quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Os Tupis do Rugby

  

Luiz Pagano, num treino de rugby no campo do SPAC com camisa da seleção italiana - no rugby há o chamado 'terceiro tempo', confraternização entre equipes adversárias que valorizam mais as amizades do que o resultado final do jogo. Durante o jogo a disputa é levada a sério, ao final, celebramos e brindamos juntos como amantes do esporte.


Seria o Abapuru, a mais bela e cara obra de arte brasileira, uma apropriação cultural?

Já digo que acho que não – por quê!? Porque é impossível se apropriar de algo que já é nosso!!!


Recentemente Agostín Danza, CEO da Confederação Brasileira de Rugby, decidiu mudar o apelido da Seleção Brasileira de Rugby de TUPIS para COBRAS, muito provavelmente influenciado por um grupo de desinformados que 'proibiram' o uso do termo Tupi por entender que era apropriação cultural.

Panorama do Conflito

Antes de seguirmos em frente, vamos entender mais sobre o assunto. 

Seguindo um caminho contrário ao do brasileiro médio, eu não tive muito interesse pelo futebol, más sim pelo rúgbi (em inglês, rugby, e no português europeu, râguebi) esporte inspirado no Harpastum, praticado pelos romanos na Antiguidade. O nome do esporte veio da escola onde foi criado, a Rugby School, da Grã-Bretanha, foram os alunos da escola, com ajuda de outros de Cambridge, que, entre 1845 e 1848, elaboraram as primeiras normas da modalidade. 

No Brasil o esporte apareceu em 1891, meio que junto com o futebol, quando foi fundado o Clube Brasileiro de Futebol Rugby, organizado por ninguém menos que Charles Miller, o "pai" do futebol brasileiro.

 

Brasão da Seleção Brasileira de Rugby - Os Tupis

Como cresci muito na adolescência (tenho quase 2m de altura), encontrei na natação e no salto em altura, que praticava no SESI da Vila Leopoldina, bem como no rugby, que ingressei aos 14 anos no SPAC (São Paulo Athletic Club) , os meus esportes prediletos.

Luiz Pagano, ex-segunda linha de rugby do SPAC

Só sei que o meu amor por comércio internacional, as diferentes pátrias do mundo, bem como o amor pelo Brasil,  estava sempre muito presente nos treinos e jogos, que valorizavam muito a ética, respeito aos adversários e a disciplina.

MAORIS vs TUPIS

Conhecidos como All Blacks, a muito competente seleção Neo Zelandeza de Rugby costuma assustar muito os adversários com o Haka, uma dança típica do povo maori usada, entre outras coisas, como uma forma de intimidação frente a uma disputa. O ritual e lindo, forte e impressionante e de uma certa forma, o rugby arremessou a cultura dos Maoris para o mundo por meio do Haka.

Seleção brasileira de rugby enfrenta o haka dos All Blacks da Nova Zelândia com postura Tupi

O Ka Mate, ou Haka, que os All Blacks praticam há mais de um século, foi criado em 1820 pelo chefe maori Te Rauparaha. Como explica o site All Blacks dedicado à história dessa dança, a música celebra a vida sobre a morte, foi escrita depois que Te Rauparaha conseguiu escapar de uma tribo rival. Embora a dança não tenha um caráter intimidador, seu nome, Ka Mate, significa “é a morte”.

A primeira vez que foi realizada antes de uma partida de rugby,  foi no século 19, formado por um time de jogadores com origem maori em uma turnê pelo Reino Unido em 1888. Esse time, primogenito dos All Blacks, foi pioneiro tanto no uso do haka antes da partida quanto no uso do clássico uniforme preto que o popularizou na Europa, no entanto, foi o time original dos All Blacks, que fez história no rugby com sua turnê de 1905.

Afinal, o que é dito no Haka, dos All Blacks - Ka Mate, Ka Mate! (é a morte 2x), Ka Ora, ka Ora! (é a vida 2x), tenei te tangata (venha aqui), puhuru huru nana nei i tiki mai (o homem peludo que busca o sol), whakawahiti (e quem novamente), te ra! (o faz brilhar), A upane!, Ka upane! Whiti te ra! Hi! (de um passo, de outro passo e o sol se põe a brilhar! Hi!)


Em 2018, ao enfrentar os Tupis Brasileiros, aconteceu simbolica uma disputa ancestral, respeitosamente performada num lindo espetáculo, por ancetrais culturas de lados opostos do mundo.

