Lição n. 1 - Peró o îepotar - Arte em estilo 'Nova Tupi' de Luiz Pagano - idealizador do estilo |
Escrevi este artigo sobre nossa língua
original apos ter recebido alguns e-mails pedindo aulas de Tupi Antigo.
Ilustrei com quadros em estilo ‘Nova Tupi’
http://ameobrasil.blogspot.com.br/2012/12/como-seria-o-brasil-se-cultura-dos.html
de Luiz Pagano, idealizador desse estilo artístico que se caracteriza por ter
elementos brasileiros originais, como se a influência Tupi tivesse evoluído como
cultura predominante brasileira, com muito pouca interferência da cultura
portuguesa e de outros imigrantes em nossa terra.
A língua indígena clássica do Brasil que
teve fundamental importância para a construção de nossa identidade. Foi
aprendida pelos colonizadores portugueses que aí aportaram a partir desse
século e, por intermédio deles e de seus descendentes mestiços e os
bandeirantes.
O Tupi antigo chegou a ser o idioma oficial
da elite colonial Brasileira, e foi proibida por decreto, expedido pelo Marques
de Pombal no ano de 1758 http://ameobrasil.blogspot.com.br/2012/12/como-seria-o-brasil-se-cultura-dos.html
Segundo o cronista Pero Magalhães de
Gândavo (1540 a 1580) antes do tal decreto este idioma foi falado desde o Pará
até o sul do país, com algumas variantes dialetais.
Grande parte do material para estudo que
nos chega foi trazido pelo padre José de Anchieta (San Cristóbal de La Laguna,
19 de março de 1534 — Reritiba, 9 de junho de 1597) em seu livro intitulado A
Gramática de Anchieta (1595)
Segundo ele, o Tupi (também chamado de Tupi
Antigo) era falado na Capitania de São Vicente, no planalto de Piratininga e em
trechos do atual estado de São Paulo. O Tupi era uma variante dialetal do
Tupinambá, que era falado na porção maior da costa brasileira.
O Tupi Antigo
O aprendizado de Tupi Antigo é uma tarefa
de grande dificuldade, pois os cursos e livros sobre o assunto muitas vezes é
feito sem bases em estudos sérios. ensinam Nheengatu da Amazônia como se fosse
Tupi Antigo, com elementos do Guarani Paraguaio. Tudo isso mais confunde os
alunos que os ensina. Ora, estudar Tupi Antigo exige a mesma seriedade
científica que exige o estudo de qualquer outro idioma. Assim, antes de tudo, é
importante que certos conceitos fiquem bem claros para quem começa a estudar
essa língua.
Adotei o livro Método Moderno de Tupi
Antigo, de Eduardo de Almeida Navarro por ser o mais serio e científico estudo
desse idioma
Vale observar as variantes dos grupos lingüísticos
faldos no Brasil com referência ao Tupi Antigo:
LÍNGUA GERAL – Foi uma língua surgida da
evolução do Tupi Antigo, a partir da segunda metade do século XVII, quando,
então, era falada por todos os membros do sistema colonial brasileiro: negros,
brancos, índios tupis e não tupis, mestiços.
TUPI-GUARANI – não é uma língua, mas uma
família de mais de vinte línguas. Inclui o Tapirapé, o Wayampi, o Kamayurá, o
Guarani (com seus dialetos), o Parintintin, o Xetá, o Tupi Antigo, etc. Existem
línguas Tupi-Guarani, não o Tupi-Guarani. Dessas, o Tupi Antigo é a que foi
estudada primeiro e a que mais influenciou a formação da cultura brasileira.
NHEENGATU – é uma língua da Amazônia, uma
evolução da língua geral, falada por caboclos no vale do Rio Negro, na
Amazônia. É uma fase atual do desenvolvimento histórico do Tupi Antigo, mas não
é o Tupi Antigo.
TUPI MODERNO – é o nome que alguns dão ao
Nheengatu da Amazônia ou, ainda, a certas línguas faladas da família
Tupi-Guarani. Não é a língua que Anchieta estudou, mas uma evolução dela.
O Tupi Antigo continua presente no
cotidiano dos brasileiros através de vários nomes de cidades, na geografia
brasileira, nas denominações de animais e plantas nativas do Brasil.
As palavras em Tupi Antigo muitas vezes são
descrições das coisas a que se referem, envolvendo uma explicação inteira. Cada
palavra pode ser uma verdadeira frase.
Decifrar o significado das palavras requer,
muitas vezes, uma visita ao local a que se refere o termo. Um exemplo disso é o
topônimo Paranapiacaba = paraná + epiak + -(s)aba, "mar" +
"ver" + "lugar" = "lugar de onde se vê o mar",
que se refere a um ponto da Serra do Mar onde se pode avistar o mar.
