O Projeto Tembi-u trouxe de volta as chamadas ‘festas de exploradores’, que eram feitas pelas famílias paulistanas no final do século XVI. |
O movimento T-Pop (Tupi Pop) e o blog ‘Ame
o Brasil’ resgatam mais um pouco da historia paulistana e trazem para os dias
atuais, os rituais brasílicos antigos - no mais recente deles, o Projeto
Tembi-u, Luiz Pagano (criador desse blog) trouxe de volta as chamadas ‘festas
de exploradores’, que eram feitas pelas famílias paulistanas no final do século
XVI.
Assista ao video do evento 'Projeto Tembi-u'
Assista ao video do evento 'Projeto Tembi-u'
Quase quinhentos anos depois, Pagano e sua
equipe, trazem para o planalto paulistano os elementos da alta gastronomia da
Belém amazônica, para uma festa, onde mostra aos integrantes do já bastante
evoluído mundo da coquetelaria.
A inspiração para fazer o Projeto Tembi-u veio
de pesquisas feitas sobre a historia da Vila de São Paulo de Piratininga do
final do século XVI, mais exatamente na área que corresponde ao alto de uma
colina escarpada, entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, próximo ao colégio
(hoje Pátio do Colégio), que funcionava num barracão feito de taipa de pilão,
que tinha, por finalidade, a catequese dos índios da etnia Guianas que viviam
na região.
Nessa região, aproximadamente no ano de 1580,
encontrávamos a residência da família de João Ramalho e Bartira, bem como a de
diversas outras famílias de portugueses que acabaram por se casarem com índios.
Algumas dessas famílias aderiram a catequese dos padres jesuítas, no entanto
outras continuavam seguindo as tradições dos índios. Foi exatamente dessas
famílias que trouxemos a tradição das ‘festas de exploradores’.
Apesar de protegida por relevos naturais, essa
região não tinha muitas riquezas naturais, os habitantes locais viviam de uma
modesta policultura de subsistência, baseada no milho, no qual a canjica, fubá
e o angu, eram seus pratos principais. Ocasionalmente o rio Tamanduaí oferecia grande quantidade de peixes,
que eram pescados e colocados a secar (Piratininga significa em tupi – peixe a
secar).
A única forma desses habitantes terem
acesso a frutas, pesca e caça diferentes, era se aventurando a leste, para além
da serra do mar, a também chamada de "Serra de Paranapiacaba" e
enfrentar os terríveis Tupinambás do litoral, ou irem para o oeste, em direção
ao interior de São Paulo, cuja a passagem menos íngreme do sistema de serras
era indicada pelo Pico do Jaraguá (Jaraguá em tupi significa o guardião do
vale).
Habitantes da Vila de São Paulo de Piratininga tinham que passar pelo Pico do Jaraguá (guardiões do vale em Tupi Antigo) para chegar ao interior |
Alem de anunciar as riquezas naturais para
os habitantes do planalto Paulistano, o Pico do Jaraguá chegou até mesmo a
oferecer ouro. Décadas após a chegada de Luís Martins, o mameluco Afonso
Sardinha descobriu ouro no Jaraguá, dando início à chamada febre do ouro
paulista.
Mais tarde, quando se falava em
bandeirantes, os paulistanos eram os mais mencionados. Isto porque foram os mamelucos
de São Vicente, Santo André e São Paulo dos Campos de Piratininga, os que
mais se dedicaram ao sertanismo, se comparados às bandeiras baianas,
pernambucanas, maranhenses e amazônicas.
Até meados do século XVIII, as ‘festas de
exploradores’ eram feitas para celebrar diversos acontecimentos entre povos
indígenas, tais como o Pitanga areme (nascer de uma criança), maran-iré (a
vitoria numa guerra), ou o rembé mombuká (furar de lábios de jovens índios para
a colocação do botoque). As celebrações mais importantes dos Perós
(Portugueses) eram as conquistas feitas nas bandeiras, e posteriormente
mostrá-las aos moradores da planície.
Provavelmente essas festas foram extintas
no mesmo momento em que houve a proibição da língua indígena pelo Marquês de
Pombal em 1758.