Pene'ĩ, Tupi (gûé)!
Vaaaai Tupis!! (Lit. ‘meus amigos’)

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Com o excesso de trabalho e as rotinas do dia-a-dia, acabei me afastando um pouco das notícias do esporte, mas foi no dia 10 de Novembro de 2018 que fiquei deslumbrado em ver o temível Haka contraposto à postura de união dos indígenas brasileiros. Foi mágico! O amor pelo esporte, pelo Brasil e as nossas culturas tiveram total reload em meu coração.

Após subir posições no ranking mundial nos últimos anos, os Tupis começarão a disputa da Eliminatória para Copa do Mundo de Rugby de 2023 . foto- olimpiada do dia bola oficial de rugby da Gilbert com o brasão dos Tupis

Orgulhos de ver o jogo que recebeu 35k espectadores, (quando eu jogava, nos anos 80’s e 90’s não chegava nem aos 500), a imágem do HAKA neozelandês elegantemente combatido por nossa ANGAIPAVA TUPI não saia de minha cabeça.

O Tupi foi escolhido por votação popular dentro da CBRu, derrotando a arara e sucuri por 47% dos votos em 2012, mas sete anos depois os caras queriam trocar o apelido – eu imediatamente saí a batalha, escrevendo o seguinte texto.

Sou rugby player, sou brasileiro, sou Tupi de espírito e também sou Tupi de sangue (por menor fração que seja), sou descendente de Tibiriçá por sua filha, Antonia Quaresma, minha vó, a saudosa Dona Zuzu correa de Morais Pagano, nasceu dentro do Triângulo Histórico, na Rua da Gloria N. 4. O sobrenome dela é Correia, assim como Diogo Álvares Correia, o Caramuru que se casou com Paraguaçu no dia 30 de julho de 1524.

Adoro e tenho orgulho de ver o ritual Tupi nos jogos de rugby, assim como na seleção da Nova Zelândia, espero que tenhamos o coração forte e puro para poder realizá-lo novamente.

Para mim, nossos jogadores são e sempre serão chamados de ‘Tupis’ e nossas jogadoras ‘Yaras’, por mais que patrocinadores medrosos mudem o escudo de nossas camisas.

Amo essa imagem da nossa Yara (apelido carinhoso da nossa Seleção Feminina de Rugby) recebendo a carinhosa pintura ancestral brasileira.

Não preciso pedir permissão para ser brasileiro;
Não preciso pedir permissão para ser Tupi;
Não preciso pedir permissão para fazer a festa do Anhangá no Vale do Anhangabaú ou tomar Cauim em São Paulo - tradições essas, que se não fossem pelo meu esforço, já estariam mortas e enterradas junto com os antigos povos do Inhapuambuçu de Piratininga (sou um ativo revivalista Tupi, que até o Cauim, recriei com processo modernos).

Até porque, aqui em São Paulo, os Tupis, outrora chamados de Tupiniquim (Tupinakyîa) por seus primos beligerantes Tupinambá, vem se miscigenando desde o casamento de João Ramalho com Potira, lá nos mil e quinhentos.

Por fim, estudo Tupi Antigo, minha vó nasceu no Triângulo Histórico do Inhapuambuçu.

bela jogadora da Seleção Brasileira de Rugby Feminina, gentilmente chamada de 'Yara', recebendo pintura de guerra por uma  indígena brasileira

O amor nos une independentemente de nossas crenças, cor de pele, saldos em conta corrente ou políticos mal-intencionados. 

Respeito e amo o Tupi Antigo, o Caboclo Tupi dos terreiros de rituais Afro-brasileiros, a saudosa TV Tupi, a bolacha Tupi, os versos Tupis modernistas de Oswald e Tarcila e todos os outros múltiplos Tupis que formam a nossa unidade cultural brasileira.

Desfecho 

Não sei se voltaram atrás de vez, no entanto fiquei super feliz de ver os jogadores com a insignia dos Tupis no peito, liderados pelo bravo capitão Paganini (quase que meu xará) num jogo vitorioso contra  o Paraguai (yakarés) que jogaram surpreendentemente bem. 

Um dia, hei de fazer um ritual de Cauinágem para meus amigos Rugbiers enfrentarem de igual os Maoris.

Adendo 

Regras do Golden Oldies Rugby 


As Regras do Golden Oldies Rugby incorporam e refletem o espírito do Golden Oldies Rugby. O objetivo das regras e variações descritas a seguir é fornecer uma versão menos competitiva do jogo em que o prazer e jogar é maximizado e o risco de lesão é minimizado. 

