitos dentro do laboratório do curso de enfermagem da Universidade Estadual de Roraima [UERR]...”.

Segundo ele, foram realizados aproximadamente 100 testes no laboratório de enfermagem da UERR. Durante os testes, o especialista notou diferenças perceptíveis na temperatura corporal das cobaias. “40 pessoas foram utilizadas no estudo e elas realizaram teste tanto em redes quanto nos colchões, com tempo cronometrado em 30 minutos.

Os benefícios são múltiplos, principalmente para os convalescentes, tais como alivio do peso do corpo em muitos casos de danos à coluna, melhor resposta a febres e doenças ligadas a capacidade da pele de resfriar o corpo, alem do grande beneficio de reduzir o custo na ampliação de leitos hospitalares, “Nas unidades hospitalares, nós já temos a adoção das redes para os pacientes indígenas. Porque também não oferecer o mesmo para os não indígenas? Isso ajudaria de alguma forma a desafogar leitos, que é um dos principais problemas da atualidade. Temos também a questão dos pacientes acamados em casa, que também passam a contar com essa vantagem, já que o custo de uma cama está em torno de R$ 1.500, e um colchão hospitalar na faixa de R$ 600”complementa o médico.

O primeiro relato sobre as redes encontra-se na carta de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil, lá vemos os detalhes sobre a vida na floresta, endereçada ao o rei de Portugal, Dom Manuel Primeiro, em 1500.

"Havia 9 ou 10 casas as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitânia; e eram de madeira; tinham por dentro muitos esteios e de esteio a esteio uma rede, atada pelos cabos, em cada esteio e altas, nas quais dormiam", revela o documento.

"Ela significa ou representa também a certidão de nascimento da rede, já que ela registra o primeiro contato dos europeus, dos portugueses com os indigenas no Brasil", relata o historiador e antropólogo Márcio Couto Henrique, que ainda complementa "A rede serve não só pra embalar o corpo das pessoas, mas os sonhos, as fantasias e a vontade de viver".

4- Fumo, Ayahuasca e Paricá – ‘medicinas’ da floresta


Como já mencionei no texto introdutório, a cultura civilizada transformou o habito de fumar em um dos mais degenerativos da nossa sociedade atual, isso se deveu à um total desequilíbrio de consumo – os indigenas sabem muito bem que forças da natureza são remédios, que se usados na dosagem certa curam, mas em mal uso tornam-se em poderosos venenos.

Do ponto de vista espiritual, todas essas ‘medicinas’ indígenas vem sido usadas na sociedade atual como uma nova forma religiosa e filosófica de se integrar ao mundo natural, respeitar o planeta e entender as gigantescas forças de equilíbrio que nos movem.

Ainda em estudos, a ayahuasca vem sido usada na lida de dependentes de drogas ilícitas, usada em tratamentos não ortodoxos, em contexto religioso/filosófico, como auxiliar na redução do consumo abusivo de psicoativos. Foi utilizada em pesquisas de estudo de caso, no qual entrevistas abertas com uma usuários regulares de cocaína, nicotina e álcool que abandonaram este comportamento após entrar em contato com a ayahuasca. Apesar de ser considerado com tabu, pesquisa como essa abre as portas para resolver um dos mais graves problemas sociais que enfrentamos hoje no mundo.

Ayahuasca - A palavra ayahuasca tem sua origem na língua Quéchua, língua falada nos altiplanos andinos (Dobkin de Rios, 1972), e significa, dentre outras, "corda dos mortos", em referência às várias espécies de cipó utilizadas como base da preparação de um psicoativo utilizado por pelo menos 72 grupos indígenas diferentes, espalhados pelo Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Bolívia e Equador.

Paricá - Existem basicamente dois utensílios utilizados no costume inalar o rapé (Paricá) - ó Tepí, utilizado pelo xamã para assoprar a medicina no membro da aldeia e o Kuripe, utilizado pelo próprio usuário. Pode ser utilizado por meio dos quatro elementos: 1-Fogo: é o tabaco queimado em cachimbos e apenas baforado, sem tragá-lo. Utilizado por meios de ritualizações e rezas. Considera-se que a fumaça lançada ao ar carrega a oração até o Grande Espírito; 2-Terra: é o tabaco seco mascado e cuspido; 3-Água: preparado pela sua infusão em água a dias e inalado via nasal ou oral(de acordo com o ritual); e o 4-Ar, usado no ritualístico do rapé (aspirado via nasal);

5- O Sabonete Tupi, Genipapo Verde, o Banho Diário, Ervas e a Garrafada – os remédios da Floresta


Muito antes da chegada dos europeus, os povos Tupis já conheciam o poder da natureza para cuidar do corpo e do ambiente. Um exemplo marcante é o uso da saponária, nome popular para o fruto do Sapindus saponaria, também conhecido como genipapo verde, sabão-de-soldado ou saboeiro.

Essa planta nativa das Américas era usada pelas comunidades indígenas como sabão natural — bastava esfregar os frutos em contato com a água para formar espuma e realizar a higiene pessoal ou até lavar utensílios. Era uma tecnologia viva, passada entre gerações, que mostrava o equilíbrio entre ciência e natureza.

O segredo está no seu princípio ativo natural: as saponinas. Essas substâncias têm ação detergente, antimicrobiana e antifúngica, capazes de limpar suavemente sem agredir a pele ou o meio ambiente. Hoje, esse conhecimento ganha nova relevância frente à busca por alternativas sustentáveis e menos químicas na indústria cosmética e de limpeza.

A saponária é mais do que uma planta: é símbolo da inteligência ecológica e bioquímica dos povos originários, que há séculos entendem o que a ciência só recentemente começa a validar.

O banho em águas termais e seus efeitos benéficos são antigos conhecidos da humanidade, mas foi o convívio com nossos indigenas que fez com que os colonizadores percebessem que a higiene era a melhor profilaxia contra milhares de enfermidades relacionadas a falta dela, tais como a cólera, leptospirose, amebíase, ascaridíase, etc,

No século 14 a malaria assolava o mundo, mas os jesuítas que estavam no Brasil pareciam ter a solução, eles faziam infusões com a casca de cinchona para combater os sintomas, o remédio dos indigenas funcionava perfeitamente. Mas foi só no século 18 que dois químicos franceses, Joseph Pelletier e Joseph Caventou, isolaram a quinina presente na cinchona e identificaram seu principio ativo como a cura da malaria. O feito talvez tenha sido o primeiro ato de itagenemimética, na qual um conhecimento indígena secular, se mostrou cientificamente como solução a um mal mundial. Alem disso,  proporcionou a popularização mundo do remédio indígena e, de quebra, a invenção da água tônica, refrigerante de quinino, derivado da quinina.

Clayton Coelho, pesquisador da Unifesp em uma recente pesquisa da Universidade da Paraíba analisou 23 especiarias usadas popularmente como remédios antimicrobianos com origem em conhecimentos indígenas. Depois de avaliar os efeitos, 40% das plantas tiveram suas propriedades comprovadas. Isso porque nenhum conhecimento surge do nada, sem qualquer embasamento.

Tal como o quinino e a aspirina, que fez uso da casca de arvores (o salgueiro no caso da aspirina, descoberta pelos indigenas americanos e também por Hipocrates, do outro lado do mundo), a toxina d-tubocurarina, extraída do curare, veneno que os indigenas colocam na ponta das flechas para imobilizar caças virou relaxante muscular, usado por anestesistas durante cirurgias, principalmente para controlar convulsões. Já o jaborandi, árvore típica das regiões Norte e Nordeste, oferece os colírios de pilocarpina, que os indigenasusam há séculos para estimular a produção de suor, que mais tarde se descobriu como um importante remédio usado na cura do glaucoma.

Já remédios químicos que tratam arritmia e insuficiência cardíaca devem sua vida a uma planta ornamental de flores em forma de sininhos, a dedaleira. O chá dessa planta era feito pelos indigenas nativos para um distúrbio na circulação do sangue que causa insuficiência do coração.

6- Sistema Agroflorestal – a fazenda inteligente

Um grupo de imigrantes japoneses chegou ao município de Tomé-Açu, no Pará, no fim da década de 1920 com proposta de plantar da pimenta-do-reino, Nos anos 70 com a queda dos preços e epidemias nos pimentais fez com que repensassem seu negocio. Baseado em antigo conhecimento indígena, eles passaram a cultivar a pimenta-do-reino no mesmo espaço do cacau, bem como com o cupuaçu, mamão, açaí, coco, maracujá, castanha-do-pará, borracha natural e paricá. A praga dos pimentais foi combatida por predadores locais, trazidas pelas outras plantas, em equilíbrio com a natureza.

De lá para cá, o sistema foi aperfeiçoado na base da tentativa e do erro para a escolha das melhores combinações de espécies. Hoje, Tomé-Açu é referência nesse tipo de plantio e a cooperativa acumula diversos prêmios relacionados a empreendedorismo e sustentabilidade. Além disso, a CAMTA promove e orienta a adoção dos sistemas agro-florestais para agricultura familiar em municípios vizinhos e realiza a comercialização dessa produção, um projeto que atende cerca de mil famílias da região.

Os Saterés Mawés tem suas mudas de guaraná plantadas em meio a floresta, com isso as plantas eram polinizadas e multiplicadas naturalmente, bem como tinham as suas pragas combatidas por agentes endógenos das matas. É também o caso do cacau e do cupuaçu, no qual muitas etnias indígenas perceberam que as pequenas abelhas uruçu-amarela (Melipona flavolineata) pareciam fazer multiplicar o numero de frutos dessas arvores. Mais tarde, pesquisadores do Embrapa descobriram que estas abelhas são as principais polinizadoras desses frutos.

O sistema agro-florestal, conhecido dos povos indígenas já a muito tempo, oferece uma série de vantagens como:
- Como gera grande quantidade de matéria orgânica no solo proveniente de diversas culturas, há menos necessidade de adubos e agrotóxicos;
- Essa variedade de nutrientes gera alimentos mais saudáveis;
- A cobertura vegetal abundante também retém a umidade da terra, protege as plantações do Sol e proporciona um ambiente mais agradável para o trabalho no campo;
- O plantio de diversas culturas ao mesmo tempo permite a produção continuada e gera renda durante o ano todo.

7 – O cauim - a bebida de catequese da floresta

“Nos últimos anos venho dedicando minhas atividades às funções de artista e cientista, principalmente no que se refere ao CAUIM, bebida alcoólica fermentada de mandioca, consumida por mais de 270 etnias indígenas brasileiras, que eu quero trazer para o grande publico na forma de uma bebida industrial, (com garrafa bonita e tudo) produzida com processos sofisticados, com grandes similaridades ao saquê. Essa iniciativa tem o grande propósito de fazer com que sintamos orgulho de sermos brasileiros de origem Tupi - sonho com o dia em que todos nós, brasileiros e/ou estrangeiros, poderemos comer os pratos sofisticados de Alex Atala ou Tiago Castanho harmonizado com Cauim dos Yekuanas ou dos Waurás, embalados na 'Tupi Pop Culture'.

A produção do Cauim dentre os Wajampis, chamado por eles de Caxiri, acontece conforme ritual antigo de tradição oral - a mandioca é ralada e mastigada pelas virgens Wajuins, o mosto então fervido e colocado em barcas de madeira, chamadas de Kasirirenas, recipientes que se caracterizam por serem rasos e largos, expondo grande área de superfície em contato com o ar, promovendo uma fermentação alcoólica promovida por leveduras endógenas que pode durar 20 dias.

A festa da cauinagem é a relação da bebida com a espiritualidade de nossos indigenas é muito similar com a relação que o saquê tem com a religião xintoísta no Japão, ambas as culturas compartilham de muitos elementos em comum, por isso adotei técnicas japonesas para produzir a bebida em sua forma industrial.

Trazer o Cauim para o consumidor brasileiro parece se a maior, a primeira, e a mais simbólica das atitudes de itagenemimética, tarefa a qual dedico toda a minha ciência, filosofia, historia e religião”. Luiz Pagano.

Numa situação imaginária vemos mestres Cauineiros de etnias optantes colocando mosto no tanque de fermentação, com a evolução social nas aldeias, o cauim comercial, diferentemente do cauim ritualístico, pode ser feito por homens. Infewlizmente essa é uma imagem aspiracional - quem sabe um dia veremos essa e outras censa como essa nas aldeias.

8- Spas Pihin – pintura corporal como forma de carinho e relaxamento



Em 2006 a top Gisele Bündchen passou dois dias na aldeia dos Kisêdjê, no Parque Indígena do Xingu - nordeste de Mato Grosso e entregou-se de corpo e alma aos costumes da etnia.

Após ser recebida pelo cacique Kuiussy Suyá e pelas integrantes da aldeia, Gisele foi transformada em uma nativa com a cuidadosa aplicação das pinturas corporais. Para a top mais majestosa do planeta, as índias fizeram grafismos tradicionais, destinados às mulheres que se destacam na comunidade por sua beleza. 
Inspirado nos saberes dos povos indígenas brasileiros, o Spas Pihin resgata uma tradição milenar onde o toque, a escuta e a pintura corporal se unem como forma profunda de carinho e cura. Mais do que uma estética, as pinturas com jenipapo e urucum desenham a alma sobre a pele, promovendo acolhimento, identidade e conexão com o sagrado. Nesse espaço de relaxamento, as pessoas não apenas recebem massagens que aliviam o estresse físico, mas são envolvidas por gestos de afeto e rituais que trazem equilíbrio emocional e espiritual. O corpo é tratado com respeito, o espírito é honrado, e o bem-estar emerge como consequência natural de uma troca verdadeira entre quem cuida e quem é cuidado. Em tempos de desconexão e correria, o Spas Pihin nos convida a parar, respirar e lembrar: o toque humano, guiado por sabedoria ancestral, ainda é uma das medicinas mais poderosas que existem.

Até então nunca tinha visto uma integração genuinamente brasileira tão prospera e a idéia de um Spa Pihin me pareceu, e ainda me parece o melhor investimento brasileiro em turismo. Em sua concepção original os Spas ‘Tupi Culture’ tem como atração principal a terapia do ‘Pihin’, também chamada de ‘terapia da pintura corporal’.

A técnica de Pihin busca trazer a civilização urbana o equilíbrio supremo através do conhecimento milenar da arte da pintura corporal indígena. Também conhecida como ‘a terapia completa’, a tecnica Pihin promove o melhoramento do indivíduo em todos seus aspectos; físico, estético, mental, espiritual e psicológico. http://ameobrasil.blogspot.com/2013/09/spa-pihin-ou-spa-nova-tupi-uma-nova.html

9 – Pegar onda na pororoca

A exemplo dos investimentos nos esportes de inverno, feitos pela Red Bull na Suíça e na Áustria, o Brasil também entra nesse cenário, com a pratica de esportes em meio às forças da natureza, patrocinados pela marca de energéticos Austríaca.

Em 2005 Serginho Laus conseguiu medir com precisão o que é surfar na pororoca do rio Araguari; Ele foi a 19,6km/h, por num percurso de 11,8km, que durou 36 minutos.

A ABRASPO - Associação Brasileira de Surf na Pororoca é a entidade que desde 1999 anos promove e divulga o surf na pororoca. isso também é uma forma de incentivar o turismo e o intercambio cultural entre o publico jovem.

10 – Estética, Design e arte

A partir desse décimo ponto, coloco algumas conjecturas e sonhos, mesclados e baseados em atuais realidades –

Oskar Metsavaht da Osklen, lancou no SPFW de2015 lanço uma linha completa de roupas com motivos baseados na cultura Ashaninka, foi grande sucesso no Brasil e no mundo.

O uso de piercings e botoques feitos de plexiglas podem vir a ser as principais manifestações culturais para adolescentes e simpatizantes da Tupi Pop Culture, muita arte ainda pode e será criada a partir de elementos Inspirados em artefatos indígenas. Inspirada nos Frank Gehry's Fish Lamps, vemos este ‘Abajur Pirarucu’;

11- Ocas tecnológicas e cidades sustentáveis

Talvez a melhor contribuição dos indigenas seja o fato de eles terem casas sustentáveis e biodegradáveis e aldeias despoluidoras em completa harmonia com a natureza – nesse campo os arquitetos e cientistas de vida urbana deveriam concentrar seus maiores esforços.

Nessa oca tecnológica, tal como a casa grande das aldeias os jovens se reúnem em um espaço de convivência escolar, inaugurando uma nova forma de pedagogia.

Casas com sistemas de compostágem e tratamento de água individuais,  poderiam ser construídas sem nenhum impacto as margens de rios repletos de vida.

Aqui vemos um prédio inteiramente construído de fibras vegetais e novidades de bio & nano tecnologia aprendida a partir do conhecimento indígena, no qual cada residente sente o balanço do vento em relaxante atmosfera de convivo a natureza.


Seguramente a Itagenemimética pode nos dar infinitas soluções para os problemas atuais, desafio o leitor a colocar nos comentários todas as aprendizagens que conhece, de nossos indigenas brasileiros ou de outras origens, para fazermos com que essa lista chegue em centenas de itens.



12- Pião de Tucumã

Aqui vemos o sábio Sykyã fazendo o pião de tucumã para seus netos

 Quanto a origem do pião, muitas teorias são atribuídas, no entanto sabe-se que o relato mais antigo vindo das notações feitas na expedição de Meriwether Lewis e William Clark pela America do Norte em 1804, descreve crianças de diversas etnias brincando com piões. parecia ser a nova coqueluche pelas aldeias da época.

O brinquedo tem sua existência relatada na tradição desde o inicio dos tempos por diversas etnias,  na América do norte e do sul. Quando os Panará foram transferidos de suas terras para dentro do Parque do Xingu, pelos irmãos Villas Boas, devido a construção da estrada BR 163, eles foram morar em uma aldeia junto com os indigenas Suyá. 

O pião pode ser feito com a semente do tucumã, uma fruta de uma palmeira típica da região amazônica ou com uma pequena cabaça.

Muito além do folclore

A diversidade cultural indígena do Brasil é comparável à da Europa: 222 etnias contra 234 no continente europeu. Mas ao contrário do que se pensa, esse universo não é estático, nem romântico — é altamente funcional e ainda inexplorado em seu potencial transformador para os desafios modernos, como mudanças climáticas, segurança alimentar e saúde preventiva.

Ao estudarmos, respeitarmos e aplicarmos esses saberes ao nosso cotidiano, não apenas homenageamos os povos originários, mas abrimos portas para soluções que respeitam o planeta e transformam nossa forma de viver.

Então, que tal começar por algo simples? Usar menos plástico, tomar um banho com consciência, dormir numa rede, repensar o que colocamos no prato ou buscar alternativas naturais de cura. A floresta tem muito a ensinar — basta ouvir.


REFERÊNCIAS

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FILHO, Alexandre Toccoli; /OLIVEIRA, Matheus Carvalho de; /RIBEIRO, Rafael Bicudo; /SANTOS, Rodrigo Silva
Malaquias dos. Cosmologia indígena brasileira: Tupinambás e Guaranis. Disponível em:
http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/246176/mod_resource/content/1/Cosmologia%20ind%C3%ADgena%20
brasileira%20-%20Tupinamb%C3%A1s%20e%20Guaranis.pdf. Acesso em: 2 Abr.2016.
LEVI-STRAUSS, Claude. O cru e o cozido. Editora Cosac & Naify. São Paulo: Brasiliense, 1991.
ROSENFIELD, Rogério. A cosmologia. Disponível em:
http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol6/Num1/cosmologia.pdf. Acesso em: 5 Mai.2016
MARQUES, C. T dos S; / GAMA, E. V. S; / CARVALHO, A. J. A; / SILVA, F; / FRIAS., M. T. RODRIGUES,
L. Relato sobre a Influência da Lua na Agricultura. Vitória: 1998.
D’ABBEVILE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do maranhão e suas
circumvisinhanças. Paris, 1614.
AFONSO, G. B. As constelações indígenas brasileiras. Observatórios Virtuais, USP, 2004.
AFONSO, G. B. Mitos e Estações no céu Tupi-Guarani. Scientific American Brasil, 2006. Disponível
em: http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/mitos_e_estacees_no_ceu_tupi-guarani.html
LUCIANO, Gersen dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos
indígenas no Brasil de hoje. Coleção educação para todos. Brasília: MEC/Secad; LACED/Museu
Nacional.
FABIAN, Stephen M. Space-Time of the Bororó of Brazil. Gainesville: University Press of Florida, 1992.

domingo, 27 de outubro de 2019

Festival do Anhangá, no vale do Anhagabaú


Celebrações ao Deus Anhangá, no Vale do Anhangabaú 

Culturas antigas dos colonizados foram obliteradas pelos colonizadores, mas não foram totalmente esquecidas, é muito comum ver num provo que decide se reinventar e se 'reamar', acordar suas crenças e até mesmo o seu idioma, como aconteceu com a língua hebraica, que após ter sido usada por mais de 1700 anos, essencialmente como veículo de expressão literária escrita e de orações,  foi revitalizada e integrada de forma viva e em uso com o restabelecimento do Estado judeu.

Tendemos a gostar do Halloween e da cultura norte americana, mas nós temos nossas próprias bruxas para cultuar, por exemplo o Saci…há quem defenda, "o halloween é uma festa antiga, é comemorada há mais de 2.500 anos e surgiu entre os celtas, que acreditavam que no último dia do verão, do hemisfério norte, 31 de outubro, os espíritos dos mortos saiam dos cemitérios para tomar os corpos dos vivos". O costume teria sido levado pelos imigrantes irlandeses para os EUA e incorporado ao All Hallows Even (véspera do Dia de Todos os Santos), dando origem ao Halloween.

Em celebração a nossa cultura original brasileira, caracterização antropomórfica do Deus Anhangá na forma da bela jovem albina de olhos de fogo.

São Paulo é a maior e mais prospera capital da America do Sul nos dias de hoje, assim como São Paulo de Piratininga, e o Inhapuambuçu o foi. Era o centro das Américas antigas, com trilhas que levavam a toda parte do continente, verdadeiras auto estradas para o caminhante que ao ira além do Pico do Jaraguá - O Senhor do Vale, podiam chegar às lendárias terras do Eldorado do Perú, como a mítica trilha do Peabirú.

O Anhangá é comumente retratado como um veado campeiro branco, de tamanho atroz, com olhos vermelhos da cor do fogo. 

Cosplay do Anhangá na Liberdade, local exato ond ficava o morro careca do Inhapuambuçu.

Ele é o protetor da natureza e persegue todos aqueles que caçam indiscriminadamente, desrespeita a natureza e pune aqueles que caçam filhotes ou mães que estão criando seus filhotes e poluindo suas águas (Anahngá anda tendo muito rabalho por aqui...).

Stickers do dia do Anhangá na Liberdade

Como a cultura dos stickers ( ステッカー文化  - sutekkaa bunka-literalmente) “cultura de adesivos” no Japão é parte de um movimento urbano que mistura arte de rua (ストリートアート  - sutorīto āto -  “street art”), subcultura jovem e influências globais, no japão, não tem por que não ter seu reflexo aqui no bairro da Liberdade.

Outros movimentos que se entrelaçam com o mundo do design gráfico independente e da cultura otaku são: o ゲリラアート (gerira āto) – “arte de guerrilha” (referindo-se à arte urbana não autorizada)
 e o ZINE文化 (zin bunka) – cultura dos zines e autopublicações, muitas vezes com troca de stickers envolvida

Como os stickers se manifestam no Japão

Artistas de rua em cidades como Tóquio (especialmente em bairros como Shimokitazawa, Koenji, Harajuku e Shibuya) usam stickers como meio de expressão rápida, portátil e altamente visual. Eles colam adesivos com seus personagens, slogans, logotipos ou colagens em postes, placas, muros e até trens.

Cultura do “slap” (スラップアート / surappu āto): vem do inglês “slap stickers”, termo usado para descrever adesivos colados em massa em lugares públicos como forma de marcar território visual.

Art Street: plataforma online criada pela MediBang, que abriga artistas independentes japoneses e internacionais. Lá, stickers digitais são amplamente usados, vendidos e trocados, e muitos dos designs se transformam em adesivos físicos vendidos em eventos como o Comiket ou lojas como Village Vanguard.

Onde essa cultura aparece

Lofts, Tokyu Hands, Don Quijote: lojas onde se vendem stickers tanto de marcas famosas quanto de artistas independentes.

Eventos de doujinshi (同人誌) e feiras criativas como Design Festa, onde stickers são trocados como cartões de visita artísticos.

Cultura kawaii e moda Harajuku: muitos estilos de moda urbana usam stickers como extensão da identidade visual, colados em celulares, notebooks, espelhos e até roupas.

A cultura dos stickers no Japão é profundamente conectada à identidade urbana, à arte independente e ao espírito do faça-você-mesmo. Ainda que não tenha um nome formalizado como subcultura específica, ela se entrelaça com movimentos como: Dekotora (caminhões decorados com adesivos) e o Shōjo manga art.


Tibiriçá e João Ramalho discutem o futuro da Vila de São Paulo de Piratininga sob a magia das estrelas com a montanha sagrada do Inhapuambuçu ao fundo c.1556 - Com a chegada das Ordens Beneditinas, Carmelitas e Franciscanas as tradições ancestrais dos Tupiniquim desaparecem - a  remoção da icônica pedra do Inhapumabuçu representa o esforço de apagar a religião antiga da memória para dr inicio às novas.

No lugar onde hoje temos o Páteo do Collégio, próximo ao povoamento de Tibiriçá,  uma montanha sagrada que dava nome a aldeia, Inhapuambuçu (do Tupi-Antigo i(nh)apu'ãm-busú o grande cume ou y(nh)apu'ãm-busú o grande ponto do rio) mas com a chegada das Ordens Beneditinas, Carmelitas e Franciscanas as tradições ancestrais dos Tupiniquim desapareceram - a  remoção da icônica pedra do Inhapumabuçu representa o esforço de apagar a religião antiga da memória para dr inicio às novas.

No delta de dois importantes rios, o Anhangabaú e o Tamanduateí, temos o que hoje chamamos de triângulo histórico, mas que época era conhecido como o triângulo sagrado. Os nomes em Tupi-Antigo de lugares nessa localidade mostram um pouco de como a cidade era naquele tempo - O próprio nome da cidade, Piratininga que em Tupi significa "peixe seco", revela que os rios eram vivos e tinham muitos peixes, muitos deles morriam nos alagadiços do Carmo (onde é hoje o largo Dom Pedro) secavam ao sol e eram devorados pelas já famosas formigas do Brasil, que por sua vez atraia os belos tamanduás bandeira, daí o nome Tamanduateí ( do Tupi-Antigo tamanduá te y - rio do Tamanduá).

O outro rio ficava num vale que era alimentado pelo córrego do Itororó, que descia da maravilhosa floresta do Ka'a Guatá (hoje conhecida como Avenida Paulista), esse rio que descia por onde é hoje a Avenida 23 de Maio, desembocava no córrego do Anhangabaú, que também tinha uma linda vegetação protegida pelo Anhangá, o deus Tupi das Caças e da natureza.

Tupiniquins de Piratininga observam o lindo e poderosos Deus Anhangá

O Anhangá é comumente retratado como um veado branco, de tamanho atroz, com olhos vermelhos da cor de fogo. Ele é o protetor da natureza e persegue todos aqueles que caçam de forma indiscriminada, desrespeitam a natureza e pune quem caça filhotes ou matrizes que estão nutrindo suas crias e poluem suas águas.

O vale do rio Anhangabaú era sagrado, os habitantes de Piratininga faziam cultos e festas para deixar o deus mais feliz e menos vingativo. Hoje nós não só afogamos o rio do Anhangá, como também nos esquecemos do espírito mor de nossa cidade. Desprezarmos nossas tradições tupiniquins dessa forma é imperdoável!

De outubro em diante começa a temporada das chuvas em SP e o D’us Anhangá certamente virá vingar-se daqueles que esconderam seu riu com concreto e asfalto, alagando nossas ruas, derrubando nossas árvores nos carros e casas. Se adotássemos a cultura #TUPIPOP , teríamos comemorações em celebração ao ANHANGÁ no dia do meio ambiente, talvez com uma parada no vale do Anhangabaú.

Xe Anhangá [gué/îu]!
Aîkugûabeté kó temi'u
Aîkugûabeté xe/oré remi'u

FAÇO AQUI UMA CONVOCAÇÃO A TODOS!!

Que tal celebrarmos o dia do Anhangá no DIA 17 DE JULHO, DIA DO PROTETOR DA MATA.

Vamos ao Vale do Anhangabaú em procissão, beber muito Cauim, para acordar e celebrar aquele deus que adormeceu debaixo do asfalto, literalmente coberto pela cultura dos outros, dos colonizadores portugueses.

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TEXTOS COMPLEMENTARES

Homenagem não é fantasia 

A corrente artística de Luiz Pagano - Tupi Pop - busca ir além das aparências superficiais e trazer à tona a essência de nossa diversidade cultural e étnica, já levou às ruas de Curitiba o evento Capivara Parade, mostrando a importância das boas relações entre os centros urbanos e a natureza,  e gerando recursos para a campanha do agasalho local; o Projeto Tembiu trouxe mais de 120 insumos da floresta Amazônica para a comunidade de Coquetelaria no ano de 2014, ao Lado dos Chefes Tiago e Felipe Castanho; e por meio do Dia do Anhangá, trás agora a ambiciosa proposta de integrar todas as etnias e culturas pertencentes ao vasto território brasileiro.

“A data de 17 de julho foi muito bem escolhida não só pela associação com a proteção da natureza, más também com a proximidade da data de um outro evento de amor e paz ente europeus e brasileiros –– 30 de julho 1524, data do casamento de Diogo Álvares Correa Caramuru e Paraguaçu na lendária Catedral de de Saint Malo.

Eu, brasileiro da Aldeia do Inhapuambuçu, que ainda moro próximo ao triangulo histórico, neto de Zuzu Correa de Moraes que nasceu no casarão da Rua da Gloria N.º4, onde hoje fica o respiro do metrô Liberdade, no coração do Inhapuambuçú, proponho um suspiro de liberdade, amor e união.

É imprescindível ressaltar que a união e aproximação das diferenças não significa ignorar ou minimizar o sofrimento vivido pelos povos indígenas diante do colonizador, que cometeu crimes como genocídio, tortura e obliteração da cultura originária por meio da catequese, entre vários outros crimes indizíveis. A idéia aqui é o início de um diálogo respeitoso e inclusivo, em que suas vozes sejam ouvidas e suas demandas atendidas.

Ao organizar seu evento indígena em São Paulo, o que mais levei em consideração foi a importância de criar um espaço seguro e acolhedor para que os povos indígenas possam compartilhar suas histórias, expressar suas culturas e se fortalecerem enquanto comunidades. Somente através do reconhecimento de suas lutas passadas e presentes, poderemos construir uma sociedade mais justa e equitativa para todos.

Foi no triásico que o Inhapuambuçú fez unir das vertentes os rios Tamanduateí e Anhangabaú, foi a quase  500 anos o Inhapuambuçú fez unir João Ramalho e Potyra e será aqui, no Inhapaumbuçú que os povos brasileiros aprenderão a se respeitar e a viver em paz e harmonia.

Devo dizer ainda que me orgulho do sobrenome Correa de minha família, a mera possibilidade de ser descendente de Caramuru e Paraguaçu me enchem de orgulho”.  

Luiz Pagano 

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O Curupira, também conhecido como Caipora, Caiçara, Caapora, Anhanga ou Pai-do-mato, todos esses nomes identificam uma entidade da mitologia tupi-guarani, um protetor das matas e dos animais silvestres.é legalmente reconhecido como protetor das nossas matas

Foi através do projeto de lei 558 de 1968, apresentado pela deputada Dulce Salles Cunha Braga, que se propôs o Curupira como símbolo estadual de guardião e protetor das florestas e dos animais que nela vivem. O projeto de lei determinava ainda que o símbolo do Curupira seria difundido nas escolas de graus primário e médio e que a Secretaria da Agricultura e da Educação deveriam tomar as providências no sentido de difundir o Curupira como protetor da flora e fauna. Em 9 de julho de 1970 Dulce reapresentou o projeto de lei, agora com número 40.

Estátua do Curupira no Horto Florestal de São Paulo

Em agosto daquele ano, o deputado Solon Borges dos Reis recomendou que o projeto fosse aprovado pela casa. Entre as justificativas, escreveu que “diariamente nos jornais temos notícias de atos criminosos no sentido de devastar a nossa flora e a fauna, apesar da proteção que o estado oferece. É importante, a fim de pôr paradeiro a esses atos criminosos, educar as nossas crianças, mostrando-lhes os aspectos positivos da preservação forçosa da natureza e da fauna, tão necessárias à vida do homem”.

Em primeiro de setembro de 1970, a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou o projeto de lei, que foi promulgada em 11 de setembro de 1970 pelo Governador Roberto Costa de Abreu Sodré instituiu o Curupira com o Símbolo Estadual de Guardião e Protetor das Florestas e dos animais.

A primeira imagem do Curupira no Horto 

Em 21 de setembro de 1970, foi inaugurado pelo governador o monumento ao Curupira no Horto Florestal de São Paulo, atualmente designado Parque Estadual Alberto Löfgren. A estatueta foi doada pelo prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira, feita a partir de uma estátua do Curupira existente no bosque Fábio Barreto, naquele município.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Códigos de Guerra dos Tupis

 

O captor dava a ordem ao prisioneiro: -“Enhe'eng tembi'u”  



Graças aos livros de Lerry Thevet e Hans Stadens, sabemos como era a sociedade dos Tupis (Tupinambás, Tupiniquins, etc. ). Esses relatos começam com a aventura de Hans Staden, no ano 1553, que ao realizar uma caçada sozinho em Bertioga, foi capturado por indígenas que o trataram com muita violência - Staden logo percebeu que a intenção dos indígenas era a de devorá-lo em um sofisticado banquete, servido com o mais fino Cauim.

Apos passar por vários momentos de terror, Staden sobreviveu ao contato com os canibais, voltou a Europa, quando escreveu sobre essas verdadeiras desventuras quase inacreditáveis no ano de 1556, fazendo do Brasil e seu provo um dos lugares mais incríveis e assustadores do mundo de sua época.

A veracidade dos relatos de Staden são autenticados no ano seguinte no livro do francês André Thevet, de religião católica e posteriormente pelo calvinista Jean de Léry. Thevet teve sua experiência obtida ao fazer parte do grupo denominado França Antártica no Brasil, que após passar dez semanas vivendo na Baía da Guanabara, regressou à França por estar doente. No ano seguinte, publicou a obra intitulada ‘As singularidades da França Antártica (1557)’: uma fonte relevante por ser uma das primeiras obras a fazer menção ao Brasil em pleno descobrimento, no entanto, escrito com ênfase no fantástico ao transparecer a presença do imaginário medieval.

Já Jean de Léry que veio para o Brasil em 1558, juntamente com um grupo de quatorze pastores calvinistas, e cinco donzelas para habitar a França Antártica fez um realto bem mais acurado. No decorrer de sua estadia os conflitos ideológicos entre católicos e protestantes, fez que ele tivesse uma visão muito mais critica ao trabalho de Thevet, que após dezenove anos do seu retorno, publicou seu diário denominado ‘Viagem à terra do Brasil (1577)’, uma obra muito mais elaborada que tinha o declarado intuito de desmentir equívocos e mentiras contidas no livro de Thevet.

Essas três importantes obras ilustradas que renasceram na decada de 1920 Totem e tabu, de Freud, o manifesto Cannibale, de Francis Picábia, lançado em 1920, e o livro L’Anthropophagie rituelle des Tupinambás, de Alfred Métraux, que inspiraram os modernistas de 1922, Tarsila, Oswald e Mario de Andrade, fizeram que nós conhecêssemos a cultura, idioma e hábitos dos povos Tupis com rigor científico em estado de arte.

Banquetes que demandavam por refinada etiqueta, como as européias e éticas de guerra, com rituais semelhantes aos dos Samurais japoneses

O Brasil daquela época era ocupado por tribos irmãs e beligerantes, a guerra era uma atividade constante, Potiguares eram inimigos de Tabajaras, que por sua vez eram inimigos de Caetés, rivais dos Tupinambás, os quais, guerreavam constantemente contra os Tupiniquins. Essas guerras eram regidas por códigos atentamente observados e seguidos a risca por todos esses ‘primos’, falantes de variações do mesmo idioma, o Tupi Antigo.

O ato da guerra era sagrado e tinha como o momento culminante do embate, o apogeu ritualístico definitivo e verdadeira consagração da vitoria, a Antropofagia. Os ARAPURUS (comedores de gente) tinham rituais muito bem coreografados e a dinâmica do ritual canibalístico era muito elaborada, existem relatos de outros atos canibilísticos ao redor do mundo, mas foi aqui, nos litorais brasileiros que essa pratica teve a sua aplicação mais requintada.

1 – A guerra

Enquanto os portugueses estavam preocupados com a exploração dos recursos da nova colônia, os povos indígenas estavam totalmente dedicados aos atos de guerra intertribais. No ano de 1565 os portugueses resolveram tomar uma posição mais forte e uma batalha foi travada entre portugueses, aliados ao Tupiniquins contra os franceses, aliados dos Tupinambás. Poucos anos mais tarde a maior parte dos franceses foi expulsa da região da Gauanbara, que tinha Villegagnon, um cavaleiro católico de Malta como líder, junto aos Tupinambás da resistência. Essa derrota só foi possível com a ajuda dos Tamoios, sob a liderança de Aimberê, dando origem assim ao Rio de Janeiro.

O executor perguntava: -“Ere-îuká-pe oré anama, oré iru abé?” (mataste nossos companheiros e nossos parentes, o prisioneiro então relatava seus feitos heróicos: - “Pá, Xe r-atã, a-iuká, opabe a-‘u. Xe anama xe r-eõ-nama resé xe r-epyk-y-ne. Xe anama e’i-katu pe îukabo” (Sim, eu sou forte, matei-os e comi-os todos, minha família, por minha morte vingar-me-á, minha família irá matar vos).Prisioneiro dos Tupinambas amarrado pela cintura com a MUÇURANA em ritual de sacrifício, O executor, vestindo um lindo manto de GUARÁ, empunha a IBIRAPEMA

Em meio a essa guerra toda, guerreiros de tribos inimigas eram capturados e ai então os Abá-Porus faziam a festa

2-O Prisioneiro de Guerra

No exato momento em que o inimigo era capturado, o guerreiro responsável pela captura virava seu dono, e passava a ter responsabilidade direta sobre seu cativo até o final de todo o processo, que culminaria com com sua canibalização. Os prisioneiros eram amarrados pelos pés e mãos, o que impossibilitava sua caminhada, para se locomoverem, eles tinham que dar ‘pulinhos’, situação que se ridicularizava bastante o capturado.

Aos pulos os prisioneiros eram conduzidos até a aldeia dos vencedores, ao passar pela entrada principal, eram recebidos com animosidade e ainda mais humilhação, os residentes jogavam restos de comida e pedriscos e se dava o seguinte dialogo:

O captor dava a ordem ao prisioneiro: -“Enhe'eng tembi'u” (Fale, comida); O prisioneiro então respondia: “Aîur-ne pe rembi'urama” (Estou chegando eu, sua comida);
As pessoas da tribo, jogando pedriscos e restos de comida no prisioneiro completavam: “Opererek îandé rembi'u oîkóbo” (Aí vem chegando nossa comida).

Nos próximos dias, o prisioneiro recebia o tratamento equivalente ao de um primo distante, era hospedado na oca do captor, era bem alimentado, a zombaria cessava 'em parte' e o anfitrião oferecia, alimento, rede e até mesmo sua filha ou sua esposa para que este se satisfizesse sexualmente. Nos primeiros dias, ele recebia também uma longa corda com nós para ser usada ao redor do corpo e pescoço, chamada de MUÇURANA. A Muçurana tinha uma quantidade de nós que representava o numero de ciclos lunares até sua execução. O prisioneiro jamais tentava fugir, pois isso seria a maior vergonha para ele e sua tribo. Na bizarra hipótese da fuga do prisioneiro, as pessoas de sua própria tribo não o aceitariam de volta e o conduziam vergonhosamente a aldeia dos captores para seu destino que já estava determinado pelo condigo de conduta da tradição oral mais antigo que se conhecia.

Os Tupis, tal qual os samurais prezavam a morte digna, o tumulo mais honroso para um guerreiro era o estomago de seu inimigo - Ter suas entranhas devoradas por vermes e insetos era repugnante e desprezível.

3- O Banquete

No dia anterior ao banquete, todos bebiam o Cauim, bebida fermentada de mandioca produzida exclusivamente pelas mulheres pelo processo de mastigação e cusparada (a amilase salivar transformava amido em açúcar, que por sua vez era fermentado por leveduras exógenas, criando assim uma bebida de graduação alcoólica não superior a 8,5%), e tinha inicio uma grande festa.
Capa de penas de guará e de papagaio. Pertencia à tribo de índios tupinambá. Após a chegada do europeu em 1500, grande parte destas preciosidades foram saqueadas. O destacado Manto Tupinambá, que já foi confundido com o manto de um imperador azteca e foi levado daqui pelo governador holandês de Pernambuco, no século 17. Hoje pertence ao Museu Nacional de Arte da Dinamarca.


Na manhã seguinte, o prisioneiro tomava um banho e depois era ornado com penas, casacas de ovos, e outros adereços, eram também feitas pinturas vermelhas de urucum e pretas de jenipapo. Uma pantomima sempre acontecia nesses rituais - permitia-se que o prisioneiro fugisse até a entrada da aldeia quando era recapturado, numa encenação ritualística, e voltava amarrado com a Muçurana pela cintura, trazido por dois guerreiros, um de cada lado da corda e trazido para frente do executor enquanto a tribo toda gritava e se alvoroçava, aumentando assim o clima da festividade ao seu êxtase.

O Executor que também havia se banhado e submetido a uma pajelança com ervas e unguentos, após a longa cauinagem da madrugada, trajava-se de forma ritualística, com plumas pinturas e um maravilhoso MANTO GUARÁ vermelho feito com pele de lobo-guará, ornado com plumas de arara e tucano. Um dos momentos mais acalorados da festa era quando o executor se colocava na frente do prisioneiro, o absoluto silencio se fazia e acontecia outro dialogo:

O executor perguntava: -“Ere-îuká-pe oré anama, oré iru abé?” (mataste nossos companheiros e nossos parentes?)
O prisioneiro então relatava seus feitos heróicos: - “Pá, Xe r-atã, a-iuká, opabe a-‘u. Xe anama xe r-eõ-nama resé xe r-epyk-y-ne. Xe anama e’i-katu pe îukabo” (Sim, eu sou forte, matei-os e comi-os todos, minha família, por minha morte vingar-me-á, minha família irá matar vos).

Após o dialogo, o executor empunhava uma pesada arma, assemelhada a uma enorme maça, com um peso na ponta, ornada com plumas, que previamente fora preparada com orações e libações, chamada ‘IBIRAPEMA’, a manejava com destreza em movimentos marciais coreografados, encaminhava-se para traz do prisioneiro e acertava a base do crânio com muita força.

A morte era rápida, o crânio era despedaçado em sua base.

As mulheres mais velhas rapidamente colocavam um embolo em seu anus para evitar que os fluidos saíssem, recolhiam seus miolos e demais fragmentos espalhados pelo chão e tentavam recolher a maior parte possível de sangue. O corpo permanecia de pé, amparado pelas Muçuranas, fazendo com que seu sangue não fosse espalhado pelo chão, havia uma propósito muito nobre para todo esse sangue.
Os ABAPURUS banqueteavam por 4 horas, o ritual canibal acabava e os habitantes da tribo se recolhiam nos seus aposentos para dormirem

O sangue colocado em vasos de barro cozido e era bebido ainda quente por todos, as mulheres passavam em seus seios e davam o peito aos bebês, seu corpo era colocado com muito respeito dentro de um caldeirão já com água fervente, para facilitar a retirada da pele, ai então o corpo era desmembrado, cortado pelo dorso e levado para a defumação (moqueágem). Após alguns minutos o corpo era virado, abria-se o ventre e os miúdos eram misturados a farinha e o mingau era dado para as crianças, só os grandes guerreiros podiam comer um mingau preparado com a pele ao redor do crânio, e os órgãos sexuais eram devorados pelas mulheres. A língua e os miolos eram comidos por pré-adolescentes de 12 a 16 anos de idade.

Logo apos a execução, o executor era arranhado pelo líder tribal com dente de onça, de forma que a escarificação já cicatrizada servia-lhe como honraria – Quanto mais escarificado, melhor guerreiro era. Todo esse ritual era acompanhado de musica de flauta feita com os ossos dos prisioneiros abatidos anteriormente.

Ao final de 4 horas, o ritual acabava e os habitantes da tribo se recolhiam aos aposentos para dormir, a final de contas, ficaram acordados a noite toda para o grande evento.




Monumento Ás Banderias Quem é Quem - Por Luiz Pagano

  Monumento às Bandeiras com 32 figuras, e não 37 como relatado em muitos outras referencias (inclusive a Wikipedia e o Site da Prefeitura d...