Quanto
ao nome do projeto
Não sabemos ao certo que nome era dado a
essas ‘festas de expedição’, no entanto escolhemos ‘Tembi-u’ pois segundo o
Professor Emerson Costa, teria o significado de "Gastronomia" em
idioma neológico Guarani, traduzido como "tembi'uapokuaa" que
literalmente significa "saber (ou ciência de) fazer comida".
Em tupi dá para forjar com elementos cognatos
"mbi'uapokuaba". O nome, que designa o objeto da ação em relação
ao agente, forma-se dos temas transitivos, com o prefixo emi- (embi-).
Os temas destes nomes pertencem à classe
II, podendo sua forma absoluta ser formada pela perda de e- inicial ou pela
prefixação de t-. Exs.:
t. ú I tr. “comer”, n. obj. embi-ú:
Ainda para a escolha do nome, não quisemos
usar o termo pepyra (m-) - festa ritual de comer e beber; banquete um
antropofágico – pois não tinha o canibalismo em mente para essa festa de bons
sabores, alem do que, isso poderia ser mal entendido por religiosos e pela
imprensa.
Discernindo sobre o canibalismo, fiquei
muito feliz de o evento ter sido comparado com a ‘semana de arte moderna de 1922
da coquetelaria’, em seu aspecto antropofágico de deglutir as técnicas
mundiais, para em nossa digestão, termos uma mixologia 100% brasileira. É
importante que se diga que não tive a intenção de romper com valores europeus,
posto que a festa foi patrocinada pela multinacional francesa de bebidas Pernod
Ricard em sua ativação ‘Clube do Barman’ e nem a pretensão de promover um
evento com o cunho artístico do de Mario de Andrade e Tarsila do Amaral.
A festa do dia 06 de Abril de 2015
Para promover a festa do Projeto Tembi-u
com aproximadamente 50 convidados, a exemplo das ‘festas de expedições’
antigas, Luiz Pagano, o idealizador do projeto e a equipe de mixologistas da
Pernod Ricard, James Guimarães - co-idealizdor, Alan Souza de Fortaleza e Rafael
Mariachi de São Paulo fizeram uma expedição a Amazônia Paraense para coletar
dados e elementos locais.
Na festa que aconteceu no ultimo dia 6 no Centro Cultural Rio Branco, que promete ser a primeira de uma serie de
muitas, tivemos os deliciosos e sofisticados quitutes da chefe Regina
Pellegrino e contou com a presença dos Irmãos Thiago e Felipe Castanho, importantes
chefes de cozinha, que lideram pesquisas locais no que diz respeito a floresta
amazônica, mentores de conceituados chefes de cozinha como Alex Atala e Ferran
Adriá, Os irmãos Castanho também são proprietários dos restaurantes Remanso do
Peixe e Remanso do Bosque em Belém.
Convocamos um debate entre os integrantes
do time, os irmãos e os convidados, com o intuito de relevar o importante papel
que temos, de mostrar os elementos brasileiros de excelência, bem como do
manejo sustentável de ingredientes e a valorização do nosso povo.
Durante o debate, foram apresentados os
drinks criados pelos mixologistas, e no final da palestra, uma mesa com quase
uma centena de frutas e ervas trazidas da região amazônica, oferecia aos
barmans ingredientes únicos para criarem seus próprios drinks e manifestarem
seu aprendizado.
O evento chegou a ser comparado com a semana de arte moderna de 1922 para a gastronomia e coquetelaria - T'ereîkokatu! (Saúde!, que te sucedam bem os acontecimentos – em Tupi antigo) |
Cada vez que surgia um brinde no evento, usávamos
o termo T'ereîkokatu! (Saúde!, que te sucedam bem os acontecimentos – em Tupi
antigo).
Outras
referencias
Pouco
mais quanto ao povo que habitou a São Paulo de 1582
Theodoro Sampaio conta um pouco sobre o
cotidiano de nosso povo naquele tempo:
"E' facto que, quanto á nacionalidade
do gentio de Piratininga, nenhum dos antigos historiadores ou chronistas é
assas explicito, mas dizem o bastante para se fixar o habitat da nação Guayanã.
...
Vê-se, portanto, do testemunho dos
viajantes, historiadores e até dos archivos das camarás municipaes da Capitania
de S. Vicente que nada menos de cinco nações gentias a habitaram no primeiro
século do descobrimento: Guayanãs, Tupis, Tupinaês, Tupininquis, Maramomis, não
fallando já dos Tamoyos do valle superior do Parahyba. Destas nações, a dos
Guayanãs, certamente, occupava o littoral visinho de S. Vicente, como dominava
nos campos de Piratininga que o chronista Vasconcellos chamou Campos Eliseos da
gentilidade.