A língua tupi é aglutinante, não possui
artigos (assim como o latim) e não flexiona nem em gênero nem em número.
Chave
da pronúncia do tupi antigo
A seguir veja os fonemas do Tupi Antigo assim
como suas variantes alofones (variante fonética de um fonema – ex. O fonema ‘t’
[te] pode ter as seguintes variações
[tiu], [tch], etc.)
VOGAIS:
A: Como no portugues mala, bala, - ka’a -
mata;
E: Com timbre aberto pé, rapé - ere-ker -
(tu) dormes;
I:
Como no português caqui, dia itá - pedra;
O: Com o timbre aberto avó, nódoa, farol - "a-só"
(leia assó) - (eu) vou;
oka - (leia "óca") - casa
U: Como no Português upaba - lago;
Y: Um fonema que não existe na língua
Portuguesa, mas tem o mesmo som do ‘Y’ em Russo. É uma vogal intermediária
entre o ‘u’e ‘i’’, pzra falar este som deve-se colocar a língua na posição para
pronunciar o ‘u’ e os lábio para pronunciar o ‘i’.
As vogais ditas tem as seguintes variações
Alofones:
ã – Com som nasal - como no português maçã
– marã – maldade;
ẽ - Com som nasal - moka’ẽ - moquear, assar
o churrasco;
ĩ – Com som nasal - potĩ – Camarão;
õ – Com som nasal - potyrõ – Trabalhar em
Grupo;
ũ – Com som nasal – irũ – companheiro;
ỹ - Com som nasal - ybỹîa – parte interior,
oco, vão;
CONSOANTES:
‘/’ - O sinal (‘) ou (’) representa
consoante oclusiva glotal, que não existem em português, do alfabeto fonético
internacional é o (ʔ) – ka’a (ka’ʔa) – floresta;
b
- Pronuncia-se como o v castelhano – abá – (a’βa) homem;
î
- Como no português lei, dói – îuka – matar;
nh – É um alofone de î , como no protugues
ganhar, banha, rainha – nhandu’i aranha;
k – Como o q em português antes do a, o ou
u, casa, colo – îuka – matar;
m (ou mb) – Como em português mar, mel
ambos, samba – momorang – embelezar. Em mb o b é oclusivo, devendo encostar os
lábios ao pronunciar. Mba’e – coisa;
n (ou nd) – Como em português nada, andar –
nupã – castigar. Em nd, que é seu alofone, também temos uma consoante nasal
oralizada, (começa como nasal e termina como oral) nde – tu, amã’ndykyra –
gotas de chuva;
ng - Como no inglês thing, nhe’eng – falar;
p – Como no português pé, porta – potar –
querer;
r – É sempre brando, como no português,
aranha - paranã – mar;
s – Como no português assunto, pedaço –
sema – saída;
t – Como no português matar, tato – tukura
– gafanhoto;
û – Como a semi-volgal u do português. No
inicio da palavra pode ser pronunciado como gû: ûyra ou gûyra – pássaro;
x – Como o ch ou o x como chácara, chapeu –
ixé – eu;
Lição 1 – Chegaram o portugueses
Peró o-îepotar. Peró-etá ‘y kûa-pe o-só.
Os portugueses chegaram. Muitos portugueses
para a enseada do rio se foram.
Abá ‘y kûa-pé o-îkó. Peró-etá ygar-usu pupé o-pytá.
Os índios na enseada do rio estão. Muitos
portugueses dentro dos navios ficaram.
Peró Ygara suí o-sem. Abá o-syk. Abá peró supé o-nhe’eng.
Os portugueses da canoa saem. Os índios
achegam-se. Os índios aos portugueses falam.
Abá-etá o-sykyîé.
Muitos índios tem medo.
(perguntaram a um português:)
-Abá-pe endé? Mamõ-pe ere-îkobé?
- Quem (és) tu? Mamõ-pe ere-îkobé?
Vocabulário
Abá – índio (em oposição ao europeu)
Homem (em
oposição a mulher)
Ser humano
(em oposição a animal irracional)
Kûa – enseada, baía
‘y kûa – enseada do rio, onde deságua o rio
peró – português (era um nome próprio muito
comum entre os portugueses do século XVI;
‘y – água, rio
ygara – canoa
ygar-usu – navio
îepotar – chegar por mar ou por rio
ikó – estar
ikobé – viver
nhe’eng – falar (rege a posposição supé
para, a)
pytá – ficar
sem – sair
só – ir
syk – achegar-se, aproximar-se
sykyîe – ter medo, temer
outras categorias
abá-pe – (inter.) quem?
Endé – (pron.pes.) – tu
Etá – (indef.) muitos (as)
Mamõ-pe? (inter.) onde?
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