O desrespeito às regras, o jogo perigoso ou excessivamente vigoroso, bem como o comportamento anti-desportivo não são parte da ética do Golden Oldies Rugby.
Em qualquer partida do Golden Oldies Rugby aplicam-se as IRB Laws, com as modificações descritas abaixo. 

LUIZ PAGANO (55) vestindo a camisa Rugby Golden Oldies e o calção preto do SPAC (antigo clube que jogou) - um evento em 2018 que trouxe seis esportes ao mesmo tempo. Christchurch, Nova Zelândia, foi o local com mais de 5.000 pessoas com mais de 35 anos competindo em seis esportes diferentes - rugby, hóquei, netball, golfe, críquete e boliche.

Antes de um jogo, os capitães das equipes e o árbitro deverão concordar sobre a forma de condução da partida e as regras e exceções regionais aplicáveis. Se os capitães e o árbitro não chegarem a acordo sobre exceções ou peculiaridades regionais, então o jogo vai ser jogado de acordo com as regras detalhadas abaixo.

Antes de começar a partida, o árbitro da partida identificará e chamará a atenção dos jogadores para os jogadores usando shorts coloridos. Todos os jogadores serão lembrados das exigências que se aplicam aos shorts coloridos (tanto em relação ao tackle quanto em relação à distância que pode ser percorrida com a bola). 

Quando um jogador vestindo shorts coloridos entrar em campo por substituição, o árbitro novamente chamará a atenção para o fato de que um jogador vestindo shorts coloridos está agora em campo.
Os capitães de cada equipe são responsáveis pelo comportamento de seus jogadores. É obrigação de todos os membros da equipe garantir que o espírito de Golden Oldies Rugby seja mantido em todos os momentos.

Aplicam-se ao Golden Oldies Rugby as IRB Laws, com as seguintes variações:

1. O Scrum
a. Os scrums serão sem disputa. Em um scrum sem disputa as equipes não competirão pela bola e a equipe que alimentar o scrum deve ganhá-la. Não deve haver pressão de qualquer tipo, não sendo permitido empurrar o outro time ou rodar o scrum.
b. Todos os 8 forwards devem participar de cada scrum e todos devem permanecer engajados até o término do scrum.
c. O scrum termina quando o scrum half retira a bola.
d. O scrum half não deve seguir a bola no scrum. A linha de impedimento para o scrum half adversário é a linha central do scrum no lado de onde o scrum é alimentado ou atrás do pé do último homem do scrum de sua equipe.

2. Lineouts
a. Não existem saídas rápidas de lineouts. Um lineout deve consistir de 8 jogadores. Não é permitida a elevação ou o suporte de jogadores no lineout. Jogadores que saltam para a bola não devem ser assistidos por outros jogadores.

3. Offside
a. As regras de offside devem ser observadas por todos os jogadores em todos os momentos. Deixar de cumprir integralmente as regras de offside resulta em frustrações que podem destruir rapidamente o bom andamento do jogo.
b. Entre outras coisas, estar onside significa manter-se :
i. atrás do pé do último jogador de sua equipe em rucks e mauls,
ii. cinco metros atrás do pé do último homem em scrums e
iii. 10 metros atrás da linha central de um lineout.
c. Entrada para rucks e mauls deve ser "pela porta" a partir de uma posição em jogo, e não a partir do lado.

4. Chutes
a. Um jogador só pode chutar a bola em jogo quando dentro da sua área de 22 metros.
b. Chutar a bola em jogo fora da área de 22 metros irá resultar em um scrum concedido à equipe adversária no local onde ocorreu o chute.
c. Se um free kick é concedido a uma equipe dentro de sua área de 22 metros a bola pode ser chutada diretamente into touch com a correspondente ganho de território e a equipe adversária terá o throw in no lineout que se seguir.
d. Se a bola for chutada diretamente into touch a partir de um free kick concedido fora da área de 22 metros, não há ganho de território e a equipe adversária terá o throw in no lineout que se seguir. 
e. Uma equipe que ganhar um penalty kick pode chutar a bola da maneira que escolher.
f. Não é permitido o chute rápido em penalty kicks ou free kicks. Jogadores da equipe adversária devem rapidamente se posicionar a 10 metros da marca.

5. Chutes de início e reinício
a. Antes do início da partida os capitães sortearão bola ou campo.
b. Os kick offs ocorrerão por meio de drop kick e deverão cobrir ao menos 10 metros.
c. A equipe que marcar um try deverá reiniciar o jogo chutando para a equipe adversária.