...
Azevedo Marques diz ter encontrado no
Cartório da Provedoria da Fazenda de S. Paulo, o titulo de uma sesmaria de três
léguas na paragem chamada Carapicuhyba, concedida por Jeronymo Leitão aos
Índios Guayanãs, oriundos de Piratininga. O mesmo autor, apoiando-se em Pedro
Taques, dá-nos a cidade de Taiibaté como tendo sido em sua origem uma aldêa de
Índios Guayanãs, emigrados de Piratininga.
...
Mas essa diíferença da lingua Guayanã para
o tupi ou para o guarany não ia além da dialectal como, a propósito, opina o
Visconde de Porto Seguro. O mesmo Gabriel Soares assim o dá a entender quando
nos diz: «... a lingua deste gentio é différente da de seus visinhos, mas
entende-se com os Carijós. Reconhece-se, portanto, que a differença lingüística
entre os Carijós e os Tupis que lhes ficavam ao norte, pela costa, não era
senão a dialectal, a mesma que se nota entre o Guarani/, falado nas margens do
Paraguay e a lingua geral, dos primitivos habitadores do littoral brazilico.
...
escrevia Anchieta, é evidentemente tupi e
deve ter sido empregado pelos desta língua para designar um povo pacifico, ou
pouco belicoso como, de facto, o era aquelle que habitava os campos de
Piratininga, gente mouar, fácil de crer em tudo, não tomando iniciativa nos
ataques aos seus contrários, não matando os seus prisioneiros.
Guayanã no guarany como no tupi significa
ao pé da lettra verdadeiramente manso^ bonachão, derivado de guaya (manso,
brando, pacifico), e nã (na verdade, certamente). Vê-se que não é um nome
propriamente de nação, mas um appellido, ou designação baseada em seu caracter
e génio, dada pelos seus visinhos.
E Anchieta em 1585 dizia a seu Geral que
São Paulo “terra de grandes campos era fertilíssima de muitos gados, de bois,
porcos e cavalos”.
Segundo Gabriel Soares os porcos
paulistanos eram, em 1587, abundantíssimos e notáveis pelo tamanho, “animais de
carnes muito gordas e saborosas, fazendo vantagens às das outras capitanias por
provirem de terra mais fria”.
Manadas de cavalos viviam errabundas pelos
campos.
À noite, soltos pelas ruas da vila,
transitavam bovinos e eqüinos.
Em 1598 o procurador Pedro Nunes denunciava
que tais animais “faziam muitas perdas às casas e benfeitorias e se caíam
muitas paredes”.
...
S. Paulo, 24 de Fevereiro de 1897."
Outras
notas quanto a gramática Tupi Antiga
1as. xe-r-embi-ú “o que eu como”,
abs. mbi-ú ou t-embi-ú “o que a gente
come”; t. moñáng I tr. “fazer”, n. obj. emi-moñáng:
3a c. s-emi-moñang- -a “o que ele faz, a
obra dele”, abs. mi-moñáng-a ou t-emi-moñáng-a “o que a gente faz, obra de
gente”; t. suú I tr. “mastigar”, n. obj emi-nduú (cf. 0.3.a):
1as. xe-r-emi-nduú “o que eu mastigo,
coisa mastigada por mim”, abs. mi-nduú ou t-emi-nduú “coisa mastigada por
gente”; t. kaú I tr. “fazer mingau”, n. obj. emi-ngaú (0.3.a): abs. mi-ngaú
“mingau”.
7.4.2. Os tempos dos nomes de objeto
formam-se regularmente:
pres. xe- r-emi-ú “o que eu como, minha
comida”,
fut. xe-r-emi-ú-r-ám-a “o que eu comerei,
o que será minha comida”,
pret. xe-r-emi-ú-p-ûér-a, “o que eu
comi,
Aryon Dall’Igna Rodrigues
Volume 3, Número 1, Julho de 2011 81
Morfologia do verbo Tupí
o que foi minha comida”, pret. irreal,
xe-r-emi-ú-r-á-mb-ûér-a “o que eu devia ter comido, mas não comi”.
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