Geca Tatú (Jeca Tatu) picando fumo ao pé de um Ipê rosa - repleto de Urupês |
Em 2018 a critica social intitulada
“Urupês” de Monteiro Lobato completará 100 anos, critica essa que parece ter
falhado em sua missão fundamental, a de alertar o Brasileiro sobre a existência
dos ‘Gecas Tatús’ em meio a nossa sociedade e fazê-los mudar de atitude.
No conto Urupês, publicado num dos últimos
capítulos do livro de mesmo nome em 1918, Monteiro Lobato descreve o sertanejo
da época, o caipira, o caboclo - lento e avesso ao trabalho, desprovido de
cultura e tão desnecessário quanto uma ‘Orelha de Pau’, espécie de fungo que
cresce nos troncos das arvores, os também chamados de Urupês (do tupi úrupé”).
Após anos de convívio com esse caipira,
Lobato, já muito revoltado, decidiu sentar-se frente a sua escrivaninha e
redigir uma carta ao Jornal Estado de São Paulo e fazer uma crítica ferrenha.
O texto tinha o forte propósito de definir o
‘Geca Tatú’ (Jeca Tatu, em grafia atual) nome que criou para o indolente
caipira, que tinha o propósito de personificar e ao mesmo tempo, causar
reflexão naqueles que, em algumas atitudes, se assemelhavam em um ponto ou em
outro, ao Geca.
“O mobiliário cerebral do Geca, à parte o
suculento recheio de superstições, vale o do casebre... O sentimento de pátria
lhe é desconhecido. Não tem sequer noção do país em que vive”.
“Este funesto parasita da terra é o
caboclo, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável á civilização, mas
que vive a beira dela, na penumbra das zonas fronteiriças. A medida que o
progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização das
terras, vai ele refugindo em silencio, com o seu cachorro, o seu pilão, a
pica-pau e o isqueiro, de modo sempre a conserva-se fronteiriço, mudo e sorna”.
“Pobre Geca Tatú! Como es bonito no romance
e feio na realidade!”.
OS GECAS MODERNOS
Sei que a grafia mudou, hoje o nome do
personagem é escrito com ‘J’, mas a interpretação que Lobato implicitamente
colocou em seu livro, parece também ter mudado, e é por isso que volto a
escrever em sua grafia original, com ‘G’, para que resgatemos o personagem
original, o ‘Geca em espírito’, que doravante simplesmente será chamado de
‘GECA’.
Obviamente tivemos muitos avanços no Brasil,
os caipiras, tais como foram descritos no conto, são figuras raras, mas os ‘GECAS’,
existem em abundancia entre nós, em enorme volume estatístico, causando uma má
impressão generalizada no brasileiro médio.
Tal como visto acima, nos parágrafos do
próprio autor, o GECA é o brasileiro que despreza a tecnologia e os avanços
científicos - Encontramos alguns GECAS quando vamos para a pequena cidade de Dumont-MG,
terra natal do ‘Pai da Aviação’ e a despeito do titulo grandioso, o GECA, num
ato de auto-sabotagem característica, cria a chamada ‘água de Dumont’.
A ‘água de Dumont’ faz com que o tomador
vire veado (pejorativo para homossexual), tal qual nosso herói supostamente foi
um...
Enquanto os Americanos dubiamente se
vangloriam de ter os inventores do avião, os irmãos Wright, em lindos museus e
citações glorificantes em diversos livros, os nossos GECAS não só debocham de
nosso herói (pouco importa saber a orientação sexual de Santos=Dumont), como
também, não cuidam da herança cultural Brasileira com o devido respeito, amor e
admiração.
Desnecessário dizer o quanto isso é
retrogrado, posto que o museu de Cabangú (na cidade de Dumont-MG), na casa de
nascimento do aviador, procura dignamente viver de semi-esmolas e eventos pífios.
Esse mesmo GECA acha irrelevante o trabalho
do professor Miguel Nicolelis, não crê no nosso potencial cientifico e só dá
valor nas conquistas tecnológicas do exterior.
O GECA atual passou a entender um pouco
mais de política e dos rumos de governo de nosso país, mas é incapaz de se
manifestar contra corruptos e mal governantes.
O GECA vê a situação política tal como vê o
futebol, “eu voto no PT”, ou “eu voto no PSDB”, e defende esses partidos como
se fossem times, “A Dilma roubou mais do que o FHC”, vice-versa, sem se dar
conta de que a maioria dos governantes corruptos seguem seu exercido criminoso,
sem qualquer oposição importante. O GECA não acha que os corruptos ‘que jogam
para o time que ele torce’, mereçam ter punição legal, pois ‘os políticos do
time adversário’ também roubaram e não tiveram punição.
O GECA já não é tão preguiçoso quanto o do
começo do século, mas ainda assim tende a ter posturas apáticas, acha que o que
passa nos noticiários não faz parte da vida dele, é como se fosse um filme em
‘real time’ de uma realidade alternativa.
O GECA não se preocupa com o meio-ambiente,
reclama de falta de água e não se dá conta que os principais rios de sua
cidade, normalmente bastante poluídos, poderiam estar limpos e vivos.
O GECA diz que o povo suja as ruas e as
águas, mas não se dá conta de que ele faz parte do conjunto chamado ‘povo’.
O GECA reclama do transito mas não se dá
conta de que ele faz parte do conjunto chamado ‘transito’.
Graças aos GECAS temos em todas as
principais cidades, sem exceção, esgotos a céu aberto convivendo ao lado de
pontos turísticos, e temos o dúbio orgulho de mostrá-los ao turista. Isso pode
parecer tão estranho quanto mostrar uma privada que não se dá a descarga por
alguns meses à uma visita.
Graças aos governantes GECAS que optaram
por investir pouco no básico e desviar muito de forma fraudulenta, nossas ruas
são sujas, sem segurança e sem manutenção, repletas de gente mal educada, os
rios urbanos não são navegáveis e não se pode sair as ruas com tranquilidade.
Os governantes GECAS preferem agir com
pensamento egoísta, de vingança, ódio e revanchismo, não fazem a menor idéia de
que existe uma ciência para administrar uma sociedade, legislam e executam para
aumentar seus ganhos e de seus colegas próximos e gente de interesse vil.
Os GECAS ricos preferem andar com capangas,
ter carros blindados, casas com segurança redobrada, a ter uma participação
social focada na mudança econômica de nossa sociedade.
OS GECAS que saíram do Brasil para tentarem
uma vida melhor no exterior preferem viver sob o preconceito dos xenófobos a
mudar a realidade do nosso próprio país, muitas vezes engenheiros aceitam
empregos de faxineiros e são humilhados pelos GECAS estrangeiros, no final do
dia, defendem o pais de seu refugio dizendo “aqui sim temos qualidade de vida”.
A boa notícia é que ainda faltam três anos
para o centenário de Urupês e que ainda temos a chance de ter um Brasil livre
de GECAS. Devemos seguir a receita de Monteiro Lobato, devemos identificar
nossas atitudes GECA, fazer uma profunda auto-analise e encontrar nossos GECAS
interiores e concertá-los, um a um. Só assim conseguiremos comemorar o
centenário de Urupês com um Brasil
sem GECAS e outros Urupês sociais.
muito me admira um texto tao racista e colonizado num blog que se diz a favor da cultura nativa
ResponderExcluirAcho que o autor não compreendeu o Jeca (original), leia o livro Juca Mulato de Menotti Del Picchia, ele faz um contraponto muito verdeiro entre o indolente e o apaixonado inocente num calor de 35 graus.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirAntes de mais nada, gostaria de agradecer pela participação, o intuito desse blog é apresentar idéias e gerar discussões.
O texto em si me pareceu evidente, no entanto percebo que alguns esclarecimentos se fazem necessários para que a compreensão do mesmo seja devidamente digerida. A figura do ‘Geca’ criada por Monteiro Lobato, perfeitamente compreendia em sua essência, serve nesse texto apenas como um modelo de atitude, não como uma pessoa em si (por isso não tem âmbito preconceituoso). Importante dizer também que o blog prega o amor do brasileiro, pelo brasileiro, ao brasileiro e segue rumo produtivo, jamais cogitando a famosa ‘síndrome de vira-latas’ (vide postagens anteriores).
O objetivo desse texto é causar impacto sim, de forma suscitar ao leitor que faça uma auto-avaliação e uma autocrítica, na qual a seguinte pergunta seja feita:
-Será que eu sou do tipo que reclama dos rios sujos e jogo papeis na rua, sem consciencia que eu faço parte do conjunto? (atitude Geca);
-Ou será que eu me mobilizo para limpar o córrego perto de casa, não jogo lixo nas ruas e procuro ser civilizado, com consciência de comunidade, (ou atitudes de mesmo efeito) de bairrista, de brasileiro? (atitude Ame o Brasil)
Myrcur , penso que apos essa explicação perceba o aspecto prospero do texto e não uma critica descabida, com mero propósito de avacalhar o ‘Geca’.
De novo, agradeço a participação
Sr.Luiz Pagano quais são as fontes que você usa ( Livros especificamente ) para se inspirar a escrever os seus textos.
ResponderExcluirP.S : Sou um quadrinista jovem afixonado pelo nossa cultura nacional ( Principalmente leitor dos livros de Luís da Câmara Cascudo ).
Agradecimentos pelo belo post .