6. Substituições
a. A substituição de jogadores é permitida a qualquer tempo e um jogador substituído anteriormente pode voltar ao jogo a qualquer momento.
b. Um jogador que tenha recebido um cartão amarelo pode ser imediatamente substituído por outro jogador. O período de suspensão temporária será de 10 minutos corridos.
c. Um jogador que tenha recebido um cartão vermelho pode ser imediatamente substituído, mas não lhe será permitido voltar a campo pelo resto do evento. Se o evento envolve mais de um dia de jogo (por exemplo, um Festival Internacional), o jogador infrator será obrigado a comparecer a uma audiência com a organização do evento antes de ser autorizado a voltar a jogar.

7. Tackles, Rucks e Mauls
a. Para minimizar a chance de lesão, não é permitido "limpar" jogadores em tackles, rucks ou mauls. Contra-rucks e contatos excessivamente vigorosos em rucks, tackles e mauls são igualmente proibidos.
b. Tackleadores devem libertar imediatamente o jogador tackleado ou “contido”e afastar-se para liberá-lo.
c. Não é permitido deitar-se deliberadamente sobre a bola de modo a torná-la indisponível.
d. Não é permitido colapsar ou puxar para baixo scrums, rucks ou mauls.
e. Se a bola se torna "regularmente indisponível” em um tackle, ruck ou maul, o jogo será reiniciado com um scrum alimentado pela última equipe de posse da bola.

8. Tempo de Jogo
a. Jogos serão disputados em três períodos de 20 minutos com um período de descanso de três minutos entre cada período de jogo.

9. Opções
a. Limite de 20 metros de corrida: Opcional. Esta regra pode ser introduzida em um jogo se ambos os capitães concordarem antes do pontapé de saída. 
b. “Truques”: Em certas ocasiões algumas equipes empregam elementos de jogos como "lineouts de joelhos", "scrums longos" e afins, durante um jogo. Tais elementos divertidos são permitidos, mas não devem ser utilizados de forma exagerada.
c. Outras opções podem ser organizadas com o acordo prévio de ambos os capitães e o árbitro.

10. Shorts Coloridos
a. Todos os jogadores devem observar rigorosamente as restrições sobre o tackle em jogadores vestindo shorts coloridos.
b. O uso de shorts coloridos não dá um jogador o direito de enfrentar outros jogadores vestindo shorts da mesma cor.
c. Um jogador vestindo shorts vermelhos pode tentar atacar jogadores vestindo shorts normais caso se sinta confiante e confortável em fazê-lo.
d. Jogadores usando shorts dourados, roxos ou de cores especiais podem correr com a bola para uma distância total de 15 metros em qualquer direção. Independentemente do caminho percorrido, se esse jogador não está em posição de marcar um try após carregar a bola a uma distância total de 15 metros, a bola deve ser passada para um companheiro de equipe vestindo shorts normais ou vermelhos.
i. Shorts normais: Aplica-se a regra geral do tackle de levar o jogador ao solo.
ii. Shorts vermelhos: Jogador pode ser “contido”, mas não tackleado. Um jogador usando shorts vermelhos que tenha sido "contido” é considerado tackleado. Sendo assim, este jogador deve, então, exercer imediatamente a uma das opções obrigatórias de qualquer jogador tackleado e passar ou disponibilizar a bola. O adversário que o tiver segurado não deve impedi-lo de fazê-lo.
iii. Shorts Dourados: Jogador não pode ser tocado ou contido nem deve tacklear ou tentar tacklear outros.

Calção preto do SPAC para joos dos Golden Oldies - a cor tradicional para o time do SPAC é branco

iv. Shorts Roxos: Jogador não pode ser tocado ou contido nem deve resolver ou tentar tacklear outros.
v. Shorts da Comissão Especial: Jogador não pode ser tocado ou contido nem deve resolver ou tentar tacklear outros.
e. Os shorts coloridos podem ser substituídos por coletes, em cores vivas e diferentes das cores das camisas das equipes, aplicando-se aos usuários de coletes as regras aplicáveis aos shorts vermelhos
f. Jogadores usando coletes podem correr com a bola para uma distância total de 15 metros em qualquer direção. Independentemente do caminho percorrido, se esse jogador não está em posição de marcar um try após carregar a bola a uma distância total de 15 metros, a bola deve ser passada para um companheiro de equipe sem colete. A desobediência a esta regra resulta em scrum alimentado pela equipe adversária.
g. O jogador que deve ser apenas “contido” não deve ser levado ao solo ou parado de forma excessivamente vigorosa. Derrubar de qualquer forma ou buscar contato de forma excessivamente vigorosa com um jogador que deva ser apenas contido resultará em penalty kick para a equipe adversária, com a reincidência sendo punida com cartão amarelo.